quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Catequese do Papa na Audiência: a misericórdia é saber rezar uns pelos outros.



Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco acolheu na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de sete mil fiéis para a Audiência Geral.


Com a catequese desta quarta-feira (30/11), o Pontífice encerrou o ciclo dedicado à misericórdia, falando nesta ocasião sobre duas obras: uma espiritual de “rezar pelos vivos e pelos mortos”, e outra corporal, enterrar os mortos. “As catequeses terminam, mas a misericórdia deve continuar”, disse o Papa.

À primeira vista, afirmou Francisco, enterrar os mortos pode parecer estranho, mas se pensarmos em tantas regiões atribuladas pelo flagelo da guerra, enterrar os mortos se torna tristemente uma obra muito atual. Às vezes, significa colocar em risco a própria vida, como foi o caso do velho Tobi, no Antigo Testamento; outras vezes, exige uma grande coragem, como no caso de José de Arimatéia, que providenciou um sepulcro para Jesus, após a sua morte na Cruz.

“Para os cristãos, a sepultura é um ato de piedade, mas também de fé e esperança na ressurreição dos mortos”, explicou Francisco. Por isso, somos chamados também a rezar pelos defuntos, primeiramente porque reconhecemos o bem que essas pessoas nos fizeram em vida e, depois, para encomendá-las à misericórdia de Deus. “Todos ressuscitaremos e todos permaneceremos para sempre com Jesus”, recordou o Papa, que recomendou  que não se esqueça de rezar pelos vivos.

Trata-se de uma manifestação de fé na Comunhão dos Santos, que nos ensina que os batizados, encontrando-se unidos em Cristo e sob a ação do Espírito Santo, podem interceder uns pelos outros.

O Pontífice recordou que existem muitos modos de rezar pelo próximo, como as mães e os pais que abençoam os filhos antes de saíram de casa, “hábito ainda presente em algumas famílias”, a oração às pessoas doentes, a intercessão silenciosa às vezes com as lágrimas.

Francisco contou aos fiéis um episódio ocorrido no dia anterior, de um jovem empresário que participou da Missa celebrada por ele na capela da Casa Santa Marta. Após a celebração, chorando, o proprietário disse que deveria fechar a fábrica devido à crise, mas 50 famílias ficariam sem trabalho. “Eis um bom cristão”, disse o Papa, pois ele poderia declarar falência e ficar com o dinheiro, mas sua consciência não o permitia e ia à missa para pedir a Deus uma solução, não para ele, mas para as 50 famílias. “Este é um homem que sabe rezar, com o coração, com os fatos, sabe rezar pelo próximo numa situação difícil. E não busca a solução mais fácil. Fez-me tão bem ouvi-lo e espero que existam tantas pessoas assim hoje, pois muitos sofrem com a falta de trabalho.”

Ao rezar uns pelos outros, devemos pedir sempre que se faça a vontade de Deus, porque a sua vontade é certamente o bem maior, o bem de um Pai que jamais nos abandona.  “Abramos o nosso coração, disse o papa,  rezar e deixar que o Espírito Santo reze em nós. E isso é o belo da vida, rezar, agradecer, louvar a Deus, pedir algo, mesmo chorando quando há alguma dificuldade, mas com coração aberto ao Espírito para que reze em nós, conosco e por nós.”

O Papa Francisco expressou seu pesar pela tragédia da Chapecoense.
Durante a saudação em português, de maneira improvisada, o Papa disse:

"Eu também gostaria de recordar hoje a dor do povo brasileiro pela tragédia do time de futebol e rezar pelos jogadores mortos, pelas suas famílias. Na Itália, sabemos bem o que isso significa, pois lembramos o acidente aéreo de Superga, em 1949. São tragédias duras. Rezemos por eles”.

Concluindo estas catequeses sobre a misericórdia, Francisco pede um esforço a rezar uns aos outros para que as obras de misericórdia corporais e espirituais se tornem sempre mais o estilo da nossa vida:
“Como disse anteriormente, as catequeses se concluem. Fizemos o percurso das 14 obras de misericórdia, mas a misericórdia continua e devemos exercitá-la nesses 14 modos.”

Franciscano do dia - 30/11 - Bem-aventurado Bernardino de Fossa.


Sacerdote da Primeira Ordem (1420-1503). Aprovou seu culto Leão XII no dia 26 de março de 1828.

Bernardino Amici, pregador e escritor franciscano, nasceu em 1420 em Fossa, perto de Áquila. Em Perúsia, onde se tinha formado em direito, ingressou nos frades menores em 1445. Viveu em vários conventos da Úmbria e dos Abruzos, mas a residência mais habitual foi em Áquila. Por três triênios o elegeram para ministro provincial da sua província, e também foi procurador geral da ordem na cúria romana. Tomou parte em vários capítulos gerais realizados em Áquila, Assis, Milão, Roma e Mântua. Várias vezes recusou o bispado de Áquila.

Foi célebre pregador, em Itália e não só; deu brado uma quaresma que pregou na Dalmácia em 1465. Nos últimos anos da vida divulgou alguns escritos seus de caráter teológico e histórico, mas a maior parte das suas obras ficou inédita.

Como filho fiel do seráfico pobrezinho e ardente ministro de Cristo, propôs-se seguir o trilho de São Bernardino de Sena, a quem várias vezes ouvira pregar e por quem ficara fascinado, em especial quando em 1438 ele pregou em Áquila sobre a Assunção de Maria em corpo e alma ao céu. A multidão imensa no meio da qual se encontrava Bernardino viu brilhar no céu uma estrela luminosa cujo esplendor superava o do sol.

De São Bernardino de Sena copiou o nosso frei Bernardino o espírito de fé e de recolhimento, a prudência, a humildade, a modéstia, o zelo ardente pela glória de Deus. Por isso o vemos a calcorrear cidades e mais cidades a pregar a palavra de Deus, suscitando por toda a parte o entusiasmo e obtendo numerosas conversões.

Durante oito meses esteve prostrado de cama, atormentado por terríveis sofrimentos, suportados como exemplar resignação. Até que um dia lhe apareceu o seu patrono São Bernardino de Sena, que lhe obteve do Senhor a cura completa.

Liberto dos compromissos que a ordem lhe confiara, regressou aos Abruzos e prosseguiu as lides apostólicas com renovado fervor. Fundou novos conventos, entre eles o de Santo Ângelo de Ocre na sua região natal, onde decidiu viver até avançada idade. Aos 83 anos, esgotado pelos trabalhos apostólicos e pela austeridade de vida, retirou-se ao convento de São Julião próximo de Áquila, a preparar-se para o encontro com a irmã morte, que sobreveio no dia 27 de novembro de 1503. Foi um digno filho de São Francisco e fiel imitador de São Bernardino de Sena, e Deus não deixou de avalizar a sua santidade com o dom dos milagres.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Franciscanos do dia - 29/11 - Todos os Santos da Ordem Franciscana.


Santos canonizados da primeira ordem, 110; Santas canonizadas da segunda ordem, 9; Santos e Santas canonizados da terceira ordem regular e secular, 53; Religiosos da primeira ordem beatificados, 161; Religiosas da segunda ordem beatificadas, 34; da terceira ordem regular e secular, 95 beatificados. Total de membros das ordens franciscanas canonizados e beatificados, no fim do milênio, 482.

No aniversário da aprovação da regra de São Francisco Honório III, no dia 29 de novembro de 1223. A ordem franciscana recolhe-se em oração festiva para contemplar a grandiosa árvore de santidade nascida daquele livrinho que Francisco dizia ter recebido do próprio Jesus e constituía a “medula do Evangelho”.

Era esse precisamente o projeto de vida e o carisma do pobrezinho: ser sal da terra e luz do mundo, fazer reviver na Igreja o Evangelho em sua pureza, ou seja, apresentar perante os homens a vida de Cristo em todas as suas dimensões: desde a pobreza ao zelo pela salvação de todos, do anúncio da Boa Nova ao sacrifício da cruz.

Quem poderia contar a imensa multidão de Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus – se quisermos utilizar esta terminologia canônica – ou melhor ainda, de todos os irmãos e irmãs, sem nome e sem rosto, que nos limites da sua fragilidade viveram a perfeição evangélica, fazendo da regra franciscana a norma da sua vida? É um imenso capital de santidade e de amor, muitas vezes desconhecido, outras vezes esquecido, quando não mesmo desprezado pelo mundo! O bem dá menos nas vistas do que o mal; no entanto, a história do bem, tantas vezes anônima e despercebida, tem escrito o nome e o rosto de Cristo. É essa história que impede o mundo de cair no desespero e fecunda as atividades da Igreja.

São Francisco disse um dia aos irmãos, numa explosão de alegria: “Caríssimos, consolai-vos e alegrai-vos no Senhor! Não vos deixeis entristecer pelo fato de serem poucos, nem vos assusteis da minha simplicidade nem da vossa, pois o Senhor me revelou que há de fazer de nós uma inumerável multidão e nos propagará até os confins do mundo. Ele me mostrou um grande número de pessoas a vir ter conosco, com o desejo de viverem segundo a nossa regra. Ainda me parece ouvir o ruído dos seus passos! Enchiam diversos caminhos, vindos de todas as nações: eram franceses, espanhóis, alemães, ingleses, uma turba imensa de várias outras línguas e nações”.

Ao ouvirem estas palavras, uma santa alegria se apoderou dos irmãos, pela graça que Deus concedia ao seu Santo.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Santo Franciscano do dia - 28/11 - São Tiago das Marcas


Sacerdote da Primeira Ordem (1391-1476). Canonizado por Bento XIII no dia 10 de dezembro de 1726.

Em conjunto com João de Capistrano, Bernardino de Sena e Alberto de Sarteano, Tiago das Marcas é uma das colunas da Observância Franciscana, a singular reforma da Ordem no século XV, que, opondo-se a um humanismo exagerado, propôs o retorno à vida pobre e simples e ao zelo apostólico que caracterizou o franciscanismo primitivo.

Nascido em 1391 em Montprandone (Piceno), desde muito novo se sentiu atraído pelo ideal franciscano, e vestiu o hábito dos frades menores no convento dos Cárceres, perto de Assis. Era tão propenso à mortificação, que o seu mestre de teologia e de vida espiritual, São Bernardino de Sena, teve de lhe recomendar certa moderação. Dotado de excepcionais dotes oratórios, uma vez ordenado sacerdote percorreu a Itália e grande parte da Europa a pregar a fiéis, hereges e infiéis, com abundantes frutos de conversão e reforma de costumes.

Recusou a oferta do arcebispado de Milão e foi conselheiro de papas e imperadores. Esteve ao serviço da santa Sé em numerosas missões, e sucedeu a São João de Capistrano como guia espiritual da cruzada contra os turcos.

Sendo um pregador de raras qualidades, exerceu essa forma de apostolado não apenas na Itália, mas ainda em países estrangeiros, como a Bósnia, a Boêmia e a Polônia. Estava em meio duma refeição quando lhe chegou às mãos a ordem papal de partir para a Hungria. Levantou-se imediatamente, sem acabar de comer, para cumprir a ordem recebida. Era assim a sua obediência, absoluta e instantânea.

Levava uma vida de rigor e austeridade. Durante o ano fazia nada menos de sete quaresmas, e nos outros dias a sua alimentação limitava-se a pequenas e pobres rações, como uma malga de favas simplesmente cozidas em água. O seu zelo pela castidade levava-o a disciplinar-se por vezes de noite, ao ser atormentado por tentações carnais. Enfermiço e debilitado pelos jejuns, por seis vezes recebeu a Unção dos Enfermos. Apesar disso resistiu até aos 80 anos na fatigante vida de pregador volante.

Os temas de sua pregação eram idênticos aos de São Bernardino, cauterizando em especial a avareza e a usura. Para combater esta praga social idealizou os Montes de Piedade ou Montepios, onde os pobres podiam empenhar os seus bens por um preço justo e com juros mínimos, ao contrário do que faziam os usuários privados.

No dia 28 de novembro de 1476, com 85 anos de idade, faleceu em Nápoles, onde se conservam os seus restos mortais na igreja de Santa Maria Nova. Apaixonado pelo estudo, traduziu muitas obras e compôs algumas de sua autoria, as quais nos permitem ter um conhecimento profundo da sua vida, da sua espiritualidade e da sua ação apostólica.

domingo, 27 de novembro de 2016

Santo Franciscano do dia - 27/11 - São Francisco Antônio Fasani


Sacerdote da Primeira Ordem (1681-1742). Canonizado por São João Paulo II no dia 13 de abril de 1986.

Francisco Antônio Fasani, natural de Lucera, na região italiana da Apúlia, era filho duma família de modestos lavradores. Sendo ainda muito novo, entrou na ordem franciscana, no convento de Lucera dos frades menores conventuais, e não tardou distinguir-se pela inocência de vida, espírito de penitência e pobreza, ardor seráfico e zelo apostólico, a ponto de parecer um São Francisco redivivo.

Fez o noviciado no convento do Monte Santo Ângelo, no Gárgano, e aí emitiu os votos de consagração ao Senhor em 1699. Quatro anos depois, para completar a formação, foi enviado para o Sacro Convento de Assis, onde foi ordenado sacerdote em 1705.

Dali passou ao colégio de São Boaventura, onde recebeu o título de mestre de teologia – e por isso daí em diante os seus conterrâneos de Lucera começaram a chamar-lhe de o “Padre Mestre”. Voltando para Assis, dedicou-se à pregação pelas aldeias, até que pouco depois voltou definitivamente à sua terra natal.

A partir da cátedra, do púlpito ou do confessionário, o seu apostolado era sempre intenso e fecundo. Percorreu todas as terras da Apúlia e arredores, merecendo o epíteto de “apóstolo da sua terra”. Profundo em filosofia e não menos em teologia, começou por ser leitor e prefeito de estudos no Colégio de Filosofia de Lucera. Depois foi mestre de noviços e guardião do convento, e sempre modelo de observância regular para os confrades, sendo por isso nomeado em 1721, por especial Breve de Clemente XI, ministro da Província religiosa de Santo Ângelo, que nesse tempo era muito extensa. Escreveu diversas obras de pregação, entre elas um “Quaresmal” e um “Marial”. A sua principal preocupação ao falar ao povo era fazer-se entender por todos. Por isso a sua catequese, tipicamente franciscana, era especialmente dirigida ao povo simples, pelo qual ele sentia particular atração.

Outra característica sua foi uma inesgotável caridade para com os pobres. Entre as diversas iniciativas, promoveu o simpático costume de recolher e distribuir prendas úteis para os pobres por ocasião do Natal. Também foi notável o seu zelo sacerdotal na assistência a presos e condenados à morte, a quem acompanhava até o lugar do suplício, para os consolar nos derradeiros momentos. Neste admirável ministério da caridade antecipou-se a São José Cafasso.

Mandou restaurar a bela igreja de São Francisco em Lucera, centro da sua incansável atividade sacerdotal durante 35 anos. Às pessoas de quem era diretor espiritual recomendava a devoção a Santíssima Virgem, em especial no privilégio da Imaculada Conceição.

Aos 61 anos de idade morreu onde nascera, em Lucera, a 29 de novembro de 1742, o primeiro dia da grande novena da Imaculada. O seu corpo é venerado na igreja de São Francisco.

sábado, 26 de novembro de 2016

Santo franciscano do dia - 26/11 - São Leonardo de Porto Maurício


Sacerdote da Primeira Ordem (1676-1751). Canonizado por Pio IX no dia 29 de junho de 1867.

São Leonardo foi proclamado pela Igreja como Padroeiro das missões entre fiéis, pela orientação particular que deu ao seu apostolado e pela amplidão da sua obra missionária, que se estendeu a todas as cidades da península itálica. Nasceu em Porto Maurício, na Ligúria, e frequentou em Roma o colégio gregoriano. Entrou ainda jovem na ordem dos frades menores, e desde o noviciado propôs imitar o mais fielmente possível a vida de São Francisco. Veio a conseguir o seu intento, sobretudo na penitência, que raiava pelo heroísmo, na altíssima contemplação e no zelo apostólico.

Ordenado sacerdote, dedicou-se por mais de 40 anos à pregação, com grande proveito para os fiéis, escolhendo como temas as mais importantes verdades cristãs, seguindo também  neste pormenor a exortação de São Francisco.

A simples apresentação da sua figura já constituía um bom princípio de pregação: austero, magro, ardente de fé e de amor. O seu estilo retórico, em conformidade com o costume da época valia-se de sinais exteriores destinados a causar impacto e mover à contrição e às lágrimas, apelando à sensibilidade. Neste clima se situa a grande devoção da Via Sacra, de que foi eminente divulgador. Deixou algumas obras escritas, desde simples esboços até tratados de ascética e de pregação.

A pregação de São Leonardo caracterizava-se por algo de dramático e até trágico. Multidões imensas acorriam a escutá-lo, e ficavam impressionadas pela sua palavra ardente, convidando à penitência e à piedade cristã. Dizia dele Santo Afonso Maria de Ligório, que era “o maior missionário do século”. Não era raro durante a sua pregação o auditório inteiro prorromper em pranto e em soluços. Pregou por toda a Itália, mas a região favorita foi a Toscana, por causa do jansenismo, que ele se propôs combater com todo o empenho, abordando para isso os temas que lhe pareceram mais eficazes: o nome de Jesus, a Virgem Maria e a Via Sacra. Quando ele fazia uma missão na Córsega, os bandidos desta atormentada ilha deram tiros para o ar gritando: “Viva Frei Leonardo! Viva a Paz!”.

Bastante desgastado pelos constantes trabalhos apostólicos, foi chamado a Roma, onde, em apaixonados sermões a que o próprio papa por vezes assistia, preparou o clima espiritual para o jubileu de 1750. Foi nessa altura que erigiu a Via Sacra no Coliseu, declarando sagrado aquele lugar onde muitos mártires tinham vertido o sangue por Cristo. No ano seguinte ainda se deslocou à região de Bolonha, para as suas últimas pregações.

Regressando a Roma, ao convento de São Boaventura no Palatino, a 26 de novembro, com 75 anos de idade, terminou a carreira terrena este incomparável missionário do povo cristão. As autoridades tiveram de recorrer às forças de segurança para controlarem a multidão dos devotos que queriam ver o Santo e levar relíquias dele. Foi a respeito dele que disse o papa Lambertini: “Perdemos um amigo na terra, mas ganhamos um Santo no céu”.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Artigo - Advento, tempo do desejo.


Estou ouvindo seu passo de ouro na estrada. Ele vem para sempre. (Tagore)

Começamos a percorrer os caminhos de um tempo  novo na vida da Igreja, esta que é sacramento da presença de Cristo no mundo. Tempo de sacudir a poeira, de tomar distância da mesmice, tempo de reencantar o coração, tempo de vigilância. As solenidades natalinas não podem nos surpreender com um coração vazio, distraído, displicente, indolente. Antífonas, leituras, responsórios e hinos pedem que sejamos vigilantes, atentos. A Igreja toda necessita cultivar profundo sentimento de um coração contrito.  Começamos um retiro de quatro semanas.  Desejamos a vinda do  Senhor. Mas que vinda?

Nosso oleiro é o Senhor
Diante do Senhor com toda singeleza e humildade.  Pés descalços e coração contrito.  Exprime-se o desejo que o Senhor desça até nossa terra:

“Como, Senhor nos deixastes andar longe de teus caminhos e endureceste nossos corações para não termos o teu temor?  Por amor dos teus servos, das tribos, da tua herança, volta atrás. Ah! se rompesses os céus e descesses! As montanhas se desmanchariam diante de ti. Desceste, pois e as montanhas se derreteram diante de ti.

Tu te irritaste porque nós pecamos; é nos caminhos de outrora que seremos salvos. Todos nós nos tornamos imundície, e todas a nossas obras são como pano sujo, murchamos todos como folhas e nossas maldades nos empurraram como o vento. Não há quem invoque teu nome, quem se levante para encontrar-se contigo;  escondeste de nós tua face, e nos entregaste à mercê  de nossa maldade. Assim mesmo, Senhor,  tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos,  obra de tuas mãos”.


Tempo de espera
Textos fortes, hinos cheios de saudade, cantos dolentes.  Tempo do advento. Queremos reviver as esperanças de um povo, prepararmo-nos imediatamente para celebrar a primeira vinda do Senhor:  o presépio, as lâmpadas e luzes, a árvore, a festa, os presentes, a noite santa.  Renovação da esperança.  De tantas esperanças.  De tantas esperas.

Caminheiros e viandantes querem uma terra, uma casa, um pouso.

A mãe espera um filho com ansiedade. Tudo já está preparado: o berço, as roupinhas, a banheira, as toalhas felpudas, o leite que armazena em seu peito.

A caixa do supermercado não vê a hora de voltar para casa, de preparar a comida, de rever os filhos, de esperar pelo marido, de estar com ele e não precisar ficar digitando códigos e números.

A criança, cansada de estudar, meio febril, espera a mãe na porta da escola. Cansada porque forçaram demais sua pequena cabeça.

O casal espera que seu relacionamento melhore, que os dois possam ter certeza de que sua vida a dois têm futuro, têm amanhã, um futuro bonito e um amanhã viçoso e não apenas um rolar de ano em ano, de década em década.

Os soldados, terminada a guerra, começam a enfeitar o coração  quando se preparam para voltar à casa.  Reencontrar os velhos pais,  rever a escola da cidade,  a igreja da infância, a mulher amada e os filhos.  O presidiário espera o dia da libertação para poder  sentar-se à mesa da casa com a mulher, os filhos e  experimentar novamente a alegria de viver.

Dante Alighieri, assim escreve esta frase no frontispício do inferno:  “Todos vós que entrais  podereis colocar de lado  toda esperança!”

Há esses homens e mulheres desalentados, desanimados, desesperançados, desconfiados.  Eles esperam a manifestação do Senhor em suas vidas.  No turbilhão das paixões, na profundezas de nossa solidão, nas dúvidas atormentadores  esperam a vinda do  Senhor.

“Ele vem sem cessar, nosso Deus encarnado.  Vem de dia ou à noite.  Esperamo-lo à porta ele  vem pela janela.  Na alegria o aguardamos, eis que chega com sua cruz. Vem na abundância, mais ainda na pobreza.  Vem quando é desejado, surge mesmo quando não era esperado. Vem na Palavra, na Eucaristia e em todos os seus mistérios.  Vem no silêncio, na brisa como aconteceu com  Elias.  Vem nas multidões  e no meio de ruídos ensurdecedores. Vem nesses rostos que encontramos. Vem a cada instante.  Nem sempre meus olhos estão preparados para reconhecê-lo. Vem com Maria, os anjos, os santos. Um dia ele haverá de me levar para o seu reino” (Inspirado em poema de Jean de Saint Cyr).

Será que este encontro pode ser programado?
O ritmo da vida atual, cada vez mais agitado,  as engrenagens de um sistema que pretende planejar  todos os momentos do homem, mesmo o que há de mais privado, reduzem cada vez mais os limites do imprevisto.  Tudo deve ser passado pelo computador, classificado, neutralizado, assegurado. Mas para o cristão, Cristo continua a ser um acontecimento revolucionador: quando irrompe  em sua vida impõe uma mudança radical que quebra e transforma a rotina cotidiana. Cristo não pode ser programado; deve ser esperado; devemos deixar em nossa vida um espaço para sua presença. A vigilância cristã  permite ler em profundidade os fatos e neles descobrir a “vinda” do Senhor. Exige coração suficientemente missionário para ver essa vinda no encontro com os outros (cf. Missal Dominical da Paulus, p. 5).

Esperamos um futuro que o  Senhor vai nos manifestar
“Nossa época se caracteriza, muitas vezes pela eficiência, produtividade e ativismo. A espera pode parecer impopular e irresponsável.  Numa visão cristã do tempo, no entanto,  o futuro não é um mero desenrolar infinitamente uniforme. Caracteriza-se por aquilo que nele realizará o Cristo. Sem esta clara compreensão seremos ameaçados pelo fatalismo ou pela impaciência.  Renunciar à dimensão da espera seria não somente reduzir o alcance de nossa fé, mas ao mesmo tempo privar o mundo do testemunho da esperança ao qual ele tem direito.  A espera do Senhor impõe ao cristão o saber pacientar-se.  A espera é a arte de viver o inacabado e a fragmentação sem desesperar. É a capacidade não somente de suportar o tempo, mas também a capacidade de  sustentar os outros, de “carregá-los”: assumi-los com suas limitações e carregá-los. A espera abre  homens e mulheres ao encontro e à relação. Faz apelo à gratuidade a aos  recomeços sempre possíveis.  A  espera não  é sinal de fraqueza, mas de força, de estabilidade, de convicção. É uma responsabilidade. Animada pelo amor, a espera se transforma em desejo, desejo amoroso do encontro com o  Senhor. Convida à partilha e à comunhão, leva-nos a  dilatar o coração às dimensões  da criação que aspira à transfiguração e espera novos  céus e terra nova.  A advento  não é apenas tempo de preparação, mas de espera com e  para os outros”  (Enzo Bianchi).

Franciscano do dia - 24/11 - Bem-aventurado Mateus Álvares.


Mártir no Japão, da Terceira Ordem (+1628). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.

O pai de Mateus Álvares era português, e a mãe japonesa. O filho foi um cristão exemplar já em vida, mas, sobretudo na morte. Pertence ao número imponente dos convertidos japoneses depois da mais antiga experiência de evangelização desse país do extremo Oriente, ligado à história e à glória de São Francisco Xavier.

São Francisco Xavier tinha estado no Japão por volta de 1550, e aí lançara as primeiras sementes do apostolado cristão. Depois dele, a obra evangelizadora foi continuada pelos seus confrades da Companhia de Jesus, com êxito tanto mais surpreendente, quanto era difícil penetrar naquela cultura e mentalidade muito diferente da ocidental, e ainda devido à complexidade da língua japonesa.

Apesar disso, menos de 30 anos depois, em 1587, já se contavam no Japão mais de 200.000 cristãos. Um deles era o Beato Mateus Álvares. Batizado pelos franciscanos, tinha-se inscrito na ordem terceira de São Francisco e esforçava-se por viver segundo o espírito seráfico. Como bom japonês, conhecia perfeitamente as doutrinas e os costumes budistas, e isso permitiu-lhe sair vencedor em variadas discussões e obter numerosas conversões.

Durante certo tempo os missionários do Japão viveram em clima de tolerância e inclusivamente de simpatia. Mas de repente, por motivos diversos e complexos, foi decretada a expulsão dos missionários estrangeiros. Contudo, grande parte dos religiosos não fizeram caso do decreto e continuaram lá, na clandestinidade, prosseguindo com as devidas cautelas o trabalho de apostolado e assistência às comunidades cristãs. Sucedeu que a chegada de novos missionários e o seu proselitismo demasiadamente descarado sobressaltou as autoridades, que decretaram a prisão de todos os missionários e também de cristãos mais notáveis.

Mateus foi detido e levado para a cadeia, onde já encontrou outros cristãos e missionários. Todos sofreram refinadas e humilhantes torturas, entre as quais a de serem expostos à irrisão e escárnio das populações. Eram também solicitados a renegar a fé cristã; mas nem ele nem nenhum dos companheiros desertou. Finalmente a 8 de setembro de 1628 foi executado na colina próxima de Nagasáki, chamada mais tarde a Colina Sagrada. Foi primeiro atravessado com lanças cruzadas que lhe atravessaram o coração, e de seguida decapitado. Antes de morrer dirigiu-se pela última vez ao povo para exortar à perseverança, e aos verdugos para lhes declarar o seu perdão.

Sobre a Colina Sagrada, ou Colina dos Mártires, de Nagasáki, erguia-se um estandarte não de derrota, mas de perene vitória.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Catequese do Papa na Audiência: Misericórdia é também dar bom conselho e ensinar valores.



Cidade do Vaticano (RV) – A audiência geral desta quarta-feira teve lugar na Sala Paulo VI, no Vaticano, com a presença de milhares de fiéis, inclusive grupos de Manaus (AM), Araguari (MG) e Lorena (SP).

Em sua catequese, o Papa dissertou sobre duas obras espirituais de misericórdia bastante relacionadas entre si: dar bom conselho e ensinar os ignorantes. Segundo Francisco, ambas podem ser vividas em nossa vida cotidiana, especialmente a segunda, ensinar.

“Pensemos por exemplo nas crianças que ainda são analfabetas, carentes de instrução. Esta é uma condição de grande injustiça, que lesa a própria dignidade da pessoa. Sem instrução, as pessoas se tornam fácil alvo da exploração e de várias formas de marginalização social”. 

O aplauso aos educadores da Igreja

Ao longo dos séculos, a Igreja sempre se engajou neste campo, educando aos valores humanos a cristãos, pois acredita que a instrução é realmente uma peculiar forma de evangelização. O Papa pediu aos fiéis um aplauso aos muitos sacerdotes, consagrados e consagradas, e leigos, que dedicaram a vida na educação e instrução de crianças e jovens. 
Dar bom conselho, por sua vez, é procurar ajudar a pessoa confusa, indecisa, duvidosa, a superar o tormento e a aflição que lhe provocam as suas dúvidas. Assim explicou o Papa:
Dar bom conselho é ato de amor.

“Expressar misericórdia pelos inseguros equivale a aliviar a dor e o sofrimento que provêm do medo e da angústia que são consequências da dúvida. É um ato de verdadeiro amor pelo qual se ampara e apoia a pessoa na fragilidade da sua incerteza e hesitação”  

Alguém poderia dizer-me: “Padre, tenho tantas dúvidas de fé, que devo fazer?” As dúvidas em matéria de fé podem ser um sinal de que queremos conhecer melhor Deus e o mistério do seu amor por nós. Neste sentido positivo, é bom que nos interroguemos sobre a nossa fé, porque assim somos levados a aprofundá-la. Em todo o caso, as dúvidas devem ser superadas. Para isso é necessário escutar a Palavra de Deus e compreender o que nos ensina, principalmente na catequese. 

As dúvidas fazem crescer

“Não façamos da fé uma teoria abstrata, onde as dúvidas se multiplicam, mas uma vida, procurando pô-la em prática no serviço aos nossos irmãos, sobretudo aos mais necessitados. Então todas as dúvidas desaparecem, porque sentimos a presença de Deus e a verdade do Evangelho no amor que, sem mérito algum da nossa parte, habita em nós e partilhamos com os outros”. 

Na conclusão, o Pontífice constatou que estas duas obras de misericórdia não estão distantes de nossa vida e cada um de nós pode se comprometer em vive-las e colocar em prática a Palavra do Senhor ao dizer que o mistério do amor de Deus não foi revelado aos sábios e inteligentes, mas aos menores:

“O ensinamento mais profundo a que somos chamados a transmitir e a certeza mais segura para sairmos da dúvida é o amor de Deus, aquele com que fomos amados: um amor grande, gratuito e doado para sempre”. 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Franciscano do dia - 22/11 - Bem-aventurado Salvador Lilli


Sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1853-1895). Beatificado no dia 3 de outubro de 1982 por São João Paulo II.

Nasceu para a vida terrena numa Capadócia da Itália, província de Áquila, e durante 15 anos trabalhou como missionário na célebre região da Capadócia, atualmente turca, junto à Armênia, onde nasceu pelo martírio para a vida do céu.

Foi o sexto e último filho de uma família de boa prática religiosa e situação econômica desafogada, devido à atividade comercial do pai. O ambiente familiar profundamente cristão fez germinar e crescer no menino Salvador sentimentos de fé e piedade, e ao mesmo tempo as possibilidades econômicas permitiram-lhe uma preparação e instrução escolar fora do comum.

Aos 18 anos, Salvador apresentou-se ao guardião do convento de São Francisco da Ripa, em Roma, pedindo para ser admitido na ordem dos frades menores. Em 1863 resolveu ir como missionário para a Terra Santa, onde desde os tempos de São Francisco os franciscanos são encarregados de cuidar de santuários e assistir a peregrinos. Continuou na Palestina os estudos de filosofia e teologia, primeiro em Belém e a seguir em Jerusalém, onde foi ordenado sacerdote em 1879. No ano seguinte foi à Turquia; como conhecia diversas línguas orientais, a árabe, a turca e a armênia, desenvolveu um frutuoso apostolado entre os cristãos dessas regiões, sobretudo em Marasc.

Em 1885 voltou à Itália para visitar a família e os confrades, e logo no ano seguinte regressou a Marasc, onde, como superior da missão no quadriênio de 1890-1894 realizou importantes obras de caridade e de assistência social em favor dos fiéis.

Coadjuvado por outros confrades, durante 15 anos a sua ação apostólica não se limitou a atividades religiosas, senão que também fomentou a instrução e a promoção social dos pobres. Graças aos seus extraordinários dotes de inteligência e de coração e ao perfeito conhecimento da língua turca, tanto falada como literária, depressa e sem dificuldade granjeou o afeto dos cristãos e a estima e o respeito dos não cristãos, inclusivamente das autoridades, devido, sobretudo, aos empreendimentos de ordem social, como o de ter adquirido uma grande propriedade e a ter dotado de alfaias agrícolas e ter aberto um dispensário.

Em 1885 os mulçumanos desencadearam uma perseguição armada, sistemática e feroz contra a minoria armênia da região. Frei Salvador, que havia dezesseis meses era pároco, além de superior da fraternidade, recusou fazer-se muçulmano. Ferido numa perna, e depois feito prisioneiro com dez dos seus paroquianos, foi assediado pelos maometanos, com subornos e com ameaças, no intuito de o fazerem apostatar. Mas manteve-se sempre firme e inquebrantável; e apesar da ferida da perna, que provocava grande perda de sangue, ainda confortava e animava os outros, dizendo-lhes: “Meus filhos, sede fortes na fé, não vos façais muçulmanos. O sofrimento passa depressa, e no céu está à nossa espera Jesus com todos os seus santos. Coragem! Depois do martírio espera-nos a coroa de glória no paraíso”.

No dia 22 de novembro de 1895, junto com sete cristãos armênios seus paroquianos, foi imolado a golpes de baioneta. No dia 3 de outubro de 1982, como conclusão do oitavo centenário do nascimento de São Francisco (1182-1982), o papa João Paulo II proclamava Bem aventurados Salvador Lilli e os sete cristãos seus companheiros no martírio pela fé em Cristo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Franciscana do dia - 21/11 - Bem-aventurada Maria Crucificada (Isabel Maria) Satellico


Isabel Maria Satellico, Virgem da Segunda Ordem (1706-1745). Beatificada por São João Paulo II no dia 10 de outubro de 1993.

Isabel Maria nasceu em Veneza no último dia do ano de 1706. Recebeu a primeira educação cristã dos pais e de um tio sacerdote. Era de saúde delicada, e mostrava grandes qualidades para a música e o canto, mas mais ainda para a oração.

Recebida entre as Clarissas para ser por elas orientadas nos caminhos de Deus, prestou-lhes bons serviços como organista e diretora de canto. Aos 19 anos foi recebida como noviça e mudou o nome para Maria Crucificada, pela devoção que consagrava a Maria e à Paixão de Cristo.

Conjugava com uma sublime contemplação uma rigorosa austeridade e penitência, participando assim mais intimamente nos sofrimento do Senhor. O seu ideal foi a perfeita conformação com Cristo crucificado, unida à caridade para com o próximo, e uma filial devoção à Santíssima Virgem. 

Eleita como abadessa, distinguiu-se pela solicitude para com as irmãs e para com os pobres. Morreu a 8 de novembro de 1745, e é nessa data que se celebra a sua memória litúrgica.

domingo, 20 de novembro de 2016

Franciscana do dia - 20/11 - Bem-aventurada Paula Montaldi




Virgem religiosa da Segunda Ordem (1443-1514). Aprovou seu culto Pio IX no dia 6 de setembro de 1876.


Nascida em 1443, com 15 anos entrou no mosteiro das irmãs clarissas de Santa Luizia, Mântua, onde foi abadessa durante muitos anos. A Paixão de Jesus era para ela o assunto mais frequente das conversas, bem como das meditações e contemplações. Foi também singularmente devota da Eucaristia. Levava uma vida austera, com cilícios, flagelações e jejuns, e sentia-se feliz nas humilhações, fadigas e trabalhos.

No relacionamento com as irmãs mostrava-se cheia de caridade e sempre pronta a ajudá-las em qualquer necessidade. Sob a sua direção o mosteiro de Santa Luzia ganhou fama pelas numerosas vocações e pela vida seráfica das religiosas.

Em agradecimento ao Senhor pelos favores por ele concedidos, costumava repetir esta oração: “Meu Deus, eu te amo de todo o coração, com um amor sem medida, e nunca deixarei de cantar os teus louvores”. Nos 56 anos de vida religiosa, nunca causou qualquer desgosto às irmãs. Como superiora, procurou não apenas o bem espiritual das religiosas, mas também o bem material da comunidade, convencida de que não pode haver perfeita observância da regra se falta o indispensável para a vida. No jardim mandou abrir um poço, que veio a chamar-se o “Poço da Beata Paula”, a cuja água se tem atribuído propriedades curativas.

Era grande a sua confiança em Deus. Amiúde repetia a expressão de São Paulo: “Sei em quem confio!”. Era às vezes arrebatada em êxtase, e outras vezes ouviram-se coros angélicos a cantarem junto ao sacrário. Escreveu vários opúsculos, em especial sobre o nome de Jesus, que lamentavelmente se perderam.

Um dia, estando a orar em êxtase diante dum crucifixo situado ao cimo dumas escadas, foi atacada pelo demônio, que a lançou por terra. Socorrida pelas irmãs, foi reclinada num enxergão. Eram os seus últimos dias e as suas últimas palavras. Exausta pelas prolongadas vigílias, pelos rigorosos jejuns e outras ásperas penitências, assistida pelo seu confessor e pelas irmãs, apertando contra o coração o crucifixo repetia mais uma vez a sua jaculatória predileta “Paixão de Cristo, Sangue de Cristo, misericórdia!”, expirou serenamente no dia 18 de agosto de 1514. Tinha 71 anos, 56 dos quais passados no mosteiro.

sábado, 19 de novembro de 2016

Santa Franciscana do dia - 19/11 - Santa Inês de Assis


Virgem da Segunda Ordem, irmã de Santa Clara (1198-1253). Bento XIV, no dia 15 de abril de 1762, concedeu ofício e Missa em sua honra. 

Inês era irmã de Clara, mais nova do que ela, nascida em Assis em 1198. Em princípios de abril de 1212 foi juntar-se à irmã, que quinze dias antes tinha fugido da casa paterna para abraçar o ideal franciscano e se recolher no mosteiro de Santo Ângelo, nas faldas do Subásio, perto de Assis. Os parentes, exasperados com semelhantes gestos, que consideravam um segundo atentado contra o bom nome da família, serviram-se de todos os recursos para tentarem impedi-la de realizar os seus intentos, sem excluírem mesmo a violência física: Inês chegou a ser brutalmente ferida pelo seu tio Monaldo, que teve o atrevimento de violar a clausura e a tranquilidade do mosteiro. Porém, nem mesmo a força bruta conseguiu fazer vergar a jovem. Foi São Francisco quem sugeriu para a nova consagrada o nome de Inês, porque, pela fortaleza de que dera provas, esta jovem de 15 anos recordava a valentia da mártir romana Santa Inês.

Em 1212 São Francisco trouxe as duas irmãs para São Damião. Em 1220 Inês foi enviada para Florença, como abadessa do mosteiro de Monticelli, fundado no ano anterior. Mas muitos outros mosteiros de Clarissas se orgulham de ter hospedado a santa. Mais tarde regressou a São Damião, onde foi agraciada com uma aparição do Menino Jesus, por isso se representa por vezes Santa Inês com o menino Jesus nos braços. Em Assis Inês assistiu à morte da irmã Clara no dia 12 de agosto de 1253.

No coro do pobrezinho convento de São Damião ainda se podem ler os nomes das primeiras companheiras que seguiram as pegadas de Santa Clara e São Francisco pelo caminho da renúncia total e absoluta pobreza. São conhecidos nomes de senhoras e jovens de Assis que em São Damião tiveram o seu primeiro ninho: Hortolana, Inês, Beatriz, Pacífica, Benvinda, Cristiana, Amada, Iluminada, Consolada… Os três primeiros nomes pertencem a mulheres da família de Santa Clara: Hortolana era a sua mãe, e Inês e Beatriz eram suas irmãs.

Inês foi a primeira a seguir o exemplo da irmã Clara, quinze dias depois dela, pouco depois veio a outra irmã, Beatriz, e por fim a mãe Hortolona. Inês, além de ter sido a primeira, também foi a que mais fielmente seguiu a irmã, vivendo à sua sombra luminosa, sempre delicada e obediente, duma firmeza de caráter excepcional, quase viril, em especial na observância da pobreza. Como superiora foi terna e caridosa, mas inflexível e tenaz. Depois do regresso a São Damião, morreu serenamente três meses depois da irmã Santa Clara, a 16 de novembro de 1253, com 55 anos de idade.



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

São Francisco de Assis a partir da Legenda dos Três Companheiros.



Capítulo 2

Em certa ocasião, havendo uma guerra entre Perusa e Assis, Francisco com muitos de seus concidadãos veio a ser preso. Mas como era nobre em costumes, foi colocado como prisioneiro entre os cavaleiros.

Certo dia, estando tristes seus companheiros de cativeiro, ele, brincalhão e jovial por natureza, não parecia estar triste mas, de certa forma, alegre. Por isso, um dos companheiros repreendeu-o como louco, porque se alegrava estando na cadeia. Como um dos soldados tivesse injuriado a um companheiro e todos queriam isolá-lo por causa disso, só Francisco não lhe negou a amizade mas exortou aos outros a fazerem o mesmo. Passado um ano, restabelecida a paz entre as duas cidades, Francisco voltou com seus companheiros para Assis.

Poucos anos depois, certo cidadão nobre da cidade de Assis preparou-se com armas de guerra para ir à Apúlia, para aumentar riquezas ou prestígio. Ouvindo isto, Francisco quis ir com ele e, para ser feito cavaleiro por certo conde de nome Gentil, preparou os melhores tecidos que pode, mais pobre em riquezas que seu concidadão, mas mais generoso na prodigalidade.

Certa noite, quando se havia entregado totalmente a preparar tudo isso, e ardia no desejo de viajar, foi visitado pelo Senhor, que o atraiu e o exaltou – já cobiçoso de glória – para o fastígio da glória por uma visão. Pois quando estava dormindo nessa noite, apareceu-lhe alguém chamando-o pelo nome e levando-o a um palácio magnífico de uma linda esposa, cheio de armas de guerra, isto é de resplandecentes escudos e outros aparatos pendurados na parede, referentes ao decoro de um exército. Como ele, muito alegre, admirava-se calado sobre o que seria isso, perguntou de quem eram essas armas que fulgiam com tanto fulgor, e o palácio magnífico. Foi-lhe respondido que tudo aquilo, com o palácio, era dele e de seus soldados.

Quando acordou, levantou-se de manhã de ânimo alegre, pensando secularmente, como alguém que ainda não tinha saboreado plenamente o espírito de Deus, que por isso deveria tornar-se um magnífico príncipe, e achando que a visão era o presságio de uma grande prosperidade, resolveu iniciar a viagem para a Apúlia para ser feito cavaleiro pelo referido conde. Ficou tão mais alegre que de costume que a muitos que se admiravam e perguntavam de onde vinha tanta alegria respondeu: “Sei que vou ser um grande príncipe”.


No dia imediatamente anterior a essa visão acontecera com ele um certo sinal de grande cortesia e nobreza, que parece ter sido uma ocasião não pequena para a própria visão. Pois nesse dia dera a um certo cavaleiro pobre todas as suas roupas pomposas caras, que acabara de fazer. Mas quando começou a viagem até Espoleto para ir à Apúlia, começou a ficar um pouco adoentado. Preocupado com a viagem e já entregue ao sono, ouviu meio adormecido alguém que lhe perguntava para onde ia.

Quando Francisco lhe contou todo o seu propósito, ele disse: “Quem pode ser melhor para ti? O Senhor ou o servo?” Como Francisco lhe respondesse: “O Senhor”, disse-lhe de novo: “Então por que deixas o Senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?”. E Francisco disse: “Senhor, que queres que eu faça?”. – “Volta para tua terra, disse, e te será dito o que haverás de fazer. Pois deves entender de outro jeito a visão que tiveste”.

Ao despertar, começou a pensar seriamente sobre a visão. E como na primeira visão ficara quase todo arrebatado pela enorme alegria, desejando uma prosperidade temporal, nesta recolheu-se todo dentro de si, admirando e considerando sua força tão diligentemente que, naquela noite, não mais conseguiu dormir.

Quando amanheceu, voltou depressa para Assis, alegre e muito contente, esperando a vontade do Senhor que lhe havia mostrado tais coisas e lhe daria um conselho para sua salvação. Já mudado na mente, recusou ir para a Apúlia e quis conformar-se com a vontade divina

Franciscana do dia - 18/11 - Bem-aventurada Salomé de Cracóvia


Virgem, religiosa da Segunda Ordem (1211-1268). Aprovou seu culto Clemente X no dia 17 de maio de 1673.

Salomé, princesa da Polônia, nasceu em 1211. Em conformidade com os costumes da época, aos três anos de idade foi prometida como esposa a um príncipe de seis anos, Colomano, filhos do rei da Hungria. A cerimônia da coroação teve lugar no outono desse mesmo ano, e com autorização do papa Inocêncio III foi presidida pelo bispo de Strigônia.


O reinado das duas crianças durou menos de três anos, porque um outro príncipe se insurgiu contra eles e os fez prisioneiros. Nessa altura, contando Salomé com 9 anos e Colomano 12, ambos de comum acordo fizeram voto de castidade. Quando André, filho do rei da Hungria, destituiu o usurpador e repôs a normalidade da situação, puderam ambos regressar à corte húngara.


Ao completar de 16 anos e atingir a maioridade, Salomé considerou-se sempre ligada ao voto de castidade que fizera, e sabendo que a sua beleza poderia seduzir os homens, procurava evitá-los, usava roupas modestas e recusava-se a tomar parte nas festas e diversões mundanas da corte, dedicando à oração o tempo que dessa forma poupava.


Colomano, ainda em vida do pai, governou a Dalmácia e a Eslavônia até morrer até morrer em 1241 numa batalha contra os Tártaros. Entretanto Salomé protegia e ajudava os conventos dos franciscanos e dominicanos. Um ano depois da morte do marido, regressou à Polônia, onde em 1245 vestiu o hábito das irmãs clarissas. Nesse mesmo ano, associada ao seu irmão Boleslau, fundou uma igreja e respectivo convento para os franciscanos, e para as clarissas um hospital e um mosteiro onde ela mesma se enclausurou.


Perante a ameaça dos Tártaros, em março de 1259 parte das clarissas transferiu-se para Skala, onde Salomé fundou novo mosteiro que dotou com alfaias de culto e ornamentos litúrgicos. Durante 28 anos viveu no silêncio e recolhimento do mosteiro, onde foi modelo de penitência, abnegação, humildade, inocência e caridade. Por muitos anos foi uma abadessa bondosa, afável, serviçal, apaixonada pelo ideal da pobreza seráfica.


A 17 de novembro de 1268 foi favorecida com uma aparição da Virgem Santíssima e de seu Filho, percebendo do que se tratava reuniu as irmãs, exortou-as à mútua caridade, à paz, à pureza de coração, à obediência sem limites e ao desprendimento das coisas do mundo. Pouco depois as irmãs viram uma espécie de pequena estrela a formar-se sobre ela e a subir ao céu. Salomé de Cracóvia entregava a Deus a sua bela alma, aos 57 anos. Os seus restos mortais foram mais tarde traslados para a igreja dos franciscanos de Cracóvia, onde ainda hoje se encontram.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Especial - Santa Isabel da Hungria, padroeira da Ordem Terceira Secular



Isabel da Hungria, a princesa entre os pobres

Papa Bento XVI

Queridos irmãos e irmãs:

Santa Isabel da Hungria, chamada também de Isabel de Turíngia, nasceu em 1207, na Hungria. Os historiadores discutem onde. Seu pai era André II, rico e poderoso rei da Hungria, o qual, para reforçar seus vínculos políticos, havia se casado com a condessa alemã Gertrudes de Andechs-Merania, irmã de Santa Edwirges, que era esposa do duque de Silésia. Isabel viveu na corte húngara somente nos primeiros quatro anos da sua infância, junto a uma irmã e três irmãos. Ela gostava de música, dança e jogos; recitava com fidelidade suas orações e mostrava atenção particular aos pobres, a quem ajudava com uma boa palavra ou com um gesto afetuoso.

Sua infância feliz foi bruscamente interrompida quando, da distante Turíngia, chegaram alguns cavaleiros para levá-la à sua nova sede na Alemanha central. Segundo os costumes daquele tempo, de fato, seu pai havia estabelecido que Isabel se convertesse em princesa de Turíngia. O landgrave ou conde daquela região era um dos soberanos mais ricos e influentes da Europa no começo do século XIII e seu castelo era centro de magnificência e de cultura. Mas, por trás das festas e da glória, escondiam-se as ambições dos príncipes feudais, geralmente em guerra entre eles e em conflito com as autoridades reais e imperiais. Neste contexto, o conde Hermann acolheu com boa vontade o noivado entre seu filho Ludovico e a princesa húngara. Isabel partiu de sua pátria com um rico dote e um grande séquito, incluindo suas donzelas pessoais, duas das quais permaneceriam amigas fiéis até o final. São elas que deixaram preciosas informações sobre a infância e sobre a vida da santa.

Após uma longa viagem, chegaram a Eisenach, para subir depois à fortaleza de Wartburg, o maciço castelo sobre a cidade. Lá se celebrou o compromisso entre Ludovico e Isabel. Nos anos seguintes, enquanto Ludovico aprendia o ofício de cavaleiro, Isabel e suas companheiras estudavam alemão, francês, latim, música, literatura e bordado. Apesar do fato do compromisso ter sido decidido por razões políticas, entre os dois jovens nasceu um amor sincero, motivado pela fé e pelo desejo de fazer a vontade de Deus. Aos 18 anos, Ludovico, após a morte do seu pai, começou a reinar sobre Turíngia. Mas Isabel se converteu em objeto de silenciosas críticas, porque seu comportamento não correspondia à vida da corte. Assim também a celebração do matrimônio não foi fastuosa e os gastos do banquete foram distribuídos em parte aos pobres. Em sua profunda sensibilidade, Isabel via as contradições entre a fé professada e a prática cristã. Não suportava os compromissos. Uma vez, entrando na igreja na festa da Assunção, ela tirou a coroa, colocou-a aos pés da cruz e permaneceu prostrada no chão, com o rosto coberto. Quando uma freira a desaprovou por este gesto, ela respondeu: “Como posso eu, criatura miserável, continuar usando uma coroa de dignidade terrena quando vejo o meu Rei Jesus Cristo coroado de espinhos?”. Ela se comportava diante dos seus súditos da mesma forma que se comportava diante de Deus. Entre os escritos das quatro donzelas, encontramos este testemunho: “Não consumia alimentos sem antes estar certa de que procediam das propriedades e dos bens legítimos do seu marido. Enquanto se abstinha dos bens adquiridos ilicitamente, preocupava-se também por ressarcir àqueles que tivessem sofrido violência” (nn. 25 e 37). Um verdadeiro exemplo para todos aqueles que desempenham cargos: o exercício da autoridade, em todos os níveis, deve ser vivido como serviço à justiça e à caridade, na busca constante do bem comum.

Isabel praticava assiduamente as obras de misericórdia: dava de beber e de comer a quem batia à sua porta, distribuía roupas, pagava as dívidas, cuidava dos doentes e sepultava os mortos. Descendo do seu castelo, dirigia-se frequentemente com suas donzelas às casas dos pobres, levando pão, carne, farinha e outros alimentos. Entregava os alimentos pessoalmente e cuidava com atenção do vestuário e dos leitos dos pobres. Este comportamento foi informado ao seu marido, a quem isso não apenas não desagradou, senão que respondeu aos seus acusadores: “Enquanto ela não vender o castelo, estou feliz!”. Neste contexto se coloca o milagre do pão transformado em rosas: enquanto Isabel ia pela rua com seu avental cheio de pão para os pobres, encontrou-se com o marido, que lhe perguntou o que estava carregando. Ela abriu o avental e, no lugar dos pães, apareceram magníficas rosas. Este símbolo de caridade está presente muitas vezes nas representações de Santa Isabel.

Seu casamento foi profundamente feliz: Isabel ajudava seu esposo a elevar suas qualidades humanas ao nível espiritual e ele, por outro lado, protegia sua esposa em sua generosidade com os pobres e em suas práticas religiosas. Cada vez mais admirado pela grande fé de sua esposa, Ludovico, referindo-se à sua atenção aos pobres, disse-lhe: “Querida Isabel, é Cristo quem você lavou, alimentou e cuidou” – um claro testemunho de como a fé e o amor a Deus e ao próximo reforçam e tornam ainda mais profunda a união matrimonial.

O jovem casal encontrou apoio espiritual nos Frades Menores, que, desde 1222, difundiram-se em Turíngia. Entre eles, Isabel escolheu o Frei Rüdiger como diretor espiritual. Quando ele lhe narrou as circunstâncias da conversão do jovem e rico comerciante Francisco de Assis, Isabel se entusiasmou ainda mais em seu caminho de vida cristã. Desde aquele momento, dedicou-se ainda mais a seguir Cristo pobre e crucificado, presente nos pobres. Inclusive quando nasceu seu primeiro filho, seguido de outros dois, nossa santa não descuidou jamais das suas obras de caridade. Além disso, ajudou os Frades Menores a construir um convento em Halberstadt, do qual o Frei Rüdiger se tornou superior. A direção espiritual de Isabel passou, assim, a Conrado de Marburgo.

Uma dura prova foi o adeus ao marido, no final de junho de 1227, quando Ludovico IV se associou à cruzada do imperador Frederico II, recordando à sua esposa que esta era uma tradição para os soberanos de Turíngia. Isabel respondeu: “Não o impedirei. Eu me entreguei totalmente a Deus e agora devo entregar você também”. No entanto, a febre dizimou as tropas e o próprio Ludovico ficou doente e morreu em Otranto, antes de embarcar, em setembro de 1227, aos 26 anos. Isabel, ao saber da notícia, sentiu tal dor, que se retirou em solidão, mas depois, fortificada pela oração e consolada pela esperança de voltar a vê-lo no céu, interessou-se novamente pelos assuntos do reino. Outra prova, porém, a esperava: seu cunhado usurpou o governo de Turinga, declarando-se verdadeiro herdeiro de Ludovico e acusando Isabel de ser uma mulher piedosa incompetente para governar. A jovem viúva, com seus três filhos, foi expulsa do castelo de Wartburg e começou a procurar um lugar para refugiar-se. Somente duas de suas donzelas permaneceram junto dela, acompanharam-na e confiaram os três filhos aos cuidados de amigos de Ludovico. Peregrinando pelos povoados, Isabel trabalhava onde era acolhida, assistia os doentes, fiava e costurava. Durante este calvário, suportado com grande fé, paciência e dedicação a Deus, alguns parentes, que haviam permanecido fiéis a ela e consideravam ilegítimo o governo do seu cunhado, reabilitaram seu nome. Assim, Isabel, no início de 1228, pôde receber uma renda apropriada para retirar-se ao castelo familiar em Marburgo, onde vivia também seu diretor espiritual, Frei Conrado. Foi ele quem contou ao Papa Gregório IX o seguinte fato: “Na Sexta-Feira Santa de 1228, com as mãos sobre o altar da capela da sua cidade, Eisenach, onde havia acolhido os Frades Menores, na presença de alguns frades e familiares, Isabel renunciou à sua própria vontade e a todas as vaidades do mundo. Ela queria renunciar a todas as suas possessões, mas eu a dissuadi por amor aos pobres. Pouco depois, construiu um hospital, recolheu doentes e inválidos e serviu em sua própria mesa os mais miseráveis e abandonados. Tendo eu a repreendido por estas coisas, Isabel respondeu que dos pobres recebia uma especial graça e humildade” (Epistula magistri Conradi, 14-17).

Podemos ver nesta afirmação certa experiência mística parecida com a vivida por São Francisco: de fato, o Pobrezinho de Assis declarou em seu testamento que, servindo os leprosos, o que antes era amargo se transformou em doçura da alma e do corpo (Testamentum, 1-3). Isabel transcorreu seus últimos 3 anos no hospital fundado por ela, servindo os doentes, velando com os moribundos. Tentava sempre levar a cabo os serviços mais humildes e os trabalhos repugnantes. Ela se converteu no que poderíamos chamar de mulher consagrada no meio do mundo (soror in saeculo) e formou, com outras amigas suas, vestidas com um hábito cinza, uma comunidade religiosa. Não é por acaso que ela é padroeira da Terceira Ordem Regular de São Francisco e da Ordem Franciscana Secular.

Em novembro de 1231, foi vítima de fortes febres. Quando a notícia da sua doença se propagou, muitas pessoas foram visitá-la. Após cerca de 10 dias, ela pediu que fechassem as portas, para ficar a sós com Deus. Na noite de 17 de novembro, descansou docemente no Senhor. Os testemunhos sobre sua santidade foram tantos, que apenas quatro anos mais tarde, o Papa Gregório IX a proclamou santa e, no mesmo ano, consagrou-se a bela igreja construída em sua honra, em Marburgo.

Queridos irmãos e irmãs, na figura de Santa Isabel, vemos como a fé e a amizade com Cristo criam o sentido da justiça, da igualdade de todos, dos direitos dos demais e criam o amor, a caridade. E dessa caridade nasce a esperança, a certeza de que somos amados por Cristo e de que o amor de Cristo nos espera e nos torna, assim, capazes de imitá-lo e vê-lo nos demais. Santa Isabel nos convida a redescobrir Cristo, a amá-lo, a ter fé e, assim, encontrar a verdadeira justiça e o amor, como também a alegria de que um dia estaremos submersos no amor divino, no gozo da eternidade com Deus. Obrigado.

Benedictus PP XVI

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Santo franciscano do dia - 16/11 - São Luis Guanella



Sacerdote da Terceira Ordem (1842-1915). Fundador dos Servos da caridade e das Filhas de Santa Maria da Providência. Beatificado por Paulo VI no dia 25 de outubro de 1964. Canonizado pelo Papa Bento XVI em 23 de outubro de 2011.

Natural duma povoação italiana dos Alpes Bergamascos, foi o nono dos treze filhos de uma piedosa família, que desde a infância lhe incutiu uma fé viva e operante, um constante amor ao trabalho e uma terna caridade para com os pobres.
Passada a infância entre os montes que sempre recordou com saudade, frequentou primeiro o Colégio Gálio em Como, e depois, para os estudos eclesiásticos, os seminários diocesanos. Em todos esses centros de estudo se salientou pela piedade, amabilidade e aproveitamento nas disciplinas escolares.


Ordenado sacerdote em 1868, foi em várias freguesias pároco e ao mesmo tempo mestre-escola, pois tinha diploma de professor chegando mesmo a construir uma escola primária. Além disso, tomou iniciativas benéficas em favor dos pobres, e organizou a Ação Católica Juvenil, recentemente fundada. Em 1875 foi a Turim encontrar-se com João Bosco, de quem aprendeu o caminho da santidade e o método pedagógico. Vinculou-se então com votos religiosos à Sociedade Salesiana. Mas em 1878 foi chamado pelo bispo à sua diocese, para ser novamente nomeado pároco. Foi nessas circunstâncias que soou para ele a hora da graça, com a primeira fundação das obras de há muito sonhadas em favor dos pobres abandonados.

Como vários santos sacerdotes do seu tempo, por exemplo, João Bosco, José Cafasso, José Bento Cotolengo e outros, também ele fundou várias obras de beneficência, que rapidamente floresceram devido à dedicação e às qualidades pedagógicas dos seus colaboradores.

Devoto e admirador de São Francisco de Assis, ingressou na Ordem Terceira. Da vida do pobrezinho assumiu o espírito de pobreza e de perfeita alegria, de grande confiança em Deus e continuar a obra fundou duas congregações religiosas: os Servos da Caridade (Guanelianos) e as Filhas de Santa Maria da Providência (Guanelianas).
 A obra desenvolveu-se admiravelmente tanto na Itália como no estrangeiro. A pia união do Trânsito de São José, por ele iniciada em Roma, conta hoje com mais de dez milhões de membros.
Numa época de exacerbado anticlericalismo, as autoridades laicas não viram com bons olhos essas obras, e ele foi alvos de injustiças e perseguições, mas tudo venceu com a força da fé e o fogo da caridade. Foi à América acompanhado de imigrantes, e muito trabalhou para a assistência religiosa aos mesmos. Para instruir a juventude abriu escolas de iniciação e oratórios. Para assistir às vítimas de terremotos, não poupou energias nem meios materiais.
Em Como, no dia 24 de outubro de 1915, aos 73 anos, concluiu a sua atividade terrena este herói da caridade. O seu corpo venera-se no santuário do Sagrado Coração, em Como.

Foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 23 de outubro de 2011.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Franciscana do dia - 15/11 - Bem-aventurada Maria da Paixão


Religiosa da Terceira Ordem Regular (1839-1904). Fundadora das Franciscanas Missionárias de Maria. Foi beatificada no dia 14 de Maio de 2006.
  
Helena Chapotin nasceu em Nanci, França, a 21 de Maio de 1839, e faleceu em São Remo a 15 de novembro de 1904. Superadas muitas provas, em 1865 ingressou na congregação das religiosas da Maria Reparadora em Tolosa, e logo no ano seguinte partiu para a Índia, onde foi superiora e seguidamente provincial da missão de Medura, onde com zelo incansável deu novo alento às atividades missionárias já iniciadas e as multiplicou.

Chamada a Roma em 1877, com a benção de Pio IX fundou uma nova congregação, das irmãs franciscanas de Maria (vítimas, adoradoras e missionárias), a qual em 1885 foi agregada à ordem franciscana regular sob a obediência dos frades menores. Em 1896 Leão XIII aprovou as constituições do novo instituto, redigidas pela fundadora. Foi ela quem até à morte o governou, multiplicando casas e obras com uma rapidez assombrosa por toda a Europa e mais ainda em terras de missão.

Contudo, na véspera da morte, reconheceu: “Se o instituto fosse obra minha, morreria comigo. Mas é obra de Deus!”. Seguindo as pisadas da fundadora, as franciscanas missionárias de Maria oferecem com gosto a própria vida para completarem o que falta à Paixão de Cristo. Um refrão muito repetido pela madre Maria da Paixão era este: “A nossa pátria é todo o gênero humano”. Por isso as religiosas do seu instituto estão sempre prontas para irem viver em qualquer parte e aí darem testemunho do Evangelho, em especial nos países e lugares onde a Igreja está menos presente, no meio dos pobres e deserdados. Desde o sangue das sete santas mártires da China em 1900, até os incontáveis e obscuros sacrifícios de tantas outras irmãs, entre as quais a B. Maria Assunta Pallotta, as missionárias de Maria têm pago com a vida, e por vezes com o próprio sangue, a sua dedicação a povos e países que se encontram em situação dramática.

Para conferir a esse ideal uma base sólida e segura, a fundadora não encontrou melhor ponto de apoio do que o espírito de Francisco de Assis. Desde a juventude ela se sentira atraída pelo santo pobrezinho. Quando se lhe tornou possível enxertar no tronco robusto da família franciscana o novo rebento que Deus por seu intermédio suscitara, para dela receber uma maior participação de espírito evangélico, de pobreza, de simplicidade e de alegria, sentiu plenamente realizado o seu próprio carisma e o desígnio de Deus sobre ela e sobre a sua obra.

Da mesma seiva e do mesmo espírito se nutrem ainda hoje as 9.000 franciscanas missionárias de Maria, pertencentes a 63 nacionalidades e distribuídas por mais de 73 países dos cinco continentes, continuando a obra de Maria da Paixão. A extrema diversidade das irmãs da congregação quanto a origens, línguas, culturas e atitudes, bem como a vastíssima gama de compromissos apostólicos, encontram em Cristo, Palavra e Pão, um centro de união e comunhão na diversidade, que foi sempre característica fundamental do Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria.
Maria da Paixão foi beatificada em Nápoles, no dia 14 de Maio de 2006.