quinta-feira, 29 de março de 2018

Quinta-feira Santa – Celebração Profética da Páscoa.


Por  Frei Alberto Beckhäuser

Nos séculos IV e V, quando se formou o Rito romano, a Quinta-feira era o dia da reconciliação dos penitentes públicos para que pudessem celebrar com o fruto o Tríduo Pascal.Também na Liturgia renovada atual, a Ouinta-feira Santa tem dois momentos bem distintos. É simplesmente um Dia de semana da Semana Santa com Ofício do Dia de semana na Quaresma, e marca o início do Tríduo pascal com a Missa Vespertina da Ceia do Senhor. Temos ainda, na parte da manhã, a Missa do Crisma.

Mas se quisermos caracterizar a Quinta-feira Santa no seu mistério mais profundo, podemos dizer que celebra profeticamente a Páscoa de Jesus Cristo prolongada na Igreja. Esta Igreja que nasce, como esposa, do lado aberto de Cristo, esta Igreja gerada como Corpo místico de Cristo pela celebração dos Sacramentos e a prática do novo mandamento. Em outras palavras, podemos dizer que na Quinta-feira Santa sela-se o Testamento da Nova Aliança, em torno dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia, e do novo Mandamento, significado pelo lava-pés. Jesus continua o seu serviço de salvação através da Igreja. A seu serviço estão os diversos ministérios, especialmente os ministérios ordenados.Assim, podemos seguir uma linha unitária. Na Missa do Crisma reúne-se a Igreja local. Não só o clero, mas toda a Igreja como povo sacerdotal, profético e real. Realiza-se a bênção e a consagração dos óleos para a celebração dos Sacramentos pelo Povo de Deus animado pelo Espírito Santo. Os óleos são usados na maioria dos Sacramentos: Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordem. É o Espírito que forma o Corpo místico de Cristo.

Na Missa vespertina da Ceia do Senhor dá-se especial realce ao mistério da Eucaristia. Também aqui os mistérios celebrados podem ser vistos numa linha unitária. No centro de tudo está o Mandamento da Caridade, significado pelo lava-pés (cL Ev., Jo 13,1-15). Mas ele se realiza de maneira forte na Eucaristia, no Corpo dado e no Sangue derramado. Para que, através da Eucaristia, a Igreja se torne sacramento de unidade na caridade, eis o sacerdócio ministerial.

A Igreja, Comunidade de amor, alimentada e expressa pela Eucaristia e animada pelos ministros ordenados, nasce do mistério pascal de Cristo. Nesta noite ele é entregue e entrega-se aos discípulos como Corpo dado e Sangue derramado, antecipação de sua total entrega ao Pai.

Poderíamos dizer que na Quinta-feira Santa a Comunidade eclesial celebra o mistério da Igreja nascida do mistério pascal de Cristo.

Texto extraído de: http://www.franciscanos.org.br/

domingo, 25 de março de 2018

DOMINGO DE RAMOS - Um rei sentado num burrico.



Frei Almir Guimarães


Uma grande multidão que viera para a festa aclamava Jesus  Cristo:  Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas
(Antífona do Domingo de Ramos)

Tudo está para terminar. Chegamos ao termo das meditações a respeito da caminhada de Jesus até o seu desfecho, sua morte e ressurreição. Estamos para terminar nosso retiro quaresmal. Que frutos alcançamos? Com que disposições desejamos viver os dias da Semana Santa?

A Procissão dos Ramos que realizamos evoca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. O formulário da bênção das palmas invoca o olhar de Deus sobre os ramos que os fiéis carregam em sinal da adesão a Cristo  Rei que entra em sua cidade montado num burrico. A festa de hoje é exaltação do  Cristo-Rei. Os paramentos são vermelhos e lembram o fogo e o martírio. Como em Jerusalém  também em nossos templos há alegria. Cantos de vitória. Palmas que se agitam.  Profusão de hosanas.  As leituras da missa, no entanto, vão falar de alegria e sofrimento.  Em toda a semana santa é o que ocorre:  júbilo e dor. Esse paradoxo, segundo os liturgistas , é a língua do mistério.

“Vinde subamos juntos ao Monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo que hoje volta de Betânia e se encaminha  voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão,  a fim de realizar o  mistério da nossa salvação (…). O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a Escritura, nem gritará, nem ninguém  ouvirá a sua voz. Pelo contrário, será manso e humilde e se apresentará com vestes pobres e aparência modesta” (André de Creta, Liturgia das Horas II, p. 366).

Jesus entra em Jerusalém montado num jumento. O gesto marca a pobreza e a simplicidade do Messias. Jesus pede que lhe providenciem um asno que haverá de devolver depois. O burrico é a cavalgadura do messias pobre e  humilde de Zacarias (9,9).  O burrico é apenas emprestado. Por sua vez o cortejo que acompanha Jesus mostra características reais  expressas nos mantos estendidos pelo chão e nas palavras de ovação.  Há diferença entre a maneira como Jesus de um lado, e as pessoas de outro, encaram este momento. Jesus sente-se a pedra que os pedreiros rejeitaram. Não partilha, a concepção de um Messias triunfalista que é   abraçada pela multidão.

A profecia do servo sofredor,  texto escrito séculos antes de Jesus,  e proclamado na liturgia da missa desse dia (Is 50,4-7), descreve antecipadamente os sofrimentos de Jesus em sua paixão:  o servo  abre os ouvidos para as palavras de Deus, oferece as costas aos que nele batem e estende a face aos que lhe arrancam a barba, não desvia o rosto das cusparadas e  bofetões. Terminada a alegre procissão de entrada somos colocados diante da paixão do Senhor. Ecoam, de maneira especial, as palavras da Carta aos Filipenses:  “…aquele que se fez obediente até a morte  e morte de cruz”.

Realmente, a liturgia de Ramos é a liturgia do paradoxo da glória e do abaixamento.  Muitos se admiraram da glória de Jesus ao longo de sua caminhada.  Parecia um vitorioso, um triunfador.  No entanto, na medida  em que se avizinhava a Paixão, seu semblante foi sendo privado de glória e toda sua pessoa  conheceu a humilhação. Na procissão de ramos  Jesus é envolvido de glória e de honra.  Na paixão tem o rosto deformado e  sem beleza. Na procissão, as pessoas colocam suas vestes no chão para serem pisadas. Na hora do abandono, ele é privado de suas vestes.

Um rei sentado num  burrico…

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=129822

sábado, 24 de março de 2018

Os passos da Semana Santa, a Semana das Semanas.



Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Não celebramos a Páscoa apenas no dia da Ressurreição, nem mesmo nos três dias do Tríduo Pascal, mas durante uma semana inteira, uma semana santificada. Vai da celebração dos Ramos ao domingo dos domingos que é a Páscoa. Sete dias da nova criação que são colocados ao lado dos sete dias criação. O mistério da Páscoa do Senhor é a recriação do homem, bem como do universo.  A Ressurreição nos conduz àquilo que a tradição chamou de oitavo dia, Dia do Senhor, o  Dia que rompe o ciclo do tempo aqui e abre para a realidade da eternidade. Os cristãos ortodoxos denominam estes dias de a “Grande Semana”.


 Ramos: entre a glória e o abaixamento

A procissão dos Ramos inaugura a Semana Santa lembrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, que é seguida da leitura da Paixão. Glória e abaixamento estarão presentes em todos os dias de Grande Semana. O paradoxo é a própria língua do mistério.  A procissão é como o sinal sacramental da Páscoa, que é travessia, caminho, êxodo.  Entra-se na igreja com as palmas, como na sexta-feira se entrará com a cruz e na vigília do sábado com o círio pascal.  A procissão de Ramos fala da coragem da partida, da esperança de uma terra e de uma humanidade nova. A alegria da procissão, dos cantos, das folhagens entra em confronto com o tema do sofrimento do Senhor.

Segunda-feira Santa

João descreve uma cena que se passa em Betânia. Seis dias antes da Páscoa Jesus se encontra em casa de Marta, Maria e Lázaro. Participa de uma refeição com outros convidados. O Mestre, na hora do aperto no coração, está entre amigos. Maria toma uma libra de perfume de nardo e lava os pés de Jesus, enxugando-os com seus cabelos. Judas discorda. Vale a pena prestar atenção na palavra de Jesus: “Deixai-a, ela fez isso em vista da minha sepultura. Pobres sempre os tereis convosco, enquanto a mim nem sempre tereis”.  Há um gasto perfeitamente lícito. O culto ao Senhor não fez com avareza de qualquer sorte.

 Terça-feira Santa

Novamente o evangelista João diz que Jesus, à mesa, está profundamente comovido. Alguém há de entregá-lo. Quando um estranho nos faz mal chegamos quase a compreender. O que haveria de trair a  Jesus era um discípulo, estava ali, aquele que comia um pedaço de pão mergulhado no vinho. Judas sai.  Era noite. Hora das trevas. A hora de  Jesus estava chegando. Hora de sua glorificação.

 Pedro, por sua vez, adianta-se e fala de sua vontade de fidelidade e de dar a vida pelo Mestre.  “O galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes”. Poucas horas depois, no pátio do governador, ele haveria de negar o Mestre. Depois da covarde negação, Pedro sai para fora e era noite.  Estava, de fato, se avizinhando a hora das trevas.

 Quarta-feira Santa

Judas acerta com os sumo-sacerdotes que trinta moedas de prata   constituíam uma soma para que lhes entregasse Jesus. Jesus de valor infinito é trocado por um punhado de moedas.

Estamos diante do mistério de Judas. Acautelemo-nos em julgá-lo. Quantas vezes nós mesmos negamos a Jesus por covardia, falta de empenho e de generosidade.

Judas e Jesus se encontram num face a face no final da caminhada.  Não se trata de um “determinismo”. Judas agiu com liberdade. “A liberdade é um dom, mas o seu reto uso é uma conquista, é fruto da correspondência à graça divina.  Nada é mais arriscado do que acostumar-se com a graça: pode vir a ser irreparável.

 É possível até acostumar-se com a Eucaristia. A Semana Santa é a mais trágica celebração da liberdade humana em seu mistério mais profundo, no livre e irrevogável não de Judas  e no livre e irrevogável  sim de Cristo à vontade do Pai” (Missal Cotidiano  da Assembleia Cristã, Paulus, p.327).


 Quinta-feira Santa – O banquete do amor


Na quinta-feira Santa, celebramos a última ceia, a última refeição de Jesus. A refeição pascal, judaica, familiar e festiva era o memorial da libertação do Egito. Comia-se ritualmente o cordeiro pascal  como naquela noite, outrora, em que Deus havia tirado os hebreus das mãos do faraó.   Jesus faz o memorial de sua morte e de sua ressurreição, a Páscoa nova na qual a salvação é oferecida a todos. O Cordeiro da Páscoa é ele. Esta refeição é o banquete anunciado pelos profetas, as núpcias de Deus com seu povo.

Nesse dia festivo, canta-se o Glória que havíamos deixado de lado desde o começo da Quaresma, acompanhado do alegre tilintar dos sinos  que depois vão se calar até a Vigília Pascal,  quando haver-se-á de cantar a glória do céu e paz na terra aos homens por ele amados.

Nesta quinta-feira somos convidados a refazer o que Jesus pediu aos apóstolos, naquela ocasião: “Cuidai de fazer todos os preparativos necessários  para nossa refeição pascal”. O Cristo, hoje, não pode se fazer presente entre nós a não ser se uma assembleia  o deseja e lhe prepara a vinda.

A quinta-feira é também o dia do lava-pés. Trata-se de um dos gestos mais fortes que revela a pessoa de Jesus.  Somos convidados a  viver a alegria e a partilha. Tal se dará somente na medida em que tivermos gravada dentro de nós a cena do lava-pés.  Trata-se do anúncio da cruz.

A cerimônia termina com uma procissão festiva para fora do templo  com o pão eucarístico que será colocado à mesa no dia seguinte. Na sexta-feira de manhã, a igreja que, na véspera, estava toda enfeitada  como uma sala de núpcias, agora tem quase a frieza de um túmulo!

 Sexta-feira Santa – A cruz que dá vida



A grande celebração da Cruz do começo da tarde nos faz ouvir, uma vez mais, a Paixão segundo João. Momento de contemplação densa e de tocante desejo de silêncio. Depois faz-se a oração da comunidade.  Desfilam as grandes intenções. É  Cristo que reza por nossas bocas.

Em seguida uma cruz é introduzida no espaço celebrativo  acompanhada por ceroferários. Aos poucos o celebrante descobre o corpo do Crucificado e realiza-se a veneração do santo lenho do qual pendeu a salvação do mundo. Através de todos os ritos é nosso ser, são nossas lágrimas, nossas alegrias que são transformadas. Comungamos, em seguida, o pão eucarístico consagrado na véspera. Nesse dia não se celebra a Eucaristia.

 Trata-se de um sinal forte da unidade do acontecimento pascal  celebrado em três dias:  Jesus se dá na última ceia;  acontece o dom  em sua morte na cruz, no dia seguinte, é expressão desse dom e na noite da Ressurreição. Sua vida vitoriosa é dada. Cada vez que nos alimentamos do pão consagrado  comungamos o  Cristo servidor, o Cristo crucificado e o Cristo ressuscitado.

 Sábado Santo – O “shabat” de Cristo




No sétimo dia, o Senhor descansou de toda  sua obra, como lemos no livro do  Gênesis. Os Padres da Igreja interpretaram o Sábado Santo  como  o ‘shabat’ de Cristo depois de sua obra de recriação do homem pela Cruz. Como Deus depois da criação havia descansado no sétimo dia, da mesma  forma Jesus chega ao repouso depois da obra da nova criação, da obra da salvação. A ausência de liturgia eucarística daria como que uma forma de sacramento a este vazio. 

Como se a ausência, o vazio, pertencesse à profundidade da fé. Sabemos que todo relacionamento de amor que não assume a provação do vazio e da ausência vive num voltar-se para um espelho, para a ilusão e a posse. A Igreja, no sábado, faz a vigília na oração.

 Vigilia pascal – A noite da iluminação.




A celebração da Ressurreição de Cristo começa na noite  através de uma grande festa da luz. Os fiéis se reúnem na parte exterior do templo, na escuridão. Nos lugares onde há batismos os catecúmenos ocupam lugar de destaque ao lado dos fiéis. Vão ser “iniciados” e “iluminados”, integrados à comunhão dos discípulos ao receberem os sacramentos, o primeiro deles sendo o batismo.

Acende-se a fogueira. Primitivamente o fogo era aceso com faíscas obtidas pela fricção entre duas pedras. A chama brota da pedra do túmulo. A chama é grande, capaz de devorar e iluminar a noite. Ela é símbolo da vida nova que  a morte não pode apagar.

Perto está o grande círio, marcado com os sinais de Cristo: a cruz, as letras alfa e ômega, os algarismos do ano em curso. No Apocalipse, o Cristo é designado de Alfa e Ômega, o princípio e o fim.  Aos poucos todo o templo é iluminado com dezenas de velas acesas.  Noite de luz! A noite será mais clara que o dia.

São João Crisóstomo: “Vós que buscais a Deus e que amais o Senhor  vinde degustar a beleza e a luz desta festa. Ricos e pobres, vivei na mesma alegria. Fostes diligentes ou preguiçosos? Celebrai este Dia! Vós que  jejuaste e vós que  não jejuastes, hoje alegrai-vos. A mesa do banquete de festa está posta: degustai todos, sem reticência alguma!”

O canto do Exulte enche o templo. Que dos céus desçam os anjos triunfantes, que soem as trombetas. Alegre-se a terra, alegre-se a Mãe Igreja. Que Deus escute o Aleluia cantado por todo o povo.

A  liturgia da Palavra desenvolve os principais temas da Páscoa.  Ela é recriação, libertação, soerguimento dos mortos. O conjunto de leituras, cânticos e responsórios constituem uma catequese da fé pascal. Durante um bom espaço de tempo, sem pressa, são proclamadas as maravilhas que o Senhor foi operando na história: criação, vocação de Abraão,  travessia do Mar Vermelho,  o Deus esposo de Isaías,  caminhada  rumo ao esplendor do Senhor na pena de Baruc, o tema das águas puras e do coração novo e assim se chega ao portal do Novo Testamento.  Uma vigília que já consiste numa festa…

A terceira parte da Vigília é a liturgia batismal, tão consentânea com a festa. Na Igreja antiga era nessa grande noite da Páscoa que se realizava a iniciação aos mistérios cristãos: o batismo, a crismação pelo bispo – nossa confirmação – e o acesso à mesa eucarística. Em nossos dias, mesmo quando não há batizados, há a bênção da água e da aspersão.

No final de tudo  acontece a liturgia eucarística da noite de Páscoa.

Nota:
Texto de apoio:
Initiation  au mystère de Pâques

Revista Panorama (França)  abril de 2004

quarta-feira, 7 de março de 2018

São Francisco e as mulheres que marcaram sua vida.



Para o Dia da Mulher, umas palavras a partir da experiência de São Francisco. 

Ele tem uma aguçada sensibilidade muito própria da sua personalidade e espiritualidade. Colocou em sua vida, numa medida exata, o equilíbrio necessário da incessante busca de ser um humano forte. Nele, o masculino e o feminino fraternizam-se. Há a presença histórica de mulheres em sua vida.



Falemos de sua mãe, Jeanne de Boulermont, a mulher que veio da região francesa da Picardia, por isso mesmo conhecida em Assis como Dona Picà, a mulher que veio da distante região dos nobres e cavaleiros. 

Nela Francisco viveu a intensidade do Amor de Mãe. 


O amor do cuidado, da compreensão, da prece, da preocupação, das canções ensinadas, da língua francesa, da cortesia, da fineza, da ternura e das múltiplas virtudes. O seu pai era homem de negócios e saiu para trazer para a família a sobrevivência. Sua mãe, mulher da educação e da casa, moldou nele a convivência. Deixou no filho as marcas da nobreza, da fé em Deus, do amor ao próximo, da generosidade, da pureza e mansidão, uma qualificada consanguinidade biológica.

Falemos de Clara de Assis, sua seguidora a partir do Esposo Amado, sua companheira e fundadora do jeito terno e claustral, contemplativo e  acolhedor mosteiro clariano franciscano, raiz de uma exuberante floração. Com ela, Francisco aprendeu a forte presença da busca da perfeição. Entre os dois há troca de projetos comuns, encontros para falar do coração em chama, santa intenção e o cuidado eterno para com a Cruz de São Damião, o lugar da inspiração. Entre os dois um sagrado Amor de contemplação, esponsalício místico, expressão feminina e masculina do Evangelho, oração contínua, comunhão perene, uma transformadora consanguinidade espiritual.


Falemos de sua amiga, Jacoba de Settesoli, com quem viveu a relação da profunda amizade. Jacoba era nobre, rica e caridosa. Dividia virtudes e bens. A grande amizade nas horas da vida esteve presente na hora do Trânsito de Francisco para a eternidade. Na celebração deste maravilhoso rito de passagem não podia faltar a figura desta mulher que trouxe seu doce preferido, o “mostaciolli”, que providenciou também a túnica e os panos que prepararam o sepultamento do amigo. Viu suas chagas e o aconchegou em seus braços na agonia. Uma leiga que viu de perto o mistério e maravilhas realizados pelo Senhor naquele Poverello e depois em sua Ordem. Entre eles, uma fecunda consanguinidade afetiva.


A mãe, Clara e Jacoba deram a sua sonhada Fraternidade o jeito materno de ser, a irmandade e a amizade. São virtudes encarnadas, nascidas de personagens reais. No Dia da Mulher, aprendamos com Francisco que o ser humano masculino e feminino vive na mãe, na esposa, na irmã, e no sonho de colocar sob as asas da proteção e do amoroso cuidado todos os que formavam e formam a sua bela família, a consanguinidade fraterna. 


Que São Francisco e Santa Clara abençoem todas as Mulheres em seu merecido e celebrativo dia!

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO


Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/


sexta-feira, 2 de março de 2018

"O amor do Senhor que vai até o fim"



Tempo da Quaresma, tempo da Semana Santa, tempo de contemplar o amor de Jesus até o fim, ao extremo de todos os extremos, até esvaziar o coração da última gota de sangue. Pedimos aos Padres da Igreja que nos ajudem a contemplar as riquezas do Coração do Senhor.

Frei Almir Guimarães


• Uma prece de Santo Anselmo
Eu te suplico, ó Majestade, ó amor suspenso na cruz! Tu és a minha esperança, meu refúgio, minha misericórdia. Tem piedade de mim e ensina-me a te adorar, a te amar; pois é meu desejo de adorar e te amar, embora não saiba como fazê-lo. Eu te peço, ó Jesus, que ouves os que te amam, pelo amor que manifestaste na cruz pelo homem; faze com que eu jamais sinta desgosto ou vergonha de estar diante de tua cruz; mas que minha alma se compraza em permanecer fielmente sob o teu olhar, e que teus divinos olhos se comprazam em me olhar misericordiosamente. Dá-me a força de chorar minha miséria, dá-me o contentamento minha tristeza mudar em alegria.

Das Orações de Santo Anselmo, bispo
Lecionário Monástico II, ´ 693-594

• Palavras de incontida admiração e gratidão
Ó Paixão, purificação do universo!
Ó morte, princípio de imortalidade e origem de vida!
Ó descida à mansão dos mortos que lança uma ponte a fim de que eles passem ao reino da vida!
Ó meio-dia da morte de Cristo, recordação daquele meio-dia no paraíso em que Eva colheu o fruto!
Ó cravos que fixam o mundo para Deus e traspassam a morte!
Ó espinhos, fruto da videira má!
Ó fel que dás a doçura da fé!
Ó esponja que lavas o mundo de seu pecado!
Ó instrumento de inscreves os fiéis no livro da vida!

Dos Sermões de São Proclo de Constantinopla, bispo
Lecionário Monástico III, p. 599-600

• A fonte que brotou do lado do Redentor
Queres compreender mais profundamente o poder do Sangue de Cristo? Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água como símbolo do Batismo; o sangue, como símbolo da Eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um imenso tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias.

Das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo
Lecionário Monástico II, p. 577-578

•  Alegre canto de vitória
Cristo está na cruz: aproximemo-nos dele, participemos de seus sofrimentos para ter parte também em sua glória.
Cristo jaz entre os mortos: morramos ao pecado a fim de vivermos para a justiça.
Cristo repousa num túmulo novo: purifiquemo-nos do velho fermento, tornemo-nos uma massa nova e sejamos para ele lugar de repouso.
Cristo desce à mansão dos mortos: desçamos também com ele pela humilhação que exalta, a fim de sermos exaltados e glorificados com ele sempre vendo e sendo vistos por Deus.
Vós que sois do mundo, sede livres; vós que estais amarrados, saí; vós que estais nas trevas, abri os olhos para a luz; vós que estais no cativeiro, libertai-vos; cegos, levantai os olhos.
Desperta Adão que dormes, levanta-te de entre os mortos, pois Cristo, nossa ressurreição, apareceu.

Das Homilias de São João Damasceno, presbítero
Lecionário Monástico III, p. 621