sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Francisco de Assis, o fascinante.





O mês de outubro, logo no início, dia 4,  nos leva a comemorar as maravilhas operadas pelo  Senhor na figura do italiano  Francisco de Assis. Joseph Lortz, ao escrever uma biografia sobre o santo, deu-lhe o título de Francisco de Assis, santo incomparável (Vozes,  1982).  “Francisco foi tão original e único que dificilmente se pode encontrar um paralelo. E por isso era  incomparável no que tinha de   mais pessoal e próprio. Sua admirável presença nos deixou apenas algumas poucas, porém inestimáveis páginas de louvores, ordenações e bênçãos. Os que conviveram com ele resumiram suas impressões em formas  totalmente insuficientes, se tomarmos em conta a grandeza e a envergadura do santo, ainda que alguns desses escritos sejam magníficos, principalmente os de Tomás de Celano (p. 12).  Demos ao nosso breve texto o título de  Francisco de Assis, o fascinante.

Damos a palavra a Michel Sauquet  que  em 2015 publicou um valioso texto sobre São Francisco:  Le passe-murailles. François d’Assise: un  héritage  pour penser l’interculturel au XXIe siècle. Francisco visto como aquele que derruba, suprime os muros e muralhas. Ele nunca quis fundar uma Ordem. Fê-lo por necessidade.  Suas opões espirituais evidentemente tiveram repercussão na sociedade. Importante sua postura diante do que é diferente.  “São Francisco de Assis por suas palavras e seus atos sugeriu que as diferenças podem ser motivo de alegria e não de sofrimento, motivo de riqueza e não diminuição. Colocou em evidência a vantagem que se pode ter quando se consegue vencer  “o medo dos bárbaros” para retomar o título de um livro do filósofo Tzvetan Torodov”  (p. 11).


Difícil dizer todos os motivos que levaram e levam a tantos a se sentirem próximos de Francisco. Tem-se a impressão que o Poverello é a reencarnação de Jesus Cristo, uma nova presença de Cristo no meio dos homens. Como São Paulo, Francisco podia dizer: “Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim”. Conhecida e sempre citada a palavra de Julien Green: “São Francisco de Assis é o cristianismo em todo o seu frescor matinal, é a redescoberta do Evangelho… Por vezes me pergunto se Cristo não nos prodigalizou uma segunda vez o Evangelho na vida de São Francisco”.

Francisco fascina o cardeal Bergoglio que, eleito papa, adota o nome do Poverello Papa Francisco. Em sua Carta Encíclica  Laudato Si’: “Não quero prosseguir esta encíclica  sem invocar um modelo belo e motivador. Tomei o seu nome por guia e inspiração, no momento da minha eleição para Bipo de Roma. Acho que  Francisco é o exemplo por excelência  do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos. Manifestou uma atenção  particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado  pela sua alegria,  a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade em uma maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior”  (Laudato Si”  10)

O Poverello se deixa extasiar pelos mistérios de Cristo, pelo “evangelho” que é Cristo. Fica profundamente tocado pela cena do presépio. Parece sentir na carne a pobreza e as carências do Menino das Palhas. Um Deus que se torna misericórdia na cruz.  Vai chorar incontrolavelmente diante do Crucificado.  “O Amor não é amado”.  No final de sua caminhada, tão curta caminhada,  tem mas mãos, nos pés e no lado os sinais das chagas do Redentor.  Refaz em sua carne os mistérios do Salvador. Não seria por isso que ele é incomparável e fascinante?

Todos andam atrás dele porque ele é irmão. Para ele ninguém é superior a ninguém. Os irmãos respeitam, amam, cuidam dos  irmãos. Lavam os pés uns dos outros. Todos somos irmãos: o menininho, o lobo, o doente, a senhora  Jacoba, as estrelas, o fogo, o bandido e até mesmo a morte.  Ele entoa a cantiga da fraternidade. Por isso é encantador.  Por isso, fascinante.

Nunca quis aparecer. Foi despojado. Não queria que os irmãos se preocupassem com nada, nem mesmo com livros.  Francisco é livre, livre de tudo e de si mesmo, despojadamente livre e amorosamente simples.  Por isso todos correm atrás dele.

Encanta-nos o carinho de Francisco pelo irmão “cristão”, pelo irmão leproso. Francisco, nosso Francisco, é aquele que se aproxima das coisas insignificantes aos olhos de todos. Ali vislumbra uma nítida imagem do Deus que se tornou insignificante. Lava as chagas do leproso, come com o leproso, acerca-se com o que é do leproso.  Depois que o tempo foi passando quando muitos o exaltavam ele dizia ter saudade dos tempos passados, tempo em que não era conhecido e lavava as chagas de desconhecidos leprosos.  Por isso tantos andam atrás dele.

Francisco se faz veículo da paz. Fala da paz e promove a paz.  Quer que seus irmãos se saúdem com votos e desejos de paz: “O  Senhor vos dê a paz”.  Pede que o lobo de Gubbio tenha a bondade de respeitar os habitantes do pedaço.  Suplica que o  bispo e o podestà de Assis se entendam e se perdoem.

O austríaco Kurt Waldheim, antigo secretário geral da ONU, declarava em outubro de 1982: “São Francisco de Assis é o símbolo da paz, do respeito pela natureza e do amor pelos pobres que fazem parte  do ideal  perseguido pelas Nações Unidas  cuja  Carta foi assinada na cidade  de San Francisco (EUA)  que leve o nome do Pobre de Assis”.

Façamos espaço para que Francisco possa passar!  Seu espírito não morreu.

Texto de Frei Almir  Ribeiro Guimarães, OFM

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=143024

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