sábado, 27 de maio de 2017

Especial - Maio, Mês de Maria, Mãe do Redentor


Maria Santíssima na piedade de São Francisco

Por Frei Constantino Koser, OFM 

O intenso amor a Cristo-Homem, qual o praticara São Francisco e qual o legara à sua Ordem, não podia deixar de atingir Maria Santíssima. Já as razões do coração católico de São Francisco e seu cavaleirismo o levavam a amor aceso da virgem Mãe de Deus. “Seu amor para com a bem-aventurada Mãe de Cristo, a puríssima Virgem Maria, era de fato indizível, pois nascia em seu coração quando considerava que ela havia transformado em irmão nosso o próprio Rei e Senhor da glória e que por ela havíamos merecido alcançar a divina misericórdia. Em Maria, depois de Cristo, punha toda a sua confiança. Por isto a escolheu para advogada sua e de seus religiosos, e em sua honra jejuava devotamente desde a festa de São Pedro e São Paulo até à festa da Assunção”.

São Francisco não é apenas um santo muito devoto, muito afeiçoado à Mãe de Deus, mas é um dos santos em que a piedade mariana aparece numa floração original e singular, sem contudo se afastar, por pouco que seja, das linhas marcadas pela Igreja. A Idade Média, da qual é Filho, teve uma piedade mariana cheia dos mais suaves encantos, porque fundada toda sobre a nobreza de sentimentos e a cortesia de atitudes de cavaleiros. Os cavaleiros se consideravam paladinos da honra e da glória de Maria Santíssima.

São Francisco, que em sua concepção específica da vida religiosa partia deste ideal e que considerava os seus como “cavaleiros da Távola Redonda”, cultivou com esmero e com intensidade toda sua o serviço da Virgem Santíssima nos moldes do ideal cavaleiroso, condicionado pelo seu conceito e pela sua prática da pobreza. Nada mais comovente e delicado na vida deste Santo, que a forte e ao mesmo tempo meiga e suave devoção à Mãe de Deus. Derivada do amor de Deus e de Cristo, orientada pelo Evangelho e vazada nos moldes e costumes do cavaleirismo medieval, transposto a uma sobrenaturalidade, pureza e força singularíssima, esta piedade mariana do Santo fundador é parte integrante do que legou à sua Ordem e aí foi cultivada com esmero.

São Francisco fez dos cavaleiros de “Madonna Povertá” os paladinos dos privilégios e da honra da Mãe de Cristo. As fontes da vida e da espiritualidade de São Francisco são unânimes em narrar quanto a igrejinha da Porciúncula minúscula, pobre e abandonada na várzea ao pé de Assis, igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos – atraía as atenções de São Francisco e prendia a sua dedicação. Atraiu as suas atenções, quando estava para cumprir, segundo a interpretação que lhe dava, a ordem de Cristo de reconstruir a Igreja Santa. O edifício ameaçava ruínas. São Francisco pôs mãos à obra e em pouco tempo, com pedras e cal de “Madonna Povertá”, restituiu a estrutura da capela: “Vendo-a (a capela) São Francisco em tão ruinoso estado, e movido por seu indizível e filial afeto da soberana Rainha do universo, se deteve ali com o propósito de fazer quanto fosse possível para a sua restauração… Fixou neste lugar a sua morada, movido a isto pela sua reverência aos santos anjos, e muito mais pelo entranhado amor da Mãe Bendita de Cristo”.

Depois de assinalado por Cristo com os sinais gloriosos, mas dolorosos da Paixão, São Francisco voltou à Porciúncula. De lá partia novamente para pregar, mas voltava sempre. Os irmãos, apreensivos pela sua saúde combalida, obrigaram-no a permitir o levassem aonde melhor podiam atender ao tratamento reclamado pelo eu estado. Quando, porém, ia findar o tempo que Deus lhe concedera, e sabia quando findaria, São Francisco pediu que o levassem novamente à capelinha da Virgem dos Anjos. À sombra da igrejinha entregou sua alma a Deus no trânsito incomparável que foi o seu. Maria Santíssima, tão agraciada por Deus, possui encantos mil e à semelhança do seu Filho Divino é tão rica que um coração humano não pode venerar de uma só vez todas as prerrogativas de que foi cumulada pela generosidade divina.

Há desta forma a possibilidade das mais variadas devoções da Virgem, há a possibilidade de cada qual venerá-la e amá-la sob o aspecto que mais o comove, que mais o inflama.

(Extraído do Livro “O Pensamento Franciscano”, Editora Vozes)

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Especial - Maio, Mês de Maria, Mãe do Redentor


Maria de Nazaré, quem é esta mulher?

Por Jesus Espeja 

Como cristãos, temos motivos de sobra para celebrar Maria como “rainha e senhora”, mas corremos o risco de esquecer a história daquela mulher simples que viveu num pequeno povoado de uma região periférica no mundo daquele tempo. Maria de Nazaré é alguém de nossa raça. Como os demais seres humanos, nasceu e viveu num contexto histórico, social, econômico, político e cultural.

Como as outras mulheres, sua natureza humana se desgastou; viu-se atingida pelas inclemências dos anos e envelheceu. Não viveu segregada e protegida.
Não é fácil conhecer a história de Maria com objetividade, uma vez que as fontes são os Evangelhos, nos quais os fatos históricos já se apresentam interpretados a partir da fé. Não se deve, porém esquecer essa história que há de ser ponto de partida insubstituível em toda reflexão mariológica.

No Novo Testamento há diversas tradições. Maria é referência indireta nos escritos paulinos. Marcos a apresenta como mulher do povo e participante de sua mentalidade. Os Evangelhos da infância apresentam uma teologia bem elaborada sobre a fisionomia espiritual da Virgem, enquanto o quarto evangelista destaca sua fidelidade e seu significado na comunidade cristã.

De todas essas interpretações podemos concluir:

- Maria foi uma mulher simples do povo e sensível às necessidades dos pobres.
Embora os Evangelhos nada digam sobre os pais de Miryam, nome original de Maria, segundo a tradição eles se chamavam Joaquim e Ana. Vivia em Nazaré, um povoado sem renome e de má fama, na região norte chamada Galiléia. Sua existência deve ter sido como a de qualquer outra jovem daquela cultura: arrumar a casa, ajudar os irmãos menores, e participar nas festas religiosas. Ainda se conserva em Nazaré a “fonte da Virgem”. Ali ela comentaria com as outras mulheres os acontecimentos e rumores de cada dia.

Contam os Evangelhos que Miryam estava prometida para ser esposa de um carpinteiro justo e honrado que se chamava José, e talvez tivesse emigrado da Judéia. Maria e José pertencem ao povo humilde, de modo que quando seus conterrâneos vêem que Jesus fala tão bem, se admiram: “Mas não é este o filho do carpinteiro e de Maria?” (Mc 6,2).

Aquela mulher é sensível às necessidades dos outros. Sabendo que sua parenta Isabel já está no sexto mês de gravidez, desloca-se para lhe dar assistência. Quando participava de uma festa de casamento, percebe que falta vinho, e procura falar com Jesus para resolver o problema, e impedir que os noivos fiquem envergonhados.
- Miryam recebeu de Deus um favor singular na concepção e no nascimento de Jesus. Movida pelo Espírito, entregou-se totalmente ao projeto de salvação, vivendo sua maternidade até as últimas consequências.

Nos primeiros meses de gestação, a criança se configura física e psicologicamente por obra de sua mãe, que não só a alimenta com a própria vida como também a torna centro de seus pensamentos, afetos e cuidados. A mãe amolda misteriosamente a personalidade de seu filho.

A frase do evangelho é bem eloquente: “Maria deu à luz o filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, por não haver lugar na hospedaria” (Lc 2,7).
Nesse gesto está implícito o amor materno e a ternura que viveu aquela jovem mãe ao encontrar-se diante de seu filho. A experiência singular que Maria teve de Deus não diminuiu seu afeto materno; tornou-o mais profundo, delicado e total.
- A Virgem fez sua caminhada na surpresa e na obscuridade da fé.
Os evangelhos da infância sugerem que os inícios não foram fáceis: conflito com José pela gravidez inexplicável, perseguição do rei Herodes, e fuga do país durante a noite, para defender o filho.

Parece que os familiares de Jesus não entenderam sua decisão de abandonar suas seguranças sociais e dedicar-se ao anúncio do Reino, interessando-se pelos marginalizados. Pensavam que ele havia perdido o juízo e queriam traze-lo de volta à casa. Quando viram que ia tendo êxito, lhe diziam que fosse para Jerusalém, a capital da Palestina: “Ninguém faz tais coisas em segredo, se deseja ser conhecido do público” (Jo 7,4).

Os evangelistas querem deixar bem claro que Maria disse “sim” ao projeto de Deus, sendo “a pobre” inteiramente disponível à vontade divina. Isto, porém não impede, até exige, que vivesse sua entrega num processo histórico marcado pela surpresa, o conflito e o sofrimento. Diante de comportamentos estranhos de Jesus, “ficava perplexa”, “vacilava em seu íntimo”. Deve ter sido uma mulher contemplativa da passagem de Deus pela história.

Lc 2,49-50 acusa certo desgosto de Maria quando o menino Jesus permanece no templo de Jerusalém sem avisar a seus pais. Maria, sem dúvida, teve de sofrer uma desorientação quando Jesus deixou sua profissão e sua casa; mas, acima de tudo, como toda boa mãe, teve que defender o filho contra as críticas dos familiares. E o transtorno deve ter sido terrível quando a Mãe veio a saber que haviam prendido seu filho, e o tinham condenado por blasfemo. Conforme a tradição evangélica, Maria permaneceu junto à cruz, junto a Jesus abandonado por todos. A fé verdadeira se prova e amadurece na escuridão.

-A última noticia que temos de Maria, com certa garantia histórica, é o que encontramos em At 1,14: permanecia em oração com a primeira comunidade cristã, suplicando a vinda do Espírito. Nada dizem os escritos apostólicos sobre os últimos dias e a morte da Virgem. Segundo Jo 19,27, o “discípulo amado” acolhe em sua casa a mãe de Jesus. Embora a intenção principal do evangelista seja mais teológica que histórica, talvez tenha vindo daí a tradição popular: Maria ficou com o “discípulo amado” (que se veio identificando com João) em Patmos, e ali terminou seus dias.

domingo, 21 de maio de 2017

Santo Franciscano do dia - 21/05 - Santo Ivo da Bretanha


Sacerdote da Terceira Ordem (1253-1303). Canonizado por Clemente VI no dia 19 de maio de 1347. 

Yves Hélory (Helori ou Heloury) era filho de Helori, lorde de Kermartin e Azo du Kenquis. Nasceu nas proximidades de Treguier, na Baixa Bretanha, conhecida região da França, no dia 17 de outubro de 1253. Era, pois de família da pequena nobreza e recebera apurada educação, humana e cristã.

Sua mãe, dizia-lhe: “Meu filho, procura viver sempre de tal maneira, que venhas a ser um santo”. Após a conclusão dos primeiros estudos em sua terra natal, sob a orientação de um jovem sacerdote, Ivo foi enviado em 1267, a tenra idade de 14 anos, à já prestigiada Universidade de Paris, onde estudou Artes Liberais e Teologia. Dentre os seus mestres estava o Doutor Angélico, o prodigioso Santo Tomás de Aquino. Ivo também presenciou conferências do grande São
Boaventura, dele aprendendo o espírito franciscano.
Posteriormente, o futuro santo foi para Orléans em 1277, onde se especializou em Direito Civil e Direito Canônico. Depois de anos de estudos, durante os quais brilhou entre seus colegas, voltou para Bretanha.

Em 1280, convidado a ser o conselheiro jurídico e juiz eclesiástico, trabalhou primeiramente como juiz episcopal na arquidiocese de Rennes, cidade capital do Ducado da Bretanha, por quatro anos, e depois em Tréguier. Competia-lhe julgar todo tipo de litígios, processos matrimoniais, de contratos e heranças, salvo os processos criminais.
Em 1824, seu Bispo o convenceu de receber a Ordenação Sacerdotal, permitindo-lhe manifestar seus dotes de pregador e de reitor de igreja. Também decidiu fazer-se terceiro franciscano, vestindo o hábito da penitência. Concomitantemente como sacerdote e terceiro franciscano, advogado e juiz (o que era possível naqueles tempos em virtude de não vigorar a atual estrita distinção funcional), Ivo multiplicava suas atividades, semeando sua fama, por toda a Bretanha, com um contingente crescente de pessoas que se socorriam a ele. Até milagres já eram atribuídos a ele em vida.

Em suma, a defesa intransigente dos injustiçados e dos necessitados deu a Ivo o título de “advogado dos pobres”, título esse que continuou merecedor ao se tornar sacerdote, e ao construir um hospital, onde cuidava dos enfermos com suas próprias mãos. Eis outra faceta de Ivo: Frade Franciscano.

Alimentando-se apenas de pão e água, passando a noite em vigília de estudo e oração, não deixava, todavia de percorrer longos caminhos, para encontrar os que dele precisavam. Pregando, orientando, consolando, escutando, reconciliando, decidindo, distribuindo seu dinheiro aos pobres, atendendo os doentes, erigindo uma casa para abrigar os abandonados, levando à sepultura os mortos, Ivo conseguia a admiração, apreço e respeito dos seus contemporâneos.

Ivo de Kemartin morreu de causas naturais na França em 19 de maio de 1303, aos 50 anos de idade. Seu corpo foi sepultado na Catedral de Tréguier, onde é objeto de devoção do fiéis até hoje. É um dos santos mais populares no Norte da França e patrono dos advogados.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, de Frei Giulliano Ferrini e Frei José Guilhermo Ramirez, OFM, edição Porziuncola

sábado, 20 de maio de 2017

Santo franciscano do dia - 20/05 - São Bernardino de Sena


Sacerdote da Primeira Ordem (1380-1444). Canonizado por Nicoláu V em 24 de maio de 1450. 

Na Itália, Bernardino nasceu na nobre família senense dos Albizzeschi, Albertollo de Albizeschi e Raniera de Avveduti, em 8 de setembro de 1380, na pequena Massa Marítima, em Carrara. Ficou órfão da mãe quando tinha três anos e do pai aos sete, sendo criado na cidade de Sena por duas tias extremamente religiosas, que o levaram a descobrir a devoção a Nossa Senhora e a Jesus Cristo.

Depois de estudar na Universidade de Sena, formando-se aos vinte e dois anos, abandonou a vida mundana e ingressou na Ordem de São Francisco, cujas regras abraçou de forma entusiasmada e fiel. Apoiando o movimento chamado “observância”, que se firmava entre os franciscanos, no rigor da prática da pobreza vivida por são Francisco de Assis, acabou sendo eleito vigário-geral de todos os conventos dos franciscanos da observância.

Aos trinta e cinco anos de idade, começou o apostolado da pregação, exercido até a morte. E foi o mais brilhante de sua época. Viajou por toda a Itália ensinando o Evangelho, com seus discursos sendo taquigrafados por um discípulo com um método inventado por ele. O seu legado nos chegou integralmente e seu estilo rápido, bem acessível, leve e contundente, se manteve atual até os nossos dias. Os temas frequentes sobre a caridade, humildade, concórdia e justiça, traziam palavras duríssimas para os que “renegam a Deus por uma cabeça de alho” e pelas “feras de garras compridas que roem os ossos dos pobres”.

Naquela época, a Europa vivia grandes calamidades, como a peste e as divisões das facções políticas e religiosas, que provocavam morte e destruição. Por onde passava, Bernardino restituía a paz, com sua pregação insuperável, ardente, empolgante, até mesmo usando de recursos dramáticos, como as fogueiras onde queimava livros impróprios, em praça pública. Além disso, como era grande devoto de Jesus, ele trazia as iniciais JHS – Jesus Salvador dos Homens – entalhadas num quadro de madeira, que oferecia para ser beijado pelos fiéis após discursar.

As pregações e penitências constantes, a fraca alimentação e pouco repouso enfraqueciam cada vez mais o seu físico já envelhecido, mas ele nunca parava. Aos 64 anos de idade, Bernardino morreu no convento de Áquila, no dia 20 de maio de 1444. Só assim ele parou de pregar.

Tamanha foi a impressão causada por essa vida fiel a Deus que, apenas seis anos depois, em 1450, foi canonizado. São Bernardino de Sena é o patrono dos publicitários italianos e de todo o mundo. Entre suas obras mais lidas estão “Sermões”, publicada em Latim.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, de Frei Giulliano Ferrini e Frei José Guilhermo Ramirez, OFM, edição Porziuncola

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Santo Franciscano do dia - 19/05 - São Teófilo de Corte


Sacerdote da Primeira Ordem (1676-1740). Canonizado por Pio XI no dia 29 de junho de 1930. 

São Teófilo de Corte é considerado o grande promotor dos Retiros Sagrados, nos quais os religiosos fazem pelo menos duas horas de orações em comum, levantam-se à noite para as matinas e observam jejum durante quatro quaresmas, ou seja, quase, meio ano.

Nascido em Corte, na Ilha da Córsega, em 1676, Biagio de Signori entrou com 17 anos para os Capuchinhos, passou depois para os Frades Menores Observantes, entre os quais ficou, assumindo o nome de Teófilo (amigo de Deus).
Esteve em Roma, onde fez os estudos de Filosofia, e em Nápoles, onde concluiu os estudos de Teologia e foi ordenado sacerdote no convento de Santa Maria la Nova em 1700.

Destinado ao ensino, renunciou para viver doze anos com são Tomás de Cori – que o influenciou muito – no convento lacial de Civitella San Sisto (hoje Bellegra) nos Montes Prenestinos.

Aí foi padre guardião. Andou, anunciado a mensagem evangélica em toda a região da Sabina e a área de Subiaco. Depois, para restabelecer a presença franciscana da Ilha da Córsega, a Ordem pensou nele.

Assim voltou à ilha natal e tornou-se padre guardião da nova fundação de Zúani. Mais tarde foi chamado a Roma e ainda a Civitella San Sisto, desta vez como superior. Por fim, em Fucecchio, na Toscana, onde faleceu, aos 64 anos, no convento por ele fundado em 19 de maio de 1740. Foi proclamado santo em 1930.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, de Frei Giulliano Ferrini e Frei José Guilhermo Ramirez, OFM, edição Porziuncola

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Santo Franciscano do dia - 18/05 - São Félix de Cantalício


Religioso da Primeira Ordem (1515-1587). Canonizado por Clemente XI no dia 22 de maio de 1712. 

Félix de Cantalício foi uma das mais populares e mais características figuras da Roma do século XVI. Nasceu na aldeia de Cantalício, pequena povoado no sopé dos Apeninos, próximo de Rieti, em 1515. Até aos 30 anos, trabalhou no campo, como agricultor, viajando, depois, para Roma, não para gozar dos divertimentos da gente da cidade nem para melhorar sua condição de pobre e humilde.

Entrou como religioso na Ordem dos Capuchinhos e, a partir de 1547, até à sua morte em 1587, dedicou- se a pedir esmola de porta em porta no Convento de São Nicolau, hoje chamado de Santa Cruz dos Luccesi. Passava pelas ruas de Roma, com o seu áspero e pobre hábito, pedindo esmola, não só para o Convento, mas também para os pobres e para os doentes.

A todo aquele que lhe dava qualquer coisa dizia sempre: Deo gratias – Graças a Deus! Aos que não lhe davam nada, dizia também: Deo gratias. Por isso, bem depressa começou a ser conhecido pelo nome de Frei Deo gratias. São Filipe de Néri, o apóstolo florentino dos romanos, tornou-se o seu grande amigo. Quando São Filipe o encontrava na rua, pedia-lhe publicamente conselhos e ensinamentos.

A simplicidade espontânea e popular de frei Félix rodeava-o de gratificante admiração. São Carlos Borromeu tinha-o em grande consideração, como muitos outros prelados que reconheciam naquele inculto, mas tão espiritual capuchinho, uma capacidade intelectual extraordinária. Predisse a Sisto V que este seria Papa e aconselhou-o a comportar- se dignamente quando o fosse. Viram-se muitas púrpuras cardinalícias e dignidades prelatícias a inclinar-se diante daquele aldeão, vestido de hábito capuchinho.

Félix tinha temperamento místico. Dormia apenas 3 horas por dia. O resto da noite consagrava-o, na igreja, à oração, na contemplação dos mistérios da vida de Jesus. Comungava todos os dias o Corpo do Senhor. Nos dias santos era seu costume fazer a pe regrinação às Sete Igrejas de Roma ou, então, visitava os doentes nos diversos hospitais da cidade. Alimentou sempre terna devoção para com Nossa Senhora que lhe apareceu muitas vezes e lhe entregou o Menino Jesus que ele estreitava amorosamente nos braços.

Morreu aos 72 anos, no dia 18 de maio de 1587, arrebatado numa visão de Nossa Senhora. A sua sepultura, na igreja da Imaculada Conceição dos Capuchinhos de Roma, converteu-se em lugar de peregrinação. Foi canonizado por Clemente XI, a 22 de maio de 1712.

Texto do livro “Santos Franciscanos para cada dia”, edição Porziuncola

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Artigo - Emaús: Ele vive e aquece nosso coração.


Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras? (Lc 24, 32)

Frei Almir Guimarães

Não nos cansamos de buscar o Senhor Jesus. Sabemos que ele vive, que está em nosso meio, que continua nos interpelando e querendo que o íntimo de nós mesmos se oriente para ele. Na verdade é ele que não se cansa de nos buscar. Antes de experimentarmos esse anelo, Ele, o Ressuscitado, já andou batendo em nossas portas e desejando que colocássemos nossa mão na chaga de seu Coração, da chaga do peito. Nosso coração precisa extasiar-se do amor do Coração aberto de Deus em Cristo Jesus. Os discípulos de Emaús, encontrando aquele misterioso peregrino, sentiram que se acendia em seu interior um fogo de muito ardor.

Cléofas e seu companheiro se dirigiam a um povoado distante de Jerusalém uns onze quilômetros. Para todo o sempre, Emaús passaria a ser lugar de comunhão, intimidade, beleza e contemplação. Os dois, enquanto caminhavam, iam falando dos acontecimentos vividos por eles em Jerusalém, fora dos muros. Jesus, o sonho de suas vidas e a esperança de seus dias, fora crucificado e sepultado. A conversa dos dois se fazia num tom de voz sem exaltação. Talvez, aqui e ali, a fala fosse interrompida por momentos de silêncio. Quiçá até precisaram enxugar uma lágrima furtiva que brotava do canto de seus olhos. Reflexões densas e graves giravam em torno dele, desse Jesus, que havia feito nascer em seus coração tanto entusiasmo, fé, confiança e alento e que morrera no alto da cruz como um bandido qualquer, como seus companheiros de morte. Onde tinha ficado a força de seu caráter, a firmeza de sua voz, a autoridade com que falava, a ternura de seu olhar cheio e viço de vida? Por isso, os dois companheiros deixaram a cena onde tinham vivido imensa desolação.

Faltou-se a fé na presença nova do Ressuscitado. Eles tinham o necessário para manter viva a fé. Ouviram a Boa Nova que Jesus anunciava na Galiléia. Chegou agora até eles o anuncio da Ressurreição. Pensavam que a ressurreição seria um disse-que-disse de mulheres. Faltava-lhes a única coisa que pode fazer “arder” seu coração: o contato pessoal com Jesus Cristo, o Vivente.

De tanto pensarem nele, de tanto sofrerem com sua ausência, o Ressuscitado se faz misteriosamente presente. Há tantas démarches de pastoral, rezas , celebrações de missas, incenso no ar, vestes litúrgicas pomposas e as coisas continuam na mesma situação de falta de fogo. Será que não falta hoje pensar mais nele, falar mais dele entre nós, tentar conversar sobre o modo como viver com ele?

Os discípulos de Emaús impediram que o peregrino misterioso fosse adiante. Ele havia revirado com seu interior. Não deixaram que ele partisse. Ele tinha que entrar na estalagem. Ali ele toma o pão, parte diante deles. Seus olhos de abrem. O pão partido, o corpo dado, o sangue derramado, o lado aberto, o amor até o fim. Era o Senhor. Os olhos dos discípulos se abrem.

Nesta primeira sexta-feira do mês contemplamos o peito aberto do Senhor e damo-nos conta de que Ele vive.

Cléofas e seu companheiro fugiram de Jerusalém e queriam buscar refúgio em Emaús. Meditemos nestas sérias e profundas palavras de José A. Pagola: “Precisamos aprender a lição de Emaús. A solução não está em abandonar a Igreja, mas em restabelecer nossa vinculação com algum grupo cristão, comunidade, movimento ou paróquia onde possamos compartilhar e reavivar a nossa esperança em Jesus. Onde há homens e mulheres que caminham perguntando-se por ele e aprofundando a sua mensagem, ali se torna presente o Ressuscitado. É possível que um dia, ao ouvir o Evangelho, sintam de novo “arder seu coração”. Onde há crentes que se encontram para celebrar juntos a Eucaristia, ali está o Ressuscitado alimentando sua vida. É possível que um dia “seus olhos se abram” e o vejam. Por mais morta que apareça aos nossos olhos, nesta Igreja habita o Ressuscitado. Por isso, aqui tem sentido os versos de Antonio Machado: “Acreditei que minha lareira estava apagada, revolvi as cinzas… e queimei a mão”

(Pagola, Lucas, p. 364).