sexta-feira, 18 de novembro de 2016

São Francisco de Assis a partir da Legenda dos Três Companheiros.



Capítulo 2

Em certa ocasião, havendo uma guerra entre Perusa e Assis, Francisco com muitos de seus concidadãos veio a ser preso. Mas como era nobre em costumes, foi colocado como prisioneiro entre os cavaleiros.

Certo dia, estando tristes seus companheiros de cativeiro, ele, brincalhão e jovial por natureza, não parecia estar triste mas, de certa forma, alegre. Por isso, um dos companheiros repreendeu-o como louco, porque se alegrava estando na cadeia. Como um dos soldados tivesse injuriado a um companheiro e todos queriam isolá-lo por causa disso, só Francisco não lhe negou a amizade mas exortou aos outros a fazerem o mesmo. Passado um ano, restabelecida a paz entre as duas cidades, Francisco voltou com seus companheiros para Assis.

Poucos anos depois, certo cidadão nobre da cidade de Assis preparou-se com armas de guerra para ir à Apúlia, para aumentar riquezas ou prestígio. Ouvindo isto, Francisco quis ir com ele e, para ser feito cavaleiro por certo conde de nome Gentil, preparou os melhores tecidos que pode, mais pobre em riquezas que seu concidadão, mas mais generoso na prodigalidade.

Certa noite, quando se havia entregado totalmente a preparar tudo isso, e ardia no desejo de viajar, foi visitado pelo Senhor, que o atraiu e o exaltou – já cobiçoso de glória – para o fastígio da glória por uma visão. Pois quando estava dormindo nessa noite, apareceu-lhe alguém chamando-o pelo nome e levando-o a um palácio magnífico de uma linda esposa, cheio de armas de guerra, isto é de resplandecentes escudos e outros aparatos pendurados na parede, referentes ao decoro de um exército. Como ele, muito alegre, admirava-se calado sobre o que seria isso, perguntou de quem eram essas armas que fulgiam com tanto fulgor, e o palácio magnífico. Foi-lhe respondido que tudo aquilo, com o palácio, era dele e de seus soldados.

Quando acordou, levantou-se de manhã de ânimo alegre, pensando secularmente, como alguém que ainda não tinha saboreado plenamente o espírito de Deus, que por isso deveria tornar-se um magnífico príncipe, e achando que a visão era o presságio de uma grande prosperidade, resolveu iniciar a viagem para a Apúlia para ser feito cavaleiro pelo referido conde. Ficou tão mais alegre que de costume que a muitos que se admiravam e perguntavam de onde vinha tanta alegria respondeu: “Sei que vou ser um grande príncipe”.


No dia imediatamente anterior a essa visão acontecera com ele um certo sinal de grande cortesia e nobreza, que parece ter sido uma ocasião não pequena para a própria visão. Pois nesse dia dera a um certo cavaleiro pobre todas as suas roupas pomposas caras, que acabara de fazer. Mas quando começou a viagem até Espoleto para ir à Apúlia, começou a ficar um pouco adoentado. Preocupado com a viagem e já entregue ao sono, ouviu meio adormecido alguém que lhe perguntava para onde ia.

Quando Francisco lhe contou todo o seu propósito, ele disse: “Quem pode ser melhor para ti? O Senhor ou o servo?” Como Francisco lhe respondesse: “O Senhor”, disse-lhe de novo: “Então por que deixas o Senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?”. E Francisco disse: “Senhor, que queres que eu faça?”. – “Volta para tua terra, disse, e te será dito o que haverás de fazer. Pois deves entender de outro jeito a visão que tiveste”.

Ao despertar, começou a pensar seriamente sobre a visão. E como na primeira visão ficara quase todo arrebatado pela enorme alegria, desejando uma prosperidade temporal, nesta recolheu-se todo dentro de si, admirando e considerando sua força tão diligentemente que, naquela noite, não mais conseguiu dormir.

Quando amanheceu, voltou depressa para Assis, alegre e muito contente, esperando a vontade do Senhor que lhe havia mostrado tais coisas e lhe daria um conselho para sua salvação. Já mudado na mente, recusou ir para a Apúlia e quis conformar-se com a vontade divina

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