quinta-feira, 24 de maio de 2018

Dedicação da Basílica de São Francisco de Assis.



Imediatamente após a canonização, que ocorreu em 16 de julho de 1228, o Papa Gregório IX quis que em honra a São Francisco, o “Poverello de Assis”, fosse elevado um magnífico templo e ali seus restos mortais fossem preservados. O mesmo Pontífice abençoou a pedra fundamental em 17 de Julho de 1228 e, na festa de Pentecostes, 25 de maio de 1230, ordenou que o corpo do santo foi transportado da igreja de São Jorge para a nova basílica, a igreja-mãe da Ordem dos Ordem dos Frades Menores. Inocêncio IV a consagrou solenemente em 1253, elevando à basílica patriarcal e capela papal por Bento XIV em 1764.

São Francisco queria morrer perto da Porciúncula, onde havia iniciado a vida religiosa. Mas aquele que havia escolhido a pobreza como um caminho para amar e deixava-a como herança a seus filhos.

A construção da basílica superior começou logo após 1239 e foi finalizada em 1253. Sua arquitetura é uma síntese do Românico e do Gótico Italiano. As igrejas foram decoradas pelos maiores artistas daquele tempo, vindos de Roma, Toscana e Úmbria. A igreja inferior tem afrescos de Cimabue e Giotto; na igreja superior está uma série de afrescos com cenas da vida de São Francisco, também atribuída a Giotto e seus seguidores. A Basílica é administrada pelos Frades Menores Conventuais (OFM Conv). Os Frades Franciscanos Conventuais são os guardiães dos restos mortais do Santo de Assis.

No dia 26 de setembro de 1997, Assis foi atingida por dois fortes terremotos que danificaram severamente a basílica (parte do teto dela ruiu durante o segundo tremor, destruindo um afresco de Cimabue), que passou dois anos fechada para restauração.

A Basílica inferior, que representaria a penitência, consiste em uma nave central com várias capelas laterais com arcos semicirculares. A nave é decorada com os afrescos mais antigos da igreja, criados por um artista chamado Mestre de São Francisco. Eles mostram cinco cenas da Paixão de Cristo à direita, e à esquerda, cenas da vida de São Francisco. Esses afrescos foram finalizados em 1260-1263. São considerados os melhores exemplos da pintura mural da Toscana, antes de Cimabue.

Como a popularidade da igreja aumentou, capelas laterais para famílias nobres foram adicionadas entre 1270 e 1350, destruindo os afrescos na paredes. A primeira capela à esquerda é decorada com dez afrescos de Simone Martini. Esses estão entre os maiores trabalhos de Martini e os melhores exemplos da pintura do século XIV.

A nave termina em uma abside semicircular ricamente decorada, precedida por um transepto. Os afrescos no transepto direito mostram a infância de Cristo, feitos parcialmente por Giotto e seus aprendizes e a Natividade pelo anônimo Mestre di San Nicola. O nível inferior mostra três afrescos representando São Francisco ajudando duas crianças. Esses afrescos de Giotto foram revolucionários para a época, pois mostravam pessoas reais com emoções em uma paisagem realista.

Na parede do transepto, Cimabue pintou uma de suas obras mais famosas: Nossa Senhora com São Francisco, Anjos e Santos (1280). Esse é provavelmente o retrato mais assemelhado a São Francisco. A pintura estática em estilo gótico contrasta com as pinturas dinâmicas de Giotto. O transepto esquerdo foi decorado pelo pintor Pietro Lorenzetti e seus aprendizes entre 1315 e 1330. Os afrescos mostram seis cenas da Paixão de Cristo, sendo a mais impressionante a Descida da Cruz, onde se percebe a sombra em uma pintura pela primeira vez desde a Antiguidade.

Cripta com túmulo de São Francisco de Assis


Pela nave se pode descer para a cripta através de uma escadaria dupla. Esse local, que guarda o túmulo de Francisco foi descoberto em 1818.

O túmulo tinha sido escondido por Frei Elia para evitar que suas relíquias se espalhassem pela Europa medieval. Por ordem do Papa Pio IX, uma cripta foi construída embaixo da Basílica inferior. Foi projetada por Pasquale Belli com mármore fino em estilo neoclássico, mas foi redesenhada em pedra crua em estilo neo-Românico por Ugo Tarchi entre 1925 e 1932.

Ao lado da Basílica, fica o Sacro Convento, que se assemelha a uma fortaleza e que já era habitado em 1230. O Convento agora abriga uma vasta biblioteca (com obras medievais), um museu com obras de arte doadas por peregrinos pelos séculos e também 57 obras (principalmente das Escolas Florentina e Sienesa) da Coleção Perkins.

Nave da Basílica superior

A entrada da Basílica superior (que representa a glória) é pela arcada do convento dos frades. O estilo dessa área é completamente diferente da Basílica inferior. Grandes janelas de vidro colorido banham com luz as obras de Giotto e Cimabue.

A parte final ao oeste do transepto e a abside foram decoradas com vários afrescos de Cimabue e seus aprendizes (1280). Infelizmente, devido ao material usado na obra, os afrescos logo sofreram os efeitos da umidade. Estão hoje muito deteriorados e foram quase reduzidos a meros negativos fotográficos.

A parte superior, em ambos os lados da nave, muito danificada pelos terremotos de 1997, foi decorada em duas filas com um total de 32 cenas do Velho Testamento e do Novo Testamento. Como levava cerca de seis meses para que se pintasse apenas uma parte da nave, diferentes artistas romanos e toscanos, seguidores de Cimabue, trabalharam na obra, tais como Giacomo, Jacopo Torriti e Pietro Cavallini.

Mas a obra mais importante da Basílica é, sem dúvida, a série de 28 afrescos atribuídos a um jovem Giotto na parte baixa da nave. Giotto usou a Legenda Maior, a biografia de Francisco para reconstruir os maiores eventos da vida do santo. As pinturas são vívidas, como se Giotto tivesse sido uma testemunha ocular da história. Os afrescos foram executados entre 1296 e 1304. Contudo, a autoria da obra ainda é debatida. Alguns críticos acreditam que a série tenha sido feita por um grupo de artistas inspirados em Giotto.

sábado, 19 de maio de 2018

Especial - Maio, Mês de Maria, Mãe do Redentor


Maria, a força da piedade popular.

Por Lina Boff

O que levou o magistério da Igreja a proclamar o dogma da Imaculada Conceição de Maria foi a força da piedade popular, que se expressou através de sua fé e seu culto a Maria, desde as primeiras comunidades do cristianismo primitivo. A contribuição da teologia neste caso, ainda que com suas justas reservas, foi a de acompanhar tal processo, numa atitude de vigilância, no sentido de perceber a força da experiência da fé nas comunidades e debruçar-se, com desprendimento, sobre a afirmação do magistério eclesial, com a finalidade de dar às palavras do dogma uma interpretação que não anulasse uma experiência de fé popular mariana, que já vinha, há séculos, crescendo.

A explicação do dogma se dá levando em conta a maturação da verdade professada pelo culto e pela piedade popular, que vem sendo legitimada, percebida e praticada pelas comunidades de fé. Maria torna-se, gradativamente, não só figura e símbolo, mas ela realiza o plano do Pai com uma missão específica: a de ser a mulher cheia de graça, a mulher que está com o Senhor, a bendita entre as mulheres e aquela que traz em seu seio o fruto bendito, obra do Espírito Santo.

A reflexão teológica, então, busca penetrar o sentido das palavras do dogma para a fé popular para expô-la, com maturidade, dentro do plano divino. Por isso tudo, Maria invocada, cultuada e se encontra profundamente arraigada na fé e no culto popular como a santa e toda imaculada, sobretudo a santa poderosa que intercede junto a Jesus em favor de seus filhos e filhas, peregrinos nesta terra. Ela é a companheira do povo que caminha em direção ao Pai, que enviou o Filho para reconciliar toda a humanidade com Deus, pela força do Espírito Santo.

Texto do livro “Imaculada Maria do Povo, Maria de Deus”, do capítulo “A mulher toda santa e imaculada”, de Lina Boff, que é teóloga e ensina Teologia Sistemática na Faculdade Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Especial: O Espírito Santo na mística franciscana.



Apresentação
Para São Francisco, a Ordem só tinha um Ministro Geral, que é o Espírito Santo, e deveria ser guiada pelo sopro do Espírito do Senhor. «Desejava que se recebessem na Ordem pobres e ignorantes, e não apenas ricos e sábios. ‘Deus -dizia ele- não tem em conta essas diferenças; o Espírito Santo, que é o Ministro Geral da Ordem, repousa tanto sobre os pobres e simples como sobre os outros’. Pretendia até que esta frase fosse incluída no texto da Regra – mas a bula da aprovação já tinha sido publicada (a 29 de novembro de 1223); era portanto tarde demais» (lC 123).

Neste Especial dedicado a Pentecostes, nossa intenção é fazer uma reflexão dentro da mística franciscana, oferecendo alguns textos de grandes mestres da espiritualidade.

O capuchinho Leon Robinot lembra que Francisco caminha para o Pai pelo Filho no Espírito: é a ‘auto-estrada’ que conduz à união com Deus, e que ele aprendeu pela prática da liturgia. “A sua experiência do seguimento de Jesus, aprendida durante uma vintena de anos, desabrocha na grande doxologia da Primeira Regra, capítulo 23. E essa ‘auto-estrada’ dum filho de Deus percorreu-a sob a conduta do Espírito. Tal é a profunda convicção que pretende transmitir aos irmãos ao dizer-lhes que «devem sobretudo desejar ter o Espírito do Senhor e deixar que esse Espírito atue neles» (2R 10,8).”

Frei Sinivaldo Tavares, teólogo, escreve sobre “A ousadia de se deixar conduzir pelo Espírito do Senhor”. E decreta: “Somos convocados a fazer memória do nosso passado, deixando Cristo irromper em nossa vida através do Seu Espírito Vivificante”.

O homem, quando se centra no sofrimento seu e do mundo, nas angústias e traumas de tantas pessoas, nas injustiças de uns e desvalia de outros, nos desvarios, descaminhos, hipocrisias e toda sorte de males, corre o risco de se afundar num desespero sem saída ou de  calejar-se desumanizando-se naquilo que lhe é mais próprio: a dimensão pentecostal do permanente milagre da vida.  Frei Neylor Toninfaz uma reflexão sobre a festa de Pentecostes a partir de dois pontos de vista e afirma que “o homem  pentecostal conhece a alegria do louvor, a força incontida do testemunho, a jovialidade da acolhida e a festa da comunhão”. Nele Cristo já venceu o demônio da tríplice tentação.

O jesuíta Albert Chapelle, num texto da revista “Grande Sinal”, escreve:  “O dom do Espírito nos antecede como uma graça, ele nos precede na história. Vida espiritual não se improvisa, não tem sua origem em si mesma, não pode haurir água viva em sua própria fonte. É recebida do Alto; brota como toda vida das gerações e dos partos da história”.

Outro texto escolhido é de Frei Celso Teixeira, da série “Cadernos Franciscanos”: “O Espírito do Senhor: Ensaio de uma leitura antropológica”. Como anuncia o subtítulo, o artigo é uma tentativa de esclarecimento sobre o modo de agir do Espírito do Senhor na pessoa humana. Sem identificar a expressão “Espírito do Senhor” com a terceira pessoa divina, o autor centraliza-se em descrever o modo de atuação deste espírito, tornando a pessoa “santa” e “espiritual”, à semelhança do próprio Deus, e, em habitando nossos corações, este espírito torna-se presença habitual. O autor também distingue com muita clareza as obras do “espírito da carne” (e “espírito do mundo”) e as obras do espírito do Senhor, fonte e origem de todo o bem.

Trazemos ainda textos do Dicionário Franciscano sobre o Espírito Santo e Pentecostes no Catecismo da Igreja Católica.

Completamos este Especial com as Preces ao Divino Espírito Santo e uma celebração franciscana.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Santo Franciscano do dia - 17/05 - São Pascoal Bailão, Religioso


Religioso da Primeira Ordem (1540-1592). Canonizado por Alexandre VIII no dia 16 de outubro de 1690.

Nasceu em Torre Hermosa, no reino de Aragão, na Espanha, filho de Martinho Bailão e Isabel Jubera, a 16 de maio de 1540, festa de Pentecostes, chamada de Páscoa cor de rosa, daí chamar-se Pascoal. Provinha de uma família numerosa, pobre e humilde, na qual se vivia, no entanto, profundo espírito religioso, devido sobretudo à mãe que era devotíssima da Eucaristia. Biógrafos dizem também que era muito generosa em dar esmolas aos pobres. Pascoal não pôde freqüentar a escola porque seu pai precisava que ele cuidasse do rebanho, serviço que executou com grande dedicação até mesmo quando este encargo lhe era ocasionalmente conferido por um ou outro pastor.

Executando seu trabalho distante do povoado e da igreja, passava horas inteiras em oração, privando-se de alimentos para dominar ou adestrar seu corpo. Era desses que tinha o hábito da flagelação. Longe do ruído, nas montanhas, cuidando das ovelhas tinha tempo para rezar, meditar, louvar a Deus e venerar Maria. De trato amável nos relacionamentos, com sua doçura e serenidade, conquistou a amizade de muitos pastores que encontrava nas alturas dos montes e nos vales da Andaluzia e entre os quais começou seu primeiro apostolado com simplicidade e ardor sincero. Procurava pastagens das quais pudesse ver uma igreja em que se conservava a Eucaristia para adorá-la enquanto seus rebanhos pastavam, como confidenciou ao companheiro de trabalho que haveria de dar este testemunho 18 anos depois de sua santa morte. 

Quando completou dezoito anos, em Monteforte del Cid, veio a conhecer os franciscanos do convento de Santa Maria de Loreto. Pensava em poder realizar seu sonho de se tornar religioso. Como isso ainda não lhe era possível aceitou de realizar o trabalho de pastor junto a um rico proprietário de ovelhas, Martino Garcia, que lhe dava a permissão de freqüentar o Santuário Mariano e residir junto ao convento franciscano. Enquanto pastoreava não muito distante do convento caía em êxtase ao som do sino que anunciava a elevação no momento da consagração . Por fim, a 2 de fevereiro de 1564, já com fama de santidade, pode vestir o hábito franciscano e, no ano seguinte, fazer sua profissão religiosa no convento dos frades alcantarinos de Orito, onde permaneceu até 1573, dedicando-se a tarefas muito humildes, de modo particular ao mister de porteiro. Muito estimado pela vida de austeridade que levava e favorecido por dons do Espírito Santo, entre os quais do dom da sabedoria infusa, o iletrado Pascoal – que tinha aprendido a ler enquanto pastoreava o rebanho e depois conseguiu apenas escrever alguma coisa, era procurado por pessoas eruditas que vinham se aconselhar com ele. De 1573 até 1589, sua vida transcorreu em diferentes conventos da província de Alicante, passando depois para a Província de Castellon, no convento de Vila Real.

A obediência o obrigou a fazer uma longa e perigosa viagem até Paris. O Ministro Provincial da Espanha, em 1576, necessitava comunicar-se com urgência com o Ministro Geral da Ordem Cristóvão de Cheffontaines. O dito Ministro sabia bem que era difícil uma tal viagem no tempo das perseguições calvinistas. Na verdade, Pascoal foi muito hostilizado e insultado. Em Orleans quase veio a morrer depois de uma discussão a respeito da Eucaristia. Esta não foi a única investida contra o frade menor antes que ele chegasse ao seu destino e entregasse a correspondência que levava para o Ministro Geral. Voltando desta viagem escreveu um livro com sentenças (pensamentos), um pequeno tratado ou compêndio sobre a Eucaristia. Falava, é claro, da presença real de Jesus neste sacramento e também dos poderes transmitidos ao Papa.

Mereceu ele receber o cognome de “teólogo da eucaristia”, não somente por ter resolvido as questões dos adversários na França, mas também pela coletânea de escritos que deixou a respeito do Sacramento da Eucaristia que foi sempre o centro de sua intensa vida espiritual e a marca mais evidente de sua vida. Estando sempre à disposição dos confrades e dos que batiam à porta do convento, Pascoal, além disso, continuava a infligir-se penitências e com isto debilitou sua saúde até o limite de capacidade de resistência.

Os últimos anos de vida de Pascoal se transcorreram no convento de Vila Real, em Valência, exercendo sempre o ofício de porteiro e de esmoler, muito estimado por toda a população, de modo especial pelos mais simples e pelas crianças. Todos queriam receber a bênção do frade ao lhe darem uma pequena oferta. Tudo ia sendo assim feito até o dia em que exercendo seu ministério de esmoler perdeu as forças. Compreendendo que estava próxima a sua morte correu ao seu encontro. De fato, veio a falecer no convento do Rosário, a 17 de maio de 1592, solenidade de Pentecostes, com a idade de 53 anos. Foram muitos os que vieram dar o último adeus ao piedoso frade. Os biógrafos contam, que durante a celebração da missa de exéquias, no momento da elevação do cálice e da patena, seu corpo já enrijecido pela morte reabriu os olhos para fixar o pão e o vinho da eucaristia dando assim seu último testemunho de apreço pelo Santíssimo Sacramento.

Sua santidade foi confirmada por muitos milagres que espalharam sua fama por todo o mundo católico. Vinte e seis anos depois, no dia 29 de outubro de 1618, era proclamado bem-aventurado (beato) por Paulo V e a 16 de outubro de 1690, canonizado por Alexandre VIII. O Papa Leão XIII, no dia 26 de novembro de 1897, proclamou-o patrono das devoções eucarísticas e, pouco depois, também dos congressos eucarísticos internacionais.
Os restos mortais de São Pascoal Bailão, venerados em Vila Real, foram profanados e espalhados durante a guerra civil espanhola (1936-39). Parcialmente recuperados foram restituídos à cidade de Vila Real em 1952.

As imagens do santo sempre o representam próximo a um ostensório Uns vinte pequenos tratados de sua autoria falam de seu profundo amor pela Eucaristia.

(Tradução livre da obra Frati Minori Santi e Beati, publicação da Postulação Geral da Ordem dos Frades Menores, 2009, p. 253-255)

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Santa Franciscana do dia - 16/05 - Santa Margarida de Cortona


Penitente da Terceira Ordem (1247-1297). Canonizada por Bento XIII no dia 16 de maio de 1728. 

A penitência marcou a vida de Margarida que nasceu em 1247, em Alviano, Itália. Foi por causa de sua juventude, período em que experimentou todos os prazeres de uma vida voltada para as diversões mais irresponsáveis.

Margarida ficou órfã de mãe, quando ainda era muito criança. O pai se casou de novo e a pequena menina passou a sofrer duramente nas mãos da madrasta. Sem apoio familiar, ela cresceu em meio a toda sorte de desordens, luxos e prazeres. No início da adolescência se tornou amante de um nobre muito rico e passou a desfrutar de sua fortuna e das diversões mundanas.

Um dia, porém, o homem foi vistoriar alguns terrenos dos quais era proprietário e foi assassinado. Margarida só descobriu o corpo, alguns dias depois, levada misteriosamente até ele pela cachorrinha de estimação que acompanhara o nobre na viagem. Naquele momento, a moça teve o lampejo do arrependimento. Percebeu a inutilidade da vida que levava e voltou para a casa paterna, onde pretendia passar o resto da vida na penitência.

Para mostrar publicamente sua mudança de vida, compareceu à missa com uma corda amarrada ao pescoço e pediu desculpas a todos pelos excessos da sua vida passada. Só que essa atitude encheu sua madrasta de inveja, que fez com que ela fosse expulsa da paróquia. Margarida sofreu muito com isso e chegou a pensar em retomar sua vida de luxuria e riqueza. No entanto, com firmeza conseguiu se manter dentro da decisão religiosa, procurando os franciscanos de Cortona e conseguindo ser aceita na Ordem Terceira.

Para ser definitivamente incorporada à Ordem teria que passar por três anos de provação. Foi nesta época que ela se infligiu as mais severas penitências, que foram vistas como extravagantes, relatadas nos antigos escritos, onde se lê também que a atitude foi tomada para evitar as tentações do demônio. Seus superiores passaram a orienta-la e isso a impediu de cometer excessos nas penitências.

Aos vinte e três anos Margarida de Cortona, como passou a ser chamada, foi premiada com várias experiências de religiosidade que foram presenciadas e comprovadas pelos seus orientadores espirituais franciscanos. Recebeu visitas do anjo da guarda, teve visões, revelações e mesmo aparições de Jesus, com quem conversava com freqüência durante suas orações contemplativas.

Ela percebeu que o momento de sua morte se aproximava e foi ao encontro de Jesus serenamente, no dia 22 de fevereiro de 1297. Margarida de Cortona foi canonizada pelo Papa Bento XIII em 1728 e o dia de sua morte indicado para a sua veneração litúrgica.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Especial - Maio, Mês de Maria, Mãe do Redentor - A mulher e São Francisco.


Frei Hugo Baggio

A cosmovisão de Francisco, nascida mais da intuição do que de um sistema filosófico, captava todos os problemas que afligissem o homem, e tentava oferecer pistas que ajudassem sua superação. Nesta nossa análise cabe perfeitamente algo sobre sua visão a respeito da mulher, cuja posição, na Idade Média, é conhecida. Aliás, a posição da mulher era tributária de toda uma tradição, herdada pelo cristianismo do judaísmo, onde a mulher desempenhava uma função inteiramente secundária e dependente, a ponto de se duvidar de sua igualdade, como ser humano, com o homem. Até nomes famosos da própria teologia tentavam teses, em que ficaria provada a inferioridade feminina à masculina.

Inclusive, quem conhece a história da Igreja sabe quão pouca promoção mereceu a mulher dentro de uma instituição conduzida e modelada exclusivamente por homens. Quem lembra e conhece os trabalhos do Vaticano II está ao par das tentativas de recuperar a mulher, seu papel e sua influência, e conseqüentemente dar-lhe um lugar de igualdade dentro dos parâmetros sociais. Esforço digno de nota de trazê-la da periferia para o centro da vida, embasando, assim, todo o movimento em prol da mulher desenvolvido nas últimas décadas, na tentativa de acabar com a discriminação.

Interessante observar que também neste particular Francisco de Assis deixou sua influência e agiu de forma concreta e prática. Não contornou ou definiu o problema nas linhas claras com que o descrevemos hoje, mas o intuiu, com suficiente clareza, para, com palavras e ações, deixar perceber as incongruências com que o homem tratava a mulher e as injustiças que contra ela se cometiam, baseando-se numa tradição e numa legislação, por sua vez, igualmente injustas. Percebeu o pouco espaço que lhe era cedido no lar, na sociedade, na vida civil, na Igreja, como se, em verdade, fosse de menoridade, ou de limitação intelectual, de maneira que lhe era vedado o acesso a qualquer forma de cultura, temendo-se que pela cultura ela procurasse a liberdade, que no fundo sabiam, lhe era devida. Longe estava, pois, a mulher de ter reconhecido seu papel teológico e social, e conseqüentemente, seus dotes e capacidades de atuar criativamente na história e na construção do mundo.

Sem dúvida, no século XI e XII, o amor cortês a retirara da obscuridade e a colocara em plena luz, sem porém colocá-la na realidade, pois este tipo de amor a idealizou e a espiritualizou em demasia, tornando-a, antes, fonte de inspiração que co-participante do homem na edificação do mundo. Tornou-se objeto de uma espécie de culto, mas era uma idealização "in genere", enquanto cada mulher, como indivíduo, continuava sua sina subalterna. Se a fase anterior a colocara na sombra, esta fase a elevara à luz e, em ambos os casos, afastada da realidade, confinada ao lar ou aos conventos, segundo um adágio latino da época: mulier aut murus aut maritus (mulher: ou convento ou casamento).

Na religião, além disso, havia uma certa desconfiança em relação à mulher, pois representava sempre um perigo para o homem. Seria ela a eterna sedutora, a Eva que com seus encantos levaria o homem a fazer, sempre de novo, a dolorosa experiência da maçã proibida do Paraíso, com suas trágicas conseqüências. Por isso, mil prescrições para mulheres que entravam no convento, separadas por grades e muros, por clausuras e proibições de contatos, ingresso em recintos de religiosos, preocupações no trato religioso-mulher, com prescrições severas, inclusive, em ordem à confissão. Todos indícios claros da desconfiança de que a religião se revestia em relação ao sexo frágil, que aparecia como forte, pois capaz de seduzir o dito sexo forte.

Francisco, estranhamente, não se alinhou a esta forma de conceber de tratar a mulher e, aqui também, teve seu modo original. Não só pensou, mas agiu. Antes de mais nada, na consulta ao Evangelho, de onde nasciam suas intuições, deu-se conta do papel de Nossa Senhora. "Impregnado das realidades do Evangelho - diz um Autor - ele salva a mulher, tanto da sofisticação do idealismo, quanto das mitologias do erotismo. Se Francisco sacrifica no altar de Dama Pobreza as alegorias graciosas do amor cortês, tal dama jamais empana a realidade feminina de Clara e de Jacoba. Em vão se buscarão na vida de São Francisco as alegorias das tentações de Santo Antão... Sem com isso querermos afirmar que São Francisco esteve isento das tentações da carne, como sabemos de sua vida. Mas, por sua maneira de comportar-se frente à mulher, descobrimos o sólido realismo em que se inspira..."

Ficam melhor ilustradas sua concepção e sua visão, quando o analisamos em seus relacionamentos com Clara de Assis, a primeira mulher que compreendeu sua mensagem e sua forma de vida e percebeu que a mulher também poderia tomar lugar nesta revolução da vivência do Evangelho. Ele a tratou como alguém que tem liberdade, capacidade de tomar decisões, direito de escolher seu gênero de vida. Atitude revolucionária na época, pois, para a sociedade de então, cabia aos pais decidirem quais as filhas que abraçariam o matrimônio e quais deveriam fechar-se num convento.

Quando clara, fugindo dos muros do palácio paterno e, conseqüentemente, da autoridade paterna, o procurou em plena noite, no domingo de Ramos de 1212, ele a recebeu, vestiu-a com hábito religioso, consagrou-a ao Senhor, reconhecendo como plenamente válida a escolha que ela acabara de fazer.
Um episódio ilustra a pureza de intenções e o reconhecimento do papel da mulher em São Francisco. Numa noite de luar, envolto pelos encantos da natureza, Frei Francisco e o companheiro Frei Masseo chegam junto a um poço, em cuja limpidez a lua se refletia, em toda sua beleza.

- O que vês no fundo das águas, Frei Masseo?

- Ora, Pai, vejo a lua, naturalmente...

- Não - respondeu Frei Francisco - é o rosto de Irmã Clara iluminado com a luz do luar. Ouço-lhe a voz cristalina que canta como a água...

Não é apenas um poeta cantando à sua amada, como Tomás Antônio Gonzaga, versejando para Marília, ou um celibatário, num momento de arrependimento por ter escolhido um outro caminho, mas é o homem que reconhece o papel da mulher que, no caso de Francisco, serviu de inspiração, a que vale dizer, estímulo para chegar mais perto da perfeição que se propusera buscar. Admira-nos que os biógrafos do tempo tenham registrado tal episódio, pois esforçavam-se por ocultar tudo quanto pudesse respirar a "carnalidade" de um santo. Se o fizeram, pois, é que reconheceram tratar-se da expressão humana de uma vivência divinizada e equilibrada, o que, longe de desmerecer, afirmava-se como um valor.

Outra mostra de que se esforçou para que a mulher recuperasse seu lugar e, sobretudo, tomasse consciência de que tinha um lugar ao sol, foi a formação que intentou transmitir a Santa Clara. Segundo os desejos dela, a presença de Francisco na Mosteiro de São Damião seria muito freqüente, inclusive as consultas, mas ele espaçava as visitas, obrigando Clara a tomar as decisões, pois afinal era ela a Abadessa do Mosteiro, portanto capaz de dedicir livremente. Após muitos rogos, consentiu que Clara fosse até a Porciúncula, para, com a comunidade dos frades, tomar uma refeição. Cortava tudo quanto alimentasse dependências, o que é notável numa época em que o Direito Canônico e os usos eclesiásticos tornavam a mulher completamente dependente, em todos os momentos e circunstâncias, da parte masculina.

Tão bem aprendeu Clara a lição que, um dia, quando o Papa a quis dissuadir de abraçar a pobreza radical e a quis mitigar, ela, com humildade, mas com coragem e decisão também, reagiu energicamente. Que o Papa exercesse sua função sacerdotal: perdoar pecados. No mais, sabia ela o suficiente sobre a pobreza, para escolhê-la, abraçá-la, vivê-la e amá-la, pois herdara e aprendera de Francisco. Não seriam os homens dos palácios papais que viriam ensiná-la a ser mais ou a ser menos pobre... E o Papa não viu nisso nenhum gesto de rebeldia, mas aceitou aquela prova inicial do movimento feminista bem orientado para a verdadeira libertação da mulher.

Outra mulher que Francisco admitiu no círculo de suas amizades foi a nobre romana Jacoba que, em atenção ao seu espírito forte e equilibrado, ele a chamava de Fra Jacoba, isto é, Frei, nome reservado aos homens, onde se percebe a nítida intenção de afastar qualquer insinuação ou apelo menos nobre, já que abraçara um estado de vida que lhe impunha um modo de comportamento e de relacionamento com a mulher. Conhecia e apreciava as amizades serenas, não na acolhida do ingênuo ou do místico neurótico, mas no conhecimento pleno de quem conhece a vida, pois seu biógrafo e companheiro, anota: "mandava evitar totalmente o mel venenoso que é a familiaridade com as mulheres, que induzem ao erro até os homens santos". Palavras que parecem fazer uma concessão à mentalidade da época, que via na mulher um perigo latente.

Com Fra Jacoba cultivou uma amizade sincera, visitando-a e hospedando-se em sua casa, quando de visita a Roma, aceitando o favor de um hábito ou de outras necessidades materiais, aliás, poucas. Na última hora de sua vida, quando todos os desejos do mundo iam silenciando e, quando nas palavras cantadas do Salmo pedia a libertação absoluta de todas as cadeias terrenas, ainda se permitiu um desejo terreno: ver Fra Jacoba e comer os bolinhos de amêndoas, como só ela sabia fazer. É a ternura que não foi sufocada no homem austero e que o acompanha até as portas da morte. Afinal, tinha ensinado que a cortesia era um cartão de visita para o Pai. Cavalheiro e cortês até o fim. Respeitoso e realista até a morte.

Dentre as notas que compõem a riqueza do termo franciscanismo fica em destaque, sem dúvida, a do respeito e do reconhecimento do papel da mulher, o que se reflete, igualmente, na maneira como a Teologia franciscana vai enfocar Nossa Senhora, ao lado de Cristo, na realização do plano de Deus.

Extraído do livro " São Francisco vida e ideal", da Editora Vozes, o último e 40° da coleção de Frei Hugo, que faleceu aos 61 anos de idade.

domingo, 13 de maio de 2018

Especial: “Sobre o materno modo de amar”




Frei Vitório Mazzuco, OFM


Se perguntasse pela capacidade de amar do ser humano encontraria muitas respostas, porém existe um único e incontestável modelo: amor de Mãe! Persistência, fé, entrega, disciplina, jeito prestativo, cuidado caseiro, lágrimas silenciosas, horizonte largo de inúmeras preocupações, de ver só qualidade no filho mesmo quando o filho, muitas vezes, é só estrada e distância.

Podemos até entrar nesta fome de comprar, visitar vitrines, escolher presentes para o Dia das Mães, mas nada é maior do que o presente que recebemos: ter uma mãe, ou como no meu caso, uma mãe já estabelecida na eternidade. Que presente é este? Ter sentimentos para sempre, saudades para sempre, certeza de pertencer a esta substância humana e divina que somos, porque uma raiz espiritual foi plantada em nós pela prece frequente de mãe. Sentir-se ovelha pequenina conduzida por divina pastora que jamais deixa de estar perto do rebanho.

Penso em mãe e penso naquele Amor de rotina e trabalho prazeroso, tolerância, carinho, habilidade em administrar conflitos, responsabilidade, atividade criativa em ajeitar gavetas, guardar roupas espalhadas, espanar poeira, ter tempo para a cozinha, trabalhar dentro e fora e ainda pintar as unhas maltratadas por detergentes e dizer baixinho: ainda sou a estética feminina unindo beleza a tanta coisa para arrumar.

Será que a espécie humana estaria ainda viva sem ela? Último ponto de encontro do clã, da família, daquele costume de ir à casa dela num domingo de tarde, para, num café com bolo, viver a única sociedade possível: aquela que se encontra ao redor de uma mesa para jogar conversa fora. Casa de mãe é uma praça de união simbiótica: viver separadamente juntos, mas correr na hora que há necessidade de alimento, alento e proteção. Alguém de nós esqueceu o cheiro da casa da mãe? Perfume da terra de nossa infância, de nossos brincantes quintais, de crise de choro e aquelas palmadas pedagogicamente corretas que mandaram andar direito. Na mãe nascemos plenamente cada dia.

A mãe nos ensinou que amor é ação, doação desinteressada, fez deste modo de dar-se não um sacrifício, mas uma virtude, uma expressão de potência, porque em cada detalhe do amoroso cuidado, entrega a sua inteireza. Neste modo encontramos a afirmação incondicional da vida. Do ventre materno saímos e na medida do mesmo amor nos encontramos neste segundo domingo de maio.  À minha mãe que já está no céu, peço a bênção! A todas as mães que necessariamente devem ser celebradas, o meu abraço e beijo! Feliz Dia das Mães!


sábado, 12 de maio de 2018

Artigo - As mães enfeitam a face da Terra.



Isto é verdade verdadeira, elas sempre enfeitam a face da terra.

As mães são criaturas adoráveis, especialíssimas, sim quase sempre adoráveis. Aí estão elas, numerosas, apressadas, cuidando de mil tarefas antes de ir para o trabalho, antes que a noite chegue, antes que caia tonta de sono, antes de os filhos irem para a cama, antes de rezarem uma reza para a mãe de Jesus.

As mulheres ficam mais bonitas no tempo da gravidez. Até mesmo as que não são bonitas demais. Caminham devagar carregando um tesouro. Depois bem o abraço com o pimpolho que saiu de dentro dela. Cuidados e mais cuidados. Vacinas, papinhas, fraldas, mamadeiras, material para o jardim da infância, mochila e… tênis, roupa para as noites, festa de formatura…aparelho de barba, namoro, casamento e o ninho fica vazio. Há sempre, no entanto, um ponto de referência: a mãe, a mamãe.

Lá está aquela mãe. Mais parece uma menina. Dezesseis, dezessete anos. Está amamentando uma criança. Houve um envolvimento amoroso com um homem casado que dera à mocinha a ideia do aborto e de uma soma de dinheiro para tanto. A garota resistiu às insinuações de uns e de outros. Pena que a criança tenha nascido assim, fora do amor de verdade de um homem e de uma mulher, fora de um espaço que se chama família. Tomara que essa mãe-menina encontre um rapaz de valor que lhe queira bem e “adote” a criança que ela agora amamenta.

Aquela outra mulher é uma executiva. Resolveu ter dois filhos. Fez de tal sorte que um chegasse logo após o outro. Pouco tempo de intervalo. Não pode estar sempre perto dos filhos. Faz o que pode para se fazer presente em suas vidas. Procura estar com eles à noite, em torno à mesa. Ela e o marido, mesmo com atividades estressantes e ocupações absorventes, não delegam a ninguém a educação dos filhos. Estão presentes na vida dos filhos.


Ainda aquela outra mulher teve uma porção de filhos. Vive num bairro modesto da cidade. Teve uma tristeza muito grande anos atrás. Sua menina mais velha, quando vinha da escola, morreu numa dessas brigas de facções criminosas. Era uma menina de muito valor. Estava dando catequese na capela do morro, preparando crianças para a primeira comunhão. Mesmo cercada do marido e de muitos outros filhos a dor daquela mãe não tem tamanho.

Aquela outra mulher queria ter muitos filhos e não pode ter nenhum. Adotou duas meninas. Sua maternidade vem do coração. Uma vez crescida a menina mais velha casou-se e já lhe deu dois netos. A mais nova está fazendo enfermagem e vive com a mãe. Há sempre um belo almoço com todos no dia as mães. Normal que seja assim. Preito de gratidão.

Ainda uma cena protagonizada por mães. Era o primeiro filho do casal. Ao sair da maternidade marido e mulher e João Ricardo passaram pela igreja perto de sua casa. Os pais do menino foram até a Capela do Santíssimo e entregaram o dom que lhes tinha sido dado ao Deus de todos os dons.

O tema das mães

Os tempos mudaram. Nem todas as mães têm o avental sujo de ovo. Mas sempre são fontes da vida. Pessoas que alimentam os filhos com o oxigênio de seus pulmões, o sangue de suas veias, o leite do peito e atenções ao longo de todo o tempo da vida. Aquela que dá entre num eterno estado de maternidade.

Mãe, pessoa única, figura de toda grandeza e de toda beleza. Frágil e forte. Quantas vezes vemos essas figuras descarnadas das terras da miséria alimentando os filhos com a secura de seus peitos. Normal que sua data seja comemorada com alegria. Muitas vezes discursos e elogios às mães são exagerados, são marcados por sentimentalismo balofo, nem sempre dizendo a verdade.


Mãe que antes de tudo é esposa. Na sua caminhada encontrou uma pessoa especial que lhe roubou o coração. Ele e ela, marido e mulher, esposo e esposa se abrem ao mistério da vida. Aceitam alegremente o colocar filhos no mundo. Filhos que chegam do mistério da vida e do sonho do Altíssimo e são confiados aos dois.  A mãe apresenta o filho que saiu de suas entranhas ao pai. Deus empresta o tesouro de seus filhos aos pais da terra.

Maternidade não é fatalidade. É vocação. A decisão pela maternidade começa no útero de uma mulher. Aquele nadinha se instala ali. Precisa de alimentos, sais minerais, sangue, oxigênio, carinho, conversa, ternura. Depois que nasce… é a vida toda filho…cresce, vai à escola, enturma-se, fica conhecendo o mundo… vai e volta… namora, casa, separa-se. Uns desses meninos e meninas têm uma trajetória bonita e linear… outros são difíceis… mas lá está mãe que vai dando a vida pelos filhos que acabam de nascer, que sofreram um acidente, que andam pelas noites, que se drogam.. sempre a mãe. A vida inteira vai dando a vida pelos filhos sem querer possuí-los. Que não se tornem trapos humanos, vítimas de sociedade da mentira, sociedade consumista, matadora de sonhos e de utopias. Sociedade que usa os filhos de nossas famílias.

Mãe, aquela que sabe escutar, que sempre escuta, que adivinha antes que lhes digam o que nem sabem ou podem dizer. Aquela com quem se pode contar. Aquela a quem os filhos recorrem com toda confiança. Mesmo um filho de quarenta que se separa depois de um casamento tumultuado e desastroso encontra espaços largos no coração da mãe.

Mãe cristã, não apenas religiosa ou pessoa de rezas, mas mulher que foi se plasmando pela força do Evangelho da misericórdia, do serviço. Mulher de oração, de intimidade com Deus, mulher da qual os filhos se orgulham porque sabem que é confidente de Deus. Mulher que, delicadamente, apresenta os filhos ao Senhor que não impõe práticas religiosas, fazendo antes com que seus filhos se tornem límpidos por dentro em tenham sede de Deus, que consigam ter em seus semblantes os traços de Jesus.

A mulher e sua filharada

Uma mulher, mulher simples, com sua filharada.

O cronista encontra matéria para suas divagações simplesmente observando a vida à sua volta. As histórias acontecem nas coisas inesperadas do cotidiano. Um dia desses vi uma mulher de seus quarenta e poucos anos, forte, robusta. Chinelo de dedos, saia comprida com blusa solta. A cores da saia com a da blusa se desentendiam. Carregava uma bolsa, dessas bolsas de supermercado, cheia de coisas. Os filhos, os filhos todos à sua volta. A mulher, cabelo liso, corpo ainda jeitoso, dava ordens a uns e outros. Eram seis. Os meninos de bermudas e as meninas de saiotes e camisetas coloridas. Um dos mais novos que vinha atrás pinicava o nariz. A menina de tranças olhava para trás, observando uma mulher que puxava a filha pelo braço e a teimosa da menina se jogava no chão. A mãe e os filhos iam depressa. Não sei de onde vinham nem para onde iam. Não sei se marido tinha aquela mulher. Devia ter e devia ser uma pessoa muito orgulhosa da mulher e dos miúdos. Imaginei que fosse um homem bonito parecido com o guri mais velho com luminoso e escultural semblante. Uma mãe, uma mulher dessas mulheres belamente simples.

Lembrei-me de uns versos delicados e verdadeiros de Cora Coralina:

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca grossa
de chinelinha
e filharada.

Cena encantadora, essa da mãe com seus filhos, todos caminhando com decisão, para frente, não sei para onde… mas gente que vivia a vida, essa mulher de tantos filhos parecia mesmo a senhora do mundo.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Santo Franciscano do dia - 11/05 - Santo Inácio de Laconi


Religioso da Primeira Ordem (1701-1781). Foi canonizado por Pio XII no dia 21 de outubro de 1951. 

Santo Inácio de Laconi, o segundo numa família de nove irmãos, nasceu em Laconi, na Sardenha, a 17 de Novembro de 1701. Foram seus pais Matias Peis Cadello e Ana Maria Sanna Casu, pobres de bens materiais, mas ricos de fé. Desde pequeno se distinguiu pela sua bondade e piedade; sendo ainda adolescente, praticava contínuas mortificações e rigorosos jejuns.

Tinha 18 anos quando ficou gravemente doente e fez, então, a promessa de se fazer capuchinho se viesse a curar-se. Mais tarde, escapou a outro perigo mortal e nessa altura cumpriu a sua promessa. A 3 de Novembro de 1721 foi a Cagliari e apresentou-se no Convento dos Capuchinhos de Buoncammino.

Recusado inicialmente por causa da sua frágil constituição física foi, finalmente, admitido. Vestiu o hábito religioso dos Capuchinhos no Convento de São Bento a 10 de Novembro de 1721. No final do ano do noviciado, foi transferido para o Convento de Iglesias, onde recebeu o ofício de dispenseiro, sendo, ao mesmo tempo, encarregado de esmolar na campanha de Sulcis.

Depois de passar durante 15 anos por diversos conventos, Inácio foi enviado para Cagliari, para o Convento de Buoncammino, recebendo aí o encargo de confeccionar os hábitos para os religiosos e depois, a partir de 1741, o ofício de pedir esmola naquela cidade – um ofício, então, considerado de grande importância e responsabilidade.

Cagliari foi, assim, durante 40 anos, o campo do seu maravilhoso apostolado, desenvolvido com um amor imenso no meio dos pobres e dos pescadores. Era venerado pelo encanto da sua virtude e pelos milagres que ia realizando até ao ponto de ser chamado por todos como “Padre Santo”. Um testemunho daquele tempo, nada suspeito e que mostra a grande veneração de que era geralmente rodeado o humilde capuchinho, é-nos oferecido pelo pastor protestante, José Fues, que vivia naquele tempo em Cagliari.

Numa carta escrita a um seu amigo da Alemanha, assim se exprimia: “Vemos todos os dias a pedir esmola, deambulando pela cidade, um santo vivo que é o irmão leigo capuchinho que, com vários milagres, conquistou a veneração de todos os seus compatriotas”.

Converteu-se numa figura típica, quase insubstituível naquela cidade da Sardenha que, precisamente naquela altura, tinha passado para o domínio da casa de Savoia. Pedia esmola nos bairros pobres, ao longo do porto, nas tavernas e nas lojas. Pedia e dava ao mesmo tempo. Por um lado, dava qualquer ajuda para socorrer os necessitados e, por outro, também um exemplo, uma boa palavra, um conselho, uma recomendação a apontar a virtude.

Conhecido por todos, por todos era respeitado e amado. Ia vendo as gerações sucederem-se em torno do seu próprio hábito, as crianças a converterem-se em homens e os homens a ficarem velhos. Somente ele não mudava. Sempre nos mesmos lugares, sempre atento à sua missão, sempre com a mesma humildade e caridade, a mesma simplicidade e bondade.
Tendo perdido a visão em 1779, passou os últimos anos de vida em intensa oração até ao dia da sua gloriosa morte, que teve lugar em Cagliari, a 11 de Maio de 1781
.
Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edição Porziuncola

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Santo franciscano do dia - 10/05 - São Félix de Nicosia


Religioso da Primeira Ordem (1715-1787). Seu culto foi aprovado por Leão XIII no dia 12 de fevereiro de 1888. 

Bem-aventurado Félix de Nicosia nasceu em Nicosia, na Sicília, a 5 de novembro de 1715, recebendo no batismo o nome de Tiago Amoroso. Filho de família pobre, aprendeu muito cedo a arte de sapateiro, exercendo depois tal ofício, até à idade de 28 anos. Foi, deste modo, a principal fonte de sustento para sua família.

Entrou muito novo para a Ordem Franciscana Secular. Após muitas recusas, ao atingir a idade de 28 anos, foi recebido pelos Capuchinhos. Desde o início, manifestou exemplo admirável de santidade, obediência, mansidão, espírito quase inaudito de penitência. A devoção à Eucaristia, à Imaculada Conceição e a São Francisco foram a grande luz da sua vida.

Após o noviciado, foi destinado ao Convento de Nicosia, sua terra, sendo ali encarregado da horta, cozinheiro, sapateiro, enfer- meiro, porteiro e, sobretudo esmoleiro até ao dia da sua morte. Tendo crescido numa fa- mília muito modesta e humilde, onde a virtude era tida em grande consideração, fr. Félix sempre se notabilizou pela pureza de costumes. Aceitou, com resignação, as grandes humilhações que o guardião lhe impôs, quase sistematicamente, para experimentar a sua humildade.

Submeteu-se voluntariamente a jejuns, vigílias e às mais rigorosas penitências que ele unia às que lhe impunham os superiores ou as que constavam na Regra. Nos seus contatos diários com o povo, era generoso em dar bons conselhos. Realizou prodígios que lhe mereceram a fama de taumaturgo. Nutria amor intenso a Nossa Senhora das Dores. Grande parte da noite permanecia diante do Santíssimo. Considerava-se verdadeiramente feliz na sua vocação. No convento era notado, sobretudo, pela obediência. Foi conselheiro espiritual, guia e diretor de almas simples e também de sábios e eclesiásticos. Teve o dom da profecia e realizou numerosos milagres.

Tinha 72 anos e estava em agonia. Era o dia 31 de maio de 1787. Pediu a presença do seu guardião. Que desejas? – perguntou-lhe o guardião; queres a bênção dos moribundos? Também! – respondeu Frei Félix. Mas, antes disso, meu guardião, peço a obediência não somente para viver, mas também para morrer. Esta era a grande lição que o nosso santo deixava aos Capuchinhos do Convento de Nicosia. Pouco depois o Senhor chamava-o. Temos muito a prender deste irmão capuchinho de alforje aos ombros.
A 12 de Fevereiro de 1888, o Papa Leão XIII beatificou-o, em São Pedro, no Vaticano. Foi canonizado por Bento XVI aos 23 de outubro de 2005.


ORAÇÃO:
Senhor, que ensinastes o Bem-aventurado Félix a servir-Vos na simplicidade e humildade de coração, concedei-nos a vossa ajuda, para que, imitando os seus exemplos, possamos participar um dia da sua glória, no Céu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Especial - Maio, Mês de Maria, Mãe do Redentor


 Devoção franciscana para com a Virgem

Em sua “devoção” Francisco une Maria a Jesus, seu filho.


69. – A bem-aventurada Virgem Maria é tão honrada – como é justo – porque trouxe Cristo em seu seio abençoado. (III Carta, 21)

70. – O Verbo do Pai, tão digno, tão santo e glorioso, de quem o Pai anunciou a chegada, por seu Santo arcanjo Gabriel, à santa e gloriosa Virgem Maria, do seio da qual o Verbo recebeu verdadeiramente a carne de nossa humanidade frágil. (1 Carta, 4)

Ela foi escolhida e consagrada por Deus

71. – SALVE, Mãe de Deus, ó Maria.

Escolhida pelo santíssimo Pai do céu, o qual
vos consagrou com seu dileto e santíssimo
Filho e o Espírito Santo Consolador…
Salve, Palácio de Deus!
Salve, Tabernáculo de Deus!
Salve, Casa de Deus!
Salve, Traje de Deus!
Salve, Serva de Deus
Salve, Mãe de Deus!
(Saudação à SS. Virgem, 2,4,5)

Ela recebeu a graça e a santidade em plenitude.

72. – Ó Maria, Virgem Santíssima, não há outra semelhante, nascida neste mundo, entre as mulheres; filha e serva do Rei altíssimo, o Pai celeste; mãe de Jesus Cristo, nosso Senhor; esposa do Espírito Santo. (Of. da Paixão, 12)


73. – Salve, Senhora Santa,

Rainha Santíssima, Mãe de Deus, ó Maria,
que sois a Virgem perpétua…
Vós em quem houve e permanece
Toda a plenitude de graça e todo bem.
(Saudação à SS. Virgem, 1,3)

Ela é nossa advogada junto de Deus.

74. – Francisco amava a Mãe do Senhor Jesus com um amor indizível, pois foi ela quem nos deu como irmão o Senhor de majestade e por ela obtivemos misericórdia.
(Boav., IX, 3)

75. – “Em Rivo Torto não temos nenhuma igreja em que possamos rezar o Ofício e louvar a Deus e sua Mãe Santíssima, a quem sempre pedimos que seja nossa advogada”. (Fioretti, ad. II)


76. – O homem de Deus tinha uma devoção fervente por Maria, Senhora do Mundo…
Fixou-se em Porciúncula por causa de seu amor pela Mãe de Cristo. Amou sempre este lugar mais do que qualquer outro no mundo. . . ; foi este lugar que, ao morrer, confiou aos irmãos como particularmente caro à Virgem… Foi neste lugar que Francisco, impelido por Deus que lhe revelou sua vontade, fundou sua Ordem dos Frades Menores. (Boav., II, 8)

77. – Não convinha que o nascimento de uma Ordem de virgens… se desse num outro lugar que não num templo consagrado à primeira, e à mais digna de todas as mulheres, a única que é virgem e mãe ao mesmo tempo, no mesmo lugar em que a nova cavalaria dos pobres começa a exercitar-se gloriosamente sob a ordem de Francisco. Desta maneira, a Mãe de misericórdia mostrava claramente a todos que era ela que, em seu santuário, dava origem à primeira como à segunda Ordem.
(Vida de Clara, 8)

78. – Ordeno a todos os meus irmãos, quaisquer que sejam, aos atuais e aos vindouros, que a honrem e glorifiquem sempre, de todo jeito e de toda maneira que for possível, e de tê-la em muito grande devoção e veneração. Quero ainda que sejamos sempre seus fiéis servos.
(Fioretti, ad. II)

79. – Inventava louvores para ela, fazia chegar suas orações até ela, consagrava-lhe os impulsos de seu coração: nenhuma língua humana saberia dizer quantas vezes e com que fervor.(II Celano, 198)

Imita-lhe as virtudes


80. – Pouco antes de morrer escreveu-nos dos, mais uma vez sua última vontade; “Eu, o pequeno irmão Francisco, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor

Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe, e quero perseverar neste caminho até a morte.
(R. de Clara, VI)

81. – E quando for necessário, que vão pedir esmola… “pois pobre e peregrino, viveu de esmolas, Ele, e a bem-aventurada Virgem, e seus discípulos”. (1 Regra, IX, 6)


82. – “Se não puderes atender de outro modo as necessidades dos irmãos, despoja o altar da Virgem e tira-lhe os enfeites. Crê-me: ela ficará muito mais contente em ver o Evangelho de seu Filho observado e seu altar despojado, do que seu altar enfeitado e seu Filho desprezado”.(II Celano, 67)

Recorre à proteção dela

83. Francisco permaneceu algum tempo na dela igreja da Virgem Mãe de Deus, pedindo-lhe, com súplicas incessantes e contínuas, a graça de tornar-se o protegido dela.

(Boav., III, 1)

84. – Depois de Cristo colocava sua confiança em Maria e a escolheu como padroeira sua

e dos seus.(Boav., IX, 3)

85. – Francisco, estigmatizado, despediu-se do Alverne dizendo: “Adeus, Santa Maria dos Anjos do Alverne: – eu te recomendo estes meus filhos, ó Mãe do Verbo eterno”.

(Fioretti, ad. XX)

Santa franciscana do dia - 09/05 - Santa Catarina de Bolonha (1413-1463)


Virgem da Segunda Ordem (1413-1463). Canonizada por Clemente XI no dia 22 de maio de 1712.

Filha de Benvenuta Mamolim e de Giovani Vigri, Catarina nasceu em Bolonha no ano de 1413. Foi educada na corte de Ferrara, como dama de companhia de Margarida, filha de Nicolau III, marquês D’Este, a serviço de quem estava seu pai como diplomata. Aos treze anos de idade, após ter ficado órfã de pai e depois do casamento de Margarida com Roberto Malatesta de Rimini, Catarina decide-se pela vida religiosa.

Foi exatamente na corte de Ferrara, num ambiente moralmente deturpado, que a semente da vocação religiosa germinou no coração de Catarina. Deixando a mãe, uma irmã e um irmão, ingressou num mosteiro de Terciárias Agostinianas (1427) aos catorze anos. Era uma comunidade fundada por uma grande dama de Ferrara, tia Lúcia Mascaroni que na época a dirigia.


Durante sua permanência na corte de Ferrara, Catarina mantivera estreito contato com os Frades Menores da Observância no convento do Santo Espírito, onde recebia a orientação espiritual que solidificou o seu desejo de servir a Deus.

Percebendo que a comunidade na qual ingressara não vivia com radicalidade evangélica sua opção, sentia cada vez mais o anseio de que de comum acordo passassem a viver a Regra de Santa Clara, e que tivessem a orientação dos Observantes, cujo testemunho de vida sempre a impressionara. Com o apoio sincero e confiante da senhora Lúcia Mascaroni, depois de inúmeras dificuldades e vicissitudes motivadas por divisões internas do grupo de mulheres que viviam então no Mosteiro Corpus Christi, mas por influência decisiva de Catarina, adotam finalmente a Regra própria de Santa Clara.

O Papa Eugênio IV, em uma bula de abril de 1431, enviou algumas Clarissas de Mântua para que formassem as componentes da nova comunidade clariana, estimulando a exata observância da Regra no seu primitivo rigor, atendendo assim às santas aspirações de Catarina e das suas companheiras. Depois de algum tempo de aprofundamento neste estilo de vida – o que considerou como o seu noviciado – Catarina professou em 1432, com dezenove anos, a Regra de Santa Clara, pela qual tanto lutara.

Catarina era de saúde muito delicada, mas esquecia-se complemente de si mesma, impondo a si mesma os trabalhos mais pesados e difíceis para poupar as demais. Desempenhou muitas funções a serviço de sua comunidade, entre elas a de padeira e de enfermeira. Foi exemplar na humildade e na obediência, em meio a inúmeras tentações de rebelião e de desespero, durante boa parte de sua vida em Ferrara. Era sempre pródiga na caridade para com suas irmãs.

Dotada de uma inteligência e de uma sensibilidade e perspicácia únicas, destacou-se como grande escritora, poetisa, pintora e mística do renascimento italiano. Seu estilo literário é original, precioso para o estudo da própria língua italiana da época, no dialeto de sua região. Jamais quis aceitar o ofício de abadessa em Ferrara, mas foi longamente mestra de noviças. O seu livro “As Sete Armas Espirituais” é uma síntese belíssima de sua pedagogia espiritual.

Na perspectiva de realizar uma nova fundação em Bolonha, Catarina foi escolhida como abadessa, nas véspera da partida das fundadoras, em cujo grupo ela já se contava. O temor em relação à difícil missão que o Senhor lhe pedia fez com que adoecesse gravemente naquela noite, tanto que pensavam as Irmãs que não sobreviveria. Mas na manhã seguinte, como por um milagre, partia com quinze companheiras para Bolonha, numa viagem memorável, em carruagem adaptada como clausura, que o povo acompanhava ou aclamava com júbilo. É o ano de 1456. Em pouco tempo o número de Irmãs em Bolonha se vê multiplicado.

A fama de santidade de Catarina atrai muitas jovens. A própria mãe de Catarina e sua irmã se fazem clarissas. O Mosteiro Corpus Domini de Bolonha torna-se um verdadeiro centro espiritual naquela cidade de douta cultura. O número de Clarissas rapidamente chega a sessenta. Dentre as mais fiéis colaboradoras que Catarina teve no trabalho de implantação do ideal de Santa Clara, estão as Bem-aventuradas: Giovana Lambertini (+1476), Paula Mezzavaca (1426-1482) e Iluminata Bembo (+1496).

Todas elas ingressaram em Ferrara, antes da observância da Regra de Santa Clara; participaram do grupo que fundou o Mosteiro de Bolonha e foram exemplares em seu testemunho de vida. Iluminata foi a primeira biógrafa de Santa Catarina. Seu manuscrito “Espelho de Iluminação” conserva-se atualmente no Mosteiro Corpus Domini de Bolonha, com as obras pessoais de Catarina: As Armas necessárias às batalhas espirituais, Breviário, Tratado sobre o modo de comportar-se nas tentações, Regras de vida religiosa, Louvores e devoções, Cartas, Louvores espirituais e poesias, todos manuscritos autógrafos, alguns inéditos.

A partir de 1461, Catarina passa por períodos sucessivos de grave doença, até sua morte a 9 de março de 1463. Foi beatificada pelo Papa Clemente VII. Em 1712, Clemente XI declarou-a santa. Seu corpo se conserva incorrupto, em perfeito estado de conservação e flexível, na Igreja do Mosteiro Corpus Domini. Está sentada, com a Regra de Santa Clara nas mãos. É um dos casos mais interessantes na história! A festa de Santa Catarina se celebra no dia 9 de maio.


BIBLIOGRAFIA:
LAINATI, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970.

RICCIARDI, Renzo, Santa Caterine da Bologne Scuola Grafica Salesiana, Bologna 1970

MUCCIOLI, Maurizio – Santa Caterine da Bologne – M¡stica del Quattrocento. Antoniano Ed Nigrizia. Bologna 1963

terça-feira, 8 de maio de 2018

08/05 - Imaculado Coração de Maria



A devoção ao Coração de Maria começou já no início da Igreja, desenvolvendo-se na Idade Média. Com as aparições em Fátima, ganhou grande destaque. A devoção ao Coração de Maria está associada à devoção ao Coração de Jesus, pois esses Dois Corações se uniram no Mistério da Encarnação, Paixão e Morte do Verbo Encarnado. 

Honrar o Coração de Maria é honrar o Coração que foi preparado por Deus para ser uma digna morada do Espírito Santo, que formaria a seu tempo o Redentor no ventre imaculado da Virgem Maria.

Esta devoção ao Coração de Maria é devoção à própria Mãe de Jesus. É também veneração dos santos sentimentos e afetos, a ardente caridade de Maria para com Deus, para com seu Filho e para com todos os homens, que lhe foram confiados solenemente por Jesus agonizante.

Assim, louvamos e agradecemos a Deus por nos haver dado por Mãe e intercessora Aquela que acreditou.

No dia 8 de maio, ao meio-dia, recita-se a súplica à Bem-aventurada Virgem do Rosário. A mensagem de Fátima pede: oração, penitência, vida cristã, recitação do Rosário, pureza de costumes, vida de adesão ao Evangelho.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Artigo - 1ª sexta do mês: Diante d’Aquele que nos cativa.



Frei Almir Guimarães

Nas primeiras sextas-feiras de cada mês, sempre nos colocamos de maneira nova diante do Coração Adorável do Senhor Jesus. Olhamos primeiramente para o peito aberto, mas atingimos o mais íntimo desse que nos cativa, esse Jesus do lado aberto!

Ele é o Vivo, o Presente, o Ressuscitado. Se colocamos o olhar nas chagas do crucificado, não paramos na cruz de ontem. Ele, o Vivo, está entre nós. Não podemos nos fixar apenas nas verdades dogmáticas e frias a respeito do Mestre. Karl Lehmann, teólogo alemão, afirmou: “O homem moderno só será crente quanto tiver feito uma autêntica experiência de adesão à pessoa de Jesus”. Trata-se de conservar viva em cada um de nós uma atitude de escuta. Os evangelistas colocaram nos lábios do Pai esta declaração: “Este é o meu Filho no qual coloquei todo meu apreço. Escutai-o”.

Cada um de nós haverá de colocar-se diante de Jesus, deixar-se olhar diretamente por ele, diante de alguém que dá um sentido radical à vida. Colocar-se atentamente diante de Jesus significa acreditar que somente ele pode responder aos nossos desejos mais íntimos e mais profundos.

Tantos caminhos a serem percorridos! Viagem ao fundo do coração para conhecer aquilo que nos falta, que pode nos encher de vida. Momentos de silêncio, de quietude profunda, sobretudo silêncio de nossos loucos desejos e planos pequenos e egoístas. Desligar em nós o que provoca ensurdecimento profundo. Percorrer o Sermão da Montanha. Examinar regularmente a consciência para saber se andamos escutando a voz do Filho Amado. Tentativa incessante de encontrar vestígios do Amado nos nas existências despedaçadas de tantos ao nosso redor. Escutar o Filho Amado que não está nas secas formulações doutrinárias mas anda falando no coração dessa vida que o Altíssimo nos faz viver.

G. Hourdin, num editorial de um jornal católico francês, escrevia: “O homem está se tornando incapaz de querer, de ser livre, de julgar por si mesmo, de mudar seu modo de vida. Está se convertendo num robô disciplinado que trabalha para ganhar dinheiro que depois desfrutará numas férias coletivas. Lê as revistas da moda, vê os programas de TV que todo mundo vê”. Um robô que não é capaz de pensar por si e de escutar o som da voz daquele que deixou que o soldado lhe abrisse peito. Aquele que nos fala por meio de inspirações interiores, pelos sinais dos tempos e por seu peito aberto.

José Antonio Pagola coroa nossa reflexão: “Mais do que nunca devemos atender ao apelo evangélico: ‘Este é o meu Filho amado, de quem me agrado. Escutai-o.’ Devemos parar, fazer silêncio e escutar mais a Deus revelado em Jesus. Esta escuta interior ajuda a viver a verdade, saborear a vida em suas raízes, e não esbanja-la de qualquer maneira, e não passar superficialmente diante do essencial. Escutando a Deus encarnado em Jesus descobrimos nossa pequenez e pobreza, mas também nossa grandeza de seres amados infinitamente por ele” (Pagola, Mateus p. 217).

Continuamos a nos deixar fascinar por aquele que fez de seu coração uma fonte de vida e de esperança.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Especial - Maio, Mês de Maria, Mãe do Redentor



A comunhão de Maria com a Humanidade

Frei José Carlos Correa Pedroso 

Além da Antífona de Nossa Senhora, do Ofício da Paixão, vamos ler outra oração dedicada à Mãe de Deus:

Salve, ó senhora, Rainha santa, Mãe santa de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita Igreja, e escolhida pelo santíssimo Pai celestial, que vos consagrou com seu santíssimo e dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito! Em vós residiu e reside toda a plenitude da graça e todo o bem! Salve, ó palácio do Senhor! Salve, ó tabernáculo do Senhor! Salve, ó morada do Senhor! Salve, ó manto do Senhor! Salve, ó serva do Senhor! Salve, ó Mãe do Senhor, e salve vós todas, ó santas virtudes, derramadas, pela graça e iluminação do Espírito Santo, nos corações dos fiéis, transformando-os de infiéis em fiéis do Senhor! (Saudação à Mãe de Deus).

Chamar Nossa Senhora de Virgem feita Igreja é uma das maiores originalidades de São Francisco e demonstra que a viu realmente como uma imagem do Povo de Deus:
Como o povo de Israel, que Deus escolheu entre os mais desconhecidos da terra, Maria era uma virgem quando o Senhor a escolheu: na cultura antiga, não sendo homem nem sendo a mãe ou a esposa de alguém, era fraca, não tinha importância, era nada.

Mas ela foi feita cheia de graça por pura bondade do Senhor, como o povo que era escravo no Egito, e Deus assumiu como sua esposa.

E ela foi a primeira dentro de todo o Povo a receber a plenitude da vida de Deus, essa vida trinitária que Ele quer que chegue a todos.

Nela ficou claro que toda essa união com a divindade transforma-a, eleva-a, mas não absorve sua personalidade nem a tira de sua normalidade, como deve acontecer com todo o povo.
Como deve acontecer com todo o Povo, ela se tornou um novo cristo, uma colaboradora no anúncio do Bem (começou com Isabel, passou por Caná, acompanhou Jesus pobre, foi para a casa de João...).

Por tudo isso, como lembra o magnífico capítulo 8 da Lumen Gentium, Maria merece, muito mais que Eva, ser chamada a "Mãe dos Viventes". Francisco preferiu chamá-la Virgem feita Igreja.

Somos nós que temos que fazer o Povo do nosso tempo ir sendo transformado numa Igreja feita Maria. É o nosso campo de trabalho: nossas ações diárias são capazes de construir a comunhão da humanidade.

Para Francisco, Maria é um ponto de chegada muito claro para o Povo: nós vamos ser aquela esposa descendo do céu coroada com doze estrelas. Ele lembrou isso no cântico Ouvi, pobrezinhas!, que escreveu para as clarissas: Porque cada urna será rainha no céu, coroada com a Virgem Maria!

E também o propôs como o ponto mais alto a alcançar no Cântico de Frei Sol: Bem-aventurados os que as suportam em paz, que por vós, Altíssimo, serão coroados!
Mas Francisco e Clara ainda viram Maria como o Povo evangelizador, que assumiu ser o Cristo místico. Viram-na como peregrina acompanhando Jesus pelo mundo, pobre e vivendo de esmola.

Por isso, o Fundador também a fez Advogada da Ordem e pediu que os frades nunca abandonassem a Porciúncula, a casa de Nossa Senhora em que a Ordem nasceu.
A humanidade vai se realizar quando for a Cidade de Deus. Maria é a figura dessa Pátria total e definitiva.

Frei José Carlos Correa Pedroso é capuchinho, do Centro Franciscano de Espiritualidade de Piracicaba (SP)