sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

A SAGRADA FAMÍLIA DE NAZARÉ



Da alocução de Paulo VI, Papa, em Nazaré, e carta de São João Paulo II dirigida à família

Da alocução de Paulo VI, Papa, em Nazaré, 5.1.1964: O exemplo de Nazaré:

Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o conhecimento do Evangelho. Aqui se aprende a observar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado tão profundo e misterioso desta manifestação do Filho de Deus, tão simples, tão humilde e tão bela. Talvez se aprenda também, quase sem dar por isso, a imitá-la.

Aqui se aprende o método e o caminho que nos permitirá compreender facilmente quem é Cristo. Aqui se descobre a importância do ambiente que rodeou a sua vida, durante a sua permanência no meio de nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo o que serviu a Jesus para Se revelar ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem sentido. Aqui, nesta escola, se compreende a necessidade de ter uma disciplina espiritual, se queremos seguir os ensinamentos do Evangelho e ser discípulos de Cristo. Quanto desejaríamos voltar a ser crianças e acudir a esta humilde e sublime escola de Nazaré! Quanto desejaríamos começar de novo, junto de Maria, a adquirir a verdadeira ciência da vida e a superior sabedoria das verdades divinas!

Mas estamos aqui apenas de passagem e temos de renunciar ao desejo de continuar nesta casa o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. No entanto, não partiremos deste lugar sem termos recolhido, quase furtivamente, algumas breves lições de Nazaré.

Em primeiro lugar, uma lição de silêncio. Oh se renascesse em nós o amor do silêncio, esse admirável e indispensável hábito do espírito, tão necessário para nós, que nos vemos assaltados por tanto ruído, tanto estrépito e tantos clamores, na agitada e tumultuosa vida do nosso tempo. Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor de uma conveniente formação, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê.

Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social.
Uma lição de trabalho. Nazaré, a casa do Filho do carpinteiro! Aqui desejaríamos compreender e celebrar a lei, severa mas redentora, do trabalho humano; restabelecer a consciência da sua dignidade, de modo que todos a sentissem; recordar aqui, sob este teto, que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que a sua liberdade e dignidade se fundamentam não só em motivos econômicos, mas também naquelas realidades que o orientam para um fim mais nobre. Daqui, finalmente, queremos saudar os trabalhadores de todo o mundo e mostrar-lhes o seu grande Modelo, o seu Irmão divino, o Profeta de todas as causas justas que lhes dizem respeito, Cristo Nosso Senhor.

João Paulo II, na Carta dirigida à família, por ocasião do Ano Internacional da Família, 1994, escreve:

A Sagrada Família é a primeira de tantas outras famílias santas. O Concílio recordou que a santidade é a vocação universal dos batizados (LG 40). Como no passado, também na nossa época não faltam testemunhas do "evangelho da família", mesmo que não sejam conhecidas nem proclamadas santas pela Igreja...

A Sagrada Família, imagem modelo de toda a família humana, ajude cada um a caminhar no espírito de Nazaré; ajude cada núcleo familiar a aprofundar a própria missão civil e eclesial, mediante a escuta da Palavra de Deus, a oração e a partilha fraterna da vida! Maria, Mãe do amor formoso, e José, Guarda e Redentor, nos acompanhem a todos com a sua incessante proteção.


Sagrada Família de Nazaré, rogai por nós!

Franciscana do dia - 30/12 - Bem-aventurada Margarida Colonna


Virgem da Segunda Ordem (1254-1284). Pio IX aprovou seu culto a 17 de setembro de 1847.

Margarida nasceu na Palestrina, da família Colonna. Educada desde a mais tenra idade nas virtudes cristãs por sua mãe Mobilia ou Madalena Orsini, que tinha conhecido a São Francisco na casa de seu irmão Mateus. Ao tornar-se órfã, primeiro de pai e logo depois também de mãe, foi confiada à tutela de seu irmão João.

Em 1273 depois de ter recusado um matrimônio muito vantajoso com um nobre romano, retirou-se ao Monte Prenestino, hoje Castelo São Pedro, onde fundou uma comunidade de clarissas. Viveu ali no exercício heróico de todas as virtudes, edificando ao povo com a oração e o exemplo de uma caridade heróica. Distribuiu o seu rico dote aos pobres e para si não quis nenhuma ajuda direta da parte de seus irmãos; preferiu viver como franciscana, recorrendo à “Mesa do Senhor”, pedindo esmola de porta em porta.

Por ocasião de uma epidemia, Margarida fez-se “toda para todos” assistindo fraternalmente aos irmãos enfermos e recorreu também em ajuda aos franciscanos de Zagarolo. Outra vez acolheu em sua casa um leproso de Poli, comendo e bebendo no mesmo prato, num ímpeto de amor beijando aquelas repugnantes chagas. Seria demasiado prolixo recordar todas as manifestações de intensa vida mística de Margarida: a observância escrupulosa da regra de Santa Clara, o amor à pobreza, a contínua união com Deus, os êxtases, as efusões de lágrimas, as freqüentes visões celestiais, o matrimônio místico com o Senhor, que lhe apareceu colocando-lhe um anel no dedo e uma coroa de lírios sobre a cabeça e lhe imprimiu a chaga do coração.

A morte de Margarida foi em tudo digna de uma perfeita filha de São Francisco, o qual por amor da dama pobreza quis morrer desnudo sobre a desnuda terra. Há três anos sofria de uma grave úlcera no estômago. Na noite do Natal de 1280 se lhe apareceu a Virgem com o Menino nos braços, e a deixou num profundo estado de exaltação. Depois de ter recebido o viático e a unção dos enfermos, pediu a seu irmão o cardeal Jaime, que a colocassem na terra, desejando morrer pobre como Jesus e o Seráfico Pai São Francisco. Ficou em estado de profundo gozo, mas somente por um breve espaço de tempo, porque estava demasiadamente extenuada. Por último pediu que lhe trouxessem o crucifixo: tendo beijado com intenso afeto, o mostrou a suas co-irmãs, exortando-as a amá-lo com todas as suas forças.

Adormecendo por um momento voltou a si e exclamou com vigor: “Eis aqui a Santíssima Trindade que vem, adoremos!” Em seguida, cruzando os braços sobre o peito, e fechando os olhos no céu, expirou serenamente; era o alvorecer do dia 30 de dezembro de 1280. Os funerais ocorreram no mesmo dia na Igreja de São Pedro Sul Monte Prenestino com grande concurso do povo e de todos os franciscanos da zona. Em 1285 as clarissas da Beata Margarida se transferiram para o mosteiro romano de São Silvestre em Cápite, levando consigo o corpo da Beata.

Margarida se nos apresenta como uma delicadíssima figura de mulher em quem os dotes naturais de inteligência, fascinação e sensibilidade, unidas ao realismo e à dignidade de sua vida doméstica, se insertam na robusta árvore da espiritualidade franciscana. Sua vida brilha como um arco-íris de paz na história tumultuada de seu tempo.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Especial: O Natal na mística franciscana


O NATAL DE FRANCISCO

Por Assuero Gomes

Um pobre andarilho de Deus no ano de 1223, vagava entre os bosques da região. No seu coração, carregado de amor, palpitava uma idéia que cintilava renitente naquele tempo das proximidades do Natal de Jesus.

Pés no chão, roupa remendada de tecido áspero, entre os cabelos a tonsura. Segue o peregrino de Deus com o coração irrequieto. O que dar aos pobres na noite da festa do nascimento do Senhor? Ora, festas e banquetes, presentes e roupas novas, celebrações litúrgicas sofisticadas, apenas para os ricos da nobreza e da burguesia, porém Francisco e sua companheira Clara já haviam deixado este mundo para trás há algum tempo e não voltariam para ele.

O pobrezinho de Assis, ora meditava, ora dançava ao som das estrelas, ora pregava às borboletas, silenciava às vezes e noutras conversava com seus irmãos. Estava em comunhão plena com o Criador e todas as criaturas, e via em cada pobre o rosto de seu amado Jesus. Mas o Natal se aproximava e o que dar aos pequeninos?

Inspirado como ele só, pois Francisco respirava o Espírito, pensou então em reconstituir a noite luminosa de Belém; mas antes, antes de tudo o que faria daquele instante em diante, ele armou seu presépio interior.

Esvaziou-se de tudo o que não fosse amor (se bem que para ele isso não fosse tão difícil, pois ele assim já vivia), e num movimento de respiração, expirou as preocupações, as aflições, os medos e anseios, a tristeza e a dor, e em moto contínuo inspirou todo o bem que existe no mundo. Foi quando percebeu a linha que une todas as coisas e criaturas entre si e que as une ao Criador, num só movimento, como um sopro translúcido. Percebeu o mistério insondável que se manifestara naquela noite de Belém, quando um Deus incomensurável e glorioso revestiu-se de compaixão pelos humanos e armou sua tenda numa criança frágil e pobre.

Francisco que havia abraçado o leproso, Francisco que havia abandonado todas as riquezas e glórias humanas, Francisco que se escandalizou com o luxo e o poder da Igreja e tomando para si viver na pobreza extrema como a maior forma de contestar este luxo, Francisco que se tornou pobre com os pobres, Francisco que ainda não havia recebido as chagas, neste momento começou a armar o presépio exterior, reflexo e espelho do seu presépio interior.

Dizem que esta noite foi radiante. Os pobres, como em Belém, acorreram todos os da redondeza de Greccio. Alegres armaram o presépio vivo. Certamente as estrelas que ouviram a pregação do louco de Assis e receberam seu brilho, ainda brilham sobre nós. 

O presépio que Francisco montou perdura e jamais deve ser desmontado dentro de nós, mesmo e principalmente no decorrer dos anos de nossas vidas, pois quando estivermos cansados, deprimidos, amedrontados, inseguros, em meio a uma tempestade ou mesmo numa calmaria, sempre poderemos olhá-lo e ver um menino envolto em panos pobres, ao lado da Mãe e de José, mergulhado em profunda comunhão com a natureza, a nos acenar e sorrir docemente. Então nos sentiremos mais perto de Deus, tão perto como nunca nenhum outro se sentiu.

Um Natal pleno de luz e repleto de paz dentro de nós e nas nossas casas, transbordando de compromisso com os marginalizados. Um Deus que se fez criança acena e sorri com ternura para todos e se faz natal todos os dias do ano. 

Feliz Natal a todos ! Paz e bem!

sábado, 24 de dezembro de 2016

ARTIGO - A NOITE DE GRECCIO, A NOVA BELÈM





Aproxima-se o maior e mais importante evento da humanidade: o Natal, a Encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. E falando em Natal, vem a recordação de um fato muito caro a nós franciscanos: a noite de Greccio, onde o primeiro presépio foi encenado publicamente.
Do Presépio que fez no dia do Natal do Senhor.

Sua maior aspiração, seu mais vivo desejo e mais elevado propósito era observar o Evangelho em tudo e por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os "passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina". Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas.

Precisamos recordar com todo respeito e admiração, o que fez no dia de Natal, no povoado de Greccio, três anos antes de sua gloriosa morte. Havia nesse lugar um homem chamado João, de boa fama e vida ainda melhor, a quem São Francisco tinha especial amizade porque, sendo muito nobre e honrado em sua terra, desprezava a nobreza humana para seguir a nobreza de espírito.


Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como costumava fazer, e disse: "Se você quiser que celebremos o Natal em Greccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que eu vou dizer. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro". Ouvindo isso, o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou no lugar indicado o que o Santo tinha pedido.

E veio o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram chamados os Irmãos. Homens e mulheres do lugar, coração em festa, prepararam como puderam tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim, chegou o Santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade.

A noite ficou iluminada como o dia : era um encanto para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em uma alegria toda nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava. O Santo estava diante do presépio a suspirar, cheio de piedade e de alegria. A Missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote sentiu uma consolação jamais experimentada.

O Santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora o Santo Evangelho. De fato, era "uma voz forte, doce, clara e sonora", convidando a todos às alegrias eternas. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas doces como o mel, sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém. Muitas vezes, quando queria nomear Cristo Jesus, chamava-o também com muito amor de "Menino de Belém", e pronunciava a palavra "Belém" como o balido de uma ovelha, enchendo a boca com a voz e mais ainda com a doce afeição. Também estalava a língua quando falava "Menino de Belém" ou "Jesus", saboreando a doçura dessas palavras.

Multiplicaram-se nesse lugar os favores do Todo-Poderoso, e um homem de virtude teve uma visão admirável. Pareceu-lhe ver deitado no presépio um bebê sem vida, que despertou quando o Santo chegou perto. E essa visão veio muito a propósito, porque o menino Jesus estava de fato esquecido em muitos corações, nos quais, por sua graça e por intermédio de São Francisco, ele ressuscitou e deixou a marca de sua lembrança. Quando terminou a vigília solene, todos voltaram contentes para casa.

Guardaram a palha usada no presépio para que o Senhor curasse os animais, da mesma maneira que tinha multiplicado sua santa misericórdia. De fato, muitos animais que padeciam das mais diversas doenças naquela região comeram daquela palha e ficaram curados. Mais: mulheres com partos longos e difíceis tiveram um resultado feliz, colocando sobre si mesmas um pouco desse feno. Da mesma sorte, muitos homens e mulheres conseguiram a cura das mais variadas doenças.

O presépio foi consagrado a um templo do Senhor e no próprio lugar da manjedoura construíram um altar em honra de nosso pai São Francisco e dedicaram uma igreja, para que, onde os animais já tinham comido o feno, passassem os homens a se alimentar, para salvação do corpo e da alma, com a carne do cordeiro imaculado e incontaminado, Jesus Cristo Nosso Senhor, que se ofereceu por nós com todo o seu inefável amor e vive com o Pai e o Espírito Santo eternamente glorioso por todos os séculos dos séculos. Amém. Aleluia, Aleluia. (Bv. Tomás de Celano, Vida primeira de São Francisco, nºs 84-87).

O que queria exatamente o Pai Seráfico mostrar tal apresentação? Seria apenas um "capricho" dos últimos anos de sua vida? Apenas um gesto simbólico? Ou não haveria algo mais profundo escondido na penumbra deste evento? Não quis porventura São Francisco mostrar aos homens onde é o Greccio de cada um e onde realmente ocorre o Natal par cada homem de boa vontade? Mas, então, onde estava o Greccio que Francisco quis mostrar? 

Onde é possível a cada ser humano poder receber em seus braços o Menino Deus? Onde a sagrada Família encontra seu pouso após passar por tantas hospedarias e não encontrar nenhuma vaga e receber tantos nãos? Greccio é o coração do ser humano, a manjedoura humilde e simples que o Menino Deus busca a cada ano para poder nascer. É este o lugar privilegiado e sagrado que o Senhor busca para encarnar-se e iniciar uma experiência, uma história de amor com cada um de nós. 

Como, então, está nosso Greccio? Em breve ecoará a mais bela notícia: o Menino nasceu... E ele quer estar reclinado, sim, na ínfima manjedoura de nossos corações! Apressemo-nos, portanto, e preparemo-nos para recebê-lo.

 T  Frei Carlos Guimarães,OFMConv.(Reflexões Franciscanas)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Especial: O Natal na mística franciscana


O Milagre de Natal na Vida de Clara de Assis


A Grande experiência de Clara com Deus foi em março de 1212. Na noite do domingo de Ramos, Clara di Favarone foge de casa e é recebida na Porciúncula por Francisco de Assis. Talvez em maio Clara fica alguns dias no mosteiro de São Paulo e algumas semanas no mosteiro beneditino de Panzo (perto de Assis) e por fim recolhe-se a São Damião, onde fica até a sua morte, em 1253.

Clara viveu uma vida de discipulado, oração e jejum. Foi um exemplo de discípula dedicada ao Ministério da Oração e Intercessão.

Certa vez Clara estava gravemente enferma. Por causa de sua enfermidade, não pode ir a igreja com as suas irmãs em Cristo.

Estava chegando o grande dia da solenidade do Natal de Cristo. Todas as irmãs foram ao Culto da Madrugada (Matinas);
Clara ficou sozinha no leito, triste por não poder ir ao Culto de Natal que simbolizava para ela uma consolação espiritual.

O Senhor Jesus Cristo não querendo deixá-la assim desconsolada, fê-la miraculosamente transportar à igreja e assistir a todo o ofício e o à missa da meia-noite; e além disto, receber a santa ceia e depois ser trazida ao leito. Foi um acontecimento espiritual.

Voltando as irmãs para junto de Clara, acabado o oficio na Igreja, disseram-lhe: "Ó nossa mãe, Clara, que grande consolação tivemos nesta noite de santa Natividade! Prouvesse a Deus que houvésseis estado conosco!"

Clara respondeu: "Graças e louvores rendo ao meu Senhor Cristo bendito, irmãs minhas e filhas caríssimas; porque a todas as solenidades desta santíssima noite e maiores do que as que assististes, assisti eu com muita consolação de minha alma; porque, estive presente na igreja; e com os meus ouvidos corporais e mentais ouvi o canto e o som dos órgãos que aí tocaram; e lá mesmo recebi a santa comunhão. E por tanta graça a mim concedida rejubilai-vos e agradecei a Nosso Senhor Jesus Cristo."

Clara participou do Culto de Natal na Igreja, mesmo não podendo estar presente por causa das enfermidades.

É assim que Deus opera na vida da pessoa que crê em Jesus Cristo. Nada pode limitar nossa caminhada na fé, mesmo as maiores lutas e enfermidade.

Oração:
Senhor Jesus. Nesta santa noite de Natal desejamos reafirmar nossa fé perseverante no Senhor. Em ti transpomos barreiras e obstáculos. Com o Senhor conseguimos caminhar mesmo estando em lutas e aflições. O Senhor nasceu. Por causa do Seu nascimento, vida, morte e ressurreição, temos o perdão dos pecados e a vida eterna. Louvado seja o Pai, Filho e espírito Santo. Amém

Rev. Edson Cortasio Sardinha

Fonte Biográfica: OS FIORETTI DE S. FRANCISCO DE ASSIS: Capítulo 35. Como, estando enferma, S. Clara foi miraculosamente transportada, na noite de Natal, à igreja de S. Francisco e aí assistiu ao ofício

Especial: O Natal na mística franciscana



A MENSAGEM FRANCISCANA DO PRESÉPIO

Por Frei Vitório Mazzuco Fº

Segundo a tradição, a primeira representação visualizada, teatralizada e celebrada de um presépio aconteceu no ano de 1223, num bosque próximo de Greccio, na Úmbria, região italiana. Quem tomou esta iniciativa foi Francisco de Assis, e ,com isso, ele passa a ser o primeiro a organizar de um modo plástico a cena da Encarnação do Filho de Deus.

Não é de se discutir se o fato é verídico ou legendário, pois Francisco de Assis foi um apaixonado pelo modo como Deus fez morada no mundo dos humanos, e certamente, mais do que palavras quis mostrar o maior evento de todos os tempos: na carne de um Menino, Deus está para sempre no meio de nós. Vejamos o texto das Fontes Franciscanas: “A mais sublime vontade, o principal desejo e supremo propósito dele era observar em tudo e por tudo o Santo Evangelho, seguir perfeitamente a doutrina, imitar e seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo com toda a vigilância, com todo o empenho, com todo o desejo da mente e com todo o fervor do coração.

Recordava-se em assídua meditação das palavras e com penetrante consideração rememorava as obras dele. Principalmente a humildade da encarnação e a caridade da paixão de tal modo ocupavam a sua memória que mal queria pensar outra coisa. Deve-se, por isso, recordar e cultivar em reverente memória o que ele fez no dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, no terceiro ano antes do dia de sua gloriosa morte, na aldeia que se chama Greccio. Havia naquela terra um homem de nome João, de boa fama, mas de vida melhor, a quem o bem-aventurado Francisco amava com especial afeição, porque, como fosse muito nobre e louvável em sua terra, tendo desprezado a nobreza da carne, seguiu a nobreza do espírito. E o bem-aventurado Francisco, como muitas vezes acontecia, quase quinze dias antes do Natal do Senhor, mandou que ele fosse chamado e disse-lhe: ‘Se desejas que celebremos, em Greccio, a presente festividade do Senhor, apressa-te e prepara diligentemente as coisas que te digo. Pois quero celebrar a memória daquele Menino que nasceu em Belém e ver de algum modo, com os olhos corporais, os apuros e necessidades da infância dele, como foi reclinado no presépio e como, estando presentes o boi e o burro, foi colocado sobre o feno’. O bom e fiel homem, ouvindo isto, correu mais apressadamente e preparou no predito lugar tudo o que o santo dissera.

E aproximou-se o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. Os irmãos foram chamados de muitos lugares; homens e mulheres daquela terra, com ânimos exultantes, preparam, segundo suas possibilidades, velas e tochas para iluminar a noite que com o astro cintilante iluminou todos os dias e anos. Veio finalmente o santo de Deus e, encontrando tudo preparado, viu e alegrou-se. E, de fato, prepara-se o presépio, traz-se o feno, são conduzidos o boi e o burro. Ali se honra a simplicidade, se exalta a pobreza, se elogia a humildade; e de Greccio se fez com que uma nova Belém. Ilumina-se a noite como o dia e torna-se deliciosa para os homens e animais. As pessoas chegam ao novo mistério e alegram-se com novas alegrias. O bosque faz ressoar as vozes, e as rochas respondem aos que se rejubilam. Os irmãos cantam, rendendo os devidos louvores ao Senhor, e toda a noite dança de júbilo. O santo de Deus está de pé diante do presépio, cheio de suspiros, contrito de piedade e transbordante de admirável alegria.” (Cel 30,4).
Sob a inspiração deste fluo, baseando-se nas Fontes Franciscanas, toda a celebração de Natal ganha um novo vigor interpretativo e celebrativo em toda Itália, da Itália para a Europa e da Europa para o mundo. A cidade de Nápoles transforma a cena de Natal num movimento artístico, e a partir dali e dos anos 1700, o presépio é pura arte.

Unindo a Palavra de Deus, a representação artesanal e o folclore, os presépios vão destacando as típicas figuras regionais, e unem fé e beleza estética. As missões franciscanas levam o presépio para o mundo, e assim, cultura local e tradição cristã mostram o maior feito histórico da cristandade.

O presépio tem a forma dos momentos culturais: barroco, colonial, rococó, renascentista, moderno, vanguardista, arte popular, oriental, latino-americano, indiano e africano. O Deus Menino está no campo, na cidade, nas tendas, favelas e arranha-céu; está no centro urbano e na periferia. Une a força do sinal, do sacramental, do sagrado, da teologia da imagem, a fala da fé.

Nos presépios temos a harmonia das diferenças. O mundo do divino encontra-se com o mundo do humano. A grandeza, a onipotência de um Deus revela-se na fragilidade de uma criança. Ali o mundo animal, ovelhas, boi, burro, queda-se contemplativo abraçado pelo silêncio do mundo mineral: pedras e presentes. Há também o toque brilhante daquela Estrela Guia aproximando o mundo sideral.
As plantas formam o colorido arranjo do mundo vegetal. Anjos e pastores, um pai sonhador e uma mãe silente que guarda tudo no coração; afinal todos são conduzidos pelo mesmo mistério. O curioso e controlador mundo do poder representado pelos Reis Magos vem conferir. Fazer presépios é unir mundos! Aquele Menino fez-se Filho do Humano: veio experimentar a nossa cultura, o nosso jeito, a nossa consangüinidade.

Num presépio cabe todos os rostos! É o grande encontro dos simples, dos normais, dos marginais, dos ternos, fraternos, sofridos e excluídos. Quando o diferente se encontra temos a mais bela paisagem do mundo. Tudo se torna transparente na unidade das diferenças. Num presépio não existe preconceito, existe sim aquela silenciosa e calma contemplação da beleza de cada um, de cada uma. Encarnar-se é morar junto e respeitar o diferente! Paz na Terra aos Humanos de vontade boa e bem trabalhada! Isso é que encantou Francisco de Assis!

O presépio nos lembra que Deus não está no mercado das crenças, nem no apelo abusivo do comércio natalino que faz uma profanização deste universo de símbolos: pinheiros e estrelas, animais e pastores, presépios variados. Deus nem sempre está nas igrejas e nem nas bibliotecas; mas Ele está num coração que pulsa de Amor. Esta é a sacralidade inviolável do Natal: Deus está no seu grande projeto, que é Humanizar-se, fazer valer o Amor, Encarnar o Amor!

Deus não está na violência e nem onde se atenta contra a vida. Deus não está no orgulho dos poderosos nem entre os caçadores de privilégios hierárquicos. Mas Ele está na leveza deste Menino, Filho do Pai Eterno, a grande síntese das naturezas humana e divina.

Ele está aqui na mais bela doação do Sim de José e de Maria. Quando há disponibilidade, todo sonho é fecundo. Ele está onde se faz um presépio: lugar do Bem e da Beleza. É o grande momento de refletir este presente que ele nos dá. Isso é que encantou Francisco de Assis!
O Amor tem que ser Amado! A Verdade e a Beleza têm que ser apreciadas. Este é o lugar de Luz no meio das sombras humanas. A luz vale mais do que todas as trevas. Deus está ali com você e com Francisco diante do presépio, e abraçando você com silêncio, paz, harmonia, serenidade; acolhendo você e passando-lhe Onipresença, Onipotência eterna para a fragilidade da criatura. No presépio, Deus olha você, pessoa humana, contemplando a suprema humildade da Pessoa Divina.

Artigo “A Mensagem Franciscana do Presépio, da Revista Franciscana, uma publicação da FFB

Fonte: http://www.franciscanos.org.br

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Especial - O Natal na mística franciscana


O Natal ao modo de Francisco de Assis

Por Frei Edson Matias, OFMCap.

A espiritualidade franciscana está fundamentada em três momentos da vida de Jesus: nascimento, eucaristia e cruz. Aproximamos nesses dias de um desses pilares que é o Natal. Francisco quis celebrar o Natal diferentemente. Quis vivenciá-lo. Na espera da solenidade pediu para organizar a festa.

Francisco colocou animais e pessoas em um presépio vivo para despertar em si e em todos as sensações daquele momento. Ele quis vivenciar, ‘fazer experiência’. Quis sentir em seu próprio corpo como foi/é o nascimento do salvador. O santo não busca simplesmente entender com a mente, com construções teóricas e/ou doutrinais estabelecidas. Em sua simplicidade quer ‘ver’. Francisco é afeto. Quer vislumbrar, sentir em si a doçura do menino Deus.

Ao debruçar sobre a manjedoura devia querer/fazer a mesma vivência que teve com o leproso. Quis se colocar no lugar, ‘ver’ nos olhos do menino, como nos do leproso, o reflexo de Deus revelado. Na manjedoura pôde contemplar – sem formular qualquer ideia – a gratuidade de Deus e estende-la a toda criação.

A gratuidade de todas as coisas no resplendor do modo de ser de Deus. O rio que corre, a flor que desabrocha, o pássaro que voa, etc.. Todas as coisas em harmonia. Essas não procuram ser vistas ou admiradas, simplesmente são. Assim se apresentou Deus a Francisco. Um Deus diferente dos dogmas, dos grandes discursos, mas um Divino de poucas palavras e de grande envolvimento afetivo.

O natal é este tempo do resgate dessa vivência originária de nosso carisma. Aquilo que foi despertado em Francisco de Assis está bem ali em ‘Belém’. Em um estábulo, gratuitamente, nasce nosso Salvador. Não é um deus-rei rico ou poderoso. Não nasce em berço de ouro ou em palácio. O Reino de Deus se fez na manjedoura, no lava pés e na cruz. Na ‘história’ de Jesus não há trono, não há ‘reino’, nem servos subservientes. O imaginário religioso franciscano deve purificar-se de toda tentativa de fazer de Jesus um Imperador aos moldes dos cargos imperiais e estadistas. Somente assim se conseguirá adentrar no modo de operar do Espírito intuído pelo pobrezinho de Assis.

A celebração do natal nos leva a contemplar os grandes mistérios de Deus. Este Jesus próximo, humano, que nos dignifica, humaniza e diviniza. Presépio, lava pés e cruz, nosso modo de ser franciscano, revelando a maneira de agir de Deus: a gratuidade.


Que neste natal possamos aprender com a gratuidade de Deus revelado no presépio. Que
nosso coração esteja aberto para esse menino que nasce. 

T

Santa franciscana do dia - 22/12 - Santa Francisca Xavier Cabrini


Virgem da Terceira Ordem (1850-1917)
Fundadora das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus. Canonizada por Pio XII no dia 7 de julho de 1946.

  
Nascida a 17 de julho de 1850 em S. Ângelo Lodigiano, de uma família de agricultores, tinha bebido, do ambiente e das pessoas que a cercavam, uma fé autêntica, vivida cotidianamente. Francisca Cabrini foi a penúltima de quinze filhos de Antônio e Estela. Desde pequena se entusiasmava ao ler a vida dos santos. A preferida era a de São Francisco Xavier, a quem venerou tanto que assumiu seu sobrenome, se auto-intitulando Xavier. Sua infância e adolescência foram tristes e simples, cheia de sacrifícios e pesares.

Franzina, de saúde fraca, não conseguiu ser aceita nos conventos. Apesar disso, era dona de uma alma grandiosa, digna de figurar entre os santos. Assim pode ser definida santa Francisca Cabrini, com sua vida voltada somente para a caridade e o bem do próximo.

Sua formação pessoal e profissional desenvolveu-se nos anos das guerras da independência e das lutas políticas, que trouxeram a unificação da Itália; lutam que sacudiram também o quieto curso da vida provinciana e nela inseriram elementos insatisfeitos e contrastes entre grupos opostos.

Foi educada com firmeza e fidelidade aos princípios da fé, na obediência à Igreja e aos seus representantes e sua fé tornou-se para ela em estilo de vida, sempre animado e alimentado pelo vivo desejo de transmitir a riqueza do conhecimento de Cristo e de sua mensagem de amor e salvação. Como professora teve sempre em mira a formação da pessoa, cuidando do desenvolvimento dos valores humanos e cristãos com o método da simplicidade e da clareza, do respeito ao outro, que procura convencer, sem impor.
Francisca, porém, gostava tanto de ler e se aplicava de tal forma nos estudos que seus pais fizeram o possível para que ela pudesse tornar-se professora.

Mal se viu formada, porém, encontrou-se órfã. No prazo de um ano perdeu o pai e a mãe. Enquanto lecionava e atuava em obras de caridade em sua cidade, acalentava o sonho de entregar-se de vez à vida religiosa. Aos poucos, foi criando coragem e, por fim, pediu admissão em dois conventos, mas não foi aceita em nenhum. A causa era a sua fragilidade física. Mas também influiu a displicência e o egoísmo do padre da paróquia, que a queria trabalhando junto dele nas obras de caridade da comunidade.

Francisca, embora decepcionada, nunca desistiu do sonho. Passado o tempo, quando já tinha trinta anos de idade, desabafou com um bispo o quanto desejava abraçar uma obra missionária e esse a aconselhou: “Quer ser missionária? Pois se não existe ainda um instituto feminino para esse fim, funde um”. Foi, exatamente, o que ela fez.

Com o auxílio do vigário, em 1877 fundou o Instituto das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, que colocou sob a proteção de são Francisco Xavier. Ainda: obteve o apoio do papa Leão XIII, que apontou o alvo para as missões de Francisca: “O Ocidente, não o Oriente, como fez são Francisco”. Era o período das grandes migrações rumo às Américas por causa das guerras que assolavam a Itália. As pessoas chegavam aos cais do Novo Mundo desorientadas, necessitadas de apoio, solidariedade e, sobretudo, orientação espiritual. Francisca preparou missionárias dispostas e plenas de fé, como ela, para acompanhar os imigrantes em sua nova jornada.

Tinham o objetivo de fundar, nas terras aonde chegavam, hospitais, asilos e escolas que lhes possibilitassem calor humano, amparo e conforto.

Em trinta anos de intensa atividade, Francisca Cabrini fundou sessenta e sete Casas na Itália, França e nas Américas, no Brasil inclusive. Mais de trinta vezes cruzou os oceanos aquela “pequena e fraca professora lombarda”, que enfrentava, destemida, as autoridades políticas em defesa dos direitos de seus imigrantes nos novos lares.

Madre Cabrini, como era popularmente chamada, morreu em Chicago, Estados Unidos, em 22 de dezembro de 1917. Solenemente, seu corpo foi transportado para New York, onde o sepultaram na capela anexa à Escola Madre Cabrini, para ficar mais próxima dos imigrantes. Canonizada em 1946, santa Francisca Xavier Cabrini é festejada no mundo todo, no dia de sua morte, como padroeira dos imigrantes.


Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Especial - O Natal na mística franciscana


Francisco e o presépio

Nós todos aprendemos a gostar de São Francisco ao longo de nossa vida. Encontramos vestígios dele no rosto de certos irmãos e de muitas irmãs. Difícil dizer o que mais encanta. Tudo nele é força na fragilidade e ternura vigorosa. Por vezes, por vezes mesmo, ele nos lembra Cristo Jesus. Os dois se parecem demais.

Gostamos de vê-lo, simples, despojado, caminhando pelas ruas, dizendo que o Amor não é amado. Vai gastando todas as suas energias para dizer a todos os homens que será preciso mudar o coração, fazer penitência.

Ficamos extasiados ao vê-lo passar horas, noites e dias em oração. Ele é o amante das grutas e dos espaços virgens onde a mão humana pouco se faz presente. A impressão que se tem é que Francisco faz sua vida desenrolar-se continuamente na presença de Deus. Ele não é homem de oração. No dizer de Celano, ele é a própria oração. Tarefa alguma pode fazer com que venhamos a perder o espírito de oração e da santa devoção. Por sua vida, ele assim nos ensina.

Gostamos de freqüentar Greccio, nossa Belém. Nunca ninguém soube tão bem festejar o nascimento de Deus na terra dos homens: palha, despojamento, frades encantados e extasiados, homens e mulheres com tochas acesas e Francisco, feito um dançarino de Deus, cantando a glória do Menino das Palhas, no Menino Pobre, do Deus que se toma criança.

Gostamos de nos sentar contemplativamente diante da rudez e majestade do La Verna. Frei Francisco, Frei Leão, o irmão falcão, os abismos, o verde, o serafim e as chagas de Jesus na carne de Francisco nos envolvem e nos encantam.

Gostamos de ver Francisco caminhando pelas terras da Úmbria atrás dos leprosos, dos mais abandonados, fazendo-se amorosamente presente na vida das pessoas.

Por vezes, gostamos de imaginar esse bando de gente simples, de pés no chão, de braços alevantados, estes frades com Francisco, louvando o Senhor, deixando que o sol, que o Irmão Sol lhes queimasse o rosto e sendo acariciados pelo suave Irmão vento ou pela Irmã Brisa. Gostamos de ver chegar Irmã Jacoba nos derradeiros momentos, trazendo a mortalha do Pai e aqueles doces de amêndoa que só ela sabia fazer e de que ele tanto gostava. Gostamos do Francisco humano, verdadeira e belamente humano.

Gostamos de ver Francisco como aquele que tudo descomplica: sem preocupações mundanas, sem bens materiais, sem cultivo do ego, sem vontade de aparecer, não reclamando nada.

A impressão que se tem é que Cristo veio outra vez viver entre nós na delicada e vigorosa figura de Francisco de Assis.

Texto extraído do livro “Por que todos andam atrás de ti?”, de Frei Almir Ribeiro Guimarães. Publicação da FFB, 2005

Frei Almir Ribeiro Guimarães, ofm

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/

Reflexão - O Verdadeiro presépio.



Está bem próximo dos dias da grande festa do nascimento de Jesus! Não se esqueça de convidá-lo para sua casa, para sua ceia, para sua família… A festa do natal só terá sentido se nos levar a pensar n’Aquele que veio do céu para fazer um encontro transformador com cada um de nós…

Jesus, o Filho de Deus, ‘desce’ do céu para fazer morar no meio de nós. E isso deve modificar completamente nossa maneira de pensar, de agir, de acreditar! Esta é a experiência mais fantástica que poderíamos ter: Deus vem até nós, Deus se faz um de nós, Deus é conosco: seu nome é Emanuel! Então, disponha seu coração para que ele seja um verdadeiro presépio para Jesus nascer e reinar!


Frei Paulo Sérgio, ofm

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Especial: O Natal na mística franciscana


Presépio e a eucaristia.


A conjunção Belém-Greccio, manjedoura-altar já estava presente na liturgia natalina e também na tradição literário-eclesiástica. De fato, percorrendo o tesouro dos escritos eclesiásticos que nos foram legados pelos séculos anteriores, ficamos impressionados em encontrar repetidas vezes a presença da ligação entre Belém e o altar eucarístico. Como em Belém, assim também Jesus desce entre os homens. 

Em Belém os pastores trouxeram seus dons. Os fiéis, por sua vez, acorrem com suas ofertas ao altar.
A aproximação entre Belém e eucaristia, aliás, é facilmente intuível. “Belém” significa “casa do pão”. O próprio Jesus se tinha definido como “pão descido do céu”, o “pão da vida”, destinado a nutrir seus fiéis no santo sacrifício. Logo que nasceu foi colocado no presépio, isto é, na manjedoura dos animais. Parece que esta circunstância tenha levado antes de tudo os escritores sacros e os oradores da época a vislumbrar ali uma imagem da eucaristia.

Na liturgia do Natal do assim dito Sacramentário gregoriano anualmente ocorria o seguinte texto: “Este que é o pão dos anjos, no presépio da Igreja se tomou alimento dos animais que crêem”.
De fundamental importância também, porque muito usada, é a glosa ordinária a respeito da Sagrada Escritura (século IX) que, comentando São Lucas, explica: “posto no presépio, isto é, o corpo de Cristo no altar”. Aelredo de Rielvaux (abade cistercense do século XII) escreve: “O presépio de Belém, o altar da Igreja… Não temos nenhum sinal tão grande e evidente do nascimento de Cristo, quanto seu corpo e sangue que diariamente comemos no santo altar. Aquele que uma vez nasceu da Virgem, vemo-lo cotidianamente imolado por nós. Por isso, irmãos, acorramos com presteza ao presépio do Senhor….”. 

A analogia entre Belém e o altar eucarístico ocorre ainda em outros autores do século XII, como Honório de Autun, Hugo de São Vítor, São Bernardo, Zacarias Crisopolitano, Guarnério de Rochefort, Guerrico de Igny. Este último assim se exprime num sermão natalino: “Irmãos, vós também hoje encontrareis um menino envolto em panos e colocado no presépio do altar”. Pedro de Blois, quase contemporâneo de São Francisco, exprime-se mais ou menos com as mesmas palavras: “Irmãos, embora não sejais pastores, hoje vereis o nosso pequeno, que muitos reis e muitos profetas quiseram ver, havereis de vê-lo colocado no presépio do altar, não em aparência de glória, mas envolto em panos”. A idéia do presépio eucarístico, comum a escritores e oradores daquela época, foi retomada, como é fácil perceber, por miniaturistas e artistas, escultores e pintores. A originalidade de Francisco foi de traduzir de forma plástica, simples e realista, ao alcance de todos, a atualização do mistério do nascimento histórico no mistério sacramental da eucaristia.

Não se pode dizer que, para Francisco bem como para os outros autores citados a esse respeito, a atualização do nascimento de Cristo no mistério da Eucaristia seja entendida em sentido indireto, porque o sacramento da eucaristia atualiza direta e propriamente o sacrifício da cruz e o mistério da ceia.

Texto do “Dicionário Franciscano”, uma publicação da Editora Vozes/Cefepal

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Especial: O Natal na mística franciscana



Francisco prepara um presépio no dia de Natal

Sua maior intenção, seu desejo principal e plano supremo era observar o Evangelho em tudo e por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os “passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina”. Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas.

Precisamos recordar com todo respeito e admiração o que fez no dia de Natal, no povoado de Greccio, três anos antes de sua gloriosa morte. Havia nesse lugar um homem chamado João, de boa fama e vida ainda melhor, a quem São Francisco tinha especial amizade porque, sendo muito nobre e honrado em sua terra, desprezava a nobreza humana para seguir a nobreza de espírito. Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como costumava, e disse: “Se você quiser que nós celebremos o Natal de Greccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que vou dizer. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”. Ouvindo isso, o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou o que o santo tinha dito, no lugar indicado.

Aproximou-se o dia da alegria e chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram chamados os irmãos: homens e mulheres do lugar, de acordo com suas posses, prepararam cheios de alegria tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim, chegou o santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade.

A noite ficou iluminada como o dia e estava deliciosa para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em sua alegria toda nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava. O santo parou diante do presépio e suspirou, cheio de piedade e de alegria. A missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote que a celebrou sentiu uma piedade que jamais experimentara até então.

O santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora o santo Evangelho. De fato, era “uma voz forte, doce, clara e sonora”, convidando a todos às alegrias eternas. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas maravilhosas sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém. Muitas vezes,-quando queria chamar o Cristo* de Jesus, chamava-o também com muito amor de “menino de Belém”, e pronunciava a palavra “Belém” como o balido de uma ovelha, enchendo a boca com a voz e mais ainda com a doce afeição. Também estalava a língua quando falava “menino de Belém” ou “Jesus”, saboreando a doçura dessas palavras.

Multiplicaram-se nesse lugar os favores do Todo-Poderoso, e um homem de virtude teve uma visão admirável. Pareceu-lhe ver deitado no presépio um bebê dormindo, que acordou quando o santo chegou perto. E essa visão veio muito a propósito, porque o menino Jesus estava de fato dormindo no esquecimento de muitos corações, nos quais, por sua graça e por intermédio de São Francisco, ele ressuscitou e deixou a marca de sua lembrança. Quando terminou a vigília solene, todos voltaram contentes para casa.

Guardaram a palha usada no presépio para que o Senhor curasse os animais, da mesma maneira que tinha multiplicado sua santa misericórdia. De fato, muitos animais que padeciam das mais diversas doenças naquela região comeram daquela palha e tiveram um resultado feliz. Da mesma sorte, homens e mulheres conseguiram a cura das mais variadas doenças.

O lugar do presépio foi consagrado a um templo do Senhor e no próprio lugar da manjedoura construíram um altar em honra de nosso pai Francisco e dedicaram uma igreja, para que, onde os animais já tinham comido o feno, passassem os homens a se alimentar, para salvação do corpo e da alma, com a carne do cordeiro imaculado e não contaminado, Jesus Cristo Nosso Senhor, que se ofereceu por nós com todo o seu inefável amor e vive com o Pai e o Espírito Santo eternamente glorioso por todos os séculos dos séculos. Amém. Aleluia, Aleluia.

Tomás de Celano – Primeiro Livro (Fontes Franciscanas)

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sábado, 17 de dezembro de 2016

Especial: O Natal na mística franciscana



São Francisco e o Natal


Para São Francisco, o Natal é a festa das festas, porque o Filho de Deus se revestiu da verdadeira carne da nossa frágil humanidade, para a nossa salvação; e por isso quer que seja celebrado com alegria e generosidade para com os pobres e mesmo para com todos os animais. Numa singular intuição une e funde o mistério da encarnação, na pobreza e humildade, com a eucaristia.

Por isso quer “ver”, com os próprios olhos do corpo, o Natal da celebração eucarística, e criar um ambiente sugestivo para um encontro real com Jesus eucarístico, acolhido na humildade de uma gruta. Assim é o presépio de Greccio, no Natal de 1223. Aquilo que Francisco quer ver e fazer entender é a pobreza-humilhação do Filho de Deus na sua vinda ao mundo, tal qual acontece diariamente na eucaristia. O binômio Belém-eucaristia é de tradição bem mais antiga, que vê o altar como presépio.

Francisco tem a originalidade de atualizá-lo em formas plásticas e simples, ao vivo. Seu desejo era o de fazer nascer Jesus menino e as suas virtudes nos corações de todos e o de fazer “ver” o momento da salvação no Natal-eucaristia.

O mérito de São Francisco não foi o de ter inventado uma cena que todos poderiam reproduzir, mas o de ter mostrado com que sentimentos de coração devemos nos acercar do Menino Jesus.

Cesarius Van Hulst 

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/

Franciscano do dia - 17/12 - Bem-aventurado João de Montecorvino


Arcebispo de Pequim, da Primeira Ordem (1244-1328).

João de Montecorvino, da Ordem dos Frades Menores (em italiano, Giovanni da Montecorvino) (Montecorvino, 1247 – Pequim, 1328) foi um missionário italiano, considerado o primeiro apóstolo da China. Foi o primeiro arcebispo do Oriente, tendo sido investido como Arcebispo de Khanbaliq e Patriarca de Todo o Oriente. Atualmente, é venerado como um beato da Igreja Católica.

Em 1279, foi enviado à Armênia, Pérsia e Oriente Médio, junto com outros franciscanos. Em 1289, retornou para a Itália, tendo realizado poucas conversões. Em 1286, Arghun Khan pediu, por meio do bispo Nestoriano Rabban Bar Sauma, que o Papa Honório IV enviasse missionários para a China, para a corte de Kublai Khan, que era um simpatizante do cristianismo. 

Montecorvino foi enviado para Khanbaliq, onde atualmente está Pequim, na mesma época que Marco Polo.

Viajou com cartas ao Arghun Khan, para o grande imperador Kublai Khan, para Kaidu, Príncipe dos Tártaros, ao rei da Armênia e ao Patriarca dos Jacobitas. Nessa viagem, foram seus companheiros o dominicano Nicolau de Pistóia e o comerciante Pedro de Lucalongo. Ele chegou a Tabriz (no Azerbaijão Iraniano), a principal cidade da Pérsia Mongol, se não de toda a Ásia Ocidental.

Dali, partiram por mar para Madras, na baía de Bengala, na Índia, onde já havia os Cristãos de São Tomé. Ali, Nicolau de Pistóia veio a falecer. Em 1291 ou 1292, escreveu para sua família. Passando por São Tomé de Meliapor, chegaria à China em 1294. Chegou na mesma época da morte de Kublai Khan, tendo Temur Khan assumido o trono. Apesar da mudança de governante, não houve oposição do novo Khan quanto às conversões, mas os Nestorianos mostraram-se descontentes. Foi auxiliado na sua obra de evangelização por Arnaldo da Colônia, frade alemão que a ele se reuniu em 1303.

Em 1299, Montecorvino construiu a primeira igreja em Khanbaliq, e em 1305 a segunda, em frente ao palácio Imperial. Nessa época, treinou cerca de cento e cinquenta meninos entre sete e onze anos em latim e grego, além de ensinar salmos e hinos, para formar um coral. Ao mesmo tempo, foi se familiarizando com a língua chinesa. Dessa forma, traduziu para essa língua os salmos e o Novo Testamento. Montecorvino converteu um príncipe nestoriano de nome Jorge, seguidor de Preste João, vassalo do Grande Khan e mencionado por Marco Polo.

João escreveu cartas em 8 de janeiro de 1305 e em 13 de fevereiro de 1306, descrevendo o progresso da missão católica no Extremo Oriente, apesar da oposição Nestoriana; fazendo alusão à comunidade católica fundada por ele na Índia; de um recurso recebido para evangelizar no Reino da Etiópia e ajudar a delinear rotas por terra e mar para “Catai” (o nome dado na altura para o norte da China).

Em 1307, o Papa Clemente V, extremamente satisfeito com o sucesso do missionário, enviou sete bispos franciscanos consagrados para ajudar-lhe na evangelização dos chineses, tendo ordenado João como Arcebispo de Khanbaliq e Patriarca de Todo o Oriente. Destes bispos enviados, apenas três chegaram a salvo na região. Em 1312, mais três bispos franciscanos foram enviados, mas apenas um chegou à Ásia Oriental.

Durante os 20 anos seguintes, a missão continuaria com êxito. Segundo a tradição, Montecorvino teria convertido o Grande Khan Khaishan Kuluk (terceiro governante Yuan, 1307 – 1311). Conseguiu grande êxito na evangelização no Norte e no Leste da China. Além de três igrejas na região de Pequim, ainda estabeleceria missões em Formosa e no porto de Amoy.

Ele traduziu o Novo Testamento para o uigur, além da providenciar cópias de salmos, breviários e hinos para os Öngüt. Ele foi fundamental para o ensino do Latim naquela região, além da formação de coros religiosos, na esperança de que algum daqueles meninos se tornasse padre.

Quando João de Montecorvino morreu em 1328, foi reverenciado como santo (não canonizado). Ele era aparentemente o único bispo medieval europeu trabalhando em Pequim. Mesmo após sua morte, a Missão da China durou mais quarenta anos. Teve um funeral solene, assistido por uma multidão de cristãos e não-cristãos.

Uma embaixada para o Papa Bento XII em Avinhão foi enviada por Toghun Temur, o último imperador mongol da China (dinastia Yuan), em 1336. A embaixada foi liderada por um genovês a serviço do imperador mongol, Andrea di Nascio, e acompanhado por um outro genovês, Andalò di Savignone. Estas cartas da representação do governante mongol, reclamavam da falta de um guia espiritual havia oito anos, desde a morte de Montecorvino e desejaria ardentemente ter um. O Papa respondeu às cartas, e designou quatro eclesiásticos como seu legados para a Corte Khan. Em 1338, um total de 50 eclesiásticos foram enviados pelo Papa para Pequim, entre os quais João de Marignolli.

 Em 1368, é implantada a Dinastia Ming e os mongóis são expulsos da China. Até 1369 todos os cristãos, quer sejam católicos romanos ou nestorianos, foram expulsos pela Dinastia Ming. Seis séculos mais tarde, Montecorvino inspirou um outro franciscano, o Venerável Gabriele Allegra, para ir para a China e completar a primeira tradução da Bíblia católica inteira para a língua chinesa em 1968.

Hoje, a evangelização na China é transmitida através das atividades sociais e caritativas, nas quais o testemunho silencioso, mas vivo, de tantos religiosos, se faz mensagem dos valores do Evangelho de Jesus Cristo. Também pede compromisso o acompanhamento e a formação dos franciscanos na China, onde estão presentes várias congregações femininas e ao menos quatro mil membros da Ordem Franciscana Secular.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Especial: O Natal na mística franciscana




O mundo tornou-se presépio

Frei Regis Daher, ofm

A encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo, mudou o curso da história, o destino do homem e do mundo. O tempo foi fecundado pelo eterno e os atos humanos ganharam uma significação decisiva: nos fatos se constrói a salvação ou a perdição da vida. Crer num Deus que assumiu a condição humana é crer que toda pessoa tem uma dignidade e um valor fundamental, pelo simples fato de viver, porque a vida é sagrada.

Depois de Cristo, tudo tem a ver com Deus: as criaturas, a natureza, as diferentes culturas, as raças, e todas as coisas mais comuns que constituem a vida humana. “Todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada se fez de tudo o que foi feito” (Jo 1,3). Hoje, a encarnação tem um caminho de volta: por meio de cada pessoa e do mundo em que vivemos, podemos descobrir a presença do Deus que assumiu nossas feições e tornou-se um de nós. “Entre nós armou sua tenda e nós vimos sua glória” (Jo 1,14).

Quando São Francisco de Assis, em sua intuição original recriou no presépio de Greccio, a expressão poética do natal, desejava experimentar e reviver na própria carne, o mistério e o encantamento, o amor e a dor, a contradição da glória divina revelada na pobreza do Filho de Deus. Desde então, compor um presépio com figuras e materiais comuns e ordinários, tornou-se um ato de fé, vislumbrando a presença do Deus encarnado em tudo aquilo que constitui a vida. Para contemplar o presépio e nele descobrir a revelação divina no cotidiano humano, há uma condição: é preciso mudar o coração e o olhar, porque o mundo tornou-se presépio.

É este o sentido de compor e imaginar a cena do nascimento de Jesus Cristo nas mais diferentes situações e culturas. É Ele o índio, é Ele o negro, é Ele o pobre, o homem comum na cidade, na favela, no campo… Porque todo ser humano tornou-se sacramento do Filho, e todo lugar e cultura tornaram-se sacramento da manjedoura de Belém. Universal não é o presépio, é sim o mistério da vida que só tem uma morada: o coração humano.

Natal e presépio revelam uma contradição: ao assumir na carne as limitações da vida humana, Deus eliminou toda distância e superou toda separação. Porque é livre, cada pessoa pode não viver nesta mesma dinâmica divina do amor e, de algum modo, vai experimentar o paradoxo de uma vida fechada em si mesma. Natal é linguagem divina. Presépio é pedagogia humana para que, na abertura ao mundo, se possa descobrir o que é essencial. Então seremos capazes de sentir, mesmo na precariedade da vida que, “Deus armou sua tenda entre nós, e vimos sua glória, e da sua plenitude TODOS nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1,14.16).

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/

Franciscano do dia - 16/12 - Bem-aventurado Honorato Kozminski de Biala



Presbítero da Primeira Ordem (1829-1916). Fundador de várias Congregações religiosas.
Beatificado por São João Paulo II no dia 16 de outubro de 1988.

  
O capuchinho polonês Frei Honorato de Biala, no batismo Vencesalu Kozminki, fundador de 17 congregações religiosas ainda atuantes, e mais oito, ou talvez dez que foram extintas, nasceu em Biala Podlaska (Polônia) aos 16 de outubro de 1829. Estevão e Laexandrina Kalh foram seus pais. Frei Honorato faleceu aos 16 de dezembro de 1916 em Nowe-Miasto.

Da família recebeu educação profundamente cristã, e após a escola básica, em sua cidade, fez os estudos ginasiais em Plock. Em 1854 inscreveu-se na Escola Superior de Belas Artes em Varsóvia, onde, influenciado por ideologias iluministas e pelo ambiente ateu, perdeu a fé. Em 1846, suspeito de pertencer a uma organização política duvidosa, foi encarcerado em Varsóvia pela polícia do Czar, onde contraiu tifo e viveu sob o terror da condenação à pena de morte até 27 de março de 1847, quando, contra toda esperança, foi libertado. Contudo, aos 15 de agosto de 1846, festa da Assunção, retornou a fé. Aos 21 de dezembro de 1948, após te lutado contra ele mesmo em deixar sua mãe queridíssima enferma, entrou no noviciado do capuchinho de Luabartow.

Apenas ordenado presbítero, dia 27 de dezembro de 1852, foi professor de sacra eloqüência e de teologia dos clérigos capuchinhos, penitenciário dos hereges convertidos, conselheiro na Província, por um ano superior no convento de Varsóvia e, nos anos 1895 a 1916, comissário geral dos capuchinhos colocados sob a dominação russa. Distinguiu-se, de maneira especial, como pregador e iluminado diretor de espíritos, desde seu tempo de jovem sacerdote, quando, nos anos de 1853-1864, estava empenhado em pregações nas diversas igrejas de Varsóvia. Responsável pelos membros da Ordem Franciscana Secular, não se limitou a promover a vida devocional, mas os quis empenhados numa fervorosa atividade caritativa e social.
Nesse tempo conheceu Sofia Truszkowska, da qual foi seu diretor espiritual.

 Não foi apenas alguém responsável de formar e manter grupos de homens e mulheres dedicados a rezar o rosário, mas os estimulou à atividade caritativa. Após a insurreição contra os russos, em janeiro de 1863, terminada desastrosamente, tendo sido condenadas à extinção todas as ordens religiosas pelo governo, Frei Honorato foi confinado primeiro no convento de Zakroczym, onde permaneceu até 1892, e depois no de Nowe-Miasto. Ele procurou salvar a fé católica e o espírito patriótico de seu povo contra as perseguições czaristas que queriam separar a igreja polonesa da igreja de Roma para inseri-la na instrumentalizada igreja ortodoxa.

Os meios, por ele escolhido para realização de seu projeto, foram a devoção Mariana e a Ordem Franciscana Secular que, com a autorização do Ministro Geral dos capuchinhos, submeteu a uma reformulação radical. Uma vez que a lei civil impedia de fazer apostolado e de receber noviços (assim as congregações religiosas iriam morrendo aos poucos), e quem desejasse ser religioso deveria buscar o exílio em outros países, fr. Honorato proibia de deixar o país a quem lhe pedisse conselho, e orientava a viver os conselhos evangélicos na Ordem Franciscana Secular, assim como se encontravam na vida civil, sem hábito, sem convento, disfarçadamente.

Enquanto isso, Frei Honorato estudava o Evangelho, do qual não só alimentava o espírito, mas buscava também formas de vida religiosa. Tomou como modelo a Sagrada Família de Nazaré. O seu referencial básico, neste modelo, era a vida escondida (aos freis fora vetado a saída do convento) e ele procurou passar esse ideal aos que o procuravam e viviam no mundo. Com termos precisos, prescreveu esse projeto de vida em todas as constituições e nos diretórios dos institutos de vida consagrada que ele ia fundando para viverem no mundo. Para ele, a vida escondida não é exigência contingente imposta pelas particulares contingências sócio-políticas em que vivia a Polônia, naquele momento, mas sim um postulado do Evangelho. Por isso, escreveu: Nestas congregações é observada a vida escondida aos olhos do mundo. 

Esse modo de viver a vida religiosa não é sugerida somente por motivos de prudência ou de necessidade, mas pelo empenho de imitar a vida escondida da Virgem. Esta forma, que não está sujeitada às vicissitudes das circunstâncias externas sociais e políticas, é voluntariamente escolhida por cada um porque ela é amável em si mesma, porque permite maior glória de Deus, mais fácil progresso espiritual e mais segura salvação.
No confessionário de Zakroczim nasceram numerosos institutos ou congregações, cada uma delas, buscando atingir aspectos particulares da vida: os intelectuais, os jovens, os operários de construção e mercados, operárias das fábricas, às domésticas, as crianças, os doentes, os artesãos, os agricultores, e os lugares e atividades com as quais se podia ajudar ao próximo e influir numa vasta rede de pessoas, como as pensões e restaurantes, as livrarias e bibliotecas, as escolas, as salas de costura e as lojas de compras.
Pela irradiação do apostolado dos seus religiosos, quis que cada congregação fosse formada por três tipos diversos de membros: o primeiro, formado por religiosos que, vivendo em comum, tinham a tarefa de acolher e dirigir os outros; o segundo, constituído por religiosos com votos temporários que viviam junto às próprias famílias ou em pequenos grupos, chamados os “unidos” e as “unidas”, sendo este o elemento mais dinâmico de cada congregação por ele fundada, que tinham maior possibilidade de influir sobre os demais com o apostolado ativo e com o exemplo; o terceiro grupo acolhia pessoas da OFS particularmente empenhados na colaboração apostólica.

Todos estes religiosos viviam em trajes civis, e seu modo de vida foi confirmado pela Santa Sé com o decreto Ecclesia catholica, de 21 de junho de 1889. Seja por circunstâncias históricas particulares, seja pela intuição dos sinais dos tempos que um apóstolo dos tempos modernos teve, uma dezena de institutos seculares encontraram na Igreja espaço, de direito e de fato, dos quais Frei Honorato foi o pioneiro. Mas a experiência teve duração breve, porque, por causa das recriminações e denúncias contra esta novidade na vida religiosa, fora das tradicionais formas canônicas, em 1907 foram impostas restrições que eliminaram os “unidos” e as “unidas”. O velho fundador não deixou de defender a forma de vida e de apostolado religioso que, imposta pelas circunstâncias histórico-ambientais particulares, tinham produzido muitos frutos.

Quando, em 1905, não estava mais em condições de receber pessoas no seu confessionário por motivo de surdez, Frei Honorato aplicou-se ao estudo, dedicando- se a intensa atividade epistolar com seus filhos espirituais. As cartas manuscritas – quase 4.000 – foram conservadas em Varsóvia, no arquivo da vice-postulação, onde formam 21 volumes. No mesmo arquivo estão guardados numerosos discursos seus e vasta quantidade de obras, em grande parte manuscritas, que ele vinha escrevendo desde sua juventude. Estas se referem à ascese, à mariologia, à hagiografia, à história, à homilética, à regra da OFS e às constituições das diversas congregações, traduções para o polonês etc. Digna de menção, autêntica enciclopédia mariana, é a obra intitulada: “Quem é Maria?”, organizada em 52 tomos e 76 volumes, dos quais somente o primeiro foi publicado em diversas edições. Interessante, ainda, para o conhecimento da vida espiritual e do empenho apostólico de Frei Honorato, é o seu Diário Espiritual no qual lemos: “Desde o meu primeiro momento no ingresso da Ordem, sempre busquei isso: fazer conhecer aos homens o amor de Deus”.

Das quase cem obras escritas por Frei Honorato, 41 ainda permanecem inéditas. Frei Honorato morreu em conceito de santidade aos 16 de dezembro de 1916, com 87 anos de idade. Sepultado na cripta do convento de Nowe-Miasto, de onde, aos 10 de dezembro de 1975, após o “reconhecimento”, foi transladado para a igreja superior. Finalmente, aos 16 de outubro de 1988, o papa João Paulo II o proclamou bem-aventurado.


Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola