terça-feira, 31 de maio de 2016

Visitação de Nossa Senhora


Maio é o mês dedicado à particular devoção de Nossa Senhora. A Igreja o encerra com a Festa da Visitação da Virgem Maria à santa prima Isabel, que simboliza o cumprimento dos tempos. Antes ocorria em 02 de julho, data do regresso de Maria, uma semana depois do nascimento e do rito da imposição do nome de São João Batista.

A referência mais antiga da invocação de Nossa Senhora da Visitação pertence a Ordem franciscana, que assim a festejavam desde 1263, na Itália. Em 1441, o Papa Urbano VI instituiu esta festa, pois a Igreja do Ocidente necessitava da intercessão de Maria, para recuperar a paz e união do clero dividido pelo grande cisma.

A Bíblia narra que Maria viajou para a casa da família de Zacarias logo após a anunciação do Anjo, que lhe dissera “vossa prima Isabel, também conceberá um filho em sua idade avançada. E este é agora o sexto mês dela, que foi dita estéril; nada é impossível para Deus”. (Lc 1, 26, 37). Já concebida pelo Espírito Santo, a puríssima Virgem foi levar sua ajuda e apoio à parenta genitora do precursor do Messias Salvador.

O encontro das duas Mães é a verdadeira explosão de salvação, de alegria e de louvor ao Criador. Dele resultou a oração da Ave Maria e o cântico do “Magnificat”, rezados e entoados por toda a cristandade aos longos destes mais de dois milênios.

Desde 1412, Nossa Senhora da Visitação é festejada especialmente pelos italianos da Sicília, como a Padroeira da cidade da Enna. Mas nem todo o mundo cristão celebrava esta veneração, por isto foi confirmada no sínodo de Basiléia em 1441.

Os portugueses sempre a celebraram com muita pompa, porque rei D. Manuel I, o Venturoso, que governou entre 1495 e 1521, escolheu Nossa Senhora da Visitação a Padroeira da Casa de Misericórdia de Lisboa, e de todas as outras do reino.

Foi assim que este culto chegou ao Brasil Colônia, primeiro na Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, depois se disseminou por todo território brasileiro. Antigamente os fieis faziam uma enorme procissão até os Hospitais da Misericórdia para levar conforto aos enfermos e suas doações às instituições. Hoje, as paróquias enviam as doações recolhidas com antecedência, para as Pastorais dos enfermos, que atuam com os voluntários junto às Casas de Saúde mais deficitárias. Tudo para perpetuar a verdadeira caridade cristã, iniciada pela Mãe de Deus ao visitar a santa prima levando sua amizade e ajuda quando mais precisava.

Em 1978, a Madre Maria Vincenza Minet foi chamada pelo Senhor para fundar uma congregação de religiosa sob o carisma de Nossa Senhora da Visitação. Com o apoio do Bispo de Assis, nesta cidade da Itália nasceu as Servas da Visitação em 1978, para abrirem missões a fim de atender as necessidades dos mais pobres e marginalizados em todos os continentes. Hoje, além da Itália, atuam na Polônia, Filipinas, África e Brasil.

A Igreja celebra hoje os santos: Câncio, Petronila de Roma e Pascásio.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Santa franciscana do dia - 30/05 - Santa Camila Batista da Varano


Virgem religiosa da Segunda Ordem (1458-1524). Gregório XVI aprovou seu culto no dia 7 de abril e foi canonizada por Bento XVI no dia 17 de outubro de 2010. 

Nasceu em Camerino a 9 de abril de 1458. Filha de Júlio César Varani, típica figura de um homem do renascimento, duque de Camerino, e de uma certa dama, Francisca de Mestro Giacomo de Malignis, antes das núpcias de seu pai com Giovana Malatesta, de Rímini (conhecida como beata Giovana ou Jane Malatesta).

Bem cedo Camila é levada ao Palácio dos Varani, família ilustre que desde a metade do século XIII dominava a cidade e o ducado de Camerino. É reconhecida como filha de Júlio César, e como tal, amada de modo particular. Também Giovana acolhe-a com maternal afeto: o relacionamento que as duas mantêm é uma das realidades mais belas da infância e da juventude de Camila. Entre os 8 e 9 anos foi imensamente atraída por uma pregação do franciscano Dominico de Leonessa (observante) sobre a Paixão de Jesus. Fez voto de meditar todas sextas-feiras os sofrimentos do Senhor e de verter ao menos uma “lagrimazinha”.

Depois de 1476, em contato com Frei Francisco de Urbino, começou a maturar sua vocação para a vida religiosa, diante da qual relutou muito. Depois de ter-se decidido, passa por sérias dificuldades e contrariedades vindas da parte dos parentes, de modo especial de seu pai, que não acolhem com bons olhos os planos de Camerino. Desejam para ela um casamento, que favoreça a política do ducado. Em 1481, ingressa finalmente no Mosteiro de Clarissas Urbanistas da cidade de Urbino. Tem então vinte e três anos. Ao receber o hábito religioso, recebe também o nome de Batista, tão corrente na época. Em 1482, faz sua profissão religiosa em circunstâncias para ela demais difíceis, tanto que ao escrever sua autobiografia, chama de “amarga profissão”.

Em 1483, redige “As Recordações de Jesus”, opúsculo com instruções e admoestações recebidas de Jesus enquanto ainda estava em Camerino no palácio paterno. O pai, Júlio César, e seus filhos, não suportando que Camila estivesse longe, constroem em Camerino um Mosteiro. A 4 de janeiro de 1484, Camila retorna a Camerino com oito irmãs para fundar uma comunidade clariana, não mais de Urbanistas, mas com a Regra própria de Santa Clara. No correr dos anos é eleita várias vezes abadessa.

É humilde, serviçal, atenta às necessidades de suas irmãs. Datam desses anos, fortes experiências místicas, visões de Jesus, da Virgem e de Santa Clara. Em 1488, Camila escreve “As dores mentais de Jesus na sua Paixão”. Em 1491, numa prolongada inspiração, redige “A vida Espiritual”, sua autobiografia, endereçada ao Beato Domênico de Leonessa, seu confessor. Seguem outras obras, entre as quais “Instruções ao Discípulo”, dirigidas ao padre Giovani de Fano, franciscano. Desde o ano de 1488 até 1490, passa por uma dolorosa crise espiritual. Sua autobiografia, redigida em fevereiro-março de 1491 data do final deste período. Em 1501, inicia-se uma nova crise: a familiar, que a envolve profundamente.

O Papa Alexandre VI excomunga o pai de Camila unicamente por motivos políticos. O exército de Valentino aprisiona seu pai e seus irmãos Aníbal, Venâncio e Pirro, que posteriormente são assassinados. Camila, para não ser envolvida nas turbulências militares, foge com outra clarissa, parenta dos Varani, para Fermo. Em seguida, a pé, segue para Atri, onde as acolhe em seu castelo a duquesa Isabela Picolimini Tedeschini. Do massacre ocorrido no ano de 1501, restou somente o irmão mais novo de Camila, João Maria e o sobrinho Sigismundo, filho de Venâncio, com sua própria mãe, por terem fugido com antecedência.

Após a morte do Papa Alexandre VI (que como cardeal levara uma vida devassa, tendo vários filhos com algumas damas romanas, sendo eleito papa por tramas políticas), o duque João Maria é reintegrado no Senhorio de Camerino pelo Papa Júlio II (1503). Então Camila e a companheira retornam também a Camerino. Daí seria obrigada a sair novamente para fundar um mosteiro de Clarissas em Fermo (1505), por ordem do Papa. Em 1511, morre-lhe a mãe adotiva, Giovana Malatesta, que lhe assinalou profundamente a existência.

Em 1521, empreende uma viagem a São Severino, nas Marcas, em busca de fundos para seu Mosteiro. Morreria em Camerino a 31 de maio de 1524, com grande dor de seu irmão João Maria e de toda a corte ducal, deixando uma preciosa herança de manuscritos, alguns em latim e na maioria em dialeto umbro. Suas obras tornaram-se famosas na literatura mística. As fundações de Camerino e de Fermo, realizadas com empenho da observância radical da Regra de Santa Clara, lhe deram também a fama de ter sido excelente reformadora da Ordem de Santa Clara. Foi beatificada por Gregório XVI em 1843 e canonizada pelo Papa Bento XVI a 17 de outubro de 2010 em Roma. Sua festa ocorre no dia 30 de maio.
Morreu com fama de santidade, em 31 de maio de 1524, nesse mosteiro. A cerimônia do funeral se desenvolveu no pátio interno do palácio paterno.

Segundo o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei José Rodríguez Carballo, ela foi uma luz para a família franciscana.

“Camila Batista manifesta-se como uma cristã capaz de viver com seriedade e intensidade a busca de Deus, radicando-se na experiência bíblica. Embora dotada de uma refinada e elevada formação cultural, o seu modo de ler a Escritura nunca assumiu o estilo de uma erudição árida. À luz da Palavra, relê o seu itinerário vocacional e toda a sua vida, servindo-se do modelo bíblico: os grandes acontecimentos da história da salvação estão na base da sua espiritualidade quase como profecias que se realizam.

Aproximando-nos de seus escritos, damo-nos conta de que a liturgia é o lugar privilegiado em que ela escuta a Palavra, alcançando aí a luz e a força para realizar as suas escolhas.
“Tu, Senhor, por graça nasceste na minha alma e me mostraste a via e a luz e lume da verdade para chegar a ti, verdadeiro paraíso. Nas trevas e escuridão do mundo, me deste a vista, o ouvir e o falar e o caminhar – pois que na verdade eu era cega, surda e muda – e me ressuscitaste em ti, verdadeira vida, que dás vida a cada coisa que tem vida”.

Camila Batista mostra-nos a via concreta para observar o santo Evangelho, para colocá-lo em prática e traduzi-lo na existência cotidiana. O voto de derramar a cada sexta-feira uma lágrima em memória da Paixão de Cristo, ao qual permanece tenazmente fiel mesmo imersa na vida da corte, testemunha-nos aquele envolvimento, aquela participação “física” e total ao mistério de Cristo que se torna relação viva e fecunda, segundo a mais genuína espiritualidade franciscana.

Na sociedade de hoje que favorece uma religiosidade intimista e frágil, reduzindo a fé a uma pulsão emotiva e desencarnada, Camila Batista sugere a toda a família franciscana uma via segura: viver o Evangelho com paixão e radicalidade e restituir “amor por amor, sangue por sangue, vida por vida”.

Somente assim poderemos ser uma presença significativa na Igreja e na história”.

domingo, 29 de maio de 2016

Franciscano do dia - 29/05 - Bem-aventurado Herculano de Piegaro


Sacerdote da Primeira Ordem (1390-1451). Aprovou seu culto o Papa Pio IX no dia 29 de março de 1860. 

Herculano nasceu em Piegaro, Província de Perusa, em 1390. Aos vinte anos vestiu o hábito franciscano, propondo-se a imitar Pobrezinho de Assis no ardor da caridade e no zelo apostólico. Teve como mestre o Beato Alberto de Sarteano, que com São Bernardino de Sena, São Tiago das Marcas e São João Capistrano foram as colunas da Observância, aquele providencial movimento para reconduzir a Ordem dos Frades Menores à genuína pureza da Regra.

Ordenado sacerdote, exerceu o ministério da pregação percorrendo povoados e cidades com grande proveito das almas, que voltavam para Deus com a prática da vida cristã. um dos argumentos que desenvolvia com preferência era a Paixão de Cristo. Numa sexta-feira santa pregou em Áquila com tanta veemência a Cristo sofredor morto sobre a cruz, que os fiéis prorromperam em pranto.

Depois de anunciar ardorosamente o Evangelho, chegava aos conventos destinados ao retiro e à solidão onde, em perfeito silêncio, em oração assídua, em penitência austera, refazia novamente o espírito de intenso fervor. Com freqüência alimentava-se somente da Eucaristia, de pão e de água.

Em 1429, seu ilustre mestre, o Beato Alberto de Sarteano o quis como companheiro em uma missão especial na Palestina. Ali, por ordem de Eugênio IV ia para tomar posse dos Lugares Santos em nome da Ordem dos Frades Menores. A visita aos lugares santificados pela vida de Jesus, da Virgem e dos Apóstolos, deixou no coração de Herculano uma marca indelével. Depois de alguns meses retornou à sua pátria completamente transformado, pronto a retomar seu caminho apostólico.

Em 1430, enquanto pregava a quaresma na Catedral de Lucca, os florentinos assediaram a cidade. Herculano se ofereceu como mediador de paz, interessou-se em socorrer os sitiados e, faltando víveres, ocultamente fez introduzir no cerco da cidade o que era necessário para sustentar a povoação. Predisse a retirada das forças inimigas e a vitória dos Lucenses. Os cidadãos em sinal de agradecimento, cederam ao Beato o convento de Pozzuolo. Construiu outros dois conventos na Toscana: em Barca e em Castelnuovo, na Carfagna, onde foi sábio e zeloso superior.

A 28 de maio de 1451, aos 61 anos de idade adormeceu santamente na paz do Senhor. Os milagres glorificaram sua vida apostólica e também sua tumba.

Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, de Frei Giuliano Ferrini e Frei José Guillermo Ramírez, OFM, edição Porziuncola.

sábado, 28 de maio de 2016

Santa franciscana do dia - 28/05 - Santa Mariana de Jesus Paredes e Flores


Virgem da Terceira Ordem (1618-1645). Canonizada pelo Papa Pio XII no dia 9 de julho de 1950. 

Mariana de Jesus de Paredes e Flores é a primeira santa da república do Equador e foi proclamada heroína nacional. Nasceu em Quito a 31 de outubro de 1618, oitava e última dos filhos do capitão espanhol Jerônimo Flores de Paredes, nascida em Toledo e de Mariana Granobles Jaramillo, nascida em Quito. Cedo órfã de pai aos quatro anos e de mãe aos seis, foi educada por sua irmã maior, Jerônima, casada com o capitão Cosme de Casa Miranda.
Inclinada desde sua infância aos exercícios de piedade e de mortificação, fez a primeira comunhão aos sete anos, e fez o voto de virgindade tomando o nome de Mariana de Jesus. Fez os exercícios espirituais, e como Santa Teresa, quis fugir de sua casa com uma prima para ir a evangelizar os Índios Mainas.

Esta iniciativa não teve êxito como tampouco a de retirar-se a uma capela aos pés do vulcão Pichincha, para implorar a Virgem a proteção contra os perigos do vulcão. Sua família não a autorizou para entrar entre as irmãs Franciscanas; então ela decidiu ingressar na Terceira Ordem de São Francisco e se retirou para uma alcova de sua própria casa, se vestiu com um Saial marrom e começou uma vida de completo recolhimento, de largas orações e de duras penitências. Estas austeridades não mudaram seu caráter alegre: tocava o violão, consolava aos tristes, reconciliava a negros e índios e fazia até milagres.

Mas sua saúde se ressentiu com as penitências as quais se ajuntaram dolorosas sangrias da parte dos médicos. Com os terremotos e as epidemias que tiveram lugar em Quito em 1645, Marianita, como a chamavam seus contemporâneos, ofereceu sua vida por seus concidadãos. Em sua reclusão foi atacada por febre altíssima e fortes dores. Ao mesmo tempo que progredia a enfermidade da Santa, ia diminuindo a peste na cidade e o terremoto havia cessado no momento de seu heroico oferecimento. Nos últimos três dias perdeu a voz e só no último dia aceitou que a colocassem num leito.

Fazia tempo que havia expressado a seus familiares o desejo de que depois de morta a vestissem com o hábito franciscano que sempre teve em sua cela, emquanto por muitos anos levava o escapulário e o cordão da Terceira Ordem Franciscana, recebidos dos Frades Menores, por conselho de seu confessor. Predisse o dia e hora de sua morte, que teve lugar às 22 horas do dia 26 de maio de 1645. Tinha 26 anos, 6 meses e 26 dias de idade. Sua morte foi chorada por toda a cidade. Nos lábios de todos estavam esta expressão: “Morreu a Santa”. Seus funerais foram um triunfo, uma explosão de agradecimento e de profunda veneração pela admirável concidadã, pela generosa vítima e sua salvadora.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Franciscano do dia - 27/05 - Bem-aventurado Mariano de Roccacasale


Religioso da Primeira Ordem (1778-1866). Beatificado por São João Paulo II no dia 3 de outubro de 1999 (sua festa é no dia 31 de maio) 

Mariano de Roccacasale nasceu a 14 de Junho de 1778 em Roccacasale, Província de Áquila (Itália). Depois de ter ficado sozinho com os pais, por causa do casamento dos seus irmãos, Mariano encarregou-se de cuidar do rebanho e, no contacto com a natureza e a solidão dos campos, aprendeu a valorizar a reflexão e o silêncio. Percebeu, então, que a sua vocação não era para o mundo e, com vinte e três anos, decidiu dedicar-se com radicalidade ao seguimento de Cristo.

A 2 de Setembro de 1802 vestiu o hábito franciscano. Resumia a sua nova vida em duas palavras: oração e trabalho. Após alguns anos de serviço no convento de Arísquia, como carpinteiro hábil e valioso, jardineiro, cozinheiro e porteiro, pediu a transferência para o Retiro de Bellegra.

Ali foi nomeado porteiro do convento e desempenhou, durante mais de quarenta anos este serviço que se tornou um meio para a sua santificação. Para todos tinha um sorriso, sabia acolhê-los com alegria e simpatia, instruía-os nas verdades da fé, dava-lhes conselhos e com eles rezava, sem deixar de lhes dar até mesmo um pouco de pão. Jamais se lamentava do trabalho nem dava sinais de cansaço; era sempre sereno, afável, sorridente.
A fonte de tanta virtude era, sem dúvida, a oração intensa e recolhida. Eis o segredo deste humilde frade franciscano, que morreu a 31 de Maio de 1866.

Na sua beatificação, São João Paulo II assim definiu o beato:

“No que se refere à vida e à espiritualidade do Beato Mariano de Roccacasale, religioso franciscano, pode-se dizer que elas se resumem emblematicamente nos votos do Apóstolo Paulo à comunidade cristã dos Filipenses: “O Deus da paz estará convosco!” (4, 9). A sua vida pobre e humilde, vivida nas pegadas de Francisco e de Clara de Assis, foi constantemente dedicada ao próximo, com o desejo de ouvir e partilhar os sofrimentos de todos, para depois os apresentar ao Senhor nas longas horas transcorridas em adoração diante da Eucaristia.

O Beato Mariano levou a toda a parte a paz, que é dom de Deus. O seu exemplo e a sua intercessão nos ajudem a redescobrir o valor fundamental do amor de Deus e o dever de o testemunhar na solidariedade para com os pobres. Ele é para nós exemplo, sobretudo no exercício da hospitalidade, tão importante no atual contexto histórico e social e principalmente significativo na perspectiva do Grande Jubileu do Ano 2000.

A mesma espiritualidade franciscana, centrada numa vida evangelicamente pobre e simples, distingue Frei Diego Oddi, que hoje contemplamos no coro dos Beatos. Na escola de São Francisco, ele aprendeu que nada pertence ao homem a não ser os vícios e os pecados e que tudo o que a pessoa humana possui, na realidade é dom de Deus (cf. Regra não selada XVII, em Fontes Franciscanas, 48). Desta forma aprendeu a não se angustiar inutilmente, mas a expor a Deus “orações, súplicas e agradecimentos” por todas as necessidades, como escutámos do apóstolo Paulo na segunda Leitura (cf. Fl 4, 6).

Durante o seu longo serviço de esmoleiro, foi autêntico anjo de paz e bem para todas as pessoas que o encontravam, sobretudo porque sabia ir ao encontro das necessidades dos mais pobres e provados. Com o seu testemunho jubiloso e sereno, com a sua fé genuína e convicta, com a sua oração e o seu incansável trabalho o Beato Diego indica as virtudes evangélicas, que são a via-mestra para alcançar a paz”.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Artigo - A contínua restauração da casa


Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho.

O Papa Inocêncio III (1198-1216) faleceu dez anos antes de São Francisco e é muito importante na história do Franciscanismo. Foi ele quem acolheu Francisco e seus primeiros companheiros quando, em 1209, foram a Roma pedir a aprovação para o seu Projeto de Vida: viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Francisco levou uma coletânea de textos do Evangelho que já estavam encarnados na vida, prática e pregação dele e de seus primeiros companheiros. O Papa não deu uma aprovação oficial, mas abençoou a iniciativa. Francisco entendeu a bênção como uma Bula de aprovação e levou adiante a Forma de Vida. Aliás, em nossa vida, quanta coisa não começou após uma forte bênção!

Antes de dar a bênção, o Papa Inocêncio III, sonhou que via a igreja desmoronando e um mendigo a escorando. Quando viu Francisco na sua frente o identificou como o maltrapilho do seu sonho (Cf. Legenda Maior 3,10). A bênção do Papa teve a força da revelação que trouxe o sonho. Podemos dizer que o Franciscanismo   nasce  de sonhos que se transformam em realidade. Seguir Francisco é restaurar a partir de sonhos. Ouvir a voz real da inspiração: “Francisco, vai! Restaura a minha casa!” ( Três Companheiros 5,13). Reconstrução é fazer surgir algo novo sobre antigos alicerces. Começar pelas ruínas de São Damião. É melhor recomeçar pelo lugar certo: reconstruir o lugar do espírito; depois reconstruir-se. Olhar para a Cruz de São Damião e deixar que um olhar sagrado penetre a alma. Ninguém muda sem a força do espírito.

Reconstruir as relações. Dar espaço as que vem, aos leprosos, aos amigos, aos que querem ajudar. Se existe uma prática concreta as pessoas vão chegando. Reconstruir a Fraternidade. O jeito fraterno é mais do que ajuntar gente, mas é colocar junto pessoas que sonham a mesma busca sem perder a própria singularidade. Reconstruir o mundo fazendo caminho. Francisco era um itinerante. Se não andamos pelas estradas da vida como conhecer o real. Ainda bem que no século XIII não havia esta opressão chamada televisão e seus manipuladores noticiários, pois Francisco seria forjado a não ter opinião própria. Hoje temos que reconstruir as palavras arruinadas por uma mídia decadente. Ter opinião própria e pública, não opinião publicada. Não deixem que tirem nossos sonhos! Reconstruam a convicção, a moral, a personalidade, própria, pessoal e insubornável!

Imagem: Francisco no sonho do Papa Inocêncio, by Giotto

Frei Vitório Mazzuco, OFM

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

Franciscanos do dia - 26/05 - Bem-aventurados Estêvão de Narbona e Raimundo de Carbona


Sacerdotes e mártires da Primeira Ordem (+1242). Aprovou seu culto o Papa Pio IX no dia 6 de setembro de 1866. 

No início do século XIII, a situação da Igreja no Sul da França, especialmente na região de Toulouse, estava mais precária do que nunca devido à difusão da heresia dos albigenses. Em 22 de abril de 1234, Gregório IX nomeou William Arnaud, um dominicano de Montpellier, primeiro inquisidor na diocese de Toulouse e Albi, que, imediatamente começou a trabalhar diligentemente, encontrando sérias dificuldades. Raymond VII, conde de Toulouse, proibiu seus súditos de ter qualquer contato com o irmão William e seus companheiros inquisidores, colocando guardas nas portas dos conventos para que não recebessem nenhum alimento. Em 15 de novembro de 1235 foram expulsos da cidade todos os frades dominicanos, que saíram em procissão, cantando hinos sagrados. No ano seguinte, puderam retornar ao seu claustro, mas o ódio dos hereges contra os inquisidores cresceu e causou tumultos.

Raimundo de Alfar, de Avignonet, uma pequena cidade a poucos quilômetros de Toulouse, decidiu acabar com isso. Fingindo amizade e reconciliação, convidou Frei William e dez companheiros para o seu castelo e depois os levou a uma sala, fazendo-os prisioneiros. No dia 29 de maio de 1242, véspera da Ascensão do Senhor, tarde da noite, centenas de albigenses com espadas, machados e facas invadiram a cidade e seguiram direto para o castelo. O traidor Alfar Raymond abriu as portas para eles, que logo chegaram à sala onde estavam os religiosos. Quando chegaram, os religiosos compreenderam que havia chegado o momento do martírio.

Nenhum fugiu, mas todos, de joelhos, cantaram o “Te Deum”. Após a oração, os albigenses, como hienas ferozes, atiraram-se sobre as vítimas inocentes, que caíram como cordeiros mansos. Em seus lábios, só tinham palavras de oração e perdão: “Senhor, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” Deus glorificou o heroísmo de seus mártires. No lugar do martírio e em seus túmulos aconteceram milagres. A crueldade foi implacável, principalmente contra Frei William, que teve a língua cortada.
Entre os 11 mártires havia também dois irmãos franciscanos: Santo Estêvão de Narbona e Raimundo Carbonario de Carbona.

Estêvão nasceu em Saint Thibery, na diocese de Maguelonne, na França. Sendo ainda jovem, tornou-se um monge beneditino, para seguir a regra de São Bento “Ora et labora” (oração e trabalho). Também foi abade de um mosteiro perto de Toulouse. A mensagem deixada em seu tempo por São Francisco, a vida pobre, humilde e simples dos Frades Menores, o zelo evangélico e apostólico dos primeiros santos e mártires o impressionaram profundamente que ele pediu a seus superiores para fazer parte do nova Ordem. Como San Antônio, no mesmo século, deixou a Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho para se tornar um franciscano, ele deixou a Ordem dos Monges Beneditinos para ser Irmão Menor. Homem culto e santo, trabalhou duro para defender a fé contra os erros dos albigenses. Com dez companheiros, incluindo o seu confrade Raimundo de Carbona, corajosamente deram suas vidas por amor a Cristo com o martírio de decapitação. Os Bem-aventurados Estêvão e Raimundo foram enterrados em Toulouse, na igreja dos Frades Menores.

Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, de Frei Giuliano Ferrini e Frei José Guillermo Ramírez, OFM, edição Porziuncola.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Franciscano do dia - 25/05 - Bem-aventurado Gerardo de Villamagna



Ermitão da Terceira Ordem (1174-1270). Gregório XVI aprovou seu culto no dia 18 de março de 1833. 

Gerardo Mecatti, nascido em Villamagna, ao longo do rio Arno, filho de camponeses, ficou órfão aos doze anos. Durante uma peregrinação à Palestina, caiu prisioneiro dos turcos, sofrendo duros maus-tratos. Assim que foi libertado, pôde devotamente visitar os lugares santos. Villamagna voltou e decidiu se mudar para perto de uma igreja, que ainda existe e leva o título do Bem-aventurado Gerardo. Em seu interior se conserva a arca com as relíquias do infortunado cruzado.

As aventuras do jovem não tinham acabado. Um ano depois, ele foi para o mar novamente com um grupo de vinte homens, indo para a Síria. Desta vez, quem tornou sua viagem difícil foram os piratas.

Voltou pela segunda vez à Palestina, consagrando-se totalmente à oração e ao exercício de caridade, especialmente para com os doentes e peregrinos. Ele permaneceu lá por sete anos até que percebeu era objeto de manifestações de veneração, as quais ele tentou fugir por humildade.

De volta à Itália, quis conhecer a São Francisco, de cujas mãos recebeu o hábito de terceiro franciscano. E, como terceiro voltou a Villamagna, onde no alto da colina florentina construiu um oratório dedicado a Nossa Senhora.

Esse foi o edifício da igreja original que ainda existe, construída dentro de um convento simples e sugestivo. Mas esse convento franciscano não foi construído por ele, mas por outro santo, Leonardo de Porto Maurício, quase cinco séculos depois, continuando e completando a obra do seu confrade.

Cada semana visitava em peregrinação piedosa três santuários, em sufrágio das almas do purgatório, para a remissão dos pecados e para a conversão dos infiéis. Com fama de santidade, ele faleceu em 25 maio de 1270 com 96 anos de idade.

Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, de Frei Giuliano Ferrini e Frei José Guillermo Ramírez, OFM, edição Porziuncola.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Francisco fez de galhos violinos para tocar e dançar


Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho.

É da tradição legendária franciscana que Francisco ajuntou dois pedaços de pau e tocou violino na estrada (cf.1Cel 127). O Jogral de Deus tocou, cantou e dançou muitas vezes, nas florestas, montanhas, praças e becos de Assis, e onde possa chegar nosso imaginário. Compôs o Cântico das Criaturas e pediu que cantassem na hora derradeira de sua existência, um bailarino dançando e cantando sobre a morte. 

Se hoje, nós sedentários, decidimos a vida sentados sobre executivas cadeiras, o jeito franciscano nos convoca e provoca: Curta a música! Dance! Dance com mais frequência! Será que dá para confiar em coisas que só decidimos estagnados em nossos burocráticos ofícios? É preciso dançar os pensamentos e as práticas. Dar passos ritmados revitaliza, impulsiona, mexe, sacode, leva a entrar numa ação real.

Sair, caminhar, viajar, desinstalar-se ajuda a por em prática movimentos que fazemos e que conquistamos. A vida é muito dinâmica e não está engessada entre tantos compromissos que nos enlouquecem. Dançar ao som da música é para ser feito com ritmo, lentamente, sem pressa, mas como um exercício constante. Vamos aprender a dançar grandes mudanças. Megaprojetos podem começar ao ritmo sereno de uma Dança Circular. A vida é pesada demais por causa do peso do dever. Vamos dançar na ciranda das responsabilidades com mais leveza. Podemos encontrar a vida numa apresentação com modo celebrativo do Zé Vicente!

Muita gente tem gestos tímidos para dançar! Solte-se! Os passos são seus e podem achar o ritmo do diferente. Mudanças acontecem meio desajeitadas, incomodando e errando até acertar. O bonito da dança é perseverar até esquecer o que prende ao chão e ouvir apenas a melodia. Dançar e cantar transforma a vida. É exercício de imaginação, de criatividade. E escolha com quem você quer dançar. Tem gente esperando o convite. Quando Francisco não encontrou ninguém, não teve dúvida, tocou e dançou com dois galhos feitos violino! (CA 38,3; 2EP 93,3)

Frei Vitório Mazzuco, OFM

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

Franciscano do dia - 23/05 - Bem-aventurado João do Prado


Sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1560-1631). Beatificado por Bento XIII no dia 24 de maio de 1728. 

Bem-aventurado João do Prado passou à história dos Frades Menores como o restaurador das Missões Franciscanas no Marrocos.

João nasceu em Mogrovejo, Espanha, em 1560, de pais nobres. Ele interrompeu seus estudos na Universidade de Salamanca para vestir o hábito religioso entre os Frades Menores de Rocamador em 16 novembro de 1584 e, no ano seguinte, em 18 de novembro, fez sua profissão.

Pregador fervoroso e um bom teólogo, ele participou das polêmicas sobre a Imaculada Conceição. Desempenhou os ofícios de guardião em vários conventos, mestre dos noviços e duas vezes foi Definidor (conselheiro). Por suas virtudes e dons foi escolhido para governar a Província Franciscana de São Diego, erigida em 1620.
Sob o seu governo tentou a restauração da missão franciscana em Marrocos. De fato, em 1630 foi destinado a Marrakesh, capital de Marrocos, para atender espiritualmente aos escravos cristãos. Obtido o salvo-conduto do sultão e a nomeação de Urbano VIII com poderes do Prefeito Apostólico da missão, com dois outros frades partiu de Cádiz em 27 de novembro de 1630.

Depois de exercer o ministério em Mazagan por três meses, tentou chegar a Marrakesh, mas, em Azamor, foi preso pelas autoridades muçulmanas e levado para Marrakesh no dia 2 de abril de 1631. Apresentado ao novo sultão Mulay, corajosamente confessou a fé cristã.

Foi preso e açoitado várias vezes durante a sua última polêmica religiosa com o Sultão. Foi esfaqueado, ferido por flechas e condenado à fogueira na praça do palácio. Ainda sobre o fogo, quando ousadamente pregava a sua fé, foi apedrejado e veio a falecer no dia 24 de maio de 1631. Ele tinha 71 anos.

A terra de Marrocos, banhada pelo sangue dos franciscanos Protomártires e os mártires de Ceuta, São Daniel e companheiros, recolheu também o sangue deste ilustre confrade, que por longos anos havia exercido o apostolado nas terras da Espanha. Sua gloriosa morte foi acompanhada de muitos milagres e numerosas conversões.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, de Frei Giulliano Ferrini e Frei José Guilhermo Ramirez, OFM, edição Porziuncola

sexta-feira, 20 de maio de 2016

A Espiritualidade Franciscana é sempre um assunto


Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho.

Muitas pessoas perguntam sobre a Espiritualidade Franciscana. A Espiritualidade, em geral, está em alta, e a Espiritualidade Franciscana sempre foi uma referência assim como são as grandes escolas espirituais: beneditina, carmelitana, agostiniana, dominicana, só para citar algumas. Francisco viveu Deus e uma forte experiência de encarnar o Evangelho, fez do seguimento de Jesus Cristo um apaixonado projeto de vida. Daí surgiu esta forte espiritualidade.

Espiritualidade não se prende a definições, mas sim a vivências. É uma escolha persistente de formar o espírito. É cuidar do lado transcendente do humano. Não é apenas fazer orações, devoções, leituras, meditações e frequentar templos. Tudo isto é consequência de um caminho espiritual. Porém, espiritualidade é estar em tudo isto sob o filtro de uma forte experiência do encontro com o divino. Por abraçar o divino, Francisco descobriu uma riqueza plena e se fez pobre. Ter o Tudo sem precisar apegar-se a nada. Do comércio do pai ao Sacrum Commercium com a Senhora Dama Pobreza.

Líder de uma juventude da sua graciosa Assis, ganhou todas as pessoas em todas as idades saindo dos limites da Úmbria. Coerência de vida e escolha, sempre deram  segurança para seus seguidores. Foi cavaleiro pleno de sonhos e fidelidade ao seu Senhor. Não fez da doença uma derrota, mas um caminho de retomar sentidos. Fez da oração um jeito do caminho, pois aprendeu a orar mudando o modo de ver a sociedade e suas ruínas. Vai ser mendigo, pedreiro, penitente, jogral e santo. Percebeu que encontros não são apenas casuais, mas tem que mudar tudo na vida.

Muda diante do Crucifixo de São Damião que jogou um olhar de luz sobre suas sombras; revê sua vida a partir da proximidade com o leproso; faz uma imersão na vida percebendo com muita sensibilidade cada ser criado. Fez da Palavra, alguém. Fez do Presépio, a paisagem da sua alma. Fez da Eucaristia, uma sublimidade humilde e uma humilde sublimidade. Espiritualidade para Francisco  de Assis é ter as marcas do Amado no corpo.

Frei Vitório Mazzuco, ofm

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

domingo, 15 de maio de 2016

PENTECOSTES - A força do Espírito rompe barreiras e renova o mundo!


Por Frei Jacir de Freitas Faria, OFM

I. INTRODUÇÃO GERAL

Na era da internet, uma notícia chega aos quatro cantos do mundo em frações de segundos. Através das teclas do computador, vemos o mundo e nos comunicamos com ele, nos mobilizamos para coisas boas e ruins. Tudo se parece a um espírito que corre veloz nas ondas invisíveis e nas fibras óticas de um mundo globalizado, que, apesar dos avanços tecnológicos, persiste ainda em mostrar o incômodo da miséria, do racismo, da exploração sexual e das injustiças sociais que assolam grande parte do nosso planeta. A globalização ainda não acontece satisfatoriamente na promoção da solidariedade, da cultura da paz, do acesso aos bens necessários à vida, da promoção da justiça.
É nesse contexto de século XXI que continuamos celebrando Pentecostes como acontecimento profundamente aglutinador, pois nele todos os povos são reunidos por Deus para desfrutar da páscoa de seu Filho, fonte de paz, salvação e vida plena para todos. Pentecostes não é o oposto de Babel (Gn 11,1-9), pois ali não se trata de multiplicação de línguas, mas é a plenitude da comunicação entre o divino e o humano e evento basilar do cristianismo primitivo, ao reler a manifestação de Deus no monte Sinai. É o que veremos nas leituras de hoje.

II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (At 2,1-11): Pentecostes é a releitura simbólica do Sinai

Haviam se passado os cinquenta dias entre as festas da Páscoa e Pentecostes. Era o quinquagésimo dia da festa das semanas, daí o nome hebraico da festa: pentecostes. Era o dia 06 do mês de Sivan – 22 de maio no nosso calendário. Jerusalém estava repleta de peregrinos. Todos teriam trazido as primeiras colheitas para serem ofertadas no templo. A peregrinação até Jerusalém teria sido linda. Imagine grupos de pessoas caminhando juntos com cestos de uva, trigo, azeitonas, tâmaras, mel… Imagine o povo sendo acolhido em Jerusalém ao som de harpa, flauta e recitação de Salmos. Todos carregavam dentro de si o desejo de agradecer a Deus pelas primeiras colheitas e de comemorar o “dom da Torá”, da Lei dada ao povo no monte Sinai tantos séculos atrás. Nisso consistia a festa judaica de Pentecostes: comemorar o recebimento da Torá no monte Sinai e afirmar, com isso, que no dia de sua revelação “Eu também estava lá” (Dt 5, 24). O ontem se torna hoje (Lc 4).
Em Jerusalém estavam todos. E todos presenciaram a vinda do Espírito Santo. Como podemos interpretar esse episódio narrado por Lucas em Atos? Não estaria aí uma releitura do evento Sinai? Lucas descreve o acontecido em Pentecostes tendo na memória a narrativa do Sinai. Era preciso demonstrar que um novo Sinai estava acontecendo para legitimar a ação da comunidade de Jerusalém. Jesus teria dito para voltar a Jerusalém e lá eles receberiam o Espírito Santo. Pentecostes passa a ser o batismo da comunidade cristã, o qual a confirma na missão de ir para o mundo e evangelizar. Mais do que um dado histórico, estamos diante de uma profissão de fé. Sem Pentecostes, a Páscoa (passagem) em Jesus para uma nova vida não estaria completa. É belíssima a simbologia usada por Lucas para falar de uma experiência tão importante que marca o início da missão das comunidades cristãs.

Em At 2,1-13 temos dois relatos unidos: um mais antigo (vv. 1-4 + 12-13) e um mais desenvolvido redacionalmente (vv.5-11). O objetivo do primeiro é chamar a atenção para o fato carismático e apocalíptico de Pentecostes, e o segundo, demonstrar o caráter profético e missionário do evento. Vamos considerar o texto como um todo e interpretá-lo simbolicamente e como releitura do Sinai (cf. Faria, Jacir de Freitas, In.: O Espírito de Jesus rompe as barreiras, São Leopoldo: CEBI, 2001 p.13-16).
Eis os símbolos:

a) Casa em Jerusalém: a vinda do Espírito Santo ocorre, segundo a tradição, em uma casa de dois andares na cidade de Jerusalém, que está situada sobre o monte Sião. Esses dois detalhes evocam claramente o monte Sinai, local onde Moisés recebeu as Dez Palavras de Deus. No Primeiro Testamento, os montes eram considerados lugares privilegiados da manifestação de Deus.

b) Língua/linguagem: Lucas substitui o termo voz, que aparece na narrativa do Sinai, para língua. Esses termos são semelhantes e ambos se referem à Palavra. E cada um entende na sua própria língua. A Palavra é a presença de Deus. Língua (idioma) e linguagem (modo de se comunicar) têm o mesmo sentido no texto. O milagre de Pentecostes consiste no fato de os presentes poderem entender os apóstolos a partir de sua própria cultura. É o mesmo que dizer: a evangelização está sendo realizada com sucesso. Por isso, esse fenômeno de “falar em línguas” – também encontrado em At 10,46; 19,6; 1Cor 12,10.28.30; 14,2.4-6.9 -, aparece nessa leitura com o acréscimo de “outras línguas”, com a intenção de demonstrar que a evangelização era para “todos no mundo todo”. Evangelizar não é falar em língua que ninguém entende, mas justamente o contrário. Não importa o idioma (língua mãe), mas a linguagem comum, o modo como é transmitida a proposta do reino.

c) De fogo: representa a manifestação de Deus; é um modo apocalíptico para dizer que Deus se manifestou – Ex 3,2-3; 13,21; 19,18) -, (Cf. Comblin, José, Atos dos Apóstolos vol. 1:1-12. Petrópolis: Vozes, 1988, p.89). Deus acompanha o povo pelo deserto numa coluna de fogo que iluminava a noite (Ex 13,20-22). Deus desce para falar com o povo e Moisés no Sinai por meio de um fogo (Ex 19,18). A comunidade de Mateus conservou a memória da fala de João Batista que anuncia o batismo no Espírito Santo e no fogo que Jesus deveria realizar (Mt 3,11). E é isto que ocorre em Pentecostes, segundo a interpretação da comunidade de Atos dos Apóstolos. O Espírito Santo é o fogo da Palavra de Jesus que deve ser anunciada pelos seus seguidores. Também a tradição rabínica associa a palavra de Deus com o fogo. O comentário rabínico da passagem de Ex 20,18 “todo o povo ouviu trovões” diz: “Note-se que não é dito o trovão, mas ‘trovões’. Por isso, Rabi Johanan disse que a voz de Deus, apenas pronunciada, dividiu-se em 70 vozes, em 70 línguas, para que todas as nações pudessem compreender. Quando cada nação entendeu a voz na própria língua, a sua alma desfaleceu, salvo Israel que a ouviu, mas não ficou perturbado”( Cf. FABRIS, Rinaldo, Os Atos dos Apóstolos, São Paulo: Loyola, 1991, p.62. ). Falar em línguas, então, significa anunciar a palavra comprometedora de Jesus e não, balbuciar palavras indecifráveis.

d) Multidão: simboliza o povo no deserto que recebeu as tábuas da Lei. No dia de Pentecostes, três mil pessoas estavam em Jerusalém. Não se trata aqui de uma cifra exata. A comunidade de Atos quis, com isso, afirmar que a comunidade dos convertidos era uma multidão, proveniente de doze povos e três regiões. Basicamente, estavam em Jerusalém três grupos: a) nativos do oriente (partos, medos e elamitas); 2) habitantes do leste (Mesopotâmia), norte (Ásia), sul (Líbia) e os da Judeia, Capadócia, Ponto, Frígia, Panfília e Egito; 3) estrangeiros (romanos, judeus e prosélitos, cretenses – povo marítimo – e árabes – povos do deserto). Curioso é o fato de que Lucas não menciona o território das igrejas paulinas (Síria, Macedônia e Grécia). Na menção aos povos, Roma está em último lugar. De onde Lucas herdou essa lista? Questão debatida. A lista dos vv. 9-10 Lucas herdou de uma fonte, mas a modificou, provavelmente. “Judeia” fora do lugar, no meio da Mesopotâmia e “Creta e arábia” parecem ser composição lucana.

e) Vendaval impetuoso: simboliza a manifestação de Deus. É a “violência” do Espírito que leva a comunidade a ser profética e missionária. Deus fala no Primeiro e Segundo Testamentos.

f) Estão cheios do vinho doce: essa acusação simboliza os que não estão abertos ao novo da comunidade cristã. Segundo os Rolos do Templo (Cf. FITZMYER, J., The Acts of the Apostles, The Anchor Bible, vol. 31, p.235.), gruta 11, os judeus de Qumrã celebravam três pentecostes: a) Festa das Semanas e do Novo Trigo (50 dias após a Páscoa); b) Festa do Novo Vinho (50 dias após a festa do Novo Trigo); c) Festa do Novo Óleo (50 dias após a Festa do Novo Vinho). Essa sequencia de festas nos mostra que, depois da Páscoa, de cinquenta em cinquenta dias, era celebrada uma festa. Sendo uma das festas a do Novo Vinho, podemos entender melhor essa zombaria no texto: “estão cheios de vinho doce”. Lucas pode ter conhecido múltiplos Pentecostes entre os contemporâneos Judeus e fez alusão ao Pentecostes do Novo Vinho, quando fala, mais propriamente, do Pentecostes do Novo Trigo.

g) Discurso de Pedro: Como Moisés, Pedro faz um discurso para fortalecer na fé os que aceitaram a proposta de Jesus e desmascara os que não estão dispostos a seguir o novo. Pedro, como liderança do grupo dos apóstolos, convoca a comunidade a acreditar em Jesus de Nazaré que foi morto e ressuscitou dos mortos por intervenção divina. Diante da reação atônita da comunidade, só resta a conversão para obter a salvação. 

2. Evangelho (João 20,19-23): Pentecostes é a nova páscoa para os seguidores de Jesus, na paz e no anúncio do Espírito Santo.

A comunidade está reunida e com medo. O ressuscitado ultrapassa a barreiras físicas e aparece diante dela. Ele lhes diz: ‘a paz esteja convosco’. “Paz se diz em hebraico Shalom, o qual, por sua vez, tem sua origem no verbo Shlm que, no tempo verbal piel, significa pagar, devolver, ressarcir, indenizar, conservar. Da mesma raiz, o adjetivo Shalem significa estar completo, inteiro. Pagar em hebraico tem o sentido de completar o valor justo. É uma forma simbólica de completar o vazio deixado pelo objeto tirado. Quem compra e não paga mutila o outro. Paz é um eterno estar em harmonia com Deus, o outro e o universo. Os judeus acreditam que o Messias só virá, quando a justiça social estiver implantada em nosso meio. Jerusalém, a cidade (Yeru) da paz (Shalem), é protótipo desse sonho, dessa esperança. Jerusalém, em hebraico se escreve, na verdade, Ierushalaim. Duas vezes aparece o i (em hebraico yod), sendo que na segunda vez ele não é pronunciado, pois representa o nome de Deus, Iahweh. Os outros povos, não compreendendo o significado do i no nome dessa cidade santa, traduziram o seu nome para Jerusalém. O yod representa, para o semita, a esperança. E é nesse contexto que podemos entender a fala de Jesus: “Nem um i sequer será tirado da Lei” (Mt 5,18). A esperança de paz, de voltar ao tempo de Deus, jamais acabará para quem sabe esperar. Jesus pôde dizer Paz a vós, pois ele é a paz. A sua presença já é paz e esperança. Quando, na missa, saudamos o outro com a expressão paz de Cristo, desejamos que Cristo esteja dentro dele e que ele seja qual outro ressuscitado. A expressão “Paz de Cristo” reúne os elementos do ser completo, da harmonia e, mais do que isso, da presença duradoura de Deus transmitida por Jesus aos seus” (Cf. Faria, Jacir de Freitas, As origens apócrifas do cristianismo, comentários aos evangelhos de Maria Madalena e Tomé. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2003, p.??).

Para as comunidades joaninas, Pentecostes, como dom do Espírito, se realiza na Páscoa. Jesus, na sua morte de cruz, entrega o Espírito (Jo 19,30). Jesus ressuscitado aparece aos discípulos e lhes oferece o Espírito Santo, como nos atesta o evangelho de hoje (v.22). A comunidade pascal é portadora da paz e da força do Espírito do Ressuscitado que deve ser levado ao mundo. Ela é sinal da ação do Espírito que faz passar da morte para a vida todo o universo. Por isso, Jesus envia a comunidade ao mundo, com a missão de reconciliá-lo com Deus, combatendo as forças do mal. A nova comunidade dos judeus cristãos é portadora do projeto de Deus para a verdadeira unificação do mundo. Esse segredo chama-se: páscoa do ressuscitado. Sua força é a mesma de Pentecostes: reunir a diversidade na unidade. O desafio da comunidade é abrir as portas da ‘casa’: sair de si para reconhecer no universo o “vendaval” do Espírito que tudo renova, tudo recria e que sopra onde quer.

3. II leitura (I Coríntios 12,3b -7.12-13): O Espírito, fonte de diversidade e de comunhão.

Tendo aprofundado o caráter simbólico da solenidade de Pentecostes, nos deparamos com a segunda leitura de hoje, a qual é um desafio proposto à comunidade de Corinto, em meio às divisões que ela sofria. Paulo insiste na comunhão no mesmo Espírito, na diversidade de ministérios, atividades, raças, culturas e povos. Diversidade é sinal da riqueza do único corpo de Cristo e condição para a unidade. O Espírito distribui os dons e reúne tudo e todos em Cristo. Assim, todos devem ser responsáveis e contribuir para o crescimento da comunidade, o Corpo do Senhor. Essa unidade só é possível porque envolve três realidades: 1) a ressurreição de Jesus que reúne o corpo e a comunidade; 2) a força do Espírito que impulsiona esse corpo e 3) a diversidade de dons necessários à vida do corpo.
Na Comunidade de Corinto e nas de hoje, reconhecer Jesus como Senhor, título do Ressuscitado, é abandonar toda e qualquer divisão entre os irmãos. É ser sinal do amor de Deus para o mundo, deixando a energia do Espírito nos conduzir ao diferente, ao novo, manifestando a todos a vida que Deus dá. É o que expressa o prefácio litúrgico de Pentecostes: “…é ele quem dá a todos os povos o conhecimento do verdadeiro Deus e une, numa só fé, a diversidade das raças e línguas”. A unidade dos cristãos é um desafio constante para todos nós. É nesse espírito que somos convidados a viver a Páscoa do Senhor como fator de unidade entre todas as Igrejas e entre todo o gênero humano. Pentecostes, assumido pela tradição cristã como plenitude da Páscoa de Jesus, é a força capaz de nos fazer compreender e viver em profundidade o projeto universal de vida para todos. Faz-nos enxergar no diferente, e até no estranho, a força da vida divina. A vida nova em Cristo tem força “simbólica”, unificadora: supõe abandonar tudo o que divide, afasta e cria abismos na convivência humana e ecológica, para abraçar outra norma de vida: o amor que reúne, aproxima e refaz a convivência na humanidade. É o Espírito, força de vida e de unidade, o único capaz de nos conectar com todo o universo e com a fonte da vida.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

1. Demonstrar que o Espírito Santo é o coração palpitante que animou a vida das primeiras comunidades cristãs no anúncio do evangelho e na fé em Jesus ressuscitado. Somos herdeiros dessa fé intrépida que rompeu barreiras e ganhou o mundo.

2. Demonstrar que a grande mensagem de Pentecostes é a evangelização e não o falar línguas. A vivacidade de nossas comunidades é um exemplo de um novo Pentecostes acontecendo.

3. O Espírito de Deus em Pentecostes enche todo o universo e mantém unidas todas as coisas; gera novas relações na comunidade e no mundo; realiza a plenitude da Aliança do Sinai: o amor sem fronteiras

sábado, 14 de maio de 2016

Santo franciscano do dia - 14/05 - São Crispim de Viterbo


Religioso da Primeira Ordem (1668-1750). Canonizado por São João Paulo II no dia 20 de junho de 1982. 

São Crispim nasceu em Viterbo de uma humilde família, a 13 de Novembro de 1668. Recebeu no baptismo o nome de Pedro Fioretti. Eram seus pais Ubaldo e Márcia que lhe deram uma profunda e cuidadosa educação cristã. Frequentou os primeiros anos da escola. Apesar da sua frágil constituição física, logo se começou a impor penitências voluntárias. O seu primeiro trabalho foi o de aprendiz de sapateiro.

Desejoso de levar uma vida austera e de se consagrar a Deus, a 22 de Julho de 1693, foi admitido no noviciado dos Capuchinhos em Palanzana, junto à sua terra natal. Feita a profissão religiosa, logo a seguir, foi destinado ao Convento de Tolfa, como ajudante de cozinha.

A sua personalidade de asceta, o seu estilo de cantor do bom Deus e de Nossa Senhora, bem depressa mostraram aquilo que iria ser. Amante da pobreza, dotado de espírito generoso e sensível às manifestações da alegria, cheio de caridade e de atenções fraternas para com os pecadores, os pobres, os encarcerados e as crianças abandonadas, sabia tornar-se útil e agradável nos mais variados ofícios. Era, ao mesmo tempo, encarregado do quintal, enfermeiro, cozinheiro e ainda ia pedir esmola de porta em porta.

Jovial por temperamento e por coerência com o ideal franciscano, sabia fazer amar a virtude e consolar os que sofriam. Com simplicidade edificante, entoava canções, compunha e recitava poesias. Levantava pequeninos altares a Nossa Senhora, sua Mãe e Senhora dulcíssima. A um seu irmão que lhe chamava a atenção por este seu modo de ser e de se comportar como inconveniente para o estado religioso, ele respondia: Eu sou o arauto do grande Rei. Deixai-me cantar como São Francisco. Estes cantos hão-de fazer bem ao espírito de quem me ouve. Sempre, é claro, com a ajuda de Deus e da sua grande Mãe.
A sua confiança sem limites na Divina Providência e a sua união com Deus foram muitas vezes premiadas com milagres e carismas. Era procurado por prelados, nobres e sábios que lhe pediam conselhos, porém, nunca mudou a sua atitude simples e modesta.

Durante 40 anos pediu esmola, de porta em porta, em Orvieto e arredores, procurando os meios necessários de subsistência para a sua comunidade e para os necessitados da “grande família de Orvieto”. Neste trabalho praticou obras notáveis no campo da assistência e no campo religioso, sobretudo com os doentes, os encarcerados, as mães solteiras, as famílias pobres, as pessoas desesperadas. Homem de paz, no meio dos seus irmãos, no seio das famílias, entre os cidadãos, entre o povo e a autoridade civil ou religiosa e, tudo isto, sempre com uma santa alegria.

Devotíssimo do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora, foi cumulado de sabedoria celeste que o levava a ser consultado, como se disse, por homens da cultura.
Desgastado pelo trabalho e pelas penitências, passou os últimos anos da sua vida em Roma, no Convento da Imaculada Conceição, na rua Vittorio Veneto.

O Cardeal Trémouille, embaixador do rei de França, encontrando-se gravemente doente, pediu que lhe chamassem o nosso santo que o curou com a sua oração. De outra vez, quando o Papa Clemente XIV tomava parte na eucaristia da igreja dos Capuchinhos, um dos seus camareiros foi acometido de dores gravíssimas. Era frequente suceder-lhe este fenômeno. Médico algum conseguia descobrir a cura para o seu mal. São Crispim levou-o diante do altar de Nossa Senhora e a cura foi instantânea. No dia 19 de Maio de 1750, com 82 anos de idade, entrega santamente sua alma ao Pai.

Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edição Porziuncola

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Franciscanos do dia - 13/05 - Bem-aventurados João de Cetina e Pedro Dueñas


Religiosos, mártires da Primeira Ordem (1380-1397). Clemente XII aprovou o seu culto a 26 de agosto de 1731. 

João de Lourenço, nascido em Cetina (Aragão – Espanha), depois de haver estado a serviço de um nobre senhor, levou vida eremítica nas cercanias de Murcia. Voltando para Aragão tomou o hábito franciscano entre os Frades Menores de Monção. Terminados os estudos no convento de São Francisco, em Barcelona, ordenou-se sacerdote, dedicando-se com êxito à pregação. Ao chegar a notícia do martírio de São Nicolau Tavelic e companheiros, em Jerusalém (1391), foi a Roma para solicitar de Bonifácio IX licença para ir à Terra Santa. O Pontífice lhe negou essa graça, porém, concedeu-lhe a faculdade de pregar o Evangelho entre os infiéis.

Voltando para a Espanha em 1395, Frei João se dirigiu para Córdova, destinado ao novo convento de São Francisco do Monte e levou uma vida de contemplação. Ali se reuniu com Frei Pedro de Duenãs (Palência).

Pedro nasceu em Duenãs (Espanha) e muito jovem ingressou na Ordem dos Frades Menores na qualidade de religioso leigo. Tinha uns dezoito anos e há pouco havia se consagrado ao Senhor com a profissão religiosa quando aceitou com muito entusiasmo a proposta de Frei João de Cetina para ser seu companheiro na árdua missão de evangelizar os mouros. Foi muito contente, também pelo fato de Frei João de Cetina ter sido seu mestre durante o noviciado.

Obtida a licença de seus superiores para ir pregar o Evangelho aos mouros de Granada, os dois entraram na cidade no dia 8 de janeiro de 1397, domingo. Alegraram-se sobremaneira por poder pregar a fé em Cristo a tantos pobres infelizes irmãos. O objetivo de sua missão era sublime: anunciar a fé em Cristo aos sarracenos. Mas logo foram aprisionados e conduzidos à presença de Cadi. Este os interrogou a respeito de sua missão. Os religiosos responderam firmemente que tinham ido a Granada com o fim de anunciar a fé em Cristo e exortá-los a abandonar a religião de Maomé.

O Cadi riu-se de suas pretensões e pensou que fossem loucos. Aconselhou-os que, se quisessem salvar a própria vida, abandonassem imediatamente a cidade. Os intrépidos defensores da fé insistiram na necessidade de abraçar a fé cristã porque é a única verdadeira. João, movido por divina inspiração, propôs-lhes a prova de fogo, porém o Cádi não aceitou; deu ordens para que fossem conduzidos à casa de algum cristão, a fim de que fossem logo afastados da cidade. Depois de algum tempo de silêncio, apareceram novamente nas praças públicas anunciando a fé cristã. Os sarracenos não tardaram em levantar-se contra eles, acusando-os novamente ao tribunal de Cadi, como perturbadores do povo e blasfemos contra o seu grande profeta.

Os ardorosos apóstolos da fé, que pressentiam morte próxima, quiseram preparar-se pela confissão e benção do co-irmão português Pe. Eustáquio, capelão dos mercadores cristãos, e logo serenamente se apresentaram ao Cadi. Foram condenados à prisão junto com os escravos cristãos para o cultivo dos vinhedos.

A vida dos religiosos foi um verdadeiro e prolongado suplício. Mas estavam bem felizes em estar sofrendo por Deus, que morreu pela salvação da humanidade. Nos dias festivos, Frei João instruía na fé seus companheiros de prisão, alguns dos quais haviam deserdado da fé ou estavam vacilantes. Celebrava a missa numa pobre e estreita habitação com grande satisfação, que se fortaleciam na confiança em Deus, que proclama felizes os que sofrem por causa da justiça

A prisão dos dois confrades durou mais de dois meses. De dia eram obrigados ao trabalho extenuante, e de noite, no cárcere, depois de um breve sono, dedicavam-se à oração. Pelos muitos padecimentos Frei Pedro enfermou gravemente por três semanas, entre a vida e a morte, com febre altíssima. Finalmente sarou e com isso alegrou-se, pois esperava dar a Deus o testemunho supremo de seu incondicional amor com o martírio, conforme sempre havia desejado. No segundo domingo de Páscoa o bem-aventurado João pronunciou um vibrante discurso aos cristãos e aos muçulmanos, explicando o Evangelho do Bom Pastor. Delineou a figura do Bom Pastor comparando-a com Maomé, o falso Pastor.

O Cadi chamou os missionários e os interrogou longamente. Nem com promessas, nem com ameaças conseguiu demovê-los de sua fé. Então se lançou furioso contra o Beato João e o golpeou terrivelmente na cabeça e ordenou imediatamente que fosse decapitado.

O Cadi espera que o jovem Frei Pedro de dezoito anos, ante o corpo exânime de seu mestre, mudasse de parecer, abjurando a fé cristã para abraçar a de Maomé. Com promessas de dinheiro e de prazeres ele procurou demovê-lo, mas por fim irritado, cortou a cabeça do jovem mártir com um golpe de cimitarra. Era o dia 14 de maio de 1397.

Depois de alguns anos suas relíquias foram resgatadas por uns mercadores catalanenses e enviadas aos conventos franciscanos de Sevilha e de Córdova, e à Catedral de Vich. Em 1583, a Província Franciscana de Granada os escolheu como seus patronos.

Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edição Porziuncola

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Santo franciscano do dia - 12/05 - São Leopoldo Mandic


Sacerdote da Primeira Ordem (1866-1942). Canonizado por São João Paulo II no dia 16 de outubro de 1983 

São Leopoldo Mandic nasceu em Castelnovo de Cátaro da Dalmácia, na Jugoslávia, a 12 de Maio de 1866, numa família croata. Os pais, profundamente religiosos, educaram-no nos mais elevados sentimentos em relação a Deus e aos homens.

Quando tinha 16 anos, sentindo-se chamado a trabalhar pelo regresso dos orientais à unidade com a Igreja Católica, deixou a sua casa paterna e decidiu entrar na Ordem dos Capuchinhos, em Bassano del Grappa, a 2 de Maio de 1884.

A 20 de Setembro de 1890 foi ordenado sacerdote em Veneza. Convencido que o Senhor o chamava a um grande ideal, pediu, com insistência, aos seus Superiores que o deixassem partir para o Oriente a fim de poder dedicar a sua vida à reunificação na Igreja Católica dos cristãos ortodoxos. Porém, as suas precárias condições de saúde não lho permitiram e teve, assim, de se submeter à vontade dos seus Superiores e passou então por diversos Conventos, entregando-se ao ministério das confissões até que, em 1909, foi destinado ao Convento de Santa Cruz, em Pádua, com o encargo de atender de forma estável o sacramento da Reconciliação. Ali permaneceu até à morte.

Uma pequena cela junto à igreja converteu-se no campo do seu maravilhoso apostolado: o sacramento da Reconciliação. Este divino ministério foi, nas mãos de São Leopoldo, uma eficaz arma de salvação para as almas no seguimento pelos caminhos de Deus. Ali, se mantinha a atender as pessoas durante todo o dia, sem uma hora de descanso, sem gozar jamais de quaisquer férias, não obstante o tórrido calor do Verão e o intenso frio do Inverno – na celazinha que servia de confessionário nunca teve aquecimento!

Muito depressa, aquela despida cela se converteu em farol luminoso que atraía almas sem conta, necessitadas de paz e de conforto. Para todos, São Leopoldo tinha palavras de perdão, de paz, de estímulo para o bem. Somente o Senhor sabe quantos foram os penitentes que se vieram ajoelhar aos seus pés durante quarenta anos. Quanto bem ali realizou e tudo no silêncio mais absoluto e no mais profundo escondimento. Nenhuma propaganda em volta dele.

Pedia ao Senhor que pudesse fazer todo o bem possível, mas que ninguém o soubesse. E foi ouvido, porque, nem os jornais, nem qualquer outro meio de propaganda se ocuparam dele. Somente Deus deveria ser glorificado na sua humilde pessoa. Sempre envolto em sofrimento, suportou tudo para a salvação das pessoas que se aproximavam dele. A tudo isso acrescentava ainda penitências ocultas. Não descansava mais de quatro horas por noite.

Em cada uma das pessoas que se aproximava dele via o seu Oriente. Era devotíssimo da Eucaristia. Costumava dizer: “Oh! Se os nossos olhos pudessem ver o que acontece sobre o altar durante a Missa! A nossa pobre humanidade não poderia suportar a grandeza de tamanho mistério (…)”. Era filial e intenso o seu amor à Virgem Maria, a “Padroeira Bendita”.

Chegou aos 76 anos. Um tumor no esófago prostrou-o na manhã de 30 de Julho de 1942, no momento em que se preparava para celebrar a Eucaristia. Naquela manhã, ele mesmo se converteu em vítima sobre o altar do Senhor. As suas últimas palavras foram uma invocação a Nossa Senhora da qual tinha sido sempre devoto.

As vozes e a convicção de todos era que tinha morrido naquele momento um santo. Começaram a invocá-lo para obterem conforto e graças do Céu. O seu corpo, sepultado numa capela junto ao seu confessionário, foi encontrado incorrupto.

A 2 de Maio de 1976, durante o Sínodo da Evangelização, o Papa Paulo VI beatificou-o, em São Pedro, afirmando, nessa altura: “Que o nosso Beato saiba chamar ao sacramento da Penitência, a este, certamente, severo tribunal, mas não menos amável refúgio de conforto, de verdade, de ressurreição para a graça e de exercício para a autenticidade cristã, muitas almas para lhes fazer experimentar as secretas e renovadas alegrias do Evangelho no colóquio com o pai, no encontro com Cristo, na consolação do Espírito Santo”.


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Reflexão da semana: Depois da ascensão não ficamos órfãos.


Frei Almir Guimarães

• “Terminada na terra a obra que o Pai confiou ao Filho, o Espírito Santo foi enviado no dia de Pentecostes a fim de santificar continuamente a Igreja e, por Cristo, no único Espírito, terem os fiéis acesso junto ao Pai. Ele é o Espírito da vida, a fonte da água que jorra para a vida eterna. Por ele, o Pai dá vida aos homens mortos pelo pecado, até ressuscitar em Cristo seus corpos mortais” (Lumen Gentium 4, 12).

• Nós, franciscanos e franciscanas, dizemos que o Espírito Santo é o Ministro Geral de nossa Ordem. Isso nos ensinou Francisco. Somos convidados a nos deixar guiar por ele. Catastrófico quando sua chama divina se extingue em nós. Chama, fogo, vento. O Espírito nos orienta rumo ao amanhã. Jesus, no evangelho de João, não se cansa de nos dizer que nada temos a temer depois de sua partida para o seio Pai. Ele, com esse corpo humano transfigurado, um de nós está no seio da Trindade. Mas não podemos manter os olhos fixos nas alturas… Somos continuadores do elã, da força, do dinamismo que Jesus deixou nesta terra dos homens. Não descansamos nosso olhar no céu, mas temos o rosto voltado para o amanhã da obra de Cristo.

• A Igreja não é mera associação de pessoas piedosas, mas Corpo Místico de Cristo. Somos Igreja. Somos membros do Senhor. Sua obra é nossa obra e nossa obra é obra do Senhor: anunciar um mundo novo, um sentido de vida, um gênero de vida marcado pela simplicidade, abertura aos outros, transformação da realidade, criação de comunidades fraternas, membros da Igreja e participapntes de um movimento evangélico e evangelizador que é a vida franciscana.

• Nesta semana em que o Espírito toma conta da nossa liturgia e de nossos pensamentos é bom meditar nos ensinamentos das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém:

“A água das chuvas cai do céus; e embora caia sempre do mesmo modo e na mesma forma, produz efeitos muito variados. De fato, o efeito que produz na palmeira, não é o mesmo que produz na videira; e assim em todas as coisas, apesar de sua natureza ser sempre a mesma e não poder ser diferente de si própria. Na verdade, a chuva não se modifica a si mesma em qualquer das suas manifestações. Contudo, ao cair sobre a terra, acomoda-se às estruturas dos seres que a recebem, dando a cada um deles o que necessita. Com o Espírito acontece o mesmo. Sendo único, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui a graça a cada um conforme lhe apraz. E assim como a árvore ressequida, ao receber água, produz novos rebentos, assim também a alma pecadora, ao receber o Espírito Santo o dom do arrependimento, produz frutos de justiça. O Espírito tem um só e mesmo ser, mas por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo produz efeitos diversos”.

O Espírito “serve-se da língua de uns para comunicar o dom da sabedoria; ilumina a inteligência de outros com o dom da profecia. A este dá o poder de expulsar demônios; àquele concede o dom de interpretar as Escrituras. A uns fortalece na temperança; a outros ensina a misericórdia; a estes inspira a prática do jejum e como suportar as austeridades da vida ascética; e àquele o domínio das tendências carnais; a outros ainda prepara para o martírio. Enfim, manifesta-se de modo diferente em cada um, mas permanece sempre igual a si mesmo, como está escrito: A cada um é dada a manifestação do Espirito em vista do bem comum” (cf. 1Cor 12,5).

“Branda e suave é a sua aproximação; benigna e agradável é a sua presença; levíssimo o seu jugo! A sua chegada é precedida por esplêndidos raios de luz e ciência. Ele vem com um amor entranhado de um irmão mais velho: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar a alma de quem o recebe, e, depois por meio desse, a alma dos outros. Quem se encontra nas trevas, ao nascer do sol recebe nos olhos a sua luz, começando a enxergar coisas que até então não via. Assim também, aquele que se tornou digno do Espirito Santo, recebe na alma a sua luz e, elevado acima da inteligência humana, começa a ver o que antes ignorava”. 

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/

terça-feira, 10 de maio de 2016

O ANO SANTO DA MISERICÓRDIA - Perspectivas Franciscanas - Final



Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho.

É vital encontrar alguém em quem a misericórdia encarnou-se. Pessoas passam pela nossa vida e nos completam com gestos de carinho e atenção. Na prática de gestos de amor e cuidado aí está Deus, com seu infinito olhar de misericórdia.

É urgente que a cada momento as pessoas se comuniquem e se ajudem. Não dá para viver melhor sem a força de alguém. 

É natural amar do jeito que Deus ama: de modo incondicional. Na Regra não Bulada 7,13, diz Francisco: “E todo aquele que deles se acercar – seja amigo ou adversário, ladrão ou bandido – recebam-no com bondade”.

É necessário aprender que misericórdia e compaixão é também condescendência, isto é, conviver como os limites, ter uma enorme paciência com o diferente do outro, sobretudo com as sua falhas. Diz Francisco em suas Admoestações 18: “Bem-aventurado o homem que suporta o seu próximo com suas fraquezas tanto quanto quisera ser suportado por ele se estivesse na mesma situação”.

Misericórdia é um modo leve de tratamento cordial e atrela muitas virtudes. No Sacrum Commercium temos a Senhora Dama Pobreza exaltando a simplicidade dos frades porque “eram homens de virtude, homens pacíficos, mansos e humildes de coração “(SCom 37). 

Esta postura virtuosa transformou-se em Forma de Vida, por isto temos na Regra Bulada 3,11: “Sejam mansos, pacíficos, modestos e afáveis e humildes, tratando a todos com honestidade como convém”.

Misericórdia é amar do jeito como Deus ama. É responder à convocação do Amor de Deus. Diz a Legenda Maior 9, 1: “Segundo Francisco era uma prodigalidade digna de um príncipe essa compensação pelas esmolas recebidas e prova de loucura total preferir o dinheiro ao amor de Deus, pois a inestimável moeda do amor divino é a única que nos permite resgatar o reino dos céus. Eis pois que é necessário amar muito o amor daquele que muito nos amou”.

Este é o jeito franciscano de sentir, pensar e agir misericordiosamente!

Frei Vitório.

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/