quinta-feira, 30 de junho de 2016

Meu São Francisco Brasileiro.



2. Francisco ergueu templos

A descoberta da alma da natureza e a possibilidade de com ela dialogar, na maneira simples de São Francisco, tornou-se para a arte uma vertente caudalosa que, invadindo a seara dos artistas, convidou-os a transplantar para suas telas – primeiro Giotto timidamente e depois os outros sempre mais arrojados – toda a riqueza que Deus semeara no cosmos, em substituição à monótona coloração sem vida ou forma. 

E a pintura e a escultura e a arquitetura e a poesia se tornaram “franciscanas”, porque assumiram a sensibilidade de Francisco de captar o belo semeado na envolvência da vida. E, no Brasil, onde o ouro vinha na abundância de uma terra em tudo dadivosa, os artistas esqueceram Dona Pobreza e seu Esposo e colocaram ouro nas vestes remendadas do Poverello, e colocaram o próprio Poverello dentro de templos esplendorosos, como no sublime exemplo da igreja de Salvador, Bahia, onde o barroco se esmerou nas talhas douradas e policromadas, emprestando à arte uma fala que afirma: Francisco é o único capaz de se fazer o portador fiel das riquezas do homem até Deus, doador de toda riqueza. Quem lá entra fica dominado pela fé transformada em harmonia que os artistas do século XVIII alcançaram cravar naquele complexo. 

Descobre, igualmente, que foi esta a forma que estes artistas encontraram para glorificar o pequenino homem de Assis que lá está abraçado ao seu Cristo, nu e despojado, pisando firme sobre o mundo com suas riquezas e vaidades, ainda que colocado num nicho de ouro. Olhos fixos no Cristo, ouro. Olhos fixos no Cristo, ouro algum do mundo apaga aquela luz que lhe prende os olhos e lhe enche o coração. Aqueles antepassados nossos não entendiam apenas de arte, entendiam também de mística… Por isso, o que saiu das mãos deles é tão rico de terra, quão rico de céu.

Lá em Ouro Preto, a lendária Vila Rica, encontra-se, no dizer de Eduardo Etzel, “a joia da arquitetura barroca de Minas Gerais”: um templo dedicado a São Francisco de Assis, cujas linhas arquitetônicas todos conhecemos. Ali deixou o Aleijadinho, na pedra fria, a marca de seu gênio sofrido, como uma canção eterna que seu amor ditou em homenagem ao Patriarca de Assis, pois, São Francisco deve ter ensinado ao Aleijadinho louvar o Senhor pelas deformações também. Complete este poema cinzelado na pedra, a policromia dos pincéis de grandes mestres da pintura, como Mestre Costa Ataíde.

Entre os monumentos que adornam São João Del Rey, domina altaneira outra igreja dedicada a São Francisco, cantando a mesma fé e proclamando o mesmo carinho despertado pelos Pobrezinhos de Cristo em outros recantos desta terra dadivosa, que de Francisco aprendeu que Deus merece o que de melhor a terra produz e o gênio do homem é capaz de criar.

E, no Rio de Janeiro, em meio há tanta beleza natural por Deus ali semeada, plantou a fé outro templo a São Francisco, menor que todos talvez, mas não menos esplendoroso, não menos eloquente, não menos carregado de amor que os outros templos que a arte colonial ergueu a São Francisco. E lá, em pleno sertão do Ceará, ergue-se o que Frei Pedro Sinzig chamava, em 1926, “o maior santuário de São Francisco no mundo”: é a Basílica de São Francisco das Chagas de Canindé, um cacto florescendo na aridez da terra.

Sem nos determos em tantos outros templos que homenageiam São Francisco, vamos parar junto a um templo moderno que se espelha nas águas da Pampulha, em Belo Horizonte, proclamando a arte de Oscar Niemeyer e o pincel vigoroso de Cândido Portinari. Lá está São Francisco, no painel central, profeticamente retratado em seu despojamento contorcido, com enorme lobo domesticado junto a si, numa atitude de ternura, numa clara alusão de que o homem moderno precisa da volta deste domador de feras. O tamanho do lobo parece insinuar a dimensão da ferocidade do homem hodierno… 

Entre o barroco que nasceu com o Brasil e o moderno da Pampulha que lutou para impor-se, corre toda uma linha de fé e carinho para  com este novo Cristo, chagado e ardente, nos quadros e na estatuária dos grandes mestres e do gênio inculto de nosso povo devoto. Em toda parte, plasticamente, brota a figura de Francisco de Assis, marcada com um pouco daquilo que cada um vê retratado nele e que gostaria de chegar a ser…

Frei Hugo D. Baggio

Texto publicado na Revista Grande Sinal, Revista de Espiritualidade e Pastoral, publicada pela Editora Vozes.  

Franciscano do dia - 30/06 - Bem-aventurado Raimundo Lulio


Mártir da Terceira Ordem (1235-1316). Aprovou seu culto Clemente XIII no dia 19 de fevereiro de 1763. 

Raimundo Lúlio nasceu em Palla de Maiorca, entre os anos de 1232 e 1233 e morreu em 29 de junho de 1315. Também conhecido como Raimundo Lulio em espanhol, foi o mais importante escritor, filósofo e poeta, missionário e teólogo da língua catalã.

Foi um prolífico autor também em árabe e latim, bem como em Langue d’Oc (ocitano).
Foi um leigo próximo aos franciscanos, talvez tenha pertencido à Ordem Terceira dos Frades Menores. É conhecido como “Doctor Illuminatus”, embora não seja um dos 33 doutores da igreja.

Ramon era filho de uma família de boa situação financeira, eram seus pais Ramon Amat Llull e Isabel d’Erill.

Dedicou-se ao apostolado entre os muçulmanos. Casou-se com 22 anos com Blanca Picany da qual teve dois filhos: Domingos e Madalena. Mais tarde, após converter-se em 1262 tornou-se terciário franciscano. Em 1275, depois de uma experiência mística, da qual saiu com o duplo propósito de preparar-se para o Magistério e dedicar-se à conversão dos infiéis, e em vista das insistentes queixas de sua esposa abandonou definitivamente a família.

De acordo com Umberto Eco, o lugar do nascimento foi determinante para Llull, pois Maiorca era uma encruzilhada, ná época, das três culturas: cristã, islâmica e judia, até o ponto de que a maior parte de suas 280 obras conhecidas terem sido escritas inicialmente em árabe e catalão.

Além de ser o primeiro autor que utilizou uma língua neolatina para expressar conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos e de se destacar por uma aguda percepção que o permitiu antecipar muitos conceitos e descobrimentos, foi o criador do catalão literário, com um elevado domínio da língua e seu primeiro novelista.

De família cristã, Lúlio conviveu com muçulmanos e judeus em sua ilha de origem. Lúlio converteu-se definitivamente ao cristianismo em 1263, no ano da famosa Disputa de Barcelona, entre um teólogo judeu, o mestre Mosé ben Nahman de Girona, e um judeu convertido, Pau Crestià. Nessa Disputa, foi utilizado o procedimento de partir das argumentações do livro revelado do opositor. A partir dessa época, os apologetas cristãos passaram a estudar em profundidade os textos islâmicos e judeus.

Mas Lúlio seguiu uma outra vertente. Em seu diálogo interreligioso, motivado pela tentativa missionária de conversão do “infiel”, preferia partir do que chamava de “razões necessárias”. É o que desenvolve, por exemplo, em O Livro do Gentio e dos Três Sábios (1274-1276).

Futuramente, criará uma forma de argumentação baseada na automatização do pensamento, na chamada Grande Arte, utilizando um procedimento baseado na Zairja.

Conhecido em seu tempo pelos apelidos de Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), Lulio é uma das figuras mais fascinantes e avançadas dos campos espiritual, teológico, literário da Idade Média. Em alguns de seus trabalhos propôs métodos de escolha, que foram redescobertos séculos mais tarde por Condorcet (século XVIII).

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Francisco de Assis e a vida como louvação.


Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho.

Leio Tomás de Celano e deparo com esta frase: “Abraçava todos os seres criados com um amor e uma devoção da qual exortava a louvar!” (2Cel 165). “Exulta em todas as obras das mãos do Senhor e intui, através dos espetáculos do encantamento, a razão e causa que tudo vivifica. Reconhece nas coisas belas Aquele que é o mais Belo; todas as coisas boas lhe clamam: "Quem nos fez é o Melhor! Por meio dos vestígios impressos nas coisas ele segue o Amado” (2Cel 165,4). 

A conversão de Francisco não é romper com nada; mas uma mudança visual, uma mudança de lugar. Isto dá um diferencial qualitativo em sua vida. Ver a vida de um modo diferente traz uma nova vida. Hoje vejo neo-convertidos rompendo com a vida não sabemos se o que está aí é santidade ou patologia. Francisco nos ensina que viver a vida de um modo santo é ter um referencial de Amor, Bondade e Convivência, mas dentro da realidade. Sem estar dentro da realidade somos completamente cegos.

Francisco nos ensina a exprimir e traduzir a vida com aspirações profundas, com uma presença e linguagem humana que comove e nos mostra o divino em cada detalhe da existência. Ele nos ensina a olhar a vida com olhar divino, com um ponto de vista simbólico, com um engajamento que celebra e reparte. Para ele, olhar o mundo de um modo mais espiritual é tornar-se mais humano. Ver bem a obra de Deus nos humaniza. 

A beleza da santidade é uma humanidade com os pés no chão e o olhar no céu. Ele não é uma baixa auto-estima, mas uma elevada auto-aceitação. Ele não é um pessimista que se esconde, mas um otimista que vê e celebra a vida. Viu tudo na união das singularidades. Amou não só as florestas, mas cada árvore. Amou as pessoas do jeito delas, de Antônio a Junípero, de Inocêncio III ao mendigo da esquina, do Sultão ao ladrão. Ele viu bem, conviveu e cuidou do que amou. Na sua humildade abraçou a verdade de tudo e de todos. Flexível, sensível, vivaz e atento, partilhou com imenso louvor a emoção, sentimentos, seus trapos, sua  fé!

FREI VITÓRIO MAZZUCO

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

Franciscano do dia - 29/06 - Bem-aventurado Benvindo de Gúbio


Religioso da Primeira Ordem (+1232). Gregorio IX e Inocêncio XII em 1697 concederam em sua honra ofício e Missa. 

Benvindo era natural de Gúbio, na Úmbria, e soldado de profissão e analfabeto. Sofreu a influência franciscana e tomou o hábito dos Menores em 1222. Desde o momento em que ingressou na Ordem, modelou sua vida inteiramente pela de São Francisco.

 Encarregado de cuidar dos leprosos, a seu próprio pedido, tratava-os como se fossem o Senhor, em pessoa, pensando-lhes as chagas, dando-lhes banho, e jamais evitando os casos mais repulsivos e os ofícios mais humildes. Ele os servia em tudo, sempre alegre, sempre afável.

Sua compaixão por eles era tanto maior talvez, sobretudo, pelo fato de que ele próprio padecia de várias enfermidades, que suportava com inesgotável paciência. Passava grande parte da noite em oração, e, muitas vezes, durante a missa, teve a visão de uma criancinha linda, para a qual estendia os braços como se procurasse abraçá-la. Sua conduta era tão exemplar, que, ao que se sabe, nunca mereceu uma única censura. Ele teria podido viver ignorado do mundo exterior, no isolamento da vida religiosa, não fossem os dons sobrenaturais de natureza superior que Deus lhe concedera. Esses dons propagaram sua fama por toda a parte. Benvindo morreu em Corneto, na Apúlia, em 1232. Cinco anos depois de sua morte, os bispos de Veneza e de Amalfi se dirigiram à S. Sé, pedindo-lhe que aprovasse o seu culto, e citaram muitos milagres em apoio à sua petição. O papa Gregório IX concedeu-a para as duas dioceses.

Parece que não se tem notícia de uma biografia independente, mas vejam-se Acta Sanctorum, junho, vol. VII; Wadding, Annales O.M.; e Léon, Auréole Séraphique (traduzida para o inglês), vol. lI, p, 427-429.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Meu São Francisco Brasileiro


1. Francisco veio nas Caravelas

Um dia, nas terras até então desconhecidas e que viriam a ser o Brasil, aportaram as caravelas portuguesas, cheias de fidalgos de roupas finas e adornos brilhantes, ao lado de soldados de armaduras luzidias e manejando todo o engenho bélico que até então se havia criado. Vinham cheios de poderes e de títulos, cheios de privilégios e de recomendações dos poderosos da terra para se tomar conta de quanta terra estivesse por aí “sem dono”. Com este cortejo pomposo contrastava a simplicidade de um grupo de frades de aspecto austero, buréis escuros, tonsura e cordão e sandálias, pouca bagagem e um espírito de conquista que muito diferia do grupo: eram os filhos de São Francisco de Assis. 

Chegavam de mansinho, como é próprio de tudo quanto se inspira em Francisco, mas entravam firmes para ficar.  E com eles entrou o próprio São Francisco que, sem dúvida, foi o primeiro Santo a ser conhecido nestas terras bravias, porque aqueles frades traziam Nossa Senhora da Esperança das naus de Cabral e a esperança toda que sempre animara as caminhadas missionárias do Pai São Francisco.

Começaram os franciscanos, humildemente, trabalhando aqui, pregando ali, erguendo uma ermida no alto de um rochedo, uma capela no coração da floresta, morrendo de febre num pântano, de afogamento num rio, da voracidade dos índios num canto qualquer desta imensa terra. Até hoje, os princípios humildes dificultam um estudo mais profundo da atuação dos filhos de Francisco, pois pouco ficou gravado na história dos homens de seus feitos e realizações, porque, embora sempre primeiros em chegar, eram os últimos a se fazer notar. Mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, é admirável a solidez com que São Francisco se plantou por estas bandas do mundo novo. 

Seu amor à natureza, seu conceito profundo do homem, seu respeito pelo criado, sua ternura pela vida, sua vibração com a natureza, sua convivência pacífica com as feras, faziam-no o homem da espiritualidade ideal para um mundo selvagem, invadido por uma civilização – selvagem a seu modo – que, na suposta tentativa de trazer civilização, trazia mil e uma destruições, cujos derradeiros resquícios estão presentes no drama dos últimos índios brasileiros, eclipse melancólico de um povo que recebeu e hospedou os primeiros franciscanos.

Por isso, Francisco tornou-se uma presença necessária e postulada pelos tempos todos, por ter ele vivido e defendido os grandes ideais de Deus e do homem, consubstanciados no Evangelho, única força capaz de sobreviver às destruições dos tempos e às mutações das gerações que se sucedem. Com justeza, o captou Gilberto Freyre: “Desde Frei Henrique de Coimbra que há sempre um franciscano ou a fazer ou a escrever história do Brasil: às vezes a fazê-la com o próprio sangue. História do Brasil ou história da Igreja. Frade português, frade brasileiro, frade estrangeiro: o frade estrangeiro de que Carlos de Laet fez a apologia em páginas célebres…” 

E Francisco de Assis, “pobre vermezinho”, ergueu monumentos por estas terras virgens, plasmou homens extraordinários, fez brotar templos magníficos que, ainda hoje, convidam os homens a adorar o Senhor, como ele o fazia quando cortava os caminhos da Úmbria, inspirou obras literárias, porque ele não só fez poesia, como foi constante inspiração poética. Com tudo isso, para o Brasil tornou-se ele um ingrediente cultural, um formador de civilização, um incentivador da fé, a ponto de, em uma pesquisa sobre o “santo mais forte ou importante”, ter recebido o segundo lugar na preferência popular, superado apenas por seu discípulo Santo Antônio, a quem ele, muito respeitosamente, chamava “meu bispo” .


Frei Hugo D. Baggio

Texto publicado na Revista Grande Sinal, Revista de Espiritualidade e Pastoral, publicada pela Editora Vozes.  

Franciscanas do dia - 28/06 - Mártires na China


Santa Maria Hermelina de Jesus, Maria da Paz, Maria Clara, Maria de Santa Natalia, Maria de São Justo, Maria Adolfina e Maria Amandina, Franciscanas Missionárias de Maria, Mártires de Tai-yuen-fu (+ 9 de julho de 1900). Canonização por São João Paulo II, em 1º de outubro de 2000. 

Em 1900 sete Franciscanas Missionárias de Maria são martirizadas na China durante a revolução dos Boxers, dando à fundadora a alegria de ter agora sete verdadeiras Franciscanas Missionárias de Maria!.

Elas foram para a China para trabalhar com doentes, órfãos e toda espécie de excluídos e fortificar a nova comunidade cristã do Chan-Si. Para substituí-las, a fundadora enviará um novo grupo e, entre elas, uma jovem, Irmã Maria Assunta, cuja generosidade silenciosa conquistou logo em seguida o afeto dos chineses, antes de morrer de tifo em 1905, aos 26 anos. Em 1954, Ir. Maria Assunta foi beatificada por Sua Santidade o Papa Pio XII.

Palavras de Irmã Maria Hermínia, superiora da comunidade, que falou em nome de todas, quando o Bispo lhes propôs que partissem para outro lugar: “Por amor de Deus, não nos impeçais de morrer convosco. Se a nossa coragem é demasiada fraca para resistir à crueldade dos carrascos, acreditai que Deus, que nos envia a provação, nos dará também a força de sair vitoriosas. Não tememos nem a morte, nem os tormentos… Vivemos para praticar a caridade e derramar, se for necessário, o nosso sangue por amor de Jesus Cristo.”
Sete mulheres decidiram ser FIÉIS à mensagem de Jesus e ao povo a quem foram enviadas. Pagaram sua fidelidade com a própria vida… mas a Boa Nova continua a espalhar alegria… Outras Missionárias passaram – e passam ainda hoje – a chama da Fé.

No dia 10 de março de 2000, o Santo Padre João Paulo II, fixou para 1º de outubro de 2000 a canonização dos Mártires da China, entre eles, sete Religiosas Franciscanas Missionárias de Maria serão reconhecidas pela Igreja pelo testemunho de suas vidas heróicas.

Os mártires da China

A Igreja universal ratifica a santidade destes 120 mártires, que em diversas épocas e lugares deram a vida por fidelidade a Cristo: 32 deles foram martirizados entre 1814 e 1862; 86 morreram durante a revolta dos Boxers em 1900 e dois foram mortos em 1930. Entre eles sobressaem seis bispos europeus, 23 sacerdotes, um irmão religioso, sete religiosas, sete seminaristas e 72 leigos, dos quais dois catecúmenos. Os mártires tinham entre sete e 79 anos. Todos eles foram beatificados, uns em 1900 e outros em 1946. Muitos deles eram chineses das províncias de Guizhou, Hebei, Shanxi e Sichuão e 33 eram missionários europeus.

A perseguição religiosa na China ocorreu em diversos períodos da sua história. A primeira perseguição deu-se na dinastia Yuan (1281-1367). Prosseguiu mais tarde na dinastia Ming (1606-1907), recrudescendo de forma especial em 1900 com a revolta dos Boxers. E continuou durante as cinco décadas de governo sem interrupção. Grande parte destes canonizados deram a vida durante a revolta dos Boxers em 1900, que foi como que uma premonição do que iria acontecer nas cinco décadas de governo comunista na China.

Os missionários foram objeto de um édito imperial de 10 de Julho de 1900, que fomentou e provocou o massacre de milhares de cristãos. Outros morreram durante as perseguições religiosas das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911). De fora ficarão as centenas de mártires que durante o regime comunista foram perseguidos e deram a vida por fidelidade ao Evangelho e a Cristo. Para a Igreja da China é um acontecimento importante pela magnitude e pelo contexto em que ocorre. É-o igualmente para a Igreja universal, bastante desconhecedora do que acontece com a Igreja da China. Eis algumas considerações sobre o significado do evento.

O martírio tem assinalado a Igreja da China ao longo dos séculos, desde a chegada da mensagem cristã no século VII com a vinda do monge sírio Alopen e dos nestorianos até Xian, capital da dinastia Tang, no ano de 635. Os estudiosos da Igreja na China, que falam de cinco tentativas de evangelização do país, concordam em afirmar que cada tentativa em estabelecer a presença do Evangelho no Império do Centro acarretou perseguições e martírio. Umas vezes pelas discrepâncias de credos, porque o imperador era considerado o Filho do Céu; outras pelos contrastes de culturas ou por motivos políticos; outras vezes por divisões entre as congregações religiosas presentes no território. O fato é que estamos diante de uma Igreja martirial. Mesmo hoje em dia isso é uma realidade permanente tanto para as comunidades subterrâneas como para as que conseguem atuar mais às claras.

O controlo e a perseguição variam conforme os lugares e as situações, mas os cristãos continuam a ser abertamente perseguidos e, por vezes, encarcerados e torturados. Como João Paulo II dizia na sua mensagem aos católicos da China por ocasião da celebração do ano jubilar: «O Jubileu será uma oportunidade para lembrar os trabalhos apostólicos, os sofrimentos, as dores e o derramamento de sangue que têm feito parte da peregrinação desta Igreja ao longo dos tempos. Também no meio de vós o sangue dos mártires se converteu em semente de uma multidão de autênticos discípulos de Jesus… E parece que este tempo de prova ainda prossegue nalgumas localidades.»

Com esta canonização, a Igreja da China envia uma mensagem profética ao mundo de hoje. Tanto pela singeleza com que afirmaram a sua fé como pela valentia em recusar a apostasia que os libertaria dos tormentos, da tortura e das infindáveis humilhações, o testemunho destes 120 mártires é a palavra viva de Deus, clara e ao mesmo tempo misteriosa. É sem dúvida alguma um encorajamento para as gerações vindouras de cristãos. Para além deste grupo de cristãos, muitos mais haveria a canonizar, mas, por falta de provas e informação, não puderam ser reconhecidos, embora a Igreja autentique como valores de ontem e de hoje a fidelidade a Cristo acima de qualquer ideologia, sistema ou tirania.

Os santos chineses espelham uma capacidade de doação e uma confiança ilimitada em Deus num contexto hostil à mensagem cristã. Se o autêntico tesouro do discípulo de Cristo é a cruz e se não há outra forma de seguimento de Cristo senão através da cruz, podemos dizer que a Igreja universal reconhece de forma pública o testemunho destes mártires como riqueza para toda a Igreja.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Francisco - Trovador, poeta, seresteiro e cantor



Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho.

Francisco de Assis exerce há oito séculos um fascínio estranho e incrível ao mesmo tempo. Ele e sua espiritualidade são um caso de amor. Ele trouxe para a humanidade uma inspiração, um frescor espiritual, originalidade e energia criativa. Ele nasceu no século XIII, século do Amor Cortês, dos trovadores, dos bardos e menestréis, das Canções de Gesta, das Cantigas de Amigo. Nasceu num tempo onde valores eram cantados: alegria, cortesia, gentileza, o amor da Dama escondida num castelo. Para o medieval cantar era uma filosofia de vida. O trovador era aquele que inventava, criava, compunha, improvisava. Fazia da canção a sua profissão. O menestrel ou o giulare era um artista intérprete, um performático.

Dedicava-se aos temas de Amor e das estações do ano que influenciam o estado de alma. Cantavam a politica e a ética, louvavam vencedores ou choravam a morte em plangentes canções.

Francisco de Assis, como um seresteiro de seu tempo, nos ensinou a usar todos os elementos da vida para um novo respiro. E como um trovador glorificou detalhes da existência com o jeito dos jograis que não deixavam de ir para a Corte do Rei e ao palco das ruas para cantar a honra e a glória, a fidelidade incondicional, o respeito, a audácia heroica, a defesa dos fracos, o louvor a Dama feudal com sua beleza, fascínio, bondade e o encantamento da sua perfeição física e espiritual. Render homenagens e fazer soar louvores. Comunicar-se para dar qualidade a Amor. Diz a Legenda dos Três Companheiros: “Caminhando para a Marca, exultavam profundamente no Senhor, mas o santo homem, cantando em francês em voz alta e sonora os louvores do Senhor, bendizia e glorificava a bondade do Altíssimo” (LTC 33).

 Para os trovadores do tempo de Francisco, o Amor é uma força nobre que transforma o bom, o mau, o melhor, é uma fonte de virtudes. As canções de Amor colocam o humano no caminho de amar o bem. Difícil cantar hoje em terra verde e amarela, mas como Thiago de Mello, posso dizer: “Faz escuro, mas eu canto!”

FREI VITÓRIO MAZZUCO

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

Franciscanos do dia 27/06 - Mártires polacos do Holocausto

Irmãos Menores: bem-aventurados Pe. Cristian Gondek, Frei Marcin Oprzadek, Pe. Anastasio Pankiewicz, Pe. Narciso Turchan, Frei Bruno Zembol, Frei Fidel Chojnacki, Frei Sinforiano Ducki, Pe. Aniceto Kop´linski, Pe. Enrique Krzysztofik, Pe. Floriano Stepniak. Mártires da Primeira Ordem.
  
A causa de beatificação dos 108 Mártires, vítimas da perseguição da Igreja na Polônia nos anos 1939-1945 por parte dos nazistas, foi introduzida formalmente só em 1992. Na realidade, nas suas origens, remonta aos primeiros anos após a 2ª Guerra Mundial. A fama da santidade e do martírio dos 108 novos beatos, as graças atribuídas à intercessão deles, despertou a atenção muitas vezes das dioceses e famílias religiosas sobre a necessidade de iniciar as causas de beatificação pelo martírio. Para lembrar, por exemplo, os casos do arcebispo Julian Antoni Nowowiejski, o bispo Leon Wetmanski, Dom Henryk Hlebowicz, Dom Henryk Kaczorowski com o grupo dos sacerdotes de Wloclawek, Dom Jozef Kowalski, salesiano, irmão Jozef Zaplata da Congregação dos Irmãos do Sagrado Coração de Jesus.

Depois vem a beatificação do bispo Michal Kozal (Varsóvia, 1987), definido “um verdadeiro mestre dos mártires” pelo clero dos campos de concentração, especialmente de Dachau. Durante a discussão sobre o martírio do bispo Michal na Congregação para as causas dos santos, chegou até mesmo o pedido para começar um processo à parte referente a quantos foram os companheiros do Bispo Mártir no oferecer o sumo testemunho da fé.

O processo, por parte da conferência dos bispos poloneses, foi aviado e presidido pelo bispo da diocese de Wloclawek, a qual durante a perseguição havia sofrido, em percentual, as mais expressivas perdas entre o clero diocesano na Polônia.
No dia da abertura do processo em Wloclawek, dia 26 de janeiro de 1992, dia do aniversário de morte do beato mártir Michal Kozal, foram levados em consideração 92 mártires das diversas dioceses e famílias religiosas. O número dos candidatos foi depois mudando com a inserção de alguns novos candidatos e exclusão de alguns outros por motivo do não suficiente material de prova do martírio, considerado no sentido teológico. Enfim, o número dos mártires foi fixado em 108 pessoas, às quais foi infligida a morte por ódio à fé (in odium fidei) em diversas localidades e circunstâncias.

Os documentos do processo chegaram a encher 96.000 páginas e foram entregues, em 1994, para exame da Congregação vaticana para a Causa dos Santos. O sucessivo estudo, muito intenso, consentiu de chegar, já no dia 20 de novembro de 1998, à discussão teológica sobre o martírio. O resultado positivo, junto àquele do Congresso dos Cardeais e dos Bispos, dia 16 de fevereiro de 1999, abriram o caminho à beatificação, realizada pelo Santo Padre, dia 13 de junho de 1999, em Varsóvia, durante a sua viagem apostólica na Polônia.

Os 108 mártires

São provenientes de 18 dioceses, do ordinariado militar e das 22 famílias religiosas. Há sacerdotes, religiosos e leigos cuja vida, inteiramente dedicada à causa de Deus, e cuja morte, infligida por ódio à fé, levaram o selo do heroísmo. Entre eles estão três bispos, 52 sacerdotes diocesanos, 26 sacerdotes religiosos, 3 clérigos, 7 Irmãos religiosos, 8 Irmãs e 9 leigos. Estas proporções numéricas estão ligadas ao fato de o clero ter sido o principal objetivo do ódio à fé por parte dos nazistas de Hitler. Queriam calar a voz da Igreja considerada obstáculo na implantação de um regime fundado sobre uma visão do homem privada da dimensão sobrenatural e permeada de ódio violento.

domingo, 26 de junho de 2016

Franciscanos do dia - 26/06 - Mártires polacos do Holocausto


Bem-aventurados: Maria Teresa Kowalska, clarissa capuchinha, P. Antonin Bajewski, sacerdote; P. Pius Bartosik, P. Inocencio Guz, P. Aquiles Puchala, P. Herman Stepien, Fr. Timoteo Trojanowski, Fr. Bonifacio Zukowski, mártires Irmãos Menores Conventuais (holocausto). Beatificados por João Paulo II em sua viagem apostólica a Polônia no dia 13 de junho de 1999. 

A causa de beatificação dos 108 Mártires, vítimas da perseguição da Igreja na Polônia nos anos 1939-1945 por parte dos nazistas, foi introduzida formalmente só em 1992. Na realidade, nas suas origens, remonta aos primeiros anos após a 2ª Guerra Mundial. A fama da santidade e do martírio dos 108 novos beatos, as graças atribuídas à intercessão deles, despertou a atenção muitas vezes das dioceses e famílias religiosas sobre a necessidade de iniciar as causas de beatificação pelo martírio. Para lembrar, por exemplo, os casos do arcebispo Julian Antoni Nowowiejski, o bispo Leon Wetmanski, Dom Henryk Hlebowicz, Dom Henryk Kaczorowski com o grupo dos sacerdotes de Wloclawek, Dom Jozef Kowalski, salesiano, irmão Jozef Zaplata da Congregação dos Irmãos do Sagrado Coração de Jesus.

Depois vem a beatificação do bispo Michal Kozal (Varsóvia, 1987), definido “um verdadeiro mestre dos mártires” pelo clero dos campos de concentração, especialmente de Dachau. Durante a discussão sobre o martírio do bispo Michal na Congregação para as causas dos santos, chegou até mesmo o pedido para começar um processo à parte referente a quantos foram os companheiros do Bispo Mártir no oferecer o sumo testemunho da fé.

O processo, por parte da conferência dos bispos poloneses, foi aviado e presidido pelo bispo da diocese de Wloclawek, a qual durante a perseguição havia sofrido, em percentual, as mais expressivas perdas entre o clero diocesano na Polônia.

No dia da abertura do processo em Wloclawek, dia 26 de janeiro de 1992, dia do aniversário de morte do beato mártir Michal Kozal, foram levados em consideração 92 mártires das diversas dioceses e famílias religiosas. O número dos candidatos foi depois mudando com a inserção de alguns novos candidatos e exclusão de alguns outros por motivo do não suficiente material de prova do martírio, considerado no sentido teológico. Enfim, o número dos mártires foi fixado em 108 pessoas, às quais foi infligida a morte por ódio à fé (in odium fidei) em diversas localidades e circunstâncias.

Os documentos do processo chegaram a encher 96.000 páginas e foram entregues, em 1994, para exame da Congregação vaticana para a Causa dos Santos. O sucessivo estudo, muito intenso, consentiu de chegar, já no dia 20 de novembro de 1998, à discussão teológica sobre o martírio. O resultado positivo, junto àquele do Congresso dos Cardeais e dos Bispos, dia 16 de fevereiro de 1999, abriram o caminho à beatificação, realizada pelo Santo Padre, dia 13 de junho de 1999, em Varsóvia, durante a sua viagem apostólica na Polônia.

Os 108 mártires
São provenientes de 18 dioceses, do ordinariado militar e das 22 famílias religiosas. Há sacerdotes, religiosos e leigos cuja vida, inteiramente dedicada à causa de Deus, e cuja morte, infligida por ódio à fé, levaram o selo do heroísmo. Entre eles estão três bispos, 52 sacerdotes diocesanos, 26 sacerdotes religiosos, 3 clérigos, 7 Irmãos religiosos, 8 Irmãs e 9 leigos. Estas proporções numéricas estão ligadas ao fato de o clero ter sido o principal objetivo do odio à fé por parte dos nazistas de Hitler. Queriam calar a voz da Igreja considerada obstáculo na implantação de um regime fundado sobre uma visão do homem privada da dimensão sobrenatural e permeada de ódio violento.



Bem-aventurada: Maria Teresa Kowalska, clarissa capuchinha

Maria Teresa Kowalska pertencia ao Convento das Irmãs Clarissas Capuchinhas de Przasnysz. Ainda que ela tenha passado a sua vida em silêncio, a recordação da sua morte corajosa, o que não aconteceu com nenhuma outra monja naquele mosteiro, ainda está muito viva.

Mieczyslawa nasceu em Varsóvia em 1902. Desconhece-se o nome e a profissão dos seus pais. Recebeu a sua primeira Comunhão no dia 21 de Junho de 1915, e o sacramento da Confirmação no dia 21 de Maio de 1920. O seu pai, simpatizante socialista, foi para a União Soviética na década de 1920 com grande parte da família.

Por uma nota escrita no seu livro religioso O Livro da Vida, sabemos que pertenceu a várias associações religiosas e fazia parte de várias confrarias. Tudo isto nos leva a supor que levava uma vida de piedade exemplar antes de entrar na Ordem das Capuchinhas.

Aos 21 anos, Mieczyslawa recebe a graça da vocação religiosa. Ingressou no Mosteiro das Clarissas Capuchinhas de Przasnysz no dia 23 de Janeiro de 1923. Tomou o hábito no dia 12 de Agosto de 1923 e recebeu o nome de Maria Teresa do Menino Jesus. Emitiu a sua primeira profissão no dia 15 de Agosto de 1924 e a profissão perpétua no dia 26 de Julho de 1928.

Era uma pessoa delicada e doente, mas disponível para todos e para tudo. No Mosteiro servia a Deus com devoção e piedade. Com o seu modo de ser conquistava o carinho de todos, diz uma das irmãs. Gozava de grande respeito e consideração por parte das superioras e das outras irmãs. Exerceu vários ofícios: porteira, sacristã, bibliotecária; Mestra de noviças e Conselheira. Maria Teresa vive a sua vida religiosa em silêncio, totalmente dedicada a Deus, com grande entusiasmo. Um dia, este serviço a Deus foi posto a dura prova.

No dia 2 de Abril de 1941, os alemães entraram no Mosteiro e prenderam todas as irmãs, levando-as para o Campo de concentração de Dzialdowo. Entre elas estava a Irmã Maria Teresa, doente com tuberculose. As 36 irmãs ficaram presas no mesmo local e suportaram condições de vida que ofendiam a dignidade humana: ambiente sujo, fome terrível, terror contínuo. As irmãs observavam com horror a tortura a que eram submetidas outras pessoas ao mesmo tempo, entre as quais se encontravam o Bispo de Plock, A. Nowowiejski e L. Wetmanski, e muitos outros sacerdotes. Depois de passar um mês naquelas condições de vida, a saúde das irmãs debilitou-se. A Irmã Maria Teresa foi uma das que mais se ressentiu, que pelo menos se mantinha de pé.

Sobreveio-lhe uma hemorragia pulmonar. Faltava não só o serviço médico mas também a água para matar a sede e para a higiene. Suportou o sofrimento com coragem e, até onde lhe foi possível, rezou junto com as restantes irmãs. Outras vezes rezava ela sozinha. Durante a prova, e consciente da proximidade da morte, dizia: “Eu, daqui, não sairei; entrego a minha vida para que as irmãs possam regressar ao Mosteiro”. Isso mesmo dizia à abadessa: “Madre, ainda falta muito?”.

 Morreu na noite de 25 de Julho de 1941. Desconhece-se o paradeiro dos seus restos mortais.

sábado, 25 de junho de 2016

Santos franciscanos do dia - 25/06 - Os santos mártires chineses


Santos João Tchang, Patrício Tong, Felipe Tchiang, João Tchiang e João Wang, seminaristas mártires de Tayuenfu (+ 9 de junho de 1900). Canonização: 1º de outubro de 2000, por São João Paulo II.
  
A Igreja universal ratifica a santidade destes 120 mártires, que em diversas épocas e lugares deram a vida por fidelidade a Cristo: 32 deles foram martirizados entre 1814 e 1862; 86 morreram durante a revolta dos Boxers em 1900 e dois foram mortos em 1930. Entre eles sobressaem seis bispos europeus, 23 sacerdotes, um irmão religioso, sete religiosas, sete seminaristas e 72 leigos, dos quais dois catecúmenos. Os mártires tinham entre sete e 79 anos. Todos eles foram beatificados, uns em 1900 e outros em 1946. Muitos deles eram chineses das províncias de Guizhou, Hebei, Shanxi e Sichuão e 33 eram missionários europeus.

A perseguição religiosa na China ocorreu em diversos períodos da sua história. A primeira perseguição deu-se na dinastia Yuan (1281-1367). Prosseguiu mais tarde na dinastia Ming (1606-1907), recrudescendo de forma especial em 1900 com a revolta dos Boxers. E continuou durante as cinco décadas de governo sem interrupção. Grande parte destes canonizados deram a vida durante a revolta dos Boxers em 1900, que foi como que uma premonição do que iria acontecer nas cinco décadas de governo comunista na China.

Os missionários foram objeto de um édito imperial de 10 de Julho de 1900, que fomentou e provocou o massacre de milhares de cristãos. Outros morreram durante as perseguições religiosas das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911). De fora ficarão as centenas de mártires que durante o regime comunista foram perseguidos e deram a vida por fidelidade ao Evangelho e a Cristo. Para a Igreja da China é um acontecimento importante pela magnitude e pelo contexto em que ocorre. É-o igualmente para a Igreja universal, bastante desconhecedora do que acontece com a Igreja da China. Eis algumas considerações sobre o significado do evento.

O martírio tem assinalado a Igreja da China ao longo dos séculos, desde a chegada da mensagem cristã no século VII com a vinda do monge sírio Alopen e dos nestorianos até Xian, capital da dinastia Tang, no ano de 635. Os estudiosos da Igreja na China, que falam de cinco tentativas de evangelização do país, concordam em afirmar que cada tentativa em estabelecer a presença do Evangelho no Império do Centro acarretou perseguições e martírio. Umas vezes pelas discrepâncias de credos, porque o imperador era considerado o Filho do Céu; outras pelos contrastes de culturas ou por motivos políticos; outras vezes por divisões entre as congregações religiosas presentes no território. O facto é que estamos diante de uma Igreja martirial. Mesmo hoje em dia isso é uma realidade permanente tanto para as comunidades subterrâneas como para as que conseguem actuar mais às claras.

O controlo e a perseguição variam conforme os lugares e as situações, mas os cristãos continuam a ser abertamente perseguidos e, por vezes, encarcerados e torturados. Como João Paulo II dizia na sua mensagem aos católicos da China por ocasião da celebração do ano jubilar: «O Jubileu será uma oportunidade para lembrar os trabalhos apostólicos, os sofrimentos, as dores e o derramamento de sangue que têm feito parte da peregrinação desta Igreja ao longo dos tempos. Também no meio de vós o sangue dos mártires se converteu em semente de uma multidão de autênticos discípulos de Jesus… E parece que este tempo de prova ainda prossegue nalgumas localidades.»

Com esta canonização, a Igreja da China envia uma mensagem profética ao mundo de hoje. Tanto pela singeleza com que afirmaram a sua fé como pela valentia em recusar a apostasia que os libertaria dos tormentos, da tortura e das infindáveis humilhações, o testemunho destes 120 mártires é a palavra viva de Deus, clara e ao mesmo tempo misteriosa. É sem dúvida alguma um encorajamento para as gerações vindouras de cristãos. Para além deste grupo de cristãos, muitos mais haveria a canonizar, mas, por falta de provas e informação, não puderam ser reconhecidos, embora a Igreja autentique como valores de ontem e de hoje a fidelidade a Cristo acima de qualquer ideologia, sistema ou tirania.

Os santos chineses espelham uma capacidade de doação e uma confiança ilimitada em Deus num contexto hostil à mensagem cristã. Se o autêntico tesouro do discípulo de Cristo é a cruz e se não há outra forma de seguimento de Cristo senão através da cruz, podemos dizer que a Igreja universal reconhece de forma pública o testemunho destes mártires como riqueza para toda a Igreja.

Dos mártires pertencendo à família franciscana, estes onze foram seculares e todos chineses, são eles:

46. São João Zhang Huan, seminarista,
47. São Patricio Dong Bodi, seminarista,
48. São João Wang Rui, seminarista,
49. São Filipe Zhang Zhihe, seminarista,
50. São João Zhang Jingguang, seminarista,
51. São Tomás Shen Jihe, leigo,
52. São Simão Qin Cunfu, leigo catequista,
53. São Pedro Wu Anbang, leigo,
54. São Francisco Zhang Rong, leigo,
55. São Mateus Feng De, leigo e neófito,
56. São Pedro Zhang Banniu, leigo.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Santa franciscana do dia - 24/06 - Santa Vicência Gerosa


Virgem da Terceira Ordem (1784-1847). Fundadora da Congregação Nossa Senhora Menina. Canonizada por Pio XII no dia 18 de maio de 1950 

Catarina Gerosa nasceu em 29 de outubro de 1784, em Lovere, no norte da Itália. Reservada e tímida, viveu um período da sua infância atrás do balcão do pequeno comércio da família. De saúde muito débil, não podia estudar. Modesta e caridosa, vivia uma espiritualidade simples, desenvolvida na missa, que frequentava todos os dias.

Os anos seguintes à invasão napoleônica da Itália mudaram sua vida. A crise econômica levou à morte primeiro seu pai, depois sua irmã Francisca e, por último, em 1814, também sua mãe. Apesar da tragédia pessoal, com ânimo e fé inabalável, Gerosa aceitou tudo com resignação. Confiante em Deus, sofreu no silêncio do seu coração, encontrando forças na oração e na penitência.

Teve o grande amparo de seu confessor e orientador espiritual, que pediu ajuda a Gerosa nas atividades religiosas desenvolvidas pela paróquia às jovens carentes. Com zelo, ela organizou um oratório feminino com encontros de orações e palestras religiosas.
Foi lá que, em 1824, conheceu Bartolomeia Capitanio. Era uma jovem professora de dezassete anos, nascida também numa família humilde, em Lovere. Desde menina, pensava em dedicar-se a praticar a caridade aos pobres e aos doentes. Por isso se diplomou professora no colégio das clarissas de sua cidade natal.

Conheceram-se por meio do pároco, porque ele queria que Gerosa criasse alguns grupos de orações para jovens. Ele sabia que Bartolomeia havia criado uma escola para instruir e dar formação religiosa às meninas pobres e abandonadas. Lá, Gerosa daria orientação nas práticas das atividades domésticas. A escola tornou-se um centro de encontro para jovens e muitos grupos de orações também foram criados.

Estavam tão empenhadas em auxiliar os pobres e enfermos que foram chamadas para ajudar no hospital de Lovere. Na oportunidade, tiveram a inspiração de dar vida a uma comunidade religiosa feminina do tipo das irmãs de caridade vicentinas. A situação política, entretanto, era desfavorável, não permitia essa interdependência. Um pouco antes, ingressou na Terceira Ordem Franciscana e absorveu um profundo espírito evangélico.
Com muita dificuldade, junto com a companheira, Gerosa fundou, em 1827, um novo instituto religioso regular, para dar assistência aos doentes, instrução gratuita às meninas abandonadas, fundar orfanatos e dar assistência à juventude. Foi chamado de Instituto das Irmãs de Maria Menina, com sede em Lovere e com as regras escritas por Bartolomeia. Para evitar objeções de caráter político, o instituto foi fundado autônomo. E assim independente ele permaneceu, cresceu e se difundiu nos anos subsequentes. Catarina Gerosa emitiu os votos, vestiu o hábito e tomou o nome de Vicência, sendo eleita madre superiora.

Em 1840, uma carta apostólica de Gregório XVI aprovou o Instituto de Lovere. A morte de Vicenta, aos 63 anos de idade, em 20 de junho de 1847, aconteceu quando já existiam 24 casas das “Irmãs de Maria Menina” espalhadas por todo o mundo, da Palestina até a América. Isso também motivou o Papa Pio XII na sua canonização em 18 de maio de 1950.
Morreu depois de uma longa doença, em 28 de junho de 1847, e foi sepultada ao lado da co-fundadora, no santuário da Casa-mãe, em Lovere. Atualmente, o Instituto das Irmãs da Caridade das Santas Bartolomeia Capitanio e Vicência Gerosa, ou Irmãs de Maria Menina, atua em toda a Europa, África, Ásia e nas Américas.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Carta de São Francisco a Santo Antônio de Pádua.


Antes de apresentar a carta, é interessante situar um pouco a presença de Santo Antonio na Ordem Franciscana. Ainda recente na Ordem, ele esteve presente no Capítulo Geral de Assis, em 1221, e foi nesta ocasião que ele viu São Francisco pela primeira vez. Tendo entrado na Ordem provavelmente no ano anterior, ele estava vindo do Marrocos (norte da África) onde, por motivos de doença, não tinha conseguido pregar o Evangelho ao povo daquela região como era o seu desejo. No seu retorno a Portugal, a sua embarcação foi parar na Sicília (sul da Itália) por causa de uma forte tempestade. Ali, após sua recuperação, tomou o rumo de Assis para onde estavam se dirigindo os frades convocados para o Capítulo Geral.


Esta carta esta dirigida em fins de 1223 ou inícios de 1224, na qual o Poverello de Assis concede a Frei Antônio a permissão de “ler”(= ensinar) a Sagrada Teologia aos irmãos, nos primórdios da Ordem Franciscana. Eis o teor da Carta:

Texto latino
Frati Antonio episcopo meo frater Franciscus salutem. Placet mihi quod sacram theologiam legas fratribus, dummodo inter huius studium orationis et devotionis spiritum non exstinguas, sicut in regula continetur.

Frei Francisco a Frei Antônio, meu bispo, saudações. Apraz-me que leias a Sagrada Teologia aos frades, contanto que dentro desse estudo não extinguás o espírito da santa oração e devoção, como está contido na Regra.

Aparentemente, esta carta se apresenta sóbria e simples. No entanto, esta simplicidade aparente nos pode enganar. Pois, quanto mais nela se mergulhar, tanto mais tesouros aí se escondem. Daí, a lapidação deste pequeno diamante nem sempre é tarefa fácil.

1. OS CONCEITOS-CHAVE DA CARTA
1.1 “Fratri Antonio, episcopo meo”
Santo Antônio aparece na história da Ordem Franciscana quase como elemento-surpresa. Ele revela de forma surpreendente seus dotes de grande pregador, fundado numa sólida preparação doutrinal, quando, em 1221, foi convidado a pregar numa ordenação sacerdotal, em Forli, na Itália. Daí em diante inicia realmente o seu oficio de pregador, confundindo os hereges (donde lhe vem o título “Martelo dos hereges”), e causando grande admiração por parte do papa Gregório IX quando este ouve uma pregação de Santo Antônio em 1228. O Papa chama-o de “Arca do Testamento” e “Armadura da Sagrada Escritura”.

Pelo fato de Santo Antônio estar ricamente ornado pela Sagrada Escritura, por sua sólida formação teológica e doutrinal, Francisco de Assis dá-lhe um titulo inusitado chamando-o de “episcopo meo” (= meu bispo). Sabemos que Frei Antônio jamais recebera uma mitra episcopal. Este titulo Francisco lhe dá para exprimir sua profunda veneração pelos verdadeiros teólogos e pregadores, enquanto dispensadores da Palavra de Deus. De Tomás de Celano, o primeiro Biógrafo de Francisco, podemos colher este depoimento: “Queria que os ministros da palavra se entregassem totalmente aos estudos espirituais… E afirmava: o pregador tem que haurir primeiro na oração, feita em segredo, aquilo que depois vai derramar em palavras sagradas. Tem que se afervorar primeiro por dentro, para não proferir palavras frias. Afirmava que este oficio devia ser respeitado e que todos deviam venerar os que o exercem. Dizia: eles são a vida do corpo, eles é que combatem os demônios, eles são a luz do mundo. Achava que os doutores em sagrada escritura mereciam honras ainda maiores. Certa ocasião fez escrever o seguinte como norma geral: devemos honrar e venerar todos os teólogos e os que nos administram as palavras de Deus como aqueles que nos administram espírito e vida” (2Cel 163). Esta “norma geral” encontramos no v. 13 do Testamento de São Francisco.

Portanto, este título: “episcopo meo”, é antes de tudo uma expressão de louvor e elogio que Frei Francisco presta a Frei Antônio pelo ofício específico que desempenha dentro da Ordem: o de Pregador e Teólogo. Sabemos que, na Idade Média, o ofício da pregação dogmática era um encargo reservado unicamente aos prelados (bispos) e, em alguns casos, também a determinados sacerdotes, desde que estes sacerdotes estivessem devidamente preparados e tivessem recebido uma autorização especial do bispo para esta pregação doutrinal. Nesse sentido, por Frei Antônio preencher estes requisitos, Francisco lhe presta esta homenagem carinhosa e fraterna.

Se de um lado temos a pregação dogmática, de cunho mais doutrinal, reservada unicamente aos que recebiam tal permissão, por outro lado temos a pregação penitencial, de cunho parenético, que todos os irmãos receberam no momento da aprovação oral da primeira forma de vida apresentada ao Papa Inocêncio III, em 1209: “Ide com o Senhor, irmãos, e conforme o Senhor dignar inspirar-vos, pregai a todos a penitência” (1CeI 33).

Aquilo que Santo Antônio agora deverá fazer (“ler a Sagrada Teologia”), servirá para que os irmãos melhor possam viver sua vida penitencial e para que, no viver esta vida, a pregação fosse eminentemente teológica.

1.2. “Placet mihi quod sacram theologiam legas fratribus”

Esta carta nos mostra um consentimento dado por Frei Francisco a Frei Antônio: “placet mihi”. Este “p1acet”, termo técnico usado no Direito, exprime a concordância de Francisco, seu estar de acordo, inclusive, seu agrado na decisão que toma frente à realidade nova dos estudos dentro da Ordem. Realidade esta que se manifesta na expressão “placet”: uma sensação de gozo e prazer por participar dessa decisão. Assim, creio que este “apraz-me” (placet mihi) vai muito além de um simples consentimento a um caso isolado, mas pode tratar-se de um alegre e amplo consentimento do Poverello de Assis para que os irmãos, aos quais o Senhor dá a graça de estudar a Sagrada Teologia; realmente fossem santos teólogos que “administrassem espírito e vida” (Test 13).

Sem dúvida, existe agora na Ordem Franciscana uma realidade nova que vai exigir uma resposta atualizada: o “mandatum” da pregação penitencial, conferido pela Igreja em 1209, com o passar dos anos requer uma nova resposta por parte da fraternidade minorítica. A Igreja passa a exigir algo a mais dessa pregação penitencial. Por isso, para melhor poderem desempenhar o oficio da pregação dentro da Igreja, conforme prevê a Regra (cf. RB 9,1-4), se faz necessário uma preparação mais sólida.

“Legas fratribus”: o verbo “legere” (= ler) tem no latim medieval o significado de ensinar. Conseqüentemente, o “legens” ou “lector” (= leitor) é aquele que ensina. Inclusive, no mundo monástico, o leitor era o mestre da formação dos monges. Também nas escolas o leitor era aquele que tinha como oficio ler e explicar a Sagrada Escritura aos alunos.

Portanto, este “placet”. para que Frei Antônio desempenhe na Ordem o oficio de “leitor”, demonstra ainda a catolicidade de Francisco, isto é, o espírito de abertura e a grande sensibilidade eclesial que sempre carregou no seu coração.

“Sacram theologiam”: não sei se esta era uma expressão usual. Seja como for, a Teologia. como tudo aquilo que está na esfera do divino, Francisco as cerca e reveste sacralmente: “santa Mãe do Senhor”, “santas Palavras”, “santa Cruz”, “santos cálices”, “Sagrada Teologia” etc. A Teologia não somente é sagrada pelo fato de ela ser um “discurso sobre Deus” (= teologia), mas também porque, a meu ver, aponta para um modo próprio de se fazer teologia. Assim, para o religioso, a teologia não é uma ciência especulativa, mas empenho sagrado através do qual se mergulha, de corpo e alma, no espírito do discurso divino. Os que se dedicam à Sagrada Teologia, especialmente os que por profissão religiosa já deveriam transpirar pela vida o discurso sagrado do divino, devem “afervorar-se por dentro” para poder “transmitir espírito e vida” (cf. 2Cel 163).

Olhando para uma das Admoestações de São Francisco, podemos perceber que existe um modo sagrado (“sacer”) e um modo “profano” (carnal) de se fazer teologia: “A letra mata. o espírito vivifica. São mortos pela letra aqueles religiosos que cobiçam só saber palavras … São mortos pela letra aqueles religiosos que não querem seguir o espírito da divina letra, porém só cobiçam saber palavras e interpretá-las aos outros. E são vivificados pelo espírito da divina letra os que não atribuem ao corpo toda a letra que sabem e cobiçam saber, mas pela palavra e pelo exemplo deixam-na ao Altíssimo Senhor Deus de que é todo o bem” (Adm 7).

Na seqüência da Carta a Santo Antônio isso também vem confirmado, quando aí se pede que, nesse estudo, não se deve extinguir o “espírito da santa oração e devoção”. Mesmo se o estudo da Sagrada Teologia apareça dentro da Ordem por exigências eclesiais, seja para protegê-la como também para dar aos irmãos uma sólida preparação doutrinal, a fim de melhor poderem reagir frente aos ataques dos missionários heréticos. Francisco não deixa de dar uma orientação precisa aos irmãos naquilo que consiste a verdadeira teologia: um empenho sagrado!

1.3. “Dummodo inter huius studium”

“Dummodo” (= contanto que, desde que): Esta conjunção é extremamente importante porque se trata de uma condição para que o “placet” tenha seu peso jurídico, e o “legas” se viabilize numa prática sagrada. Portanto, é uma conjunção que liga o “placet” e o “legas” da Sagrada Teologia com a orientação de se fazer uma teologia segundo o espírito.

“Inter”: (= dentro): não é apenas uma preposição que aponta para o estudo como tal (“huius studium”), mas fala de uma circunstância de tempo, ou seja, da ação do estudo no seu desenvolver pleno. Em outras palavras: sempre que se estuda a Sagrada Teologia (“huius studium”), esse estudo deverá ser feito dentro (“inter”) do espírito da santa oração e devoção.

“Huius studium” (= nesse estudo): nos seus Escritos, Francisco de Assis privilegia o verbo “studere”. Mas não se trata de estudar para acumular um determinado cabedal de conhecimentos. O “studere” do qual Francisco mais fala é aquele no qual se adquire a sabedoria do espírito. Como já temos visto na 7ª Admoestação, existe uma consciência de que o estudo pode ser uma tentação que fere o espírito da pobreza, principalmente quando se trata de um estudo segundo o espírito da carne (do “eu”). O “placet” que Frei Francisco dá a Frei Antônio é para que ele, no seu ensino aos irmãos, os faça crescer, “inter huius studium”, na sabedoria (“sapere” = sabor) do espírito.

1.4. “Orationis et devotionis non exstinguas spiritum” (= não extingas o espírito da oração e devoção)

O que deve mover sempre a vida do Religioso, bem como de todo Cristão, é a ação do “espírito da santa oração e devoção”. Assim esta vida se plenifica na medida em que ela se abre à ação gratuita do Espírito do Senhor: “Eis o meio de reconhecer se o servo de Deus tem o Espírito do Senhor: se Deus por meio dele operar alguma boa obra, e ele não o atribuir a si, pois o seu próprio eu (= carne) é sempre inimigo de todo bem … ” (cf. Adm 12).

Verificamos aqui, no contexto desta pequena carta, a contraposição sutil que Francisco faz entre “spiritum” e “exstinguas”: se por “espírito” entendermos o sopro ou o hálito vital de Deus no homem, segundo o próprio conceito bíblico, já o “extinguir” aponta para uma ação inversa. Assim, o “extinguir” não é meramente um fazer desaparecer, mas vem carregado da conotação de fazer morrer, matar, aniquilar o hálito vital. É o mesmo que dizer em grego “thánatos”, que significa a extinção e o apagamento da luz da vida.

Assim, ao dizer “não extinguir o espírito da oração e devoção”, trata-se de um pressuposto básico àquele que ensina e estuda a Sagrada Teologia e que, aliás, deve estar presente no religioso até antes do próprio estudo. E, se é anterior ao estudo, continua a ser uma admoestação àqueles que estudam, a fim de não caírem na tentação da carnalidade do saber teológico, pois este saber extingue e mata no religioso o discurso sapiencial das coisas divinas.

Portanto, o empenhar-se espiritualmente no estudo da Sagrada Teologia, com devoção e oração, exige o contínuo esforço para se manter vivo o sabor do espírito e, sem a posse desse espírito, não pode nem sequer acontecer a verdadeira teo-logia, e muito menos a Verdade Teológica. Pois, o “espírito da oração e devoção” é o que unge o coração do teólogo, assim como unge o coração do religioso nos mais diferentes ofícios que ele desempenha dentro da fraternidade: seja no trabalho, na oração, no estudo e na pregação. Em tudo e por tudo deve estar presente a unção vital do espírito para se poder transmitir retamente espírito e vida.

1.5. “Sicut in Regula continetur” (= como está contido (convoca) a Regra)

Em duas passagens da Regra Bulada se admoesta sobre a necessidade de não extinguir o espírito da oração e devoção: no capítulo V, quando fala do trabalho e no capítulo X, quando diz que “os que não têm estudos não procurem adquirir, mas cuidem que, antes de tudo, devem desejar o espírito do Senhor e o seu santo modo de operar” (RB 10.8).

Qualquer oficio dentro de uma fraternidade evangélica não pode e nem deve ser executado funcionalmente. O oficio não possui um fim último em si mesmo, mas sempre é meio para se buscar e viver “o único necessário”, isto é, o estar sempre na posse do “espírito do Senhor e seu santo modo de operar”.

Nos textos acima, RB 5.2 e 10.8, Francisco não faz uma admoestação no sentido de se posicionar contrário ao estudo. A exortação da Regra visa advertir o religioso para não cair na avidez do saber pelo saber que mata, no estudo da teologia, o espírito do Senhor, da mesma forma como o trabalho pelo trabalho também extingue o mesmo espírito. O trabalho e o estudo, bem como qualquer outro ofício, podem se interpor entre o religioso e o Senhor, impedindo assim o exercício da caridade e da humildade e, principalmente, impossibilitando no religioso o “rezar sempre a Deus de coração puro” (RB 10,10). Em outro texto Francisco faz a mesma advertência: “removam todos os obstáculos e rejeitem todos os cuidados e solicitudes, para, com o melhor de suas forças, servir, amar, adorar e honrar, de coração reto e mente pura, o Senhor nosso Deus, pois é isto o que Ele deseja sem medida. E preparemos-lhe sempre dentro de nós uma morada permanente … ” (cf. RnB 22.23-24).

Poderíamos dizer ainda, num sentido bem amplo, que a expressão “como está contido na Regra” vai além das duas citações explícitas acima mencionadas. O estudo da Sagrada Teologia recebe o “placet” de Francisco na medida em que este estudo estiver em conformidade com a totalidade das prescrições da Regra e, principalmente, se corresponder à premissa básica da mesma enquanto convocação para se viver em conformidade com o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. RB 1.1). Assim, uma teologia vivida e orientada a partir da Verdade do Evangelho (Cristo) só pode receber de Francisco um “placet” muito generoso e alegre.

2. Um modo franciscano de se estudar a Sagrada Teologia? (A título de conclusão)

Esta pequena Carta a Santo Antônio é extremamente provocativa naquilo que se refere ao estudo da Sagrada Teologia, segundo o pensamento de São Francisco de Assis. Existem, nas Fontes Franciscanas, diversas indicações preciosas que nos levam a crer que, da parte de São Francisco, não existia algum ressentimento ou aversão ao estudo como tal, desde que esse estudo favorecesse a “santidade interior do espírito” (RnB 17,12).

A própria vida penitencial, abraçada por Francisco, Antônio e Fraternidade, significa aprender a “sabedoria do alto, que vem de Deus” (2Cel 102), e esta sabedoria não se aprende sentado em cadeiras acadêmicas! O apoderar-se da ciência, dos talentos, das sabedorias, segundo a Carta aos Fiéis, leva o homem à dura experiência da morte, “perdendo, ainda neste mundo passageiro, a alma e o corpo” (2CtF 82-85).

Francisco não despreza e muito menos coloca em níveis inferiores a ciência das coisas santas. A verdadeira inteligência não passa pelo crescer da ciência no homem, mas por um amor a Deus. O Santo de Assis se preocupa com o futuro, especialmente quando a cobiça do saber poderia levar os irmãos a uma terrível presunção: “julgar-se-iam mais fervorosos e mais inflamados no amor de Deus por causa da inteligência das Escrituras; quando, precisamente com o crescer da ciência, ficariam, por dentro, frios e vazios, e assim, não podendo regressar à sua antiga vocação, porque teriam deixado passar o tempo que lhes fora concedido para nela viverem” (LP 70). E ainda, dentro do mesmo contexto da Legenda Perusina, se diz que ele, Francisco, dedicava o maior apreço aos doutos da Ordem e outros sábios. enquanto esses nos “comunicam espírito e vida”.

Esta mesma doutrina certamente Francisco não passou somente a Santo Antônio nesta carta, mas também a encontramos na vida dos outros irmãos. E um exemplo belíssimo encontramos nos assim chamados “Ditos de Frei Egídio”, onde este mestre contemplativo nos deixa esta sentença: “Não procures estudar muito para a utilidade dos outros, mas estudes e procures e empregues as coisas que sejam úteis a ti mesmo; porque, muitas vezes, queremos adquirir muita ciência para ajudar os outros, e pouca para ajudarmos a nós mesmos” (Ditos n. 13).

Assim, creio que Santo Antônio captou muito bem e em grande profundidade a doutrina de São Francisco para que, no Studium de Bolonha, pudesse realmente transmitir aos irmãos o gosto pela Sagrada Teologia, sempre em conformidade com o “espírito da santa oração e devoção”. São Francisco, com sua vida e pregação penitencial, e Santo Antônio, com sua vida penitencial e pregação doutrinal, ambos percorreram o mundo “não em eloqüência persuasiva da sabedoria humana, mas na doutrina e na demonstração do Espírito” (1Cel 36). A vida interior de ambos se caracterizou, para usar uma expressão de São Boaventura, pela “total hospitalidade do Espírito do Senhor, sendo corretos intérpretes das Escrituras, e dóceis nos ensinamentos, a fim de conquistar a pérola preciosa de que fala o Evangelho” (LM 12. 2.14).

A Carta de São Francisco a Santo Antônio, portanto, vai muito além de um mero consentimento. Ela não estaria representando uma decisão significativa e derradeira de Francisco sobre a questão dos estudos na Ordem? Se assim o admitirmos, esta carta estaria deixando de ser uma carta confidencial e privativa e assumiria uma legislação definitiva para toda a Ordem no que se refere ao estudo da Sagrada Teologia, bem como uma atitude espiritual frente às demais ciências que, bem cedo, começaram a fazer parte da vida dos Irmãos Menores em Bolonha, Paris, Oxford e demais centros de estudo.

Texto publicado na Revista “Grande Sinal”, editada pelo Instituto Teológico Franciscano, 1995

Santo franciscano do dia - 23/06 - São José Cafasso


Sacerdote da Terceira Ordem (1811-1860). Foi canonizado por Pio XII no dia 22 de junho de 1947. 

É comum apresentar-se São José Cafasso como um santo da Congregação Salesiana, e isto é compreensível, porque ele era amigo íntimo e diretor espiritual de São João Bosco. Mas trata-se de um engano. São José Cafasso era sacerdote secular, e sua vida, nobre e espiritualmente rica, em geral foi desprovida de episódios externos, como costuma acontecer com o clérigos de vida pastoral da Igreja.

Sua terra natal foi a mesma de São João Bosco e de outros eclesiásticos notáveis, a pequena cidade campestre de Castelnuovo d’Asti, onde nasceu em 1811. Seus pais, João Cafasso e Úrsula Beltramo, eram camponeses abastados, e ele foi o terceiro de quatro irmãos, dos quais a última, Maria Ana, seria a mãe do cônego José Allamano, fundador dos padres missionários da Consolata de Turim.

Quando criança, José Cafasso se distinguia na escola local e sempre se mostrava disposto a ajudar os outros em suas lições: anos mais tarde, um de seus antigos companheiros afirmava que ainda devia dois melros a José por esses serviços. Quando ele completou treze anos, seu pai o mandou para a escola de Chieri, de onde se transferiu para o seminário, aberto recentemente no mesmo lugar pelo arcebispo de Turim.

Foi ali o melhor aluno de seu tempo; foi nomeado prefeito desse estabelecimento durante o último ano, e foi ordenado sacerdote em 1833, com dispensa de idade, por ser ainda muito jovem.

Depois de sua ordenação, em 1832, alugou um modesto apartamento, juntamente com seu amigo e colega de estudos, João Allamano, a fim de continuar seus estudos de Teologia. Logo se desgostou do seminário metropolitano e da universidade, e encontrou seu verdadeiro lar espiritual no Instituto (Convitto) ligado à igreja de São Francisco de Assis, fundado alguns anos antes pelo seu reitor, o teólogo Luigi Guala, para sacerdotes jovens. Se fez filho de São Francisco de Assis inscrevendo-se na Terceira Ordem Franciscana, como assim fizeram seus ilustres irmãos São João Bosco e São José Cottolengo. Depois de três anos de estudos nessa casa, Dom Cafasso foi aprovado nos exames diocesanos com grande distinção, e foi imediatamente colocado como professor no Instituto por Dom Guala.

Quando Guala perguntou a seu auxiliar quem devia escolher como professor, esse lhe respondeu: “Escolha o pequeno”, referindo-se a Cafasso. De fato, a primeira coisa que logo chamava a atenção em sua pessoa era sua pequena estatura e seu corpo recurvado, em consequência de uma deformação da coluna vertebral. Mas seus traços eram finos e regulares; seus olhos, negros e brilhantes; seu cabelo, vasto e preto; e de sua boca, geralmente iluminada por um meio sorriso, saía uma voz de sonoridade e qualidade incomuns.

Apesar de sua pequenez e de seu corpo recurvado, a aparência de Dom Cafasso era impressionante e quase majestática. Seus contemporâneos se referem frequentemente a São Filipe Néri e a São Francisco de Sales quando falam dele, e, na verdade, parece que esses santos foram seus modelos. Distinguia-se por uma alegria e uma bondade serenas; e São João Bosco, entre outros, chama a atenção para a sua “tranquilidade imperturbável”. E, assim, logo se propagou a notícia de que o Instituto de São Francisco de Sales de Turim tinha um novo professor que era pequeno de corpo mas grande de alma.

A disciplina ministrada em suas aulas era a teologia moral, e ele não se contentava em instruir sem educar. Seu objetivo não era apenas “ensinar coisas”, mas, iluminando e dirigindo as inteligências, iluminar e dirigir os corações, apresentando o conhecimento não como uma abstração, mas como uma chama viva que comunica vida ao espírito.

Dom Cafasso logo se tornou muito conhecido como pregador. Ele nada tinha de retórico: as palavras lhe afluíam aos lábios com facilidade: “Jesus, a Sabedoria Infinita”, dizia ele a Dom Bosco, “empregava as palavras e expressões que eram correntes entre aqueles aos quais se dirigia. Faça o mesmo”. E não havia tendência ou doutrina que ele não fosse capaz de enfrentar, ora em linguagem coloquial para as multidões, ora em termos mais técnicos para o jovem clero.

Dom Cafasso se destacou entre aqueles que destruíram os últimos vestígios do jansenismo na Itália do Norte, encorajando os fiéis com a esperança e a confiar, com humildade, no amor e na misericórdia de Deus, e combatendo uma moralidade que considerava a menor falta como um pecado grave. “Quando ouvimos confissões”, escrevia ele, “Nosso Senhor quer que sejamos amáveis e compassivos, paternais para com todos aqueles que nos procuram, sem nos preocuparmos com o que eles sejam ou o que tenham feito. Se repelimos alguém, se alguma alma se perde por nossa culpa, lembremo-nos de que um dia seremos chamados a prestar contas disto: seu sangue será requerido de nossas mãos”.

E Dom Cafasso desempenhou um grande papel na formação de uma geração de clérigos que combateria em todos os sentidos e se negaria a transigir com as autoridades civis cuja ideia a respeito das relações entre Igreja e Estado era a de dominação e interferência.
Dom Guala morreu em 1848 e Dom Cafasso foi indicado para lhe suceder como reitor da igreja de São Francisco e do Instituto anexo. Ele mostrou-se tão bom superior quanto fora bom subordinado, e o cargo não era fácil, porque havia uns sessenta padres jovens, provenientes de várias dioceses e de formação e cultura diversas, e, o que era importante naquela época e naquele lugar, de pontos de vista políticos diferentes. Dom Cafasso fez deles um só corpo, com um só coração e uma só alma, e se uma mão forte e uma disciplina rígida tiveram a sua parte neste desempenho, mais tiveram a santidade do novo reitor e suas elevadas normas.

Seu amor e seu cuidado com os sacerdotes jovens e pastores inexperientes e sua insistência em afirmar que seu pior inimigo era um espírito de mundanidade, tiveram influência marcante no clero do Piemonte. E seu cuidado não se restringia apenas a este: religiosas contemplativas e ativas e leigos, especialmente os jovens, eram indistintamente objeto de seu interesse e de sua solicitude. Ele tinha uma intuição notável no trato com seus penitentes, e pessoas de todos os tipos, grandes e pequenos, clérigos e leigos, acorriam ao seu confessionário. O arcediago de Ivrea, Mons. Francisco Favero, foi um dos que deram seu testemunho pessoal sobre o poder que Dom Cafasso tinha de curar as almas quebrantadas.

Suas atividades, seja na pregação e no atendimento espiritual a todos, indistintamente, seja na orientação e na formação do clero jovem, não se limitavam à igreja de São Francisco e seu Instituto, e, dos lugares em que ele era muito conhecido, se sobressaía o santuário de Santo Inácio, situado fora da cidade, nas colinas de Lanzo. Com a supressão da Companhia de Jesus, este santuário ficou aos cuidados da arquidiocese de Turim, e Dom Luigi Guala foi nomeado seu administrador, em tempo oportuno, e depois de sua morte foi sucedido por Dom Cafasso. Este continuou a obra de seu predecessor, pregando aos romeiros e dando retiros para o clero e para os leigos, ampliando as acomodações e terminando a estrada que conduz ao santuário, iniciada por Dom Guala. Mas de todas as atividades de Dom Cafasso nenhuma tocou mais a imaginação do público, em geral, do que sua obra em favor dos detentos e sentenciados. As prisões de Turim naquela época eram instituições horríveis, cujos ocupantes viviam apinhados em condições bárbaras, mais próprias a degradar aqueles que as suportavam. Isto constituía um desafio para Dom Cafasso, e um desafio que ele agarrou com ambas as mãos.

O mais conhecido de seus convertidos, nessas condições pouco promissoras, foi Pedro Mottino, um desertor do exército que se tornara o chefe de um bando de salteadores, particularmente mal afamados. Havia execuções em público, e Dom Cafasso acompanhou mais de setenta condenados até o cadafalso, em várias localidades, e nenhum deles morreu impenitente: ele os chamava seus “santos enforcados”, e lhe pedia que intercedessem por ele. Entre estes condenados se achava o general Jerônimo Ramorino, que tinha sido oficial de artilharia do exército de Napoleão I e, posteriormente, mercenário na Espanha, na Polônia e na Itália. Foi condenado à morte por desobedecer às ordens na batalha de Mortara, e, ao ser convidado a se confessar, na véspera de sua execução, respondeu: “Minha condição não é tal que me obrigue a semelhante humilhação”. Dom Cafasso não concordou e perseverou, e Ramorino foi ao encontro da morte como bom cristão.

João Bosco e José Cafasso se encontraram pela primeira vez no outono de 1827, quando o primeiro era ainda uma criança, muito viva, e o segundo já tonsurado. “Eu o vi! Eu falei com ele!”, anunciou João, quando voltou para casa. “Viste quem?”, perguntou-lhe a mãe. “José Cafasso. E eu te digo que ele é santo”. Quatorze anos mais tarde, Dom Bosco celebrava sua primeira missa na igreja de S. Francisco de Turim, e depois ingressou no Instituto, estudando sob a direção de Cafasso e tomando parte em muitos de seus empreendimentos, especialmente ajudando-o na instrução religiosa dos meninos. Foi Dom Cafasso que o convenceu de que o trabalho em favor dos meninos era sua vocação. E assim um salesiano, João Cagliero, pôde escrever: “Nós amamos e veneramos nosso querido pai e fundador
Dom Bosco, mas amamos igualmente José Cafasso, porque foi mestre, conselheiro e guia espiritual de Dom Bosco nas coisas espirituais e nos empreendimentos, durante mais de vinte anos; e ouso dizer que a bondade, as realizações e a sabedoria de Dom Bosco são a glória de Dom Cafasso.

Na primavera de 1860, Dom Cafasso predisse que a morte o levaria no decorrer daquele ano. Ele redigiu um testamento espiritual, estendendo-se sobre as formas de se preparar para uma boa morte, que ele tantas vezes expusera aos participantes dos retiros do Santuário de S. Inácio, a saber, uma vida piedosa e íntegra, o desprendimento do mundo e o amor ao Cristo crucificado. E fez um testamento dispondo de seus bens, cujo herdeiro universal era o reitor da Pequena Casa da Divina Providência de Turim, fundação de S. José Cotolengo. Entre os outros herdeiros se achava S. João Bosco, que recebeu certa quantia de dinheiro e alguma terra e edifícios vizinhos ao oratório salesiano de Turim. Por essa época, Dom Bosco estava tendo dificuldades com o governador civil do Piemonte, fato este que era motivo de preocupações para Dom Cafasso e lhe afetou a saúde.

Depois de ouvir confissões em 11 de junho, ele se recolheu ao leito, exausto e doente. Manifestou-se uma pneumonia, e ele morreu no sábado, dia 23 de junho de 1860, à hora do Angelus da manhã. Multidões imensas assistiram-lhe os funerais, na Igreja de S. Francisco e na igreja dos Santos Mártires, onde, como convinha ao momento, pregou S. João Bosco. Trinta e cinco anos mais tarde, foi dado início ao processo de beatificação de Dom Cafasso no tribunal diocesano de Turim, e ele foi canonizado em 1947.

Fonte: “A vida dos Santos”, de Butler, Editora Vozes