quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Francisco deixa-se guiar pelo Altíssimo
Amanhã, 1º de setembro, tem início do Tríduo de São Francisco de Assis, uma preparação para a grande festa franciscana no dia 4 de outubro, quando celebraremos o nosso Pai Seráfico. Até o dia 4 vamos diariamente oferecer reflexões sobre a espiritualidade franciscana.
O segredo e mistério da vida de cada pessoa vai se revelando ao longo do tempo. A pessoa passa de etapa em etapa na dinâmica do crescimento. No desdobrar da história vai aparecendo o mistério de seu ser. As ações colocadas revelam as profundezas de sua vida. O mistério aparece de modo especial quando a pessoa se abre ao Senhor que se lhe manifesta. Não parte ela de um dedutível e de um calculável. Deixa-se guiar pela mão do Senhor.
Sem um plano preestabelecido, em obediência total à voz interior, e depois ao chamado da graça, Francisco foi evoluindo. E com ele a sua obra. De um modo misterioso, não planejado, foi se transformando ao longo de um processo de irresistível fascínio, passando da vida de um jovem que desfruta de uma dourada juventude do século XIII em Assis para uma vida de seguimento do Senhor Jesus, uma vida de penitência, amando de modo muito particular o Crucificado.
Não traçou estratégias. Impulsionado e pressionado pelo alto e a partir de seu interior, procurando e escutando, sofrendo e exultando, foi realizando o que lhe era revelado.
“O Senhor me deu…’ ‘O Altíssimo me revelou’ são expressões que aparecem oito vezes em seu Testamento. Tais afirmações indicam a estrutura íntima de Francisco. Ele é totalmente guiado por Deus nas coisas grandes e pequenas. Tudo o que lhe acontece, tudo o que orienta para a santidade e confere-lhe o selo da perfeição é atuação direta de Deus. Aos seus irmãos não legou outra coisa senão aquilo que o Senhor lhe revelara. Claro que as palavras o Senhor me deu, o Senhor me revelou não podem ser entendidas no sentido teológico da revelação como nas Escrituras. Mas é certo que Francisco tem a certeza de estar sendo guiado pelo Altíssimo.
A biografia de Tomás de Celano e a Legenda dos Três Companheiros resumem claramente a sua vida com a afirmação: “Ninguém a não ser Deus lhe ensinou”. Nesta matéria não teve outro conselheiro a não ser Deus. Transmitiu aos irmãos o que o Senhor lhe havia revelado.
Francisco não agia passivamente. Ele colocava em ação todas as energias de sua vida para cumprir o mandato do Senhor. Realiza com total perfeição uma atitude especificamente cristã: ele escuta. O ato de escutar pode ser concretizado pelo cristão em diferentes graus de intensidade. Pode ir da simples aceitação correta da Palavra de Deus até o ponto que o homem inteiro, até o âmago do seu ser, se dispõe a acolher a boa nova e a põe em prática. Os biógrafos nos mostram como Francisco estava completamente aberto à escuta da voz de Deus. Essa prontidão e essa docilidade que se tornaram tão intrínsecas à suja natureza se concretizaram numa entrega total e numa perfeita obediência.
Esta fusão com a orientação de Deus era tão íntima e adquiriu tão alto grau de uma união mística entre amante a amado que somente poderia se expressar guardando misterioso silêncio…
Francisco compreende em profundidade o Evangelho e também os salmos que ele bem conhece: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo e à perola preciosa “(Mt 13,44). Da mesma forma que o feliz descobridor do Evangelho, Francisco esconde o seu tesouro. Ele sabe da misteriosa corrente da graça que vem de Deus à sua alma e é justamente o mais delicado e o mais exposto ao perigo: “Toda a minha obra pertence ao Rei” (Sl 44,2).
Francisco sabe muito bem cuidar do fogo interior com o qual fora agraciado. Sabemos com quanta pertinácia ele soube guardar o segredo de seus estigmas. Escreve a Regra. Dita ou escreve algumas frases de bênçãos; aquilo que ele era, sobre o que nele passa ou havia passado Francisco fala muito pouco, “cauteloso como num enigma”.
“Feliz o homem que sabe guardar os segredos do Senhor seu Deus” (cf. Admoestação 28). A partir deste prisma é que certas Admoestações de Francisco podem ser entendidas.
Tudo isso faz parte daquela “estranheza” que até hoje envolve a figura de Francisco. Seus contemporâneos, da mesma forma que o sultão do Egito, estão profundamente impressionados com ele.
FREI ALMIR GUIMARÃES
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário