sábado, 13 de junho de 2020

Santo Franciscano do dia -13/06 - Santo Antônio de Pádua


Sacerdote, doutor Evangélico da Primeira Ordem (1191-1231). Canonizado por Gregório IX no dia 30 de maio de 1232 

Antônio de Pádua ou – como também é conhecido – de Lisboa, referindo-se à sua cidade natal. Trata-se de um dos santos mais populares de toda a Igreja Católica, venerado não somente em Pádua, onde se erigiu uma esplêndida basílica que recolhe seus restos mortais, mas no mundo inteiro. São queridas dos fiéis as imagens e estátuas que o representam com o lírio, símbolo da sua pureza, ou com o Menino Jesus nos braços, lembrando uma aparição milagrosa mencionada por algumas fontes literárias.

Antônio contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento da espiritualidade franciscana, com seus fortes traços de inteligência, equilíbrio, zelo apostólico e, principalmente, fervor místico.

Ele nasceu em Lisboa de uma família nobre, por volta de 1195, e foi batizado com o nome de Fernando. Começou a fazer parte dos cônegos que seguiam a regra monástica de Santo Agostinho, primeiro no mosteiro de São Vicente, em Lisboa, e depois no da Santa Cruz, em Coimbra, renomado centro cultural de Portugal. Dedicou-se com interesse e solicitude ao estudo da Bíblia e dos Padres da Igreja, adquirindo aquela ciência teológica que o fez frutificar nas atividades de ensino e na pregação.

Em Coimbra, aconteceu um fato que marcou uma mudança decisiva em sua vida: em 1220, foram expostas as relíquias dos primeiros cinco missionários franciscanos que haviam se dirigido a Marrocos, onde encontraram o martírio. Este acontecimento fez nascer no jovem Fernando o desejo de imitá-los e de avançar no caminho da perfeição cristã: então ele pediu para deixar os cônegos agostinianos e converter-se em frade menor. Sua petição foi acolhida e, tomando o nome de Antônio, também ele partiu para Marrocos, mas a Providência divina dispôs outra coisa.

Por causa de uma doença, ele se viu obrigado a voltar à Itália e, em 1221, participou do famoso “Capítulo das Esteiras” em Assis, onde também encontrou São Francisco. Depois disso, viveu por algum tempo escondido totalmente em um convento perto de Forlì, no norte da Itália, onde o Senhor o chamou para outra missão. Convidado, por circunstâncias totalmente casuais, a pregar por ocasião da uma ordenação sacerdotal, Antônio mostrou estar dotado de tal ciência e eloquência, que os superiores o destinaram à pregação. 

Ele começou assim, na Itália e na França, uma atividade apostólica tão intensa e eficaz, que levou muitas pessoas que haviam se separado da Igreja a voltar atrás. Esteve também entre os primeiros professores de teologia dos Frades menores, talvez inclusive o primeiro. Começou a lecionar em Bolonha, com a bênção de Francisco, o qual, reconhecendo as virtudes de Antônio, enviou-lhe uma breve carta com estas palavras: “Eu gostaria que você lecionasse teologia aos frades”. Antônio colocou as bases da teologia franciscana que, cultivada por outras insignes figuras de pensadores, teria conhecido seu zênite com São Boaventura de Bagnoregio e o beato Duns Scotus.

Nomeado como superior provincial dos Frades Menores da Itália Setentrional, continuou com o ministério da pregação, alternando-o com as tarefas de governo. Concluído o mandato de provincial, retirou-se perto de Pádua, onde já havia estado outras vezes. Depois de apenas um ano, morreu nas portas da Cidade, no dia 13 de junho de 1231. Pádua, que o havia acolhido com afeto e veneração em vida, prestou-lhe sempre honra e devoção. O próprio Papa Gregório IX – que, depois de tê-lo escutado pregar, definiu-o como “Arca do Testamento” – canonizou-o em 1232, também a partir dos milagres ocorridos por sua intercessão.

No último período da sua vida, Antônio escreveu dois ciclos de “Sermões”, intitulados, respectivamente, “Sermões dominicais” e “Sermões sobre os santos”, destinados aos pregadores e professores de estudos teológicos da ordem franciscana. Neles, comentou os textos da Sagrada Escritura apresentados pela liturgia, utilizando a interpretação patrístico-medieval dos quatro sentidos: o literal ou histórico, o alegórico ou cristológico, o tropológico ou moral e o analógico, que orienta à vida eterna. Trata-se de textos teológicos-homiléticos, que recolhem a pregação viva, na qual Antônio propõe um verdadeiro e próprio itinerário de vida cristã. É tanta a riqueza de ensinamentos espirituais contida nos “Sermões”, que o venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou Antônio como Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de “Doutor Evangélico”, porque destes escritos surge a frescura e beleza do Evangelho; ainda hoje podemos lê-los com grande proveito espiritual.

Nos “Sermões”, ele fala da oração como uma relação de amor, que conduz o homem a conversar docemente com o Senhor, criando uma alegria inefável, que envolve suavemente a alma em oração. Antônio nos recorda que a oração precisa de uma atmosfera de silêncio, que não coincide com o afastamento do barulho externo, mas é experiência interior, que procura evitar as distrações provocadas pelas preocupações da alma. Segundo o ensinamento deste insigne Doutor franciscano, a oração se compõe de quatro atitudes indispensáveis que, no latim de Antônio, definem-se como: obsecratio, oratio, postulatio, gratiarum actio. Poderíamos traduzi-las assim: abrir com confiança o próprio coração a Deus, conversar afetuosamente com Ele, apresentar-lhe as próprias necessidades, louvá-lo e agradecer-lhe.

Neste ensinamento de Santo Antônio sobre a oração, conhecemos um dos traços específicos da teologia franciscana, da qual ele foi o iniciador, isto é, o papel designado ao amor divino, que entra na esfera dos afetos, da vontade, do coração, e que é também a fonte de onde brota um conhecimento espiritual que ultrapassa todo conhecimento. Antônio escreve: “A caridade é a alma da fé, é o que a torna viva; sem o amor, a fé morre” (Sermões Dominicais e Festivos II).

Só uma alma que reza pode realizar progressos na vida espiritual: este foi o objeto privilegiado da pregação de Santo Antônio. Ele conhecia bem os defeitos da natureza humana, a tendência a cair no pecado; por isso, exortava continuamente a combater a inclinação à cobiça, ao orgulho, à impureza e a praticar as virtudes da pobreza e da generosidade, da humildade e da obediência, da castidade e da pureza.

No começo do século XIII, no contexto do renascimento das cidades e do florescimento do comércio, crescia o número de pessoas insensíveis às necessidades dos pobres. Por este motivo, Antônio convidou os fiéis muitas vezes a pensar na verdadeira riqueza, a do coração, que, tornando-os bons e misericordiosos, leva-os a acumular tesouros para o céu. “Ó ricos – exorta – tornai-vos amigos (…); os pobres, acolhei-os em vossas casas: serão depois eles que os acolherão nos eternos tabernáculos, onde está a beleza da paz, a confiança da segurança e a opulenta quietude da saciedade eterna” (Ibid.).

Antônio, na escola de Francisco, sempre coloca Cristo no centro da vida e do pensamento, da ação e da pregação. Este é outro traço típico da teologia franciscana: o cristocentrismo. Alegremente, ela contempla e convida a contemplar os mistérios da humanidade do Senhor, particularmente o do Natal, que suscitam sentimentos de amor e gratidão pela bondade divina.

Também a visão do Crucificado lhe inspira pensamentos de reconhecimento a Deus e de estima pela dignidade da pessoa humana, de forma que todos, crentes e não crentes, possam encontrar um significado que enriquece a vida. Antônio escreve: “Cristo, que é a tua vida, está pregado diante de ti, porque tu vês a cruz como em um espelho. Nela poderás conhecer quão mortais foram tuas feridas, que nenhum remédio teria podido curar, a não ser o sangue do Filho de Deus. Se olhas bem, poderás perceber quão grandes são tua dignidade e teu valor (…). Em nenhum outro lugar o homem pode perceber melhor o quanto vale, a não ser no espelho da cruz” (Sermões Dominicais e Festivos III).

Que Antônio de Pádua, tão venerado pelos fiéis, interceda pela Igreja inteira, sobretudo por aqueles que se dedicam à pregação. Que estes, inspirando-se em seu exemplo, procurem unir a doutrina sã e sólida, a piedade sincera e fervorosa e a incisividade da comunicação.

Papa Bento XVI

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Artigo - Francisco de Assis e a alegria espiritual.


POR FREI VITÓRIO MAZZUCO FILHO

Na segunda vida de Tomás de Celano temos o relato: “Este santo afirmava que o remédio mais seguro contra as mil insídias e astúcias do inimigo é a alegria espiritual (...) O demônio exulta, acima de tudo, quando pode surrupiar ao servo de Deus a alegria do espírito. Ele leva um pó que possa jogar, o mais possível, nas pequenas frestas da consciência e sujar a candura da mente e a pureza da vida. Mas, quando a alegria espiritual enche os corações, em vão a serpente derrama o veneno letal (...) Quando, porém, o espírito está choroso, desolado e tristonho, é facilmente absorvido pela tristeza ou levado a alegrias vãs. Por conseguinte, o santo esforçava-se por manter-se sempre na alegria do coração, por conservar a unção do espírito e o óleo da alegria. Com o máximo cuidado evitava a péssima doença da tristeza, de modo que, quando a sentia a penetrar na mente, ainda que um pouquinho, corria o mais depressa possível à oração” (2Cel 125).

Numa marchinha de carnaval antiga, pedia-se que o guarda colocasse para fora do salão quem jogasse pós de mico na alegria dos outros. O demônio, isto é, a contrariedade da vida, a encarnação do espírito do mal em alguns detalhes da vida, gosta de sujar a serenidade. Nós gostamos de jogar o pó da negatividade na fluência natural da vida. Levantamos com notícias tristes e trágicas e deixamos que elas sejam a opaca lente de nosso olhar. No café da manhã trocamos receitas de psicotrópicos; almoçamos fazendo uma atualização das mortes acontecidas; jantamos notícias de uma cidade alerta contra um onipresente perigo. Vemos o mal no porteiro, na cuidadora, no rapaz que veio instalar a Net, no cachorro da vizinha e em todas as comidas que saboreamos porque acreditamos que tudo faz mal! Se damos espaço a isso sufocamos a alegria espiritual.

Francisco nos ensina que diante da doença, da tristeza, possamos correr o mais depressa possível à oração. Dividir preocupações de um modo orante é o salmo da cura em meio a tormentos. Almas que rezam têm a serena alegria dos que confiam. Na oração do salmista tem sempre uma saída para as tristezas do mundo. Alegria vã é alegria vazia. Os vãos são espaços vazios que precisam ser preenchidos. Que tal encher o vazio com preces?

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

Imagem do artista plástico carioca Vagner Aniceto http://www.vagneraniceto.com.br/

Santo franciscano do dia - 30/04 - São José Benedito Cottolengo


Sacerdote da Terceira Ordem (1786-1842). Fundador de Congregações masculinas e femininas. Canonizado por Pio XI no dia 19 de março de 1934. 

Nasceu no dia 3 de Maio de 1786 em Bra, na região de Piedmonte, Itália, de uma família da classe média e estudou em um seminário em Turim. Ordenou-se em 1811. Foi pároco em Bra e em Corneliano. Em Turim, graduou-se em Teologia e se inscreveu na Terceira Ordem Franciscana.
Uma noite foi chamado à cama de uma mulher pobre e doente em trabalho de parto. A mulher necessitava desesperadamente de ajuda médica, mas para todos os lados que ia não encontrava ajuda por falta de dinheiro. José ficou com ela durante todo trabalho e ouviu dela a confissão, deu sua absolvição e a comunhão e a unção dos enfermos. Batizou a pequena criança e os olhava boquiaberto enquanto ambos morriam na cama. O trauma mudou a sua vida e a sua vocação.

Em 1827 ele, fundou um abrigo para os doentes e pobres, alugando uma casa e enchendo os quartos com camas e procurando homens e mulheres voluntárias. O local se expandiu e ele recebeu ajuda dos Irmãos de São Vicente e das Irmãs Vicentinas. Durante a cólera de 1831, a polícia local fechou o hospital pensando que era a origem da doença.

Em 1832, ele transferiu a operação para Valdocco e chamou o Abrigo de Pequena Casa da Divina Providência. A Casa começou a receber apoio e suporte e cresceu em asilos, orfanatos, hospitais, escolas, casa de aprendizado para pobres e capelas. Vários programas para o pobres, doentes e necessitados de todos os tipos foram criados. Esta pequena Vila dependia totalmente das almas caridosas e José não aceitava ajuda oficial do Estado. A casa ainda funciona até hoje, servindo a oito mil pessoas ou mais por dia. Ele fundou ainda 14 comunidades para os residentes, inclusive as Filhas da Companhia do Bom Samaritano, os Eremitas do Santo Rosário e os Padres da Santíssima Trindade.


Faleceu em 30 de abril de 1842 de tifo em Chieri, Itália. Foi canonizado em 1934 pelo Papa Pio XI.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Artigo - Seis dias antes da Páscoa…


Segunda-feira Santa


Estamos em plena semana santa. Nossa atenção se volta para os últimos momentos da vida do Senhor Jesus, nossa esperança, nosso redentor e esposo de nossos corações. Sabemos perfeitamente que evocando os momentos da vida do Senhor, mormente, o que está ligado à sua paixão e morte, automaticamente, nosso pensamento voa para a noite da luminosidade, para o dia que o Senhor fez para nós, para páscoa. Não somos discípulos do Cristo morto, mas do que reviveu para sempre.

Aquele que amamos, aquele que vai ocupando, aos poucos, todos os espaços do que chamamos de vida espiritual é o eleito do Pai, o Filho muito amado, no qual o Pai se compraz. Esse servo descrito por Isaías tem tudo a ver com o Esposo e Amado de nosso coração. “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas… não esmorecerá nem se deixará abater…. eu o constitui como centro da aliança do povo, como luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.
No final dessa semana, uma claridade banhará a terra. Aquele que vai ser transfixado será luminosamente transfigurado.

O salmo de meditação (Sl 26) pode ser colocado nos lábios e no coração de Jesus: “O Senhor é minha luz e minha salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida, perante quem eu tremerei? (…) Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes. Espera no Senhor e tem coragem, espera no Senhor!”. Na silenciosa meditação desses dias escutamos a voz do Amado: “O Senhor é minha luz e minha salvação!”.

Seis dias antes da Páscoa o Senhor foi a Betânia. Tinha o coração cheio de interrogações e de apertos. Antes de subir para Jerusalém queria ter a alegria do conforto do encontro com amigos de verdade: Marta, Maria e Lázaro. Estes ofereceram-lhe um jantar, esse momento de calma em que os corações tinham tempo para escutar os sons do interior: apreensão, incentivo e desejo de coragem, vontade de estar com gente fiel. E uma mulher inopinadamente resolve quebrar um frasco de perfume. Judas se mostrou incomodado com tal desperdício. Onde se viu? Tantos necessitados e aquele gasto à toa. O peito de Jesus quase que a estalar de dor teve ainda força de dizer energicamente: “Deixa-a, ela fez isto em vista da minha sepultura. Pobres sempre tereis convosco, enquanto a mim nem sempre me tereis”.

Tudo isso se passou seis dias antes da Páscoa…

Frei Almir Ribeiro Guimarães