Frei Almir Guimarães
Uma grande multidão que viera para a festa aclamava Jesus Cristo: Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas
(Antífona do Domingo de Ramos)
Tudo está para terminar. Chegamos ao termo das meditações a respeito da caminhada de Jesus até o seu desfecho, sua morte e ressurreição. Estamos para terminar nosso retiro quaresmal. Que frutos alcançamos? Com que disposições desejamos viver os dias da Semana Santa?
A Procissão dos Ramos que realizamos evoca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. O formulário da bênção das palmas invoca o olhar de Deus sobre os ramos que os fiéis carregam em sinal da adesão a Cristo Rei que entra em sua cidade montado num burrico. A festa de hoje é exaltação do Cristo-Rei. Os paramentos são vermelhos e lembram o fogo e o martírio. Como em Jerusalém também em nossos templos há alegria. Cantos de vitória. Palmas que se agitam. Profusão de hosanas. As leituras da missa, no entanto, vão falar de alegria e sofrimento. Em toda a semana santa é o que ocorre: júbilo e dor. Esse paradoxo, segundo os liturgistas , é a língua do mistério.
“Vinde subamos juntos ao Monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério da nossa salvação (…). O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a Escritura, nem gritará, nem ninguém ouvirá a sua voz. Pelo contrário, será manso e humilde e se apresentará com vestes pobres e aparência modesta” (André de Creta, Liturgia das Horas II, p. 366).
Jesus entra em Jerusalém montado num jumento. O gesto marca a pobreza e a simplicidade do Messias. Jesus pede que lhe providenciem um asno que haverá de devolver depois. O burrico é a cavalgadura do messias pobre e humilde de Zacarias (9,9). O burrico é apenas emprestado. Por sua vez o cortejo que acompanha Jesus mostra características reais expressas nos mantos estendidos pelo chão e nas palavras de ovação. Há diferença entre a maneira como Jesus de um lado, e as pessoas de outro, encaram este momento. Jesus sente-se a pedra que os pedreiros rejeitaram. Não partilha, a concepção de um Messias triunfalista que é abraçada pela multidão.
A profecia do servo sofredor, texto escrito séculos antes de Jesus, e proclamado na liturgia da missa desse dia (Is 50,4-7), descreve antecipadamente os sofrimentos de Jesus em sua paixão: o servo abre os ouvidos para as palavras de Deus, oferece as costas aos que nele batem e estende a face aos que lhe arrancam a barba, não desvia o rosto das cusparadas e bofetões. Terminada a alegre procissão de entrada somos colocados diante da paixão do Senhor. Ecoam, de maneira especial, as palavras da Carta aos Filipenses: “…aquele que se fez obediente até a morte e morte de cruz”.
Realmente, a liturgia de Ramos é a liturgia do paradoxo da glória e do abaixamento. Muitos se admiraram da glória de Jesus ao longo de sua caminhada. Parecia um vitorioso, um triunfador. No entanto, na medida em que se avizinhava a Paixão, seu semblante foi sendo privado de glória e toda sua pessoa conheceu a humilhação. Na procissão de ramos Jesus é envolvido de glória e de honra. Na paixão tem o rosto deformado e sem beleza. Na procissão, as pessoas colocam suas vestes no chão para serem pisadas. Na hora do abandono, ele é privado de suas vestes.
Um rei sentado num burrico…
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=129822
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