sábado, 31 de outubro de 2015

“A morte na mística franciscana” - Especial de Finados


Sobre o passamento do santo pai

Capítulo 162 – Como exortou e abençoou os irmãos no fim
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1 .No fim do homem – diz o Sábio – suas obras serão desnudadas (cfr. Eclo 11,29).


2. Neste santo vemos que isso se realizou por completo, e gloriosamente. Ele percorreu com alegria da mente o caminho dos mandamentos de Deus, chegou ao alto passando pelos degraus de todas as virtudes e viu o fim de toda consumação como uma obra amoldável, aperfeiçoada pelo martelo das múltiplas tribulações.

3. Quando partiu livre para os céus, pisando as glórias desta vida mortal, resplandeceram mais as suas obras admiráveis, e ficou provado pelo juizo da verdade que tudo que tinha vivido era divino.

4. Achou que viver para o mundo era um opróbrio, amou os seus até o fim e recebeu a morte cantando.

5. Sentindo já próximo seus últimos dias, em que a luz perpétua substituiria a luz que se acaba, demonstrou pelo exemplo de sua virtude que não tinha nada em comum com o mundo.

6. Prostrado pela doença grave que encerrou todos os seus sofrimentos, fez com que o colocassem nu sobre a terra nua, para que, naquela hora extrema em que ainda podia enraivecer o inimigo, estivesse preparado para lutar nu contra o adversário nu.

7. Na verdade esperava intrepidamente o triunfo e já apertava em suas mãos a coroa da justiça.

8. Assim, posto no chão, sem a sua roupa de saco, voltou o rosto para o céu como costumava e, todo concentrado naquela glória, cobriu a chaga do lado direito com a mão esquerda, para que não a vissem.

9. E disse aos frades: “Eu fiz a minha parte; que Cristo vos ensine a cumprir a vossa!”

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1. Vendo isso, os filhos sucumbiram à dor imensa da compaixão, soltando rios de lágrimas e dando longos suspiros.

2. O seu guardião, contendo os soluços e adivinhando por inspiração divina o que o santo queria, levantou-se, foi correndo buscar uma calça, o hábito de saco e o capuz, e disse ao pai:

3. “Fica sabendo que te empresto, em virtude da obediência, este hábito, as calças e o capuz!

4. Mas para saberes que não tens nenhum direito de propriedade, tiro-te o poder de dá-los a quem quer que seja”.

5. O santo se alegrou e se rejubilou de alegria do coração, vendo que tinha mantido a fidelidade para com a Senhora Pobreza até o fim.

6. Fizera tudo isso por zelo da pobreza, a ponto de não querer ter no fim nem o hábito próprio mas como emprestado por outro.

7. Usara na cabeça o capuz de saco para esconder as cicatrizes da doença dos olhos, quando teria necessidade de um gorro de lã cara, que fosse bem macio.

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1. Depois disso, o santo levantou as mãos para o céu e louvou a Cristo porque, livre de tudo, já estava indo ao seu encontro.

2. Mas, para demonstrar que era um verdadeiro imitador do Cristo, seu Deus, em todas as coisas, amou até o fim os frades e filhos, a quem amara desde o começo.

3. Pois fez chamar todos os irmãos presentes e, aclamando-os com palavras de consolação, por sua morte, exortou-os com afeto de pai ao amor de Deus.

4. Falou também sobre a observância da paciência e da pobreza, dizendo que o santo Evangelho era mais importante do que todas as instituições.

5. Estando todos os frades sentados ao seu redor, estendeu sobre eles a sua destra e, começando por seu vigário, a impôs sobre a cabeça de cada um.

6. E disse: “Filhos todos, adeus no temor do Senhor! Permanecei sempre nele!

7. E como a tentação e a tribulação estão para chegar, felizes os que perseverarem no que começaram.

8. Eu vou para Deus, a cuja graça recomendo-vos todos”.

9. Nos que estavam presentes, abençoou a todos os frades que estavam por todo o mundo e os que haveriam de vir depois deles, até o fim dos séculos dos séculos.

10. Que ninguém usurpe para si mesmo essa bênção que, nos presentes, deu aos ausentes. Assim como se acha escrita em outro lugar parece ter algo de especial, mas isso é um desvirtuamento.

Capítulo 163 – Sobre a sua morte e o que faz antes de morrer
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1. Enquanto os frades choravam amargamente e se lamentavam inconsoláveis, o pai santo mandou trazer um pão. Abençoou-o, partiu-o e deu um pedacinho para cada um comer.

2. Também mandou trazer um livro dos Evangelhos e pediu que lessem o Evangelho de São João a partir do trecho que começa: “Antes do dia da festa da Páscoa”, etc.

3. Lembrava-se daquela sacratíssima ceia que foi a última celebrada pelo Senhor com seus discípulos.

4. Fez tudo isso para celebrar sua lembrança, demonstrando todo o amor que tinha para com seus frades.

5. Passou em ação de graças os poucos dias que ainda restavam até sua morte, ensinando seus filhos muito amados a louvar Cristo em sua companhia.

6. Ele mesmo, quanto lhe permitiam suas forças, entoou o Salmo: “Lanço um grande brado ao Senhor, em alta voz imploro o Senhor” (Sl 141,2-8), etc.

7. Convidou também todas as criaturas ao louvor de Deus e, usando uma composição que tinha feito em outros tempos, exortou-as ele mesmo ao amor de Deus.

8. Chegou a exortar para o louvor até a própria morte, terrível e aborrecida para todos, e, correndo alegre ao seu encontro, convidou-a com hospitalidade: “Bem-vinda seja a minha irmã morte!”

9. Ao médico disse: “Irmão médico, diga com coragem que minha morte está próxima, para mim ela é a porta da vida!”

10. E aos frades: “Quando perceberdes que cheguei ao fim, do jeito que me vistes despido anteontem, assim me colocai no chão, e lá me deixai ficar mesmo depois de morto, pelo tempo que alguém levaria para caminhar sem pressa uma milha”.

11. E assim chegou a hora. Tendo completado em si mesmo todos os mistérios de Cristo, voou feliz para Deus.

Extraído de: http://franciscanos.org.br

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

PROFECIA DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL II

 
A visão profética de Francisco relatada por Tomás de Celano

Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho

Continuação da Introdução

Nos primórdios das primeiras comunidades, Francisco querendo animar os Irmãos a refazerem a experiência dos Apóstolos no mundo, fala de uma visão profética, conforme relata Tomás de Celano: “O bem-aventurado Francisco enchia-se a cada dia da consolação e da graça do Espírito Santo e com toda vigilância e preocupação formava os novos filhos com novas instituições, ensinando-os a andar com passo indeclinável no caminho da santa pobreza e da bem-aventurada simplicidade. E, num certo dia, ao admirar-se da misericórdia do Senhor com relação aos benefícios a ele concedidos e ao desejar que lhe fosse indicado pelo Senhor o processo de sua conversão e dos seus, dirigiu-se a um lugar de oração, como ele fazia tantas vezes. (...) Em seguida, foi arrebatado em êxtase e totalmente absorvido por uma luz e, tendo-se-lhe dilatado as fronteiras do coração, viu claramente as coisas que haveriam de acontecer. Retirando-se finalmente aquela suavidade e luz, renovado no espírito, ele parecia transformado em um outro homem.

E assim, voltando-se alegremente, disse aos irmãos: “Confortai-vos, caríssimos e alegrai-vos e não fiqueis tristes por parecerdes poucos, nem vos amedronte a minha ou a vossa simplicidade, porque como me foi mostrado pelo Senhor na verdade, Deus nos fará crescer transformando-nos na maior multidão e nos dilatará de maneira múltipla até os confins da terra. Também para vosso proveito, sou obrigado a dizer o que vi, o que eu certamente preferiria calar, se a caridade não me obrigasse a relatar-vos: “Vi  grande multidão de homens que vinham até nós e queriam conviver conosco no hábito, no santo modo de vida e na regra da bem-aventurada Religião. E eis que ainda está nos meus ouvidos o ruído daqueles que vão e voltam segundo o mandato da santa obediência. Vi os caminhos como que cheios da multidão deles a se reunirem de quase todas as nações nestas regiões. Vem franceses, apressam-se espanhóis, correm alemães e ingleses, e avança a maior multidão de outras línguas diversas. Quando os irmãos ouviram isto, encheram-se de salutar alegria tanto por causa da graça que o Senhor Deus conferia a seu santo quanto porque tinham sede ardente da conquista de outros que eles desejavam fossem acrescentados a cada dia ao seu número.

E disse-lhes o santo: "Irmãos, para rendermos graças fiel e devotamente ao Senhor nosso Deus por todos os seus dons e para que saibais de que maneira se deve conviver com os irmãos presentes e futuros, compreendei a verdade dos processos que hão acontecer. Agora, no início de nosso modo de vida, encontraremos frutos muito doces e suaves para comer, mas, pouco depois, ser-nos-ão oferecidos alguns de menor suavidade e doçura; e no fim, ser-nos-ão dados alguns cheios de amargor, os quais não podemos comer, porque devido a sua acidez, serão incomestíveis a todos, embora apresentem algum perfume e beleza exterior. E, como eu vos disse, o Senhor verdadeiramente nos aumentará em povo numeroso. Mas por último acontecerá como quando um homem lança suas redes ao mar ou em algum lago e apanha copioso cardume de peixes e, depois de ter jogado todos em seu barco, não querendo por causa da grande quantidade levar todos, escolhe os maiores e os que lhe agradam em seus vasos e atira fora os demais. Aos que consideram com espírito de verdade ficaram bastante manifestas a verdade com que refulgem e a clareza com que se manifestam todas estas coisas que o santo de Deus predisse. Eis como o espírito de profecia repousou sobre São Francisco” (1Cel 26-28).

Continua. No próximo post, o capítulo: A FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL E A IDENTIDADE COMO PROFECIA.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

PROFECIA DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL


Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho

INTRODUÇÃO

Quando o mundo entra em transformações profundas que atingem as conjunturas, as  pessoas, as  estruturas, as  religiões e a diversidade de grupos humanos, é aí que a profecia tem muito que fazer. Quando em meio à crise e problemas, é aí que o jeito profético, franciscano e clariano de ser, afirma, confirma, provoca e desafia a partir dos valores do Evangelho, este modo de ser presença, grito, convivência e respostas para infindáveis perguntas.

Profeta não fala a partir de si, mas da inspiração, da força divina que o habita. Fala em nome de uma verdade maior que é inspiração, de um valor maior que torna-se seguimento apaixonado. Acredita que há um chamado, uma escolha sagrada que atravessa a sua pessoa. É obediente, fiel e leal. Obediente na escuta do valor maior, fiel ao projeto de vida pessoal e comum, leal a Alguém. Profeta ama a Deus incondicionalmente e assume um compromisso de com Ele mudar os rumos da história. Ele não tem bola de cristal, nem é um adivinho ou guru de plantão gerando consultas. Mas é um ser de total intimidade e sincronia com o Senhor da vida e portador da maior certeza: um Deus misericordioso e compassivo aproxima-se da história, humaniza-se, devolve dignidade ao humano e esperança aos pobres. Sabe que Deus precisa de sua presença, palavra e protagonismo.

Profecia não é um tratado teológico, mas um uma experiência de Deus. Sabe a força divina presente nos fatos do Antigo e Novo Testamento e torna-se um protagonista desta força de um Deus que age através dele. Sabe compreender um Deus terno, paterno, materno e fraterno que gerou, na Aliança, grupo humano forte, desde Abraão, Isaac e Jacó até a Encarnação do Verbo. Sabe continuar a atuação encarnada deste Deus na vinda de seu Filho que pisou fraternalmente o chão da terra dos humanos para falar da Boa Nova, do Reino, da justiça, da cura, da defesa dos fracos, da sorte do povo, e de toda uma história transformada a partir da Ressurreição

Francisco de Assis, Clara de Assis e sua comunidade primeira tiveram um modo diferenciado de viver em seu tempo e em sua terra porque, através de um modo terno, vigoroso, paterno, materno e fraterno souberam fazer do Evangelho a sua própria vida, históra e votos. O amor a Deus era a primazia absoluta de suas palavras e atos. A partir deste amor encontraram a riqueza de viver em fraternidade, pregar a paz em tempo de guerras, tensões entre classes sociais, injustiça e discriminação de doentes, pobres e leprosos. Francisco de Assis, Clara de Assis e seus primeiros irmãos e irmãs viveram natural e corajosamente pobres, desapropriados e desapegados num tempo de ostentação de poder de bens, armas, terras, cavalos, roupas, hierarquia, guerra de religião, e ambição de títulos de nobreza.

Imagem: Piero Casentini 

No próximo post, continua a introdução deste tema.

Fonte : http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

domingo, 25 de outubro de 2015

Especial - Santo Antônio de Sant’Ana Galvão


Sobre as “Pílulas de Frei Galvão”

Frei Walter Hugo de Almeida

As pílulas de Frei Galvão nasceram do grande amor, zelo e caridade que Frei Galvão tinha para com os doentes. Um dia, não podendo visitar um rapaz que estava com muitas dores, escreveu em um papelzinho uma invocação à Virgem Imaculada, e disse ao portador: “leve ao enfermo e diga-lhe para tomar isso com fé e devoção à Maria”. Daí aconteceu a cura. Posteriormente, fez a mesma coisa para uma senhora em perigo de morte, no parto. Ela e o filho se salvaram.

Quando ele morreu, as Irmãs Concepcionistas, a quem ele orientava espiritualmente, faziam estas pílulas e as distribuíam ao povo que acorria às portas dos mosteiros. Há quase duzentos anos, existe a tradição das Pílulas Milagrosas de Frei Galvão.

Que são as pílulas? Um sacramental, objeto de fé. Um sacramental liga-se profundamente à fé, ao Mistério de Jesus, Salvador. O Sacramental sempre se relaciona com Cristo, Maria ou os santos.

Exemplos: uma imagem, uma medalha, o terço etc. No caso das pílulas, trata-se de um sinal de fé e de devoção que Frei Galvão tinha à Virgem Imaculada. As pílulas são expressões do seu amor e compaixão para com os doentes, sinal de sua confiança na proteção de Maria. Devem ser tomadas em espírito de fé e devoção.

Temos notícias constantes das inúmeras graças e curas alcançadas por meio da Novena das Pílulas de Frei Galvão. Destinam-se aos enfermos do corpo ou do espírito. A cada enfermo, costumamos distribuir uma novena: isto é, uma oração para se rezar 9 dias e um pacotinho com 3 pílulas. Toma-se uma no 1° dia; outra, no 5º dia; e a terceira no último dia da novena. Não costumamos enviar grandes quantidades para uma pessoa distribuir. Nosso costume é endereçar a Novena das Pílulas para uma pessoa concreta. O quanto possível, jamais distribuí-las para que alguém faça ‘estoque’ para atender outras pessoas.

BÊNÇÃO DAS PÍLULAS

1. Acolhida:
A bênção figura entre os Sacramentais na Igreja e prepara o cristão para receber os frutos da Salvação que Cristo nos trouxe.
Toda bênção é um louvor, um reconhecimento a Deus Pai, fonte de todas as graças. É por isto que a Igreja distribui bênçãos e abençoa, invocando o nome de Cristo Jesus e fazendo o sinal da cruz de Cristo sobre objetos e pessoas. Vamos agora abençoar as Pílulas de Frei Galvão – um sacramental – em atitude de fé e de devoção à Virgem Imaculada e ao Bem-aventurado Frei Galvão.

2. Palavra de Deus: (Mt 4,23-25)
Jesus percorria a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda doença e enfermidade do povo. Sua fama chegou a toda a Síria.
Traziam a Jesus os que sofriam de algum mal: os atacados de doenças e dores diversas e ele as curava… Grandes multidões o seguiam da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e da Transjordânia’.
Palavra da Salvação.

3. Bênção das Pílulas
S – A nossa proteção está no nome do Senhor!
T – Que fez o céu e a terra!
S – Rogai por nós, Bem-aventurado Frei Galvão
T – Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
S – Oremos: Ó Pai de Misericórdia, Deus de toda a consolação, que nos consolais por vosso Filho Jesus, no Espírito Santo, e acompanhais com vossa bênção particular as que sofrem tribulações e enfermidades do corpo e do espírito.
Nós vos suplicamos que, pela intercessão de Maria Imaculada e do vosso servo, o Bem-Aventurado Frei Galvão, abençoai estas pílulas, objetos sacramentais da fé e da devoção do vosso povo santo; fazei, Senhor, que todos os que na fé, e pela fé, delas fizerem uso, possam receber a graça da cura, conforme a vossa santíssima vontade. Amém (Abençoar com água benta)

Onde obter as pílulas:
1. Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz
Tel.: (11) 3311-8745
Av. Tiradentes, 676
CEP: 01102-000 – São Paulo (SP)

Santo franciscano do dia - 25/10 - Santo Antônio de Sant’Anna Galvão


Sacerdote da Primeira Ordem, primeiro santo brasileiro. (1739-1822).Beatificado por São João Paulo II e canonizado por Bento XVI no dia 11 de maio de 2007.

  
O brasileiro Antônio de Sant’Anna Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, São Paulo. Seu pai era Antônio Galvão de França, capitão-mor da província e terciário franciscano. Sua mãe era Isabel Leite de Barros, filha de fazendeiros de Pindamonhangaba. O casal teve onze filhos. Eram cristãos caridosos, exemplares e transmitiram esse legado ao filho.

Quando tinha treze anos, Antônio foi enviado para estudar com os jesuítas, ao lado do irmão José, que já estava no Seminário de Belém, na Bahia. Desse modo, na sua alma estava plantada a semente da vocação religiosa. Aos vinte e um anos, Antônio decidiu ingressar na Ordem franciscana, no Rio de Janeiro. Sua educação no seminário tinha sido tão esmerada que, após um ano, recebeu as ordens sacerdotais, em 1762. Uma deferência especial do papa, porque ele ainda não tinha completado a idade exigida.

Em 1768, foi nomeado pregador e confessor do Convento das Recolhidas de Santa Teresa, ouvindo e aconselhando a todos. Entre suas penitentes encontrou irmã Helena Maria do Sacramento, figura que exerceu papel muito importante em sua obra posterior.


Irmã Helena era uma mulher de muita oração e de virtudes notáveis. Ela relatava suas visões ao frei Galvão. Nelas, Jesus lhe pedia que fundasse um novo Recolhimento para jovens religiosas, o que era uma tarefa difícil devido à proibição imposta pelo marquês de Pombal em sua perseguição à Ordem dos jesuítas. Apesar disso, contrariando essa lei, frei Galvão, auxiliado pela irmã Helena, fundou, em fevereiro de 1774, o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência.

No ano seguinte, morreu irmã Helena. E os problemas com a lei de Pombal não tardaram a aparecer. O convento foi fechado, mas frei Galvão manteve-se firme na decisão, mesmo desafiando a autoridade do marquês. Finalmente, devido à pressão popular, o convento foi reaberto e o frei ficou livre para continuar sua obra. Os seguintes catorze anos foram dedicados à construção e ampliação do convento e também de sua igreja, inaugurada em 1802. Quase um século depois, essa obra tornar-se-ia um “patrimônio cultural da humanidade”, por decisão da UNESCO.

Em 1811, a pedido do bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara, em Sorocaba. Lá, permaneceu onze meses para organizar a comunidade e dirigir os trabalhos da construção da Casa. Nesse meio tempo, ele recebeu diversas nomeações, até a de guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo.

Com a saúde enfraquecida, recebeu autorização especial para residir no Recolhimento da Luz. Durante sua última enfermidade, frei Galvão foi morar num pequeno quarto, ajudado pelas religiosas que lhe prestavam algum alívio e conforto. Ele faleceu com fama de santidade em 23 de dezembro de 1822. Frei Galvão, a pedido das religiosas e do povo, foi sepultado na igreja do Recolhimento da Luz, que ele mesmo construíra.

Depois, o Recolhimento do Frei Galvão tornou-se o conhecido Mosteiro da Luz, local de constantes peregrinações dos fiéis, que pedem e agradecem graças por sua intercessão. Frei Galvão foi beatificado pelo papa João Paulo II em 25 de outubro de 1998, e canonizado em 11 de maio de 2007 pelo papa Bento XVI, em São Paulo, Brasil.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Especial - Santo Antônio de Sant’Ana Galvão



Aspectos da Espiritualidade e do Apostolado

Dom Frei Caetano Ferrari

1 – Místico e Contemplativo: Homem de oração e devoto de Nossa Senhora

Frei Galvão distingui-se, primeiramente, por uma rica “espiritualidade franciscana e mariana”. Um verdadeiro filho de São Francisco: homem de oração, de vida simples e penitente. Um devoto apaixonado de Nossa Senhora: no dia em que professou na Ordem, fez “juramento de defesa à Imaculada Conceição” como era costume naquele tempo. Os Frades eram defensores do privilégio da Conceição Imaculada, cujo dogma só foi proclamado em 1854. Mas, 4 anos depois da ordenação, aprofundou aquele compromisso, assinando com o próprio sangue uma “Cédula irrevogável de filial entrega a Maria Santíssima, minha Senhora, digna Mãe e Advogada”, pela qual consagrava-se “como filho e perpétuo escravo” da Mãe de Deus.
Era uma espiritualidade que nasceu e se alimentava de uma forte experiência de Deus. E se manifestava em convicções e atitudes muito claras e firmes: absoluta confiança na Providência Divina e submissão total à vontade de Deus.
A partir dessa base, dá para entender bastante bem de seu comportamento e ações. Era de obediência irrestrita. Nomeações e transferências: logo as assumia e se punha a cumprir. Decisões de autoridades a seu respeito: obedecia sem pestanejar. Vejam-se, por exemplo, a nomeação e transferência para o Noviciado de Macacu, a ordem do Governador quanto ao fechamento do Mosteiro e quanto a sua expulsão da cidade, etc. O que entendia ser vontade de Deus, como as inspirações da Irmã Helena, corria para pôr em prática. Por traz havia sempre a serenidade de quem confia em Deus.

Podem ser vistas como expressões fortes da mística e contemplação de Frei Galvão sua luta e empenho, por mais de 40 anos, em favor da fundação do Recolhimento da Luz e da formação e direção espiritual das Irmãs para a vida contemplativa, e sua fidelidade, por 60 anos, ao juramento de servir à causa da Conceição Imaculada e propagar sua devoção.

2 – Pregador e Missionário itinerante: Apóstolo de São Paulo

Impulsionado pelo amor de Deus, que trazia no coração, Frei Galvão foi o grande pregador e anunciador da Palavra de Deus, tendo como centro de sua ação evangelizadora a cidade de Paulo. Logo que terminou os estudos, foi eleito em Capítulo Provincial “Pregador, Confessor e Porteiro” no Convento São Francisco. A sua pregação estava sempre aliada com o contato direto com o povo: a acolhida no Confessionário e Portaria, sua bondade e compreensão, seus conselhos e orientações, seu socorro e ajuda aos necessitados, enfermos e sofredores. Pouco a pouco sua fama atravessou fronteiras.

Sempre a pé, andou a pregar por muitas localidades fora da cidade: Sorocaba, Porto Feliz, Itu, Taubaté, Parnaiba, Indaiatuba, Mogi das Cruzes, Paraitinga, Pindamonhangaba, Guaratinguetá. A serviço da Província, viajou para mais longe: ao Rio de Janeiro, mais de uma vez, e chegou até Castro, Paraná, como Visitador da Ordem. As viagens, feitas a pé, se transformavam em roteiros missionários de pregação às diversas localidades. Em todos os lugares anunciava o Evangelho e a devoção à Imaculada. Ao passar por Piraí do Sul, indo para Castro, deixou a estampa de Nossa Senhora das Brotas, que lá se encontra na Capela das Brotas, e é venerada até os dias de hoje. Não seria exagerado dizer que a devoção à Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Aparecida, a partir de seu Santuário na pequena cidade do Vale do Paraíba e ao lado de Guaratinguetá, tivesse sido alimentada pelo trabalho de difusão desta devoção por parte de Frei Galvão.

Frei Galvão foi chamado “Apóstolo de São Paulo”. Sua pregação tocava as pessoas e era acolhida pelo povo de todos os lugares, que para ouvi-lo se reunia em multidão.
Como Comissário da Ordem Terceira de São Francisco, eleito por duas vezes, cuidou de formar os Irmãos na vivência do ideal franciscano como caminho de santificação e de verdadeiro apostolado leigo.

3 – Confessor e Conselheiro: Missionário da paz e da caridade

O maior bem que Frei Galvão trazia no coração era Deus. Este bem ele distribuía a quem o procurava. As pessoas da cidade e de longe vinham a procura de Frei Galvão para se confessar, para buscar seu conselho e orientação de vida. Ele se destacou como confessor e conselheiro do povo. Portador da bênção e do perdão de Deus, só podia mesmo trazer a paz: a paz da reconciliação com Deus, a paz da pessoa com outra pessoa, a paz na família, a paz na sociedade. Em Itu, deu-se o caso de pacificação de uma família que se costuma contar. Ele era um conselheiro sábio, prudente, maduro, mais do que isso, cheio de Deus. Por isso mesmo era considerado “Homem virtuosíssimo” e foi chamado “Homem da paz”.

Além de Confessor do povo, dedicou parte importante de sua vida, primeiro como Confessor e Atendente das Irmãs Carmelitas, no Recolhimento Santa Teresa, depois, até o fim da vida, como Confessor e Diretor espiritual das Irmãs Concepcionistas do Recolhimento da Luz. Para o Recolhimento da Luz foi tudo: co-fundador com a Irmã Helena, construtor, arquiteto, pedreiro, esmoler, sustentador, Confessor, Capelão e Orientador espiritual.

Embora sendo pacífico e pacificador, era defensor da justiça. Basta lembrar o caso da condenação à morte do soldado conhecido pelo nome de “Caetaninho”. Frei Galvão não hesitou em pôr-se declaradamente em sua defesa, não obstante o confronto inevitável com o Governador da Capitania que ordenara a condenação, uma condenação injusta e arbitrária.
Se era todo amor para Deus, era-o também para os necessitados. Aprendera em família a dar esmolas. Conta-se que, em criança, dera uma toalha de crivo e bordado da Mãe a um pobre que pedia esmolas. Acostumara a ser generoso, sobretudo com os pobres e necessitados. Conta-se também que ao tempo da construção do Mosteiro da Luz passava toda semana pelos bares das proximidades e pagava as dívidas dos serventes da obra, que eram negros escravos.

O povo o amava e o defendia. Assim aconteceu quando o Governador por vingança decretara o desterro de Frei Galvão. O povo cercou a casa do Governador que se viu obrigado a revogar a sentença. Com razão o povo distinguiu Frei Galvão com o nome de “Homem da caridade”.

Por todos estes títulos, o povo considerava Frei Galvão um santo, e sendo assim, ainda em vida, todos o chamavam “Padre Santo”. Fama esta que não se extinguiu depois da morte, mas perdurou por todo o tempo e o está levando, finalmente, à Beatificação.

Para a glória da Ssma. Trindade, o louvor da Imaculada Conceição, a honra de São Francisco e o bem de todos nós franciscanos e franciscanas e de todo o povo de Deus. Assim Seja!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Especial - Santo Antônio de Sant’Ana Galvão



O Bandeirante de Cristo – Biografia

Ir. Célia B. Cadorin, C.I.I.C

Frei Antônio de Sant’Anna Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, Brasil; cidade que na época pertencia à Diocese do Rio de Janeiro.

Com a criação da Diocese de São Paulo, em 1745, Frei Galvão viveu praticamente nesta diocese: 1762-1822. O seu ambiente familiar era profundamente religioso. O pai, Antônio Galvão de França, Capitão-Mor, pertencia às Ordens Terceiras de São Francisco e do Carmo, dedicava-se ao comércio e era conhecido pela sua particular generosidade. A mãe, Izabel Leite de Barros, teve o privilégio de ter onze filhos e morreu com apenas 38 anos com fama de grande caridade, a tal ponto que depois da morte não se encontrou nenhum vestido: tudo fora dado aos pobres.

Antônio viveu com seus irmãos numa casa grande e rica, pois seus pais gozavam de prestígio social e influência política. O pai, querendo dar uma formação humana e cultural segundo suas possibilidades econômicas, mandou o Servo de Deus com 13 anos para Belém (Bahia) a fim de estudar no Seminário dos Padres Jesuítas, onde já se encontrava seu irmão José.

Ficou neste Colégio de 1752 a 1756 com notáveis progressos no estudo e na prática da vida cristã. Teria entrado na Companhia de Jesus, mas o pai, preocupado com o clima antijesuítico provocado pela atuação do Marquês de Pombal, aconselhou Antônio a entrar na Ordem dos Frades Menores Descalços da reforma de São Pedro de Alcântara.

Estes tinham um Convento em Taubaté, não muito longe de Guaratinguetá. Aos 21 anos, no dia 15 de abril de 1760, Antônio ingressou no noviciado do Convento de São Boaventura, na Vila de Macacu, no Rio de Janeiro.

Durante este período distinguiu-se pela piedade e pelas práticas das virtudes, tanto que no “Livro dos Religiosos Brasileiros” encontramos grande elogio a seu respeito.

Aos 16 de abril de 1761 fez a profissão solene e o juramento, segundo o uso dos Franciscanos, de se empenhar na defesa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, doutrina ainda controvertida, mas aceita e defendida pela Ordem Franciscana.

Um ano depois da profissão religiosa, Frei Antônio foi admitido à ordenação sacerdotal aos 11 de julho de 1762. Os Superiores permitiram a sagrada ordenação porque julgaram suficientes os estudos teológicos feitos anteriormente.

Este privilégio foi também um sinal evidente da confiança que os Superiores nutriam pelo jovem clérigo. Depois de ordenado foi mandado para o Convento de São Francisco em São Paulo, com a finalidade de aperfeiçoar os estudos de filosofia e teologia, como também exercitar-se no apostolado.

Sua maturidade espiritual franciscano-mariana teve expressão máxima na “entrega a Maria” como o seu “filho e escravo perpétuo”, entrega assinada com o próprio sangue aos 9 de novembro de 1766.

Terminados os estudos, em 1768, foi nomeado Pregador, Confessor dos leigos e Porteiro do convento cargo este considerado importante, porque pela comunicação com as pessoas permitia fazer um grande apostolado, ouvindo e aconselhando a todos.

Foi confessor estimado e procurado, e quando era chamado ia sempre a pé, mesmo aos lugares distantes. Em 1769-70 foi designado Confessor de um Recolhimento de piedosas mulheres, as “Recolhidas de Santa Teresa” em São Paulo.

Neste Recolhimento encontrou a Irmã Helena Maria do Espírito Santo, religiosa de profunda oração e grande penitência, observante da vida comum, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento.

Frei Galvão, como confessor, ouviu e estudou tais mensagens e solicitou o parecer de pessoas sábias e esclarecidas, que reconheceram tais visões como válidas. A data oficial da fundação do novo Recolhimento é 2 de fevereiro de 1774.

Irmã Helena queria modelar o Recolhimento segundo a ordem carmelitana, mas o Bispo de São Paulo, franciscano e intrépido defensor da Imaculada, quis que fosse segundo as Concepcionistas, aprovadas pelo Papa Júlio II em 1511.

A fundação passou a se chamar “Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência” e Frei Galvão, o fundador de uma instituição que continua até os nossos dias.

O Recolhimento, no início, era uma Casa que acolhia jovens para viver como religiosas sem o compromisso dos votos. Foi um expediente do momento histórico para subtrair do veto do Marquês de Pombal que não permitia novas fundações e consagrações religiosas. Para toda decisão de certa importância, em âmbito religioso, era necessário o “placet regio”.

Aos 23 de fevereiro de 1775 morreu, quase improvisamente, Irmã Helena. Frei Galvão encontrou-se como único sustentáculo das Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência. Entrementes, o novo Capitão-General de São Paulo, homem inflexível e duro (ao contrário do seu predecessor), retirou a permissão e ordenou o fechamento do Recolhimento.

Frei Galvão aceitou com fé e também as Recolhidas obedeceram; mas não deixaram a casa, resistindo até os extremos das forças físicas. Depois de um mês, graças à pressão do povo e do Bispo, o Recolhimento foi reaberto.

Devido ao grande número de vocações, o Servo de Deus se viu obrigado a aumentar o Recolhimento. Para tanto contribuíram as famílias das Recolhidas, muitas das quais, sendo ricas, podiam dispor dos escravos da família como mão-de-obra.

Durante catorze anos (1774-1788) Frei Galvão cuidou da construção do Recolhimento. Outros catorze anos (1788-1802) dedicou à construção da igreja, inaugurada aos 15 de agosto de 1802. A obra, “materialização do gênio e da santidade de Frei Galvão”, em 1988, tornou-se “patrimônio cultural da humanidade” por decisão da Unesco.

Frei Galvão, além da construção e dos encargos especiais dentro e fora da Ordem Franciscana, deu muita atenção e o melhor das suas forças à formação das Recolhidas. Para elas, escreveu um regulamento ou Estatuto, excelente guia de vida interior e de disciplina religiosa.

O Estatuto é o principal escrito, o que melhor manifesta a personalidade do Servo de Deus. O Bispo de São Paulo acrescentou ao Estatuto a permissão para as Recolhidas emitirem os votos enquanto permanecessem na Casa religiosa.

Em 1929, o Recolhimento tornou-se Mosteiro, incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (Concepcionistas). A vida discorria serena e rica de espiritualidade quando sobreveio um episódio doloroso: Frei Galvão foi mandado para o exílio pelo Capitão-General de São Paulo.

Este homem violento, para defender o filho que sofrera uma pequena ofensa, condenou à morte um soldado (Gaetaninho). Como Frei Galvão assumiu a defesa do soldado, foi afastado e obrigado a seguir para o Rio de Janeiro.

A população, porém, se levantou contra a injustiça de tal ordem, que imediatamente foi revogada. Em 1781, o Servo de Deus foi nomeado Mestre do noviciado de Macacu, Rio de Janeiro, pelos qualidades pessoais, profunda vida espiritual e grande zelo apostólico.

O Bispo, porém, que o queria em São Paulo, não lhe fez chegar a carta do Superior Provincial “para não privar seu bispado de tão virtuoso religioso […] que, desde que entrou na religião até o presente dia, tem tido um procedimento exemplaríssimo pela qual razão o aclamam santo”.

Frei Galvão foi nomeado Guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo, em 1798, e reeleito em 1801. A nomeação de Guardião provocou desorientação nas Recolhidas da Luz. Á preocupação das religiosas é necessário acrescentar aquela do “Senado da Câmara de São Paulo” e do Bispo da cidade, que escreveram ao Provincial: “todos os moradores desta Cidade não poderão suportar um só momento a ausência do dito religioso. […] este homem tão necessário às religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da Capitania de São Paulo; é homem religiosíssimo e de prudente conselho; todos acodem a pedir-lho; é o homem da paz e da caridade”.

Graças a estas cartas, Frei Galvão tornou-se Guardião sem deixar a direção espiritual das Recolhidas e povo de São Paulo. Em 1802, Frei Galvão recebeu o privilégio de Definidor pela solicitação do Provincial ao Núncio Apostólico de Portugal, porque “é um religioso que por seus costumes e por sua exemplaríssima vida serve de honra e de consolação a todos os seus Irmãos, e todo o Povo daquela Capitania de São Paulo, Senado da Câmara e o mesmo Bispo Diocesano o respeitam corpo um varão santo”.

Em 1808, pela estima que gozava dentro de sua Ordem, foi-lhe confiado o cargo de Visitador-Geral e Presidente do Capítulo, mas devido ao seu estado de saúde foi obrigado a renunciar, embora desejasse obedecer prontamente.

Em 1811, a pedido do Bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, no Estado de São Paulo. Ai permaneceu onze meses para organizar a comunidade e dirigir os trabalhos iniciais da construção da Casa. Voltou para São Paulo e ali viveu mais 10 anos.

Quando as suas forças eram insuficientes para o ir-e-vir diário do Convento de São Francisco ao Recolhimento, obteve dos Superiores (Bispo e Guardião) a autorização para ficar no Recolhimento da Luz.

Drante a última doença, Frei Antônio passou a morar num “quartinho” (espécie de corredor) atrás do Tabernáculo, no fundo da igreja, graças à insistência das religiosas, que desejavam prestar-lhe algum alivio e conforto.

Terminou sua vida terrena aos 23 de dezembro de 1822, pelas 10 horas da manhã, confortado pelos sacramentos e assistido pelo Padre Guardião, dois confrades e dois sacerdotes diocesanos.

Frei Galvão, a pedido das religiosas e do povo, foi sepultado na Igreja do Recolhimento, que ele mesmo construíra. O seu túmulo sempre foi, e continua sendo até os nossos dias, lugar de peregrinação constante dos fiéis, que pedem e agradecem graças por intercessão do “homem da paz e da caridade” e fundador do Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, cujo carisma é a “laus perennis”, ou seja, adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, vivida em grande pobreza e continua penitência com alegre simplicidade.

Escreveu Lúcio Cristiano em 1954: “Entre os heróis que plasmaram o destino de São Paulo, merece lugar de destaque a inconfundível figura de Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, o apóstolo de São Paulo entre os séculos XVIll e XIX”, cuja lembrança continua viva no coração do povo paulista.

O Processo de Beatificação e Canonização iniciado em 1938 foi reaberto solenemente em 1986 e concluído em 1991. Aos 8 de abril de 1997 foi promulgado pelo Papa João Paulo II o Decreto das Virtudes Heróicas e aos 6 de abril de 1998, o Decreto sobre o Milagre. Frei Galvão foi declarado bem-aventurado no dia 25 de outubro de 1998.

Frei Galvão foi canonizado no dia 11 de maio de 2007, pelo Papa Bento XVI, em uma grande celebração no Campo de Marte, em São Paulo.

domingo, 11 de outubro de 2015

Franciscanos do dia - 11/10 - Bem-aventurados Francisco, Caio, Tomás, Leão, Luís e Lúcia



Mártires japoneses da Terceira Ordem (+ 1622-1628). Beatificados por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.
  
A perseguição religiosa do século XVII rendeu à Igreja 205 mártires, que foram beatificados solenemente por Pio IX a 7 de julho de 1867.

Fazem parte desta gloriosa falange os membros da Ordem Franciscana Secular: Francisco, Caio, Tomás, Leão, Luís e Lúcia. São escassas as notícias acerca de suas vidas, mas nem por isso deixa de ser grande o seu heroísmo. Leão sofreu o martírio na Colina Santa de Nagazali a 19 de agosto de 1622, e no mesmo Calvário japonês, mas quase cinco anos mais tarde, a 18 de agosto de 1627, imolaram a vida por Cristo os mártires Francisco, Caio, Tomás e Luís.

Luísa ou Lúcia, por sua vez, era filha de um nobre de Nagasaki, casada com um português rico, Filipe Fleites, que faleceu pouco depois do casamento. A viúva, cristã fervorosa, dedicou-se totalmente à oração e ao apostolado de obras de caridade e de beneficência. Era conhecida como a “mãe dos missionários”, “consoladora dos aflitos”, “protetora dos pobres e desvalidos”. Como fervorosa terceira franciscana, foi desse carisma que hauriu o segredo da santidade.

Sua casa tornar-se asilo de cristãos e missionários, perseguidos pelas injustas leis do governo. Por denúncia de cristãos que negaram a fé, viu sua casa cercada de soldados e foi, juntamente com outros missionários, levada à prisão. No dia 10 de setembro de 1622 foi levada ao local do suplício.

A Beata Lúcia de Fleites, vestida com o hábito franciscano e empunhando uma cruz, procurava animar os demais cristãos: “Encomendemo-nos a Deus com confiança, e ele se encarregará de nos assistir e nos dar forças para suportarmos por ele todos os padecimentos. As santas virgens Inês, Cecília e Águeda, sendo embora frágeis donzelas, conseguiram ser fortes no martírio. Também nós Deus nos há de ajudar e dar coragem para morrermos por ele. Mulheres, coragem! Mostremo-nos fortes para confundirmos os perseguidores da nossa fé. Jesus, esposo das nossas almas, tem preparada para nós uma deslumbrante coroa de glória. Hoje mesmo estaremos com ele no paraíso!”

Morreu cantando o Magnificat, enquanto seu corpo, que já contava com 80 anos, ardia em meio às chamas acesas pelos soldados.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Especial - O fascínio de São Francisco de Assis


A docilidade ao Espírito requer ousadia

Frei Sinivaldo S. Tavares, OFM

Vivemos numa situação de crise e, entre surpresos e perplexos, constatamos um processo de profundas transformações. Muitas são as indagações que brotam da experiência dos homens e das mulheres do nosso tempo. Inúmeras, as sementes de vida e de esperança entranhadas no nosso cotidiano que, ansiosamente, atendem o momento propício da germinação. Estamos convencidos de que o projeto evangélico de Francisco de Assis goza de uma atualidade surpreendente. Ele tem despertado em todas as culturas e épocas fascínio e acolhida. Seremos capazes, também nós, de encarnar o projeto evangélico de Francisco? Estamos dispostos a oferecer-lhe aquela concreção singular capaz de contagiar alma e corpo, vida e palavra, atitudes pessoais e relacionais?

1. A “ortopráxis” como verificação da “ortodoxia” do nosso carisma

O Vaticano II convocou-nos à recuperação do nosso carisma inspiracional. Desde então, temos nos empenhado em redescobrir nossa. identidade franciscana, mediante o estudo das Fontes, e em repropô-la nas nossas legislações e documentos recentes. Nossa maior dificuldade, todavia, tem sido encarnar de maneira significativa aqueles valores nos quais cremos e esperamos e que publicamente professamos. Precisamos estabelecer com a nossa mais genuína tradição uma relação de “fidelidade criativa”. Não basta se debruçar sobre os textos franciscanos. Eles surgiram como fruto da experiência concreta de Francisco e de seus primeiros companheiros. Testemunham o esforço deles em encarnar o evangelho em meio à realidade desafiante dos inícios do século XIII.

Celano escreve que Francisco “fez do seu corpo uma língua” (1Cel 97). Pois compreender é bem mais do que simplesmente explicar. Não que a explicação se oponha à reta compreensão. No entanto, muitas das nossas explicações, ao invés de conduzir-nos à aplicação, nos detêm num prazeroso “incesto intelectual”, responsável por situações de perniciosa estagnação. Importa recuperar o princípio evangélico de que é pelo fruto que se conhece a árvore. Não se trata, portanto, de condicionar o ser ao fazer quanto de perceber que o ser se revela e se verifica no fazer.

2. O desafio perene de requalificar nossa vida

Não estamos imunes à onda do pragmatismo e do eficientismo. Preocupamo-nos demasiadamente com a visibilidade e, não raras vezes, assumimos atitudes triunfalistas e prepotentes. Francisco recorda que somos chamados a ser irmãos e menores e que nisto consiste propriamente nossa missão evangelizadora. Importa recuperar a gratuidade fundamental da nossa existência, expressão do dom livre e desinteressado de Deus.

 Discernir em cada situação a presença discreta de Deus que nos desafia e interpela.

Ver as diferenças não como ameaça à unidade, nem como sintoma de uma comunhão perdida. Acolhê-las, ao contrário, como expressão da multiforme e fecunda graça de Deus. Não apenas suportá-las, numa atitude de indiferença, por vezes, reveladora de uma tácita cumplicidade. Mas assumi-las como ocasião propícia para se deixar surpreender pelo Deus de Jesus. Isso só é possível para aqueles que, sabiamente, aprenderam a suspeitar de si mesmos e dos próprios projetos. E perceberam que a diferença do outro, muitas vezes, pode se tomar oportunidade privilegiada de enriquecimento e de amadurecimento.

Para tanto, é necessário que nos proponhamos a reconstruir nossa identidade interior. Resgatar o mistério da própria vocação mediante a escuta silenciosa da Palavra de Deus e a participação assídua à Eucaristia. Redescobrir, através da leitura atenta e da meditação da Palavra de Deus, que Ele irrompe na nossa vida cotidiana de formas e modos cada vez novos e que nos interpela a realizar sua vontade.

Celebrar a Eucaristia como memória do Mistério pascal de Cristo que se recria na vida de cada um de nós e das nossas fraternidades. Somente em tal caso a Eucaristia será experimentada como aquele alimento que nos revigora no esforço em “fazer o que sabemos que Ele quer e de querer sempre o que lhe agrada” (Carta a toda a Ordem, 50). Somente enquanto alicerçados sobre uma formação espiritual sólida, seremos capazes de reconciliar as diversidades presentes em nossas fraternidades e províncias.

Somos chamados, hoje mais do que nunca, a recuperar os votos na sua força libertadora. Não são, em primeiro lugar, sinais de uma carência que deve ser abraçada numa atitude de ascetismo heróico. São, na verdade, expressão de um amor maduro, desinteressado, capaz de suportar todo e qualquer sacrifício. Não devemos, portanto, nos comportar como pessoas castradas na sua humanidade. Os votos, quando vividos na sua radicalidade, deixam transparecer aquela humanidade mais genuína que, como germe, está escondida no âmago de cada um. Eles testemunham uma sadia experiência de êxodo: nos libertam da idolatria do poder, do ter e do prazer e nos propiciam o encontro com o outro na sua irredutível diferença.

3. A urgência e a imprescindibilidade de se recuperar a ousadia

Olhando para a realidade das nossas províncias, surge quase que espontaneamente a pergunta: “Será mesmo necessário agir sozinho para poder ser criativo?” O que fazer para não nos deixarmos sucumbir frente à tentação sedutora da estagnação ou da estéril repetição do passado? Somos suficientemente contemplativos a ponto de discernir em cada acontecimento uma senda que conduz a Deus e de acolher com generosidade os inúmeros apelos que Ele nos lança em meio a tantas situações que constituem o nosso cotidiano mais ordinário? O que fizemos daquela ousadia com a qual abraçamos a vida franciscana? Por que nossas fraternidades se deixam contaminar pelo vírus do uniformismo massificante e asfixiante?

Entre tantos desafios que nos são colocados, talvez o maior de todos seja justamente o de restituir credibilidade ao nosso projeto de vida. E isto requer ousadia. Não podemos nos omitir nem mesmo postergar esta incumbência às gerações futuras. É fundamental que assumamos uma atitude de diálogo com nossos reais interlocutores. Que estejamos dispostos a ouvi-los com respeito e caridade, conscientes de que temos tanto a aprender deles. Que saibamos discernir, a exemplo dos nossos pais na fé, “as sementes do Verbo”, a secreta presença de Deus no mundo moderno e nas demais religiões e culturas. Que estejamos abertos a promover, juntamente com todos os seres humanos de boa vontade, relações mais justas e fraternas, no respeito pela liberdade e dignidade de cada pessoa.

Esta atitude dialógica assume feições muito concretas no trato com os jovens que pedem para serem admitidos à nossa experiência de vida. Não há dúvida de que cabe a nós propor-lhes a riqueza da nossa tradição cristã e franciscana. É preciso, todavia, respeitar e valorizar a “recepção criativa” testemunhada por eles ao encarnar o carisma franciscano nas concretas situações em que vivem e segundo desafios e indagações inusitados. Não tem sido esta a dinâmica do processo histórico de constituição da nossa mais genuína tradição franciscana?

4. Deixar-se inspirar por Aquele que faz novas todas as coisas

Estamos imersos num mundo em constante transformação. Precisamos vencer o medo e a inércia que paralisa nosso caminhar. Para estarmos à altura dos inúmeros desafios do tempo presente é preciso, em primeiro lugar, alargar nossos horizontes para além das preocupações com a própria sobrevivência e com a eficiência antropocêntrica. Necessário se faz, portanto, rever nossos critérios e projetos. Somos convocados a fazer memória do nosso passado, deixando Cristo irromper em nossa vida através do Seu Espírito Vivificante. Francisco dizia que o Ministro Geral da Ordem era o Espírito Santo. A razão de tal escolha não residiria propriamente no fato de ser Ele aquele que “faz novas todas as coisas”?

Texto da “Revista Franciscana”, 2006, da FFB.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

07/10 - Nossa Senhora do Rosário


O Rosário é a devoção mariana por excelência, a mais popular e a mais querida ao coração de Maria.

O Rosário é a devoção mariana por excelência, a mais popular e a mais querida ao coração de Maria. Ela mesma a recomendou a Santo Domingo de Guzmán, apresentando-a como meio eficaz para conservar e aumentar a fé, para dissipar os erros, para uma vida mais evangélica.

Esta festa foi instituída pelo Papa Pio V em 1571, quando se celebrou a vitória dos cristãos na batalha naval de Lepanto. Nesta batalha, os cristãos católicos, em meio à recitação do Rosário, resistiram aos ataques dos turcos otomanos vencendo-os em combate. A celebração de hoje convida-nos à meditação dos Mistérios de Cristo, os quais nos guiam à Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição do Filho de Deus.
A origem do Rosário é muito antiga, pois conta-se que os monges anacoretas usavam pedrinhas para contar o número das orações vocais. Desta forma, nos conventos medievais, os irmãos leigos dispensados da recitação do Saltério (pela pouca familiaridade com o latim), completavam suas práticas de piedade com a recitação de Pai-Nossos e, para a contagem, o Doutor da Igreja São Beda, o Venerável (séc. VII-VIII), havia sugerido a adoção de vários grãos enfiados em um barbante.

Em recentes aparições em Fátima, Lourdes e Salete e outros lugares, a Virgem se mostrou com o rosário nas mãos, recomendando a sua recitação frequente. Em 1917, em Fátima, apareceu seis vezes a Lúcia, Jacinta e Francisco, prometendo-lhes muitas graças se recitassem todos os dias o Rosário. Na última aparição, no dia 13 de outubro, exclamou: “Eu sou a Virgem do Rosário”.

A COROA FRANCISCANA

Outra bela devoção mariana que se desenvolveu no seio da Ordem Franciscana é a Coroa Franciscana das Sete Alegrias da Santíssima Virgem.

Em 1442, no tempo de São Bernardino de Sena, se difundiu a notícia de uma aparição da Virgem a um noviço franciscano. Este, desde pequeno, tinha o costume de oferecer à bem-aventurada Virgem uma coroa de rosas. Quando ingressou entre os Irmãos Menores, sua maior dor foi a de não poder seguir oferecendo à Santíssima Virgem esta oferenda de flores. Sua angústia chegou a tal ponto que decidiu abandonar a Ordem Seráfica. A Virgem apareceu para consolá-lo e lhe indicou outra oferenda diária que lhe seria mais agradável. Sugeriu-lhe recitar a cada dia sete dezenas de Ave Marias intercaladas com a meditação de sete mistérios gozosos que ela viveu em sua existência. Desta maneira teve origem a coroa franciscana, Rosário das sete alegrias.

São Bernardino de Sena foi um dos primeiros a praticar e difundir esta devoção, que para ele era fonte de grandes favores. Um dia enquanto recitava esta coroa apareceu-lhe a Santíssima Virgem e com inefável doçura lhe disse que gostava muito desta devoção e o recompensava com milagres para converter os pecadores: “Te prometo fazer-te partícipe de minha felicidade no paraíso”. A coroa franciscana medita os sete gozos de Maria: a anunciação, a visita a Santa Isabel, o nascimento de Jesus em Belém, a adoração dos Magos, a apresentação de Jesus no templo e a manifestação de sua divindade entre os doutores do templo, a ressurreição de Jesus e sua aparição à Virgem, a vinda do Espírito Santo, a Assunção de Maria em corpo e alma ao céu, e a coroação de Maria como rainha do céu e da terra, medianeira de graças, mãe da Igreja e soberana do Universo.


 A Coroa das Sete Alegrias de Nossa Senhora é uma antiga devoção franciscana. Por isso também é chamado de Rosário Franciscano. A espiritualidade de São Francisco canta os louvores a Deus por tudo de bom que o Senhor nos faz. Na Coroa Franciscana, celebramos as grandes alegrias da virgem Maria. São Sete alegrias e rezamos um Pai Nosso, dez Ave -Marias e um Glória ao Pai para cada alegria de Nossa Senhora.

Existe uma tradição segundo a qual Nossa Senhora, antes de sua Assunção ao Céu, teria vivido 72 anos nesta terra. Por isso, na Coroa Franciscana rezam-se duas Ave-Marias antes das sete dezenas, completando, assim, uma Ave-Maria para cada ano de vida de Nossa Senhora.

Medite as sete alegrias de Nossa Senhora, rezando a Coroa Franciscana.

Oferecimento:

Ó piedosíssima Virgem Maria, purificai nossos lábios e nossos corações, para que possamos, dignamente, recitar a coroa de vossas alegrias. Nós vo-la oferecemos, para gloriar-vos, para implorar vosso auxílio, em favor das almas do purgatório, pelas necessidades da Igreja e de nosso País para satisfazer em tudo, a justiça divina. Nós nos unimos a todas as intenções do Sagrado Coração de Jesus e do vosso Coração Imaculado.

- Creio
- Pai-Nosso
- Duas Ave-Marias

PRIMEIRA ALEGRIA: Consideramos a alegria de Nossa Senhora ao ouvir do Arcanjo São Gabriel que fora escolhida por Deus para ser a Mãe do Salvador

- 1 Pai-Nosso
- 10 Ave-Marias
- 1 Glória ao Pai (sem a jaculatória: "Ó meu Jesus...")

SEGUNDA ALEGRIA: Consideramos a alegria da Santíssima Virgem em casa de sua prima Isabel, quando foi pela primeira vez saudada como Mãe de Deus
- 1 Pai-Nosso
- 10 Ave-Marias
- 1 Glória ao Pai (sem a jaculatória: "Ó meu Jesus...")


TERCEIRA ALEGRIA: Consideramos o inefável gozo de Nossa Senhora no estábulo de Belém, quando seu Filho Divino nasceu
- 1 Pai-Nosso
- 10 Ave-Marias
- 1 Glória ao Pai (sem a jaculatória: "Ó meu Jesus...")

QUARTA ALEGRIA: a Adoração dos Reis Magos ao Menino Deus
- 1 Pai-Nosso
- 10 Ave-Marias
- 1 Glória ao Pai (sem a jaculatória: "Ó meu Jesus...")

QUINTA ALEGRIA: Maria e José encontram Jesus no templo
- 1 Pai-Nosso
- 10 Ave-Marias
- 1 Glória ao Pai (sem a jaculatória: "Ó meu Jesus...")

SEXTA ALEGRIA: Maria vê a Jesus Ressuscitado
- 1 Pai-Nosso
- 10 Ave-Marias
- 1 Glória ao Pai (sem a jaculatória: "Ó meu Jesus...")

SÉTIMA ALEGRIA: a Assunção de Maria e sua Coroação
- 1 Pai-Nosso
- 10 Ave-Marias
- 1 Glória ao Pai (sem a jaculatória: "Ó meu Jesus...")

- SALVE RAINHA

Oração Final:

Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que nenhum daqueles que tem recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência e reclamado a vosso socorro, fosse por vós desamparado. Animados nós, de igual confiança, a vós, Virgem dentre todas singular, como a uma Mãe recorremos e de vós nos valemos, e, gemendo com o peso de nossos pecados nos prostramos a vossos pés. Não desprezeis nossas súplicas. Ó Mãe do Divino Verbo Humanado, mas dignai-vos de as ouvir, propícia, e de nos alcançar o que vos rogamos. Amém!

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

domingo, 4 de outubro de 2015

A passagem do grande passante. Reflexão para hoje.


Por Frei Almir Guimarães

Festa de Francisco de Assis! O mundo devia parar e contemplar esse que é o Cristo redivivo, aquele que reescreveu em sua carne e em seu espírito a vida de Cristo Jesus. Um Cristo entre nós. O Papa Francisco está se deixando embeber do espírito do Poverello e anda cantando cantigas simples que respiram o ar de Assis.

Ele fora um homem das passagens. De lugar em lugar, sem domicílio, como forasteiro e peregrino, andando sempre em frente, ciente de que não é possível instalar-se. Caminhar por estradas interiores, sair de um estado de busca em busca para sempre contemplar mais nitidamente o semblante do Amado que ele beija no leproso, saboreia ao ouvir suas palavras, adora na Eucaristia.

Tantos irmãos e tantas irmãs. Os frades simples e humildes como Leão e Junípero, o culto e douto Antônio, professor, a irmã Clara. Todos foram se enfileirando atrás dele numa alegre procissão e num cortejo de gente nova.

Num determinado momento era a hora de acolher com respeito a chegada da irmã Morte que o levaria pela mão a fazer a última passagem e conduziria à terra dos vivos.

À notinha do dia 3 de um outubro de muitos anos e séculos passados, Francisco foi estendido em terra, na terra nua. À volta os frades todos.

“E eis que um esforço de voz, cortado de agonias, começa Francisco a entoar: A minha voz clama pelo Senhor, a minha voz sobe ao Senhor… Senhor, atende à minha prece, pois me sinto deveras abatido. Livra-me dos meus perseguidores que são mais fortes do que eu. Arranca a minha alma desta prisão para que eu louve o teu nome: os justos me coroarão quando me tenhas feito justiça”. Assim descreve Frei Fernando Félix Lopes, OFM (*).

E ele continua: “Frágil barquinha que a tempestade arrastou ao mar alto, e de destroça no embater com penedos solitários. Arromba-se o costado, caem rotas as velas, e em pedaços os mastros; e daquele ranger de destroços, voz de criança, argêntea e bela, ergue-se e voa; é a voz de tanta alegria que o mar se aquieta a escutar, como se um novo Orfeu tirasse dons inéditos de uma nova lira”.

Francisco termina sua peregrinação. É a celebração de sua última páscoa. “Daquele corpo em destroços, ali estendido no chão, cresce e sobe a apagar-se, na distância das Alturas a melodia do salmo. E, subindo, a voz como se fora de um homem renascido na justiça original, voz de criança, argêntea e bela, abre nas trevas da noite esteira de tanta luz que arrasta consigo um bando de cotovias entontecidas por aquela madrugada nova (…) Voara para os céus um homem, um poeta, uma visão nova da vida: um homem como este não apareceu mais sobre a Terra!”

(*) O Poverello S.Francisco de Assis, Pe. Fernando F. Lopes, OFM, Editorial Franciscana de Braga, p. 493

sábado, 3 de outubro de 2015

Trânsito de São Francisco de Assis


Ao cair da tarde de 3 de outubro de 1226, a febre aumentou e as forças reduziram-se como uma chamazinha que sai e não sai do pavio quase seco de óleo. Então Francisco quis ser colocado sobre a terra e pediu que cantassem. E ele também cantou, com os seus, o salmo 141, que fala do desejo de ir para Deus: 


“Em voz alta ao Senhor eu imploro,
em voz alta suplico ao Senhor!
Eu derramo na sua presença
o lamento da minha aflição,
diante dele coloco minha dor!
Quando em mim desfalece a minh’alma,
conheceis, ó Senhor, meus caminhos!
Na estrada por onde eu andava
contra mim ocultaram ciladas.
Se me volto à direita e procuro,
não encontro quem cuide de mim
e nem tenho aonde fugir;
não importa a ninguém a minha vida!
A vós grito, Senhor, a vós clamo
e vos digo: ‘Sois vós meu abrigo,
minha herança na terra dos vivos’,
Escutai meu clamor, minha prece,
porque fui por demais humilhado!”

Quando, levados pela melodia, os frades começaram a cantar:

“Arrancai-me, Senhor, da prisão,
e em louvor bendirei vosso nome!
Muitos justos virão rodear-me
pelo bem que fizestes por mim”.

Francisco havia deixado seu corpo sobre a terra.
O Canto enfraqueceu e se apagou na boca dos frades, que recitaram o Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo como conclusão do salmo entre lágrimas e emocionados.
Fez-se silêncio na cabana. Parecia que a natureza ao redor tivesse emudecido.


Carta Encíclica de Frei Elias sobre o Trânsito de São Francisco, pág. 1453, das Fontes Franciscanas:

“Era luz verdadeira a presença de nosso irmão e Pai Francisco, não só para nós que compartilhávamos da mesma profissão de vida, mas também para os que estavam longe. Era, pois, luz, enviada pela luz que iluminava os que estavam nas trevas e na sombra da morte, para dirigir seus passos no caminho da paz. Isto ele fez, como verdadeira luz do meio-dia, que nascendo do alto, iluminava o seu coração e acendia a sua vontade com o fogo de seu amor… Seu nome é celebrado até os confins mais longínquos e todo o universo admira as maravilhas de sua obra.

(…) Alegremo-nos porque antes de ser arrebatado de nós, qual outro Jacó, abençoou todos os seus filhos e perdoou a todos por qualquer erro que tivesse cometido  ou pensado contra ele…

(…) Enquanto era vivo, tinha um aspecto descuidado, não havia beleza em seu rosto; nenhum membro havia restado nele que não estivesse dolorido. Devido à contração dos nervos, seus membros estavam rígidos como os de um cadáver. Mas depois de sua morte, seu semblante ficou belíssimo, brilhando com admirável candura, alegrando a visão. Portanto, irmãos, bendizei o Deus do céu e dai-lhe glória diante de todo o ser vivente, porque Ele usou de misericórdia para conosco. Guardai a lembrança de nosso Pai e Irmão Francisco para louvor e glória daquele que o engrandeceu entre os homens e o glorificou perante os anjos. Rezai por ele, conforme ele mesmo  pediu antes de morrer e invocai-o para que Deus nos faça participantes com ele de sua santa Graça. Amém.