sábado, 28 de novembro de 2015

Santo franciscano do dia - 28/11 - São Tiago das Marcas


Sacerdote da Primeira Ordem (1391-1476). Canonizado por Bento XIII no dia 10 de dezembro de 1726.


Em conjunto com João de Capistrano, Bernardino de Sena e Alberto de Sarteano, Tiago das Marcas é uma das colunas da Observância Franciscana, a singular reforma da Ordem no século XV, que, opondo-se a um humanismo exagerado, propôs o retorno à vida pobre e simples e ao zelo apostólico que caracterizou o franciscanismo primitivo.

Nascido em 1391 em Montprandone (Piceno), desde muito novo se sentiu atraído pelo ideal franciscano, e vestiu o hábito dos frades menores no convento dos Cárceres, perto de Assis. Era tão propenso à mortificação, que o seu mestre de teologia e de vida espiritual, São Bernardino de Sena, teve de lhe recomendar certa moderação. Dotado de excepcionais dotes oratórios, uma vez ordenado sacerdote percorreu a Itália e grande parte da Europa a pregar a fiéis, hereges e infiéis, com abundantes frutos de conversão e reforma de costumes.

Recusou a oferta do arcebispado de Milão e foi conselheiro de papas e imperadores. Esteve ao serviço da santa Sé em numerosas missões, e sucedeu a São João de Capistrano como guia espiritual da cruzada contra os turcos.

Sendo um pregador de raras qualidades, exerceu essa forma de apostolado não apenas na Itália, mas ainda em países estrangeiros, como a Bósnia, a Boêmia e a Polônia. Estava em meio duma refeição quando lhe chegou às mãos a ordem papal de partir para a Hungria. Levantou-se imediatamente, sem acabar de comer, para cumprir a ordem recebida. Era assim a sua obediência, absoluta e instantânea.

Levava uma vida de rigor e austeridade. Durante o ano fazia nada menos de sete quaresmas, e nos outros dias a sua alimentação limitava-se a pequenas e pobres rações, como uma malga de favas simplesmente cozidas em água. O seu zelo pela castidade levava-o a disciplinar-se por vezes de noite, ao ser atormentado por tentações carnais. Enfermiço e debilitado pelos jejuns, por seis vezes recebeu a Unção dos Enfermos. Apesar disso resistiu até aos 80 anos na fatigante vida de pregador volante.

Os temas de sua pregação eram idênticos aos de São Bernardino, cauterizando em especial a avareza e a usura. Para combater esta praga social idealizou os Montes de Piedade ou Montepios, onde os pobres podiam empenhar os seus bens por um preço justo e com juros mínimos, ao contrário do que faziam os usuários privados.

No dia 28 de novembro de 1476, com 85 anos de idade, faleceu em Nápoles, onde se conservam os seus restos mortais na igreja de Santa Maria Nova. Apaixonado pelo estudo, traduziu muitas obras e compôs algumas de sua autoria, as quais nos permitem ter um conhecimento profundo da sua vida, da sua espiritualidade e da sua ação apostólica.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

PROFECIA DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL - VII



“Ser livre é libertar-se das tutelas do medo”. Continuação do texto.

Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho

Ser livre é a libertação de todo tipo de tutela; a tutela é a canga que colocam sobre nós. São algumas tradições que não servem mais e precisam ser revistas. É ter a coragem de em meio a escombros:  RECONSTRUIR A CASA! (3Comp 5). Ser livre é saber que a nossa história não é um amontoar-se de ruínas. Ser livre é libertar-se das tutelas do medo. Viver com medo é ser escravo. Esta não é uma frase terapêutica, mas a decisão de tomar a vida nas mãos e voltar a moldar um humano forte. Uma vida com medo é uma vida desumanizada. O amedrontamento cria peso estruturais e agressividade. Ao reagir ao medo, reage-se de forma violenta. A nossa civilização é especialista em produzir medo, por isso a nossa liberdade perdeu a sua pureza. As indústrias de segurança nunca ganharam tanto dinheiro! Em meio a tudo isto é profético perguntar: Quem vive? Quem é o humano? Não podemos nos apequenar, não podemos ser marionetes de uma história assim.

Ser livre é saber que Deus não nos quer punir. Ter fé é a coragem de abrir caminhos de liberdade. A fé abre caminhos onde não existem caminhos. Só a fé pode nos libertar do medo. Não podemos manipular a vontade de Deus sob o domínio da vontade própria ou no que dizem sacerdotes e pastores. Ser livre é recuperar a confiança perdida e acreditar na atuação de Deus na história através do grupo forte que nós somos. Temos que nos libertar das tutelas de certas manipulações religiosas que ainda decidem quem vai para o céu ou para o inferno, quem são os eleitos ou quem são os condenados. Vamos abraçar mais a fé! “Vai, tua fé te salvou!”. Todos temos uma fé e uma força que nos salva. Os olhos tem que ver coisas que jamais viram. O vigor, a energia e a ternura é o modo de ser de nossa fé. Naquilo que acreditamos é que somos fortes!

Ser livre é libertar-se da tutela do poder político que perdeu a moral, a ética e a credibilidade, porque é o primeiro a se corromper pelo capital. A política é serva do capital. Ser livres diante do excesso de leis e direitos que querem ser a base para recompensar ou punir. Ser livre é não delegar a nossa vida à condução das tutelas. Temos que ter mais coragem de usar a própria razão, desde que ela seja bem formada. Os sonhos ainda valem muito! Como eu faço para formar olhos bons para ver a vida do jeito bom de Francisco e Clara? Como eu faço para viver melhor? Como transformar o acúmulo de informações em sabedoria? Como sair da covardia de ser, que as vezes confundimos como obediência?

Continua...

Fonte: Blog do Frei Vitório
Link: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Santo Franciscano do dia - 26/11 - São Leonardo de Porto Maurício


Sacerdote da Primeira Ordem (1676-1751). Canonizado por Pio IX no dia 29 de junho de 1867.


São Leonardo foi proclamado pela Igreja como Padroeiro das missões entre fiéis, pela orientação particular que deu ao seu apostolado e pela amplidão da sua obra missionária, que se estendeu a todas as cidades da península itálica. Nasceu em Porto Maurício, na Ligúria, e frequentou em Roma o colégio gregoriano. Entrou ainda jovem na ordem dos frades menores, e desde o noviciado propôs imitar o mais fielmente possível a vida de São Francisco. Veio a conseguir o seu intento, sobretudo na penitência, que raiava pelo heroísmo, na altíssima contemplação e no zelo apostólico.

Ordenado sacerdote, dedicou-se por mais de 40 anos à pregação, com grande proveito para os fiéis, escolhendo como temas as mais importantes verdades cristãs, seguindo também  neste pormenor a exortação de São Francisco.

A simples apresentação da sua figura já constituía um bom princípio de pregação: austero, magro, ardente de fé e de amor. O seu estilo retórico, em conformidade com o costume da época valia-se de sinais exteriores destinados a causar impacto e mover à contrição e às lágrimas, apelando à sensibilidade. Neste clima se situa a grande devoção da Via Sacra, de que foi eminente divulgador. Deixou algumas obras escritas, desde simples esboços até tratados de ascética e de pregação.

A pregação de São Leonardo caracterizava-se por algo de dramático e até trágico. Multidões imensas acorriam a escutá-lo, e ficavam impressionadas pela sua palavra ardente, convidando à penitência e à piedade cristã. Dizia dele Santo Afonso Maria de Ligório, que era “o maior missionário do século”. Não era raro durante a sua pregação o auditório inteiro prorromper em pranto e em soluços. Pregou por toda a Itália, mas a região favorita foi a Toscana, por causa do jansenismo, que ele se propôs combater com todo o empenho, abordando para isso os temas que lhe pareceram mais eficazes: o nome de Jesus, a Virgem Maria e a Via Sacra. Quando ele fazia uma missão na Córsega, os bandidos desta atormentada ilha deram tiros para o ar gritando: “Viva Frei Leonardo! Viva a Paz!”.

Bastante desgastado pelos constantes trabalhos apostólicos, foi chamado a Roma, onde, em apaixonados sermões a que o próprio papa por vezes assistia, preparou o clima espiritual para o jubileu de 1750. Foi nessa altura que erigiu a Via Sacra no Coliseu, declarando sagrado aquele lugar onde muitos mártires tinham vertido o sangue por Cristo. No ano seguinte ainda se deslocou à região de Bolonha, para as suas últimas pregações.

Regressando a Roma, ao convento de São Boaventura no Palatino, a 26 de novembro, com 75 anos de idade, terminou a carreira terrena este incomparável missionário do povo cristão. As autoridades tiveram de recorrer às forças de segurança para controlarem a multidão dos devotos que queriam ver o Santo e levar relíquias dele. Foi a respeito dele que disse o papa Lambertini: “Perdemos um amigo na terra, mas ganhamos um Santo no céu”.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A centralidade de Cristo na Vida de São Francisco de Assis



Frei Régis Daher

Introdução

Da vida e do modo de ser de São Francisco nasceu uma inspiração de vida, um caminho. A espiritualidade franciscana é fundamentalmente seguimento de Cristo, pobre, humilde e crucificado. E o seguimento torna-se um encantamento, que por sua vez leva à configuração com o Cristo.

1. A experiência do seguimento que São Francisco faz não segue uma ordem cronológica da vida de Cristo (nascimento, vida adulta, paixão e morte), mas é uma descoberta gradativa do único e mesmo mistério de Cristo, revelação do amor e da misericórdia de Deus para com a humanidade.

2. Assim, ao longo de sua vida, Francisco descobre e experimenta a pessoa e o mistério de Cristo nas suas três dimensões, inspirando nele três atitudes:

a pobreza da encarnação: o seguimento;
a humildade da eucaristia: o encantamento;
e a doação total da paixão e cruz: a configuração.

3. De outro modo, poderíamos dizer que a experiência cristológica de Francisco tem um começo (a encarnação), um meio (a eucaristia) e um fim (a cruz), não porém, numa ordem cronológica mas numa ordem espiritual.

4. Na experiência pessoal de Francisco, a cruz está no início (São Damião e o leproso) e no fim (as chagas e o Monte Alverne); no ‘meio’ está a encarnação (Greccio) e a eucaristia.

5. A ENCARNAÇÃO - São Francisco descobre a pobreza do Filho de Deus e de sua Mãe, como condição para se fazer um de nós:
“Quero evocar a lembrança do Menino que nasceu em Belém e todos os incômodos que sofreu desde a sua infância; quero vê-lo tal qual ele era, deitado numa manjedoura e dormindo sobre o feno, entre um boi e um burro” (1Cel, 84).

“Se o Filho de Deus desceu da grande altura que separa o seio do Pai de nossa abjeção, foi para nos ensinar a humildade, Ele, o Senhor e Mestre, pela palavra e pelo exemplo” (LM 6,1).

Quando São Francisco de Assis, em sua intuição original recriou no presépio de Greccio, a expressão poética do natal, desejava experimentar e reviver na própria carne, o mistério e o encantamento, o amor e a dor, a contradição da glória divina revelada na pobreza do Filho de Deus. Desde então, compor um presépio com figuras e materiais comuns e ordinários, tornou-se um ato de fé, vislumbrando a presença do Deus encarnado em tudo aquilo que constitui a vida. Para contemplar o presépio e nele descobrir a revelação divina no cotidiano humano, há uma condição: é preciso mudar o coração e o olhar, porque o mundo tornou-se presépio.

6. A EUCARISTIA - São Francisco experimenta o encantamento pela presença real de Cristo na eucaristia, como encarnação (presépio) repetida e permanente no meio de nós:

“Pasme o homem todo, estremeça a terra inteira, rejubile o céu em altas vozes quando sobre o altar, estiver nas mãos do sacerdote o Cristo, Filho de Deus vivo! Ó grandeza maravilhosa, ó admirável condescendência! Ó humildade sublime, ó humilde sublimidade! O Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, se humilha a ponto de se esconder, para nosso bem, na modesta aparência do pão. Vede, irmãos, que humildade a de Deus! Derramai ante Ele os vosso corações! Humilhai-vos para que Ele vos exalte! Portanto, nada de vós retenhais para vós mesmos, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá!” (C.tOrdem, 26-29).

Atitude eucarística = resposta de vida.

7. A CRUZ - As chagas de São Francisco não é ponto de ‘chegada’, o fim de sua vida, antes é sinal da configuração vivida ao longo de toda a sua vida. É o mesmo mistério de amor da encarnação e da eucaristia:

” Ó Senhor, meu Jesus Cristo, duas graças eu te peço que me faças antes de eu morrer: a primeira é que, em vida, eu sinta na alma e no corpo, tanto quanto possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua dolorosa Paixão. A segundo, é que eu sinta, no meu coração, tanto quanto possível, aquele excessivo amor, do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado, para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores” (3ª Cons.Estigmas).

“Francisco já tinha morrido para o mundo, mas Cristo estava vivo nele. As delícias do mundo eram uma cruz para ele, porque levava a cruz enraizada em seu coração. Por isso fulgiam exteriormente em sua carne os estigmas, cuja raiz tinha penetrado profundamente em seu coração” (2Cel 211).

 O primeiro significado das chagas: significam que Deus é Senhor de sua vida. Deus encontrou nele a plena abertura e a máxima liberdade para sua presença.

O segundo significado das chagas é o de que Deus não é alienação para o ser humano, ao contrário, é sua plena realização e salvação.

● O terceiro significado: as chagas expressam que a vivência concreta do amor deixa marcas. A exemplo de Cristo, Francisco quis suportar/carregar e amar os irmãos para além do bem e do mal (amor incondicional). As chagas não vêm de fora, nascem dentro da vida (corpo e alma).

● O quarto significado: seguir o Cristo implica em morrer um pouco a cada dia: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz a cada dia e me siga” (Lc 9,23).

8. A EXPERIÊNCIA DO ‘PEREGRINO PASCAL’

Foi depois de um longo caminho de purificação interior, de renúncia, de integração, que Francisco tornou-se um homem reconciliado. É romantismo e ilusão imitar São Francisco sem, no entanto, abraçar a renúncia, a pobreza, a cruz. É pura fantasia começar onde ele terminou. A vida toda de Francisco foi um reconciliar-se contínuo com todas as dimensões da existência: a interior (consigo mesmo), a superior (com Deus), e a exterior (com a natureza).

a) A reconciliação consigo mesmo

Num determinado momento de sua juventude, Francisco converteu-se. Houve uma “virada” no seu modo de ser, de comportar-se, de relacionar-se. Aconteceu uma ruptura e iniciou um pesado processo de purificação interior: vigílias, jejuns, penitências, privações, e o encontro com o leproso. Ele abraça e ama alegremente o próprio negativo, vencendo o diabólico em si mesmo. Enfrenta o mal na sua fonte, o próprio coração, integrando-o em vez de negá-lo.

b) A reconciliação com Deus

Francisco fez uma profunda experiência de Deus (cf. a oração Louvores a Deus). Descobriu que a misericórdia de Deus é infinitamente maior que todos os nossos pecados, porque seu amor é maior que o nosso coração (Lc 6,35). Deus não se deixa vencer por nossos pecados. Por isso, quando o pecado é assumido na humildade e simplicidade, torna-se caminho de encontro com Deus.

c) A reconciliação com a natureza

Deste mergulho no mistério de Deus, Francisco descobriu a fonte de tudo e sentiu ligado à todas as coisas e pessoas, porque elas não estão jogadas aí, alcance da mão do homem. Ele não se coloca sobre as coisas, mas junto delas, como irmão na mesma casa.

Colocando-se no mesmo nível das criaturas, Francisco não se define pela diferença com elas, mas pelo que tem em comum. Desse modo de ser é que nasce a sua pobreza. Ele deixa as coisas serem, renuncia a dominá-las e submetê-las, ou usá-las como objetos de posse e poder. Pobre, se sentia livre e fraterno para comungar com todas as coisas, porque não tinha mais o que perder.

d) A reconciliação com os outros – a perfeita alegria

Francisco não espera pela mudança dos outros. Começa por si mesmo, inspirando-se no amor de Deus que suporta e ama para além do bem e do mal (Mt 5,45 e Lc 6,35). Acolher as sombras dos outros é para ele, manter os laços da fraternidade apesar do negativo. Não apenas suporta, mas ama e acolhe alegremente o negativo. Só deste modo o homem torna-se verdadeiramente livre, pois nada mais poderá ameaçá-lo (o testemunho de Freud).

São Boaventura afirmou que “Francisco parecia ter voltado ao primitivo estado de inocência original, nasceu em seu coração o paraíso terrestre”. Por esse modo-de-ser, franciscano, o homem pode viver e celebrar o mundo como um paraíso, quando ele mesmo se transfigurou e se reconciliou com todas as dimensões de sua história e de sua existência.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

PROFECIA DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL VI




Continuação da reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho

 2. A família franciscana e seu modo profético na liberdade de viver, atuar e estar no mundo

É profético relacionar o tipo de existência em relação aos modos de vida ou estados de vida. Viver biologicamente com força adaptativa que insere no meio físico, social, técnico, e nas diversas formas de organização. Viver de um modo psicossocial, relacionando-se com o meio social, através da comunicação da linguagem própria, dos ícones próprios, através de processos associativos. Compreender-se como realidade, filosofia de vida, sensibilidade e conhecimento.

Situar-se na mesa da humanidade, que dá à sua existência uma razão e compreensão da vida a partir do sagrado. Olhar os fatos, acontecimentos, fenômenos, procurando neles um sentido divino. Sem desfazer-se da compreensão científica perguntar pelo sentido das manifestações humanas à luz da fé. É um modo transcendente, um entendimento da vida dando sentido ao provisório e ao definitivo, ao útil e ao inútil, ao temporal e ao eterno. Viver a vida buscando as potencialidades da alma e do espírito, a solidariedade criatural, a sacramentalidade da vida e suas hierofanias.

Viver de modo livre! Não é fácil pensar a liberdade em tempos que o mercado nos escraviza, em que o dinheiro tem uma força real e simbólica e que nós pensamos o que pensam as mídias; e o capitalismo como sistema, organiza ainda, tendenciosamente, a totalidade de nossas relações. Produção em massa para um consumo de massa. Dizemos que somos livres, mas aceitamos a "macdonaldização" da existência. Entramos numa baia para comer uma comida que já foi escolhida por um cardápio que não é nosso. Não podemos viver a uniformização da vontade que nos reduz a iguais em tudo. É a disciplinização dos corpos: parar para comer rápido e abastecer-se para trabalhar mais rápido. Ser livre não é ser massa. Ser livre é não se deixar envolver pelas muitas contradições que movem o nosso mundo. Ser livre é começar a pensar e escolher com a própria cabeça e coração. Ser livre é escolher uma Força Espiritual e viver uma pertença que mostre o diferencial na cultura atual. Estamos em épocas de grandes mudanças, um feixe de processos. É muita coisa para uma cabeça só! Ser livre é não se perder neste emaranhado, e mobilizar em nós e em nossas escolhas as melhores energias que temos.

Continua ...

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Especial -Santa Isabel da Hungria, padroeira da Ordem Terceira Secular


Testemunho de caridade de Santa Isabel da Hungria

O testemunho de caridade da jovem Santa Isabel da Hungria mantém toda sua atualidade para seus compatriotas, para os europeus e para os fiéis do mundo inteiro, reconhece o Papa.

As celebrações especiais pelo VIII centenário do nascimento dessa grande figura da Igreja universal deram ocasião a Bento XVI para relançá-la, em uma carta enviada por esta ocasião ao cardeal Peter Erdo — arcebispo de Estergom-Budapeste –, primaz da Hungria e presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa.

Para o Papa, as festas por este centenário — às quais se une espiritualmente — serão uma oportunidade «para propor a todo o Povo de Deus, e especialmente à Europa, o esplêndido testemunho dessa santa «européia», cuja fama ultrapassou os confins de sua pátria, envolvendo muitíssimas pessoas também não cristãs em todo o continente».

Nascida em 1207 na nova Hungria cristã, Isabel fez seu o programa de Jesus Cristo, Filho de Deus que, fazendo-se homem — aponta o Papa — «se despojou de si mesmo assumindo a condição de servo» (Flp 2,7); com a ajuda de «ótimos mestres», «seguiu os passos de São Francisco de Assis, propondo-se como pessoal e último objetivo conformar sua existência à de Cristo».

Chamada ao matrimônio com o príncipe Luis VI da Turíngia, Isabel «não cessou de dedicar-se à atenção dos pobres, em quem reconhecia o semblante do Divino Mestre», recorda Bento XVI.

Ela viveu de tal forma que «soube unir os dotes de esposa e mãe exemplar — afirma o Papa — ao serviço das virtudes evangélicas, aprendidas na escola do santo de Assis»; «revelou-se verdadeira filha da Igreja, oferecendo um testemunho concreto, visível e significativo da caridade de Cristo».

São inúmeras as pessoas que, ao longo dos séculos, «seguiram seu exemplo, contemplando-a como um modelo de virtudes cristãs, vividas de maneira radical no matrimônio, na família e também na viuvez», constata o Santo Padre em sua carta, difundida no sábado — em italiano, húngaro e alemão — pela Sala de Informação da Santa Sé.

Em Santa Isabel da Hungria — falecida aos 24 anos — também «se inspiraram personalidades políticas, tirando de sua figura impulso para trabalhar na reconciliação dos povos», sublinha Bento XVI.

Em 17 de novembro passado, teve início, em Roma, o ano internacional dedicado a Isabel da Hungria, uma iniciativa — reconhece o Santo Padre — «que está dando novos estímulos para compreender melhor a espiritualidade» da santa «que recorda ainda hoje a seus compatriotas e aos habitantes do continente europeu a importância dos valores imperecíveis do Evangelho».

O Papa confia em que o conhecimento mais profundo da personalidade e obra de Santa Isabel da Hungria e Turíngia «ajude a redescobrir cada vez com consciência mais viva as raízes cristãs da Hungria e da própria Europa, impulsionando os responsáveis a desenvolver de forma harmônica e respeitosa o diálogo entre Igreja e sociedade civil, para construir um mundo realmente livre e solidário».

O Santo Padre expressa igualmente seu desejo de que este ano internacional constitua «para húngaros, alemães e para todos os europeus uma ocasião propícia para evidenciar a herança cristã recebida de seus pais», para continuar «tirando daquelas raízes a seiva necessária para uma frutificação abundante no novo milênio, há pouco iniciado».

Papa Bento XVI

domingo, 15 de novembro de 2015

Franciscana do dia - 15/11 - Bem-aventurada Maria da Paixão


Religiosa da Terceira Ordem Regular (1839-1904). Fundadora das Franciscanas Missionárias de Maria. Foi beatificada no dia 14 de Maio de 2006.

  
Helena Chapotin nasceu em Nanci, França, a 21 de Maio de 1839, e faleceu em São Remo a 15 de novembro de 1904. Superadas muitas provas, em 1865 ingressou na congregação das religiosas da Maria Reparadora em Tolosa, e logo no ano seguinte partiu para a Índia, onde foi superiora e seguidamente provincial da missão de Medura, onde com zelo incansável deu novo alento às atividades missionárias já iniciadas e as multiplicou.

Chamada a Roma em 1877, com a benção de Pio IX fundou uma nova congregação, das irmãs franciscanas de Maria (vítimas, adoradoras e missionárias), a qual em 1885 foi agregada à ordem franciscana regular sob a obediência dos frades menores. Em 1896 Leão XIII aprovou as constituições do novo instituto, redigidas pela fundadora. Foi ela quem até à morte o governou, multiplicando casas e obras com uma rapidez assombrosa por toda a Europa e mais ainda em terras de missão.

Contudo, na véspera da morte, reconheceu: “Se o instituto fosse obra minha, morreria comigo. Mas é obra de Deus!”. Seguindo as pisadas da fundadora, as franciscanas missionárias de Maria oferecem com gosto a própria vida para completarem o que falta à Paixão de Cristo. Um refrão muito repetido pela madre Maria da Paixão era este: “A nossa pátria é todo o gênero humano”. Por isso as religiosas do seu instituto estão sempre prontas para irem viver em qualquer parte e aí darem testemunho do Evangelho, em especial nos países e lugares onde a Igreja está menos presente, no meio dos pobres e deserdados. Desde o sangue das sete santas mártires da China em 1900, até os incontáveis e obscuros sacrifícios de tantas outras irmãs, entre as quais a B. Maria Assunta Pallotta, as missionárias de Maria têm pago com a vida, e por vezes com o próprio sangue, a sua dedicação a povos e países que se encontram em situação dramática.

Para conferir a esse ideal uma base sólida e segura, a fundadora não encontrou melhor ponto de apoio do que o espírito de Francisco de Assis. Desde a juventude ela se sentira atraída pelo santo pobrezinho. Quando se lhe tornou possível enxertar no tronco robusto da família franciscana o novo rebento que Deus por seu intermédio suscitara, para dela receber uma maior participação de espírito evangélico, de pobreza, de simplicidade e de alegria, sentiu plenamente realizado o seu próprio carisma e o desígnio de Deus sobre ela e sobre a sua obra.

Da mesma seiva e do mesmo espírito se nutrem ainda hoje as 9.000 franciscanas missionárias de Maria, pertencentes a 63 nacionalidades e distribuídas por mais de 73 países dos cinco continentes, continuando a obra de Maria da Paixão. A extrema diversidade das irmãs da congregação quanto a origens, línguas, culturas e atitudes, bem como a vastíssima gama de compromissos apostólicos, encontram em Cristo, Palavra e Pão, um centro de união e comunhão na diversidade, que foi sempre característica fundamental do Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria.

Maria da Paixão foi beatificada em Nápoles, no dia 14 de Maio de 2006.

sábado, 14 de novembro de 2015

PROFECIA DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL V


Em Clara de Assis todos podemos ser de Deus.

Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho

Conclusão do subtítulo:
1. A família franciscana do Brasil e a identidade como profecia. criar sujeitos fortes e não individualidades fracas. A liberdade de ser.

O indivíduo se identifica com o patrão, com o que vem dos domínios do poder e dos cargos, que tem muito tempo para decidir o tempo e a vida dos outros. O sujeito não acelera a vida, está na comunidade fraterna sem dissolver as diferenças. O indivíduo se esconde na casa e vive com seus hábitos mentais confundindo manias pessoas com carisma pessoal. O sujeito sai da casa para o mundo, reconstrói a casa e reconstrói o mundo, faz e relata eventos em que guarda a memória boa dos fatos. O indivíduo tem a identidade da máquina. O sujeito sabe que só é possível a identidade quando se guarda a memória das coisas grandiosas dentro do próprio coração. O indivíduo é programado para esquecer.  Quem não cultiva a memória não tem mais raízes. Nós vivemos hoje numa produção de esquecimento. O sujeito recorda. O indivíduo é tempo produtivo. O sujeito é tempo celebrativo. O indivíduo abraça o mercado que não dá nada de graça e paga caro para vestir-se de grife. O sujeito abraça o dom de existir na gratuidade. O indivíduo é medroso e inseguro e por isso precisa de sistemas autoritários. O sujeito é livre em meio às pesadas estruturas.

Aprendamos com Clara de Assis a profecia do Feminino! Clara não é importante somente como companheira de Francisco, mas é um forte exemplo do Movimento Religioso Feminino dos séculos XII e XIII. Exerceu uma influência muito grande entre as mulheres de seu tempo a tal ponto que Hortolana, sua mãe, Inês e Beatriz, suas irmãs de sangue, Inês da Boêmia, e tantas mulheres a seguiram.  Donato de Besançon foi o primeiro a escrever uma Regra de Vida para mulheres que viviam nos mosteiros; e a partir daí todas as Regras, por assim dizer, femininas, ou compilações de Regras, são feitas por homens. Clara foi a primeira mulher a escrever uma Regra do próprio punho e bem própria para mulheres. Não temos o original com a chancelaria pontifícia, mas nos restou o texto de Clara com sua limpidez original.

A firmeza de Clara causa certa perplexidade. Ela conduz vidas! Escreve um texto tendo como pano de fundo São Bento e a Regra não Bulada de Francisco; mas não deixa de ser original. Seu tempo é tempo litúrgico. Seu tema mais importante é a Pobreza. Clara causa impacto! Pode uma mulher e seu grupo de mulheres viverem sem nada? Podem sim! Se há um intenso amor, existe um desatrelamento do jurídico e a entrega a algo mais substancial: não preciso ter nada pois tenho uma riqueza essencial, a capacidade de amar o Amado!

Clara sempre falou e viveu  mais que Francisco a Pobreza. A sua fraternidade feminina de São Damião viveu radicalmente pobre e esta é sua original irradiação. Clara pede o direito de não ter nenhum direito; quer ser livre para amar. É como se voltasse às fontes do feudalismo: autogerir-se!
Clara viveu tão coerentemente a sua vida que o Mosteiro passa a ser lugar de irradiação: não é reclusão entre paredes, mas sim um ideal que voa para o mundo. Um ideal que sai pelas frestas de São Damião e ganha corações. Em Clara de Assis todos podemos ser de Deus; todos podemos ser nobres de alma através de seu Amor.

CONTINUA....

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

Santos franciscanos do dia - 14/11 - Santos Nicolau Tavelic, Deodato de Rodez, Pedro de Narbona e Estevão de Cúneo Nicolau Tavelic (Mártires na Terra Santa)



(1340 -1391) Sacerdotes e mártires da Primeira Ordem. Canonizados por Paulo VI no dia 21 de junho de 1970.

  
Nicolau Tavelic

É o primeiro croata canonizado, uma figura extraordinária no ambiente do seu tempo. Nasceu por volta de 1340 em uma cidade da Dalmácia, e quando era ainda adolescente ingressou na ordem dos frades menores. Depois de ordenado sacerdote foi enviado como missionário para a Bósnia, onde durante 12 anos se dedicou totalmente à conversão dos bogomilos, hereges de tendência maniqueísta, juntamente com Deodato de Rodez.

Em 1384 dirigiram-se ambos à Palestina, onde se associaram a outros dois confrades, Pedro de Narbona e Estevão de Cúneo, todos eles futuros mártires de Cristo. Entretanto fixaram-se em Jerusalém, no convento de São Salvador, em oração e estudo. Depois de muito meditar sobre o assunto, Nicolau p, Nicolau projetou uma missão muito ousada. Missão com que já sonhada anteriormente por São Francisco, movido pelo Espírito Santo, pelo zelo da fé e pelo desejo de martírio. Tratava-se de anunciar publicamente em Jerusalém, aos chefes dos mulçumanos, a pessoa e a doutrina de Cristo.

Deodato 

Nasceu em uma cidade francesa que nos textos originais latinos é designada por Ruticinium, identificada com a cidade atualmente chamada Rodez, sede episcopal, a uns 600 quilômetros a sul de Paris. Fez-se frade menor quando ainda era moço, e foi ordenado sacerdote na província franciscana da Aquitânia.

Por volta de 1373 o vigário geral P. Bartolomeu do Alverne fizera um apelo com o fim de recrutar religiosos para uma particular expedição missionária à Bósnia. Um bula de Gregório XI publicada nessa altura apresentava boas perspectivas para o progresso da fé nessas zonas infestadas pela heresia dos bogomilos, seita herética de fortes tendências maniqueístas, cujos principais representantes uniam aos erros dogmáticos uma rígida austeridade de vida.

Deodato de Rodez foi parar a esse campo de atividade para secundar o desejo do vigário geral da ordem e do papa Gregório XI, e pelos mesmos motivos e nas mesmas circunstâncias foi também Nicolau Talevic. Do encontro entre os dois santos, nasceu uma profunda amizade, que os amparou durante quase 12 anos no meio de enormes dificuldades e canseiras, comparáveis às dos grandes missionários da Igreja. Há um relato pormenorizado dessa heroica expedição apostólica da Bósnia, bem como do martírio ocorrido posteriormente.

Em 1384 foram ambos para a Palestina, onde se encontraram com outros dois confrades já mencionados, com quem viriam a compartilhar as atividades apostólicas e a palma do martírio.

Pedro de Narbona

Da província franciscana da Provença, durante vários anos aderiu à reforma iniciada em 1368 na Úmbria e tendente a uma mais perfeita observância da regra de São Francisco. Em pouco tempo essa onda reformista se espalhou por toda a Úmbria e pelas Marcas, a ponto de em 1373 já contar com uma dezena de eremitérios. Tratava-se de um movimento de fervor que procurava renovar o elã inicial da vida franciscana, em especial no ideal da pobreza e na prática da piedade. O fato de Pedro de Narbona ter vindo do sul da França para os eremitérios da Úmbria mostra bem o seu fervor religioso e esclarece bem tanto a sua vida anterior como a sua permanência em Jerusalém.

Estevão

Natural de Cúneo, no Piemonte, fez-se frade menor em Génova, na província franciscana da Ligúria. Durante 8 anos trabalhou ativamente na Córsega, como membro do vigariato franciscano dessa ilha. Pode-se dizer que terá feito aí um bom noviciado apostólico. Depois passou como missionário para a Terra Santa, onde a 14 de novembro de 1391 selou com o martírio a pregação do evangelho, demonstrando que o islamismo não é a religião verdadeira, e que Cristo, e não Maomé, é o enviado de Deus para salvar a humanidade.

No dia 11 de novembro de 1391, após intensa preparação, os quatro missionários puseram em prática o projeto delineado. Saíram juntos do convento, levando cada um deles um papel dobrado ao meio, com uma página interior escrita em latim e outra em árabe. Dirigiam-se à mesquita, mas os árabes não os deixaram entrar, e perguntaram-lhe o que queriam. Eles responderam que queriam falar com o Cadi, pois tinham a dizer-lhe coisas muito úteis para a salvação. Responderam os mulçumanos que o Cadi não estava na mesquita, mas lhe indicariam onde era a casa dele.

Quando chegaram na presença dele, abriram os papéis e leram os escritos, explicando-os e apresentando as suas razões, mais ou menos nesses termos: “Senhor Cadi, e senhores todos aqui presentes, pedimos-vos que escuteis as nossas palavras e lhes presteis a máxima atenção, porque tudo quanto vamos dizer é muito importante para vós; é justo e verdadeiro, isento de qualquer embuste, e útil para aqueles que o queiram pôr em prática”. E começaram a fazer uma exposição da mensagem do evangelho de Cristo, o único Salvador, demonstrando ao mesmo tempo a falsidade da lei de Maomé. Reuniu-se grande multidão de mulçumanos, que numa primeira reação se mostraram espantados, depois irritados, e finalmente furiosos. Nunca tinham ouvido semelhantes afirmações contra o Corão nem contra o Islã.

Ao ouvir este discurso inflamado, o Cadi dirigiu-se aos quatro religiosos perguntando-lhes: “Isso que estais por aí a dizer, dizei-lo com pleno conhecimento e liberdade, ou resulta de um momento de exaltação fanática, sem controlo da razão? Foi por ventura o papa ou algum rei da cristandade que vos mandou cometer semelhante loucura?”. Os religiosos responderam imediatamente: “Viemos aqui simplesmente enviados por Deus. E vós, se vos recusais a acreditar em Cristo e a receber o batismo, não tereis a vida eterna”.

Foram de imediato condenados à morte e, no dia 14 de novembro de 1391, foram assassinados, despedaçados e queimados.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncula

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Santo franciscano do dia - 13/11 - São Diogo de Alcalá


Religioso da Primeira Ordem (1400-1463). Canonizado por Sixto V no dia 2 de julho 1588.
  
Diogo nasceu pelo ano de 1400 em São Nicolau do Porto, na região espanhola de Andaluzia. Sentindo desde muito novo inclinação  para vida solitária e penitente, durante vários anos viveu como eremita junto da igreja de São Nicolau, no seu torrão de natal. No entanto, à oração e contemplação aliava o trabalho manual, como cultivo de uma horta e a confecção de cestos de vime e pequenos utensílios para uso doméstico, os lucros desses trabalhos destinava-os por inteiro a ajudar os pobres. A fama de sua virtude estendeu-se a povoações vizinhas, e passou a ser venerado por muita gente.

Entretanto começou a sonhar em voos mais altos, e resolveu ingressar na ordem dos frades menores. Dirigiu-se nesse intuito a um convento próximo de Córdova, onde foi admitido ao noviciado, e a seu tempo à profissão dos votos religiosos. Exerceu vários ofícios humildes em diversos conventos da província religiosa, até que em 1441 foi enviado às Canárias para evangelizar os nativos, que tinham recaído em superstições e idolatrias. Só por obediência aceitou o cargo de guardião de um convento para o qual fora eleito em 1446. Dedicou-se com especial empenho a defender os indígenas da exploração por parte dos conquistadores, que por isso mesmo lhe levantaram muitas dificuldades e causaram muitas contrariedades, a ponto de em 1449 pedir autorização para regressar à Espanha. No ano seguinte em 1450, foi com um confrade a Roma, para ganhar o jubileu e assistir à canonização de São Bernardino de Sena.

Aconteceu que o convento romano de Araceli, onde os dois religiosos se tinham hospedado, foi atingido pela epidemia que nesse ano flagelou a cidade de Roma, e quase todos os frades, que eram muitos, caíram doentes. Diogo desfez-se em cuidados para com eles, quer a respeito de tratamentos, quer para providenciar ao sustento necessário, que era escasso, apesar das providências tomadas pelas autoridades públicas. Foi um autêntico herói nesse apostolado de caridade, cuidando dos doentes e socorrendo os pobres mais afetados pela carestia resultante da peste. Chegou a curar muitos enfermos pelo simples contato das mãos, untada no azeite da lâmpada colocada junto à imagem de Nossa Senhora.

Ao voltar à pátria, viveu de novo em diversos conventos antes de a morte lhe abrir as portas do céu, em Alcalá de Henares, perto de Madrid, a 12 de novembro de 1463, aos 63 anos de idade. A fama de santidade de vida desse humilde irmão leigo franciscano, unida aos muitos milagres que Deus por sua intercessão realizou, levou Sisto V a inscrevê-lo no catálogo dos santos, a 2 de julho de 1558.
São Diogo de Alcalá fez reviver a figura daqueles irmãos, simples e humildes, que nos tempos do franciscanismo primitivo foram o orgulho e a alegria de São Francisco, que no trabalho, no silêncio e na penitência conquistavam almas para Cristo. Na ordem franciscana é venerado como especial patrono dos irmãos não clérigos.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Especial -Santa Isabel, padroeira da Ordem Terceira Secular



Quem é Santa Isabel da Hungria?

Diz a lenda que Isabel foi invocada mesmo antes de nascer. Um vidente anunciou seu glorioso nascimento como estrela que nasceria na Hungria, passaria a brilhar na Alemanha e se irradiaria para o mundo. Citou-lhe o nome, como filha do rei da Hungria e futura esposa do soberano de Eisenach (Alemanha).

De fato, como previsto, a filha do rei André, da Hungria, e da rainha Gertrudes, nasceu em 1207. O batismo da criança foi uma festa digna de reis. E a criança recebeu o nome de Isabel, que significa repleta de Deus.

Ela encantou o reino e trouxe paz e prosperidade para o governo de seu pai. Desde pequenina se mostrou de fato repleta de Deus pela graça, pela beleza, pelo precoce espírito de oração e pela profunda compaixão para com os sofredores.

Tinha apenas quatro aninhos quando foi levada para a longínqua Alemanha como prometida esposa do príncipe Luís, nascido em 1200, filho de Hermano, soberano da Turíngia. Hermano se orientava pela profecia e desejava assegurar um matrimônio feliz para seu filho.

Dada a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a menina não seria companheira para Luis. E a perseguiam e maltratavam, dentro e fora do palácio.

Luis, porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel. Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de casar-se quanto antes. O que aconteceu em 1221.

A Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que fossem as situações, e isso em grau heróico! Certa vez, Luis a surpreendeu com o avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder… Mas ele, delicadamente, insistiu e… milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno inverno. Feliz, guardou uma delas.

Sua vida de soberana não era fácil e freqüentemente tinha que acompanhar o marido em longas e duras cavalgadas. Além disso, os filhos, Hermano, de 1222; Sofia, de 1224 e Gertrudes, de 1227.
Estava grávida de Gertrudes, quando descobriu que o duque Luis se comprometera com o Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.

Quando Luis ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros franciscanos a chegar na Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e este a ter freqüentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Familia Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos solteiros e casados. Era, pois, mais que amiga dos frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!

Morto o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e a expulsaram do castelo de Wartburgo. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno inverno. Duas servas fiéis a acompanharam, Isentrudes e Guda.

De volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das festas da corte. Com toda naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres. Todavia, Lá dentro dela o Senhor a chamava para doar-se ainda mais. Mandou construir um conventinho para os franciscanos em Marburgo e lá foi morar com suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos. Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o herdeiro legitimo de Luis. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de fato feliz. Por ordem do confessor, conservou alguma renda, toda revertida para os pobres e sofredores.

Construiu abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela se sentia de fato rainha, mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres, procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de dar-lhes maior quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros os seus milagres em favor dos pobres!

De há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração a arrebatava cada vez mais. Suas servas atestam que, nos últimos meses de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande piedade os sacramentos dos enfermos. Quando seu confessor lhe perguntou se tinha algo a dispor sobre herança, respondeu tranqüila: “Minha herança é Jesus Cristo !” E assim nasceu para o céu! Era 17 de novembro de 1231.

Sete anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais, canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de São Francisco, a 26 de maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada Padroeira da Ordem Franciscana Secular.

FREI CARMELO SURIAN, O.F.M.


Franciscano do dia - 11/11 - Bem-aventurado Gabriel Ferretti


Sacerdote da Primeira Ordem (1385-1456). Aprovou seu culto Bento XIV no dia 19 de setembro de 1753.

  
Gabriel Ferretti nasceu em Ancona por volta de 1385, e aos 18 anos, contra vontade dos pais, iniciou o noviciado entre os frades menores no convento de São Francisco do Alto, onde passado esse ano de prova se consagrou totalmente a Deus pelos votos de pobreza, castidade e obediência.

No recolhimento e no silêncio do eremitério onde passou a viver, todos concentrado em Deus e na prática da vida religiosa, aprofundou o estudo das ciências teológicas, e uma vez ordenado sacerdote, dedicou-se ao apostolado entre pobres e doentes, e não tardou muito a ser conhecido como “o padre de Ancona”.

As virtudes e raras qualidades de Gabriel não passaram despercebidas aos superiores religiosos, que em 1245 o nomearam guardião do convento de São Francisco do Alto, convento que ele se apressou  a restaurar e melhorar, sem deixar de prestar abnegada assistência às vítimas da peste que assolou a região durante dois anos.

Em 1434, os frades menores da província das marcas, reunidos em capítulo, elegeram-no ministro provincial, o que muito contribuiu para nessa província se propagar eficazmente a fiel observância da regra franciscana. O papa Eugênio IV concedeu-lhe amplas faculdades para abrir novos conventos, privilégio que ele não desperdiçou em benefício da ordem. Mas apesar das múltiplas e constantes ocupações e preocupações que tal tarefa exigia, nunca deixou de se interessar pelo seu velho convento e pelos seus concidadãos de Ancona.

Em 1438, por sugestão do seu íntimo amigo São Tiago da Marca, foi convidado pelo ministro geral P. Guilherme de Casal a pregar na Bósnia, onde já tinham anunciado a Palavra de Deus o mesmo São Tiago da Marca e outros religiosos franciscanos. Mas a assembleia municipal de Ancona, que não queria ver-se privada da solícita assistência do santo frade, pediu para o deixarem continuar na sua cidade, e a petição foi atendida. Assim, Frei Gabriel não chegou a sair das Marcas, prosseguindo na obra de assistência aos pobres e doentes da cidade.

A sua terna devoção a Maria fez dele um divulgador da coroa seráfica dos sete gozos de Nossa senhora, e a Mãe do céu recompensou o amor filial do seu servo com aparições e doces colóquios. E Deus não deixou também de premiar as virtudes do humilde franciscano com o dom da profecia e dos milagres. Cassandra, uma sua sobrinha impossibilitada de caminhar, recorreu ao valimento do tio, que com um simples sinal da cruz traçado sobre a articulação afetada a curou imediatamente.
Gabriel terminou a sua virtuosa e laboriosa carreira na terra aos 71 anos no convento de Ancona, no dia 12 de novembro de 1456, assistido por São Tiago da Marca, que no funeral exaltou as virtudes do seu santo confrade.

domingo, 8 de novembro de 2015

Franciscano do dia - 08/11 - Bem-aventurado João Duns Scotus



Sacerdote, doutor sutil e mariano (1265-1308). São João Paulo II aprovou seu culto no dia 20 de março de 1993.

Nasceu em Duns, na Escócia, pelos fins de 1265 e, muito jovem ainda, foi recebido na Ordem de São Francisco de Assis. Foi ordenado presbítero no dia 17 de março de 1291. Após obter a graduação acadêmica na Universidade de Sorbonne, em Paris, foi professor nas universidades de Cambridge, Oxford, Paris e, finalmente, em Colônia.

Verdadeiro filho do Porevello de Assis, investigou com grande sutileza a divina Revelação, produzindo muitas obras filosóficas e teológicas. Com vigor ardente anunciou o mistério do Verbo Encarnado e foi incansável defensor da Imaculada Conceição da Virgem Maria e da autoridade do Romano Pontífice. Em 23 de junho de 1303, por se ter recusado a subscrever o libelo de Filipe IV, o belo, Rei da França, contra o Papa Bonifácio VIII, foi expulso de Paris, indo para Colônia, onde a 8 de Novembro de 1308 foi colhido por morte prematura, no auge de sua atividade magisterial.

A grande fama de santidade de que o insigne teólogo se viu cercado na vida, por causa de suas excepcionais virtudes cristãs, bem cedo lhe mereceu, na só no âmbito da Ordem seráfica, mas também em Colônia, na Alemanha, onde está sepultado, e em Nola, na Itália, um culto Público que o Papa João Paulo II confirmou a 6 de Julho de 1991.

Scotus viveu em um contexto desafiador e, ao mesmo tempo, extremamente fecundo. O século XIII, no qual também viveram Tomás de Aquino e Boaventura, é atravessado por duas trajetórias filosófico-teológicas bem definidas: agostiniano-boaventuriana e aristotélico-tomista. E uma única matriz polêmica a provocá-las e animá-las: o ingresso das obras de Aristóteles na universidade de Paris.

Nesse contexto, Scotus assume uma postura crítica face aos pressupostos e às principais posições defendidas por ambas as escolas, revelando-se como um pensador original.

Destaca-se pela fina precisão em bem discernir, o que lhe possibilitou dissipar inúmeras confusões e esmerar-se na especulação acerca das questões filosóficas e dos mistérios da fé. O “Doutor sutil” se caracteriza, ainda, por um raciocínio deveras singular capaz de, num cerrado diálogo com seus interlocutores, desconstruir seus argumentos e forjar conceitos e linguagem novos cada vez mais precisos e inclusivos. Com Scotus, talvez o pensamento cristão tenha atingido o mais alto vértice da especulação.

Mensagem do Papa Bento XVI:
Uma antiga inscrição sobre seu túmulo resume as coordenadas geográficas da sua biografia: “A Inglaterra o acolheu; a França o educou; Colônia, na Alemanha, conserva seus restos; na Escócia ele nasceu”. Não podemos descuidar estas informações, também porque temos poucas notícias sobre a vida de Duns Scotus. Ele nasceu provavelmente em 1266, em um povoado que se chamava precisamente Duns, nas proximidades de Edimburgo. Atraído pelo carisma de São Francisco de Assis, entrou na família dos Frades Menores e, em 1291, foi ordenado sacerdote. Dotado de uma inteligência brilhante e levada à especulação – essa inteligência pela qual mereceu da tradição o título de Doctor subtilis, “Doutor sutil” -, Duns Scotus foi dirigido aos estudos de filosofia e de teologia nas célebres universidades de Oxford e de Paris. Concluída com êxito sua formação, dedicou-se ao ensino da teologia nas universidades de Oxford e de Cambridge, e depois de Paris, começando a comentar, como todos os Mestres do seu tempo, as Sentenças de Pedro Lombardo. As principais obras de Duns Scotus representam precisamente o fruto maduro dessas lições, e tomam seu título dos lugares nos quais lecionou: Opus Oxoniense (Oxford), Reportatio Cambrigensis (Cambridge), Reportata Parisiensia (Paris). De Paris ele se afastou quando, após o começo de um grave conflito entre o rei Felipe IV o Belo e o Papa Bonifácio VIII, Duns Scotus preferiu o exílio voluntário, ao invés de assinar um documento hostil ao Sumo Pontífice, como o rei havia imposto a todos os religiosos. Assim, por amor à Sé de Pedro, junto aos frades franciscanos, abandonou o país.

Queridos irmãos e irmãs: este fato nos convida a recordar quantas vezes, na história da Igreja, os crentes encontraram hostilidade e sofreram inclusive perseguições por causa de sua fidelidade e de sua devoção a Cristo, à Igreja e ao Papa. Nós todos contemplamos com admiração esses cristãos, que nos ensinam a proteger como um bem precioso a fé em Cristo e a comunhão com o Sucessor de Pedro e, assim, com a Igreja universal.

No entanto, as relações entre o rei da França e o sucessor de Bonifácio VIII logo voltaram a ser amistosas e, em 1305, Duns Scotus pôde voltar a Paris para lecionar teologia com o título de Magister regens, que hoje seria o de professor efetivo. Sucessivamente, os superiores o enviaram a Colônia como professor do Studium teológico franciscano, mas ele morreu no dia 8 de novembro de 1308, com apenas 43 anos de idade, deixando, contudo, um número relevante de obras.

Por ocasião da fama de santidade de que gozava, seu culto se difundiu em pouco tempo na ordem franciscana e o venerável Papa João Paulo II quis confirmá-lo solenemente beato no dia 20 de março de 1993, definindo-o como “cantor do Verbo encarnado e defensor da Imaculada Conceição”. Nesta expressão está sintetizada a grande contribuição que Duns Scotus ofereceu à história da teologia.

Antes de tudo, meditou sobre o mistério da Encarnação e, ao contrário de muitos pensadores cristãos da época, sustentou que o Filho de Deus teria se feito homem ainda que a humanidade não tivesse pecado. Ele afirma, na Reportata Parisiensa: “Pensar que Deus teria renunciado a esta obra se Adão não tivesse pecado seria totalmente irracional. Digo, portanto, que a queda não foi a causa da predestinação de Cristo, e que, ainda que ninguém tivesse caído, nem o anjo, nem o homem, nesta hipótese Cristo teria estado ainda predestinado da mesma forma” (in III Sent., d. 7, 4). Este pensamento, talvez um pouco surpreendente, nasce porque, para Duns Scotus, a Encarnação do Filho de Deus, projetada desde a eternidade por parte de Deus Pai em seu plano de amor, é cumprimento da criação e torna possível a toda criatura, em Cristo e por meio d’Ele, ser cumulada de graça e dar louvor e glória a Deus na eternidade. Duns Scotus, ainda consciente de que, na realidade, por causa do pecado original, Cristo nos redimiu com sua Paixão, Morte e Ressurreição, reafirma que a Encarnação é a maior e mais bela obra de toda a história da salvação e que esta não está condicionada por nenhum fato contingente, mas é a ideia original de Deus de unir finalmente todo o criado consigo mesmo na pessoa e na carne do Filho.

Fiel discípulo de São Francisco, Duns Scotus amava contemplar e pregar o mistério da Paixão salvífica de Cristo, expressão do amor imenso de Deus, que comunica com grandíssima generosidade fora de si os raios da sua bondade e do seu amor (cf. Tractatus de primo principio, c. 4). E este amor não se revela somente no calvário, mas também na Santíssima Eucaristia, da qual Duns Scotus era devotíssimo e que via como o sacramento da presença real de Jesus e como o sacramento da unidade e da comunhão que nos induz a amar-nos uns aos outros e a amar a Deus como o Sumo Bem comum (cf. Reportata Parisiensia, in IV Sent., d. 8, q. 1, n. 3).

Queridos irmãos e irmãs: esta visão teológica, fortemente “cristocêntrica”, abre-nos à contemplação, ao estupor e à gratidão: Cristo é o centro da história e do cosmos, é Aquele que dá sentido, dignidade e valor à nossa vida. Como o Papa Paulo VI em Manila, também eu, hoje, quero gritar ao mundo: “[Cristo] é o revelador do Deus invisível, é o primogênito de toda criatura, é o fundamento de tudo; é o Mestre da humanidade, é o Redentor; nasceu, morreu e ressuscitou por nós; Ele é o centro da história e do mundo; é Aquele que nos conhece e que nos ama; é o companheiro e o amigo da nossa vida… Eu nunca terminaria de falar d’Ele” (Homilia, 29 de novembro de 1970).

Não somente o papel de Cristo na história da salvação, mas também o de Maria é objeto da reflexão do Doctor subtilis. Na época de Duns Scotus, a maior parte dos teólogos opunha uma objeção, que parecia insuperável, à doutrina segundo a qual Maria Santíssima esteve isenta do pecado original desde o primeiro instante da sua concepção: de fato, a universalidade da Redenção levada a cabo por Cristo, à primeira vista, poderia parecer comprometida por uma afirmação semelhante, como se Maria não tivesse tido necessidade de Cristo e da sua redenção. Por isso, os teólogos se opunham a esta tese. Duns Scotus, então, para fazer compreender esta preservação do pecado original, desenvolveu um argumento que foi depois adotado também pelo Papa Pio IX em 1854, quando definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Maria. E este argumento é o da “redenção preventiva”, segundo a qual a Imaculada Conceição representa a obra de arte da Redenção realizada em Cristo, porque precisamente o poder do seu amor e da sua mediação obteve que a Mãe fosse preservada do pecado original. Portanto, Maria está totalmente redimida por Cristo, mas já antes da sua concepção. Os franciscanos, seus irmãos, acolheram e difundiram com entusiasmo esta doutrina, e os demais teólogos – frequentemente com juramento solene – se comprometeram a defendê-la e aperfeiçoá-la.

A este respeito, eu gostaria de evidenciar um dado que me parece importante. Teólogos de valor, como Duns Scotus sobre a doutrina da Imaculada Conceição, enriqueceram com sua contribuição específica de pensamento o que o Povo de Deus já acreditava espontaneamente sobre a Beatíssima Virgem, e manifestava nos atos de piedade, nas expressões da arte e, em geral, na vida cristã. Assim, a fé, tanto na Imaculada Conceição como na Assunção corporal de Nossa Senhora já estava presente no Povo de Deus, enquanto a teologia não havia encontrado ainda a chave para interpretá-la na totalidade da doutrina da fé. Portanto, o Povo de Deus precede os teólogos e tudo isso graças a esse sensus fidei sobrenatural, isto é, essa capacidade infundida pelo Espírito Santo, que capacita para abraçar a realidade da fé, com a humildade do coração e da mente. Neste sentido, o Povo de Deus é “magistério que precede” e que deve ser depois aprofundado e acolhido intelectualmente pela teologia. Que os teólogos possam sempre colocar-se à escuta dessa fonte da fé e conservar a humildade e a simplicidade dos pequenos! Recordei isso há alguns meses, dizendo: “Existem grandes doutos, grandes especialistas, grandes teólogos, mestres da fé, que nos ensinaram muitas coisas. Penetraram nos pormenores da Sagrada Escritura (…), mas não puderam ver o próprio mistério, o verdadeiro núcleo (…). O essencial permaneceu escondido! (…) Pensemos em Santa Bernadete Soubirous; em Santa Teresa de Lisieux, com a sua nova leitura da Bíblia ‘não científica’, mas que entra no coração da Sagrada Escritura” (Homilia. Missa com os Membros da Comissão Teológica Internacional, 1º de dezembro de 2009).

Finalmente, Duns Scotus desenvolveu um ponto no qual a modernidade é muito sensível. Trata-se do tema da liberdade e da sua relação com a vontade e com o intelecto. Nosso autor sublinha a liberdade como qualidade fundamental da vontade, iniciando uma postura de tendência voluntarista, que se desenvolveu em contraposição com o chamado intelectualismo agostiniano e tomista. Para São Tomás de Aquino, que segue Santo Agostinho, a liberdade não pode ser considerada uma qualidade inata da vontade, mas o fruto da colaboração da vontade com o intelecto. Uma ideia da liberdade inata e absoluta colocada na vontade que precede o intelecto, tanto em Deus como no homem, corre o risco, de fato, de levar à ideia de um Deus que não estaria ligado tampouco à verdade nem ao bem. O desejo de salvar a absoluta transcendência e diversidade de Deus com uma afirmação tão radical e impenetrável da sua vontade não leva em consideração que o Deus que se revelou em Cristo é o Deus “logos”, que agiu e age repleto de amor a nós. Certamente, como afirma Duns Scotus na linha da teologia franciscana, o amor supera o conhecimento e é capaz de perceber cada vez mais o pensamento, mas é sempre o amor de Deus “logos” (cf. Bento XVI, Discurso em Ratisbona, “Enseñanzas de Benedicto” XVI, II [2006], p. 261). Também no homem a ideia de liberdade absoluta, colocada na vontade, esquecendo o nexo com a verdade, ignora que a própria liberdade deve ser libertada dos limites que lhe foram postos pelo pecado.

Falando aos seminaristas de Roma, no ano passado, eu recordava que “a liberdade, em todas as épocas, foi o grande sonho da humanidade, desde o início, mas particularmente na época moderna (Discurso ao Pontifício Seminário Maior Romano, 20 de fevereiro de 2009). Mas precisamente a história moderna, além da nossa experiência cotidiana, ensina-nos que a liberdade é autêntica e ajuda na construção de uma civilização verdadeiramente humana somente quando está reconciliada com a verdade. Quando se separa da verdade, a liberdade se converte tragicamente em princípio de destruição da harmonia interior da pessoa humana, fonte de prevaricação dos mais fortes e dos mais violentos e causa de sofrimentos e de lutos. A liberdade, como todas as faculdades de que o homem está dotado, cresce e se aperfeiçoa, afirma Duns Scotus, quando o homem se abre a Deus, valorizando essa disposição à escuta da sua voz, que ele chama de potentia oboedientialis: quando nos colocamos à escuta da Revelação divina, da Palavra de Deus, para acolhê-la, então somos alcançados por uma mensagem que enche de luz e de esperança nossa vida e somos verdadeiramente livres.

sábado, 7 de novembro de 2015

PROFECIA DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL IV



Continuação do subtítulo:

A FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL E A IDENTIDADE COMO PROFECIA. CRIAR SUJEITOS FORTES E NÃO INDIVIDUALIDADES FRACAS. A LIBERDADE DE SER.

Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho

Francisco e Clara são uma paragem onde a humanidade se encontra nos cruzamentos de seus caminhos. Eles nos ensinaram que a nossa vida deve ser um único gesto de Amor multiplicado no tempo. Como eles temos que ser facilitadores de encontro com a humanidade. Vamos facilitar para a humanidade também um encontro com Clara e Francisco de Assis. Podem sair muitas respostas daí. Temos que colocar em nós, nas mãos e nos corações das pessoas um encontro com subjetividades fortes. Este é o grande grito profético: o máximo e o melhor do humano é o que mais revela a face de Deus. O ser profético franciscano e clariano é uma proposta de ser que seduz e cativa a humanidade. Ser assim é reforçar identidades!

Que experiência significativa estamos oferecendo ao mundo? Que força reparto, com que força estamos indo? Se tiver comigo duas ou três pessoas que querem a mesma coisa: transformo e transformamos o mundo. Com que ousadia enfrentamos o domínio do poder. O poder corrompe até os bons. Como administramos o  sombrio que acompanha a vida? Quantas pessoas são para nós ainda um pedaço de sombra? Onde fazemos valer a nossa luz? Não tenhamos medo de perseguições, porque luzes mais brilhantes são apagadas mais cedo. No oceano da vida, como estamos fazendo a  travessia? Vivemos embarcados em projetos; há momentos que estes projetos podem naufragar, mas a vida continua. Temos que dar continuidade à vida!

Que identidade humana forte estamos oferecendo ao mundo? Deixar de ser indivíduo para voltar a ser sujeito. Indivíduo não é a mesma coisa que sujeito. O mundo de hoje cria um indivíduo com a obrigação de produzir, mas anula o sujeito que poderia decidir com mais criatividade. O mundo mercantilizado promete o sujeito, mas materializa o indivíduo. O indivíduo é isolado, é apenas mais um na multidão, não tem nenhum diferencial. O sujeito é mais forte. Não é sozinho e não quer estar só. É apaixonado por projetos comuns. Tem a consciência de que é um agente de transformação e faz a diferença. Tem a consciência de que é um sujeito histórico; a sua vida é uma missão de ser, um tornar-se, uma promessa, uma chance  de Ser a mais.  É grito profético perguntar: como enfrentar um panorama com tanto individualismo e poucos sujeitos? O indivíduo é escravo da tecnologia. O sujeito olha a realidade. O indivíduo ama e usa o objeto. O sujeito convive com as coisas. O indivíduo dessacraliza o real; o sujeito sabe da vida e constrói o seu saber pela observação do real. O indivíduo morre e envelhece a partir do momento que tem muito medo, o sujeito vive superando medos.


Continua

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/