sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Reflexão desta sexta: O segredo revelado pelas chagas de Jesus


Quando se busca as entranhas do Senhor.

Para esta primeira sexta-feira de setembro  propomos leitura meditada desta admirável página de São Bernardo de Claraval (século XII)  sobre o mistério das chagas do Senhor.

             Onde encontrar repouso tranquilo e firme segurança  para os fracos a não ser nas chagas do Salvador?  Ali permaneço tanto mais seguro, quanto mais poderoso é ele para salvar. O mundo agita,  o corpo dificulta, o demônio arma ciladas; não caio, porque estou fundado sobre a rocha firme.

Pequei e pequei muito; a consciência abala-se, mas não se perturba, pois me lembro das chagas do Senhor. Ele foi ferido por causa de minhas iniquidades. Que pecado tão mortal que a morte de Cristo não apague?   Se vier à mente  tão poderoso e eficaz remédio, não haverá mal que possa aterrorizar.  Por isso, muito errou  quem disse:  Tão grande é meu pecado que não merece perdão.  Mostra com isso não ser membro de Cristo nem lhe interessar o mérito de Cristo, por apoiar-se no próprio merecimento, declarar coisa sua o que pertence a outro, como acontece com um membro em relação  à cabeça.

Quanto a mim eu vou buscar o que me falta confiadamente  nas entranhas do Senhor, tão cheias de misericórdia, que não lhe faltem fendas por onde se derrame.  Cavaram suas mãos e seus pés, traspassaram seu lado; por estas fendas  é-me permitido sugar o mel da pedra, o óleo do rochedo duríssimo, quero dizer,  provar e ver quão suave é o  Senhor.

Ele alimentava pensamentos de paz e eu não sabia. Pois quem conheceu o pensamento do Senhor?  Ou quem foi seu conselheiro?  Mas o cravo que penetra tornou-se-me a  chave que abre a fim de ver a vontade do Senhor.  Que verei através das fendas? Clama o cravo, clama a chaga que Deus está em Cristo reconciliando o mundo consigo. A espada atravessou sua alma e tocou seu coração; é-lhe agora impossível deixar de compadecer-se de minhas misérias.

Abre-se o íntimo do coração pelas chagas do corpo, abre-se o magno sacramento da  piedade, abrem-se as entranhas  da misericórdia de nosso Deus  que induziram o Oriente, vindo do alto a visitar-nos.  Qual o íntimo que se revela pelas chagas? Como poderia brilhar de modo mais claro do que  em vossas chagas, que vós Senhor, sois suave e manso e de imensa misericórdia?  Maior compaixão não há do que entregar sua vida por réus de morte e condenados.

Em vista disso, meu mérito é a misericórdia do Senhor. Nunca me faltam méritos  quanto não lhe faltar a comiseração. Se forem numerosas as misericórdias do Senhor, eu muitos méritos terei.  Que acontecerá se me torno bem consciente de meus  muitos pecados?  Onde abundou o delito, superabundou a graça. E se as misericórdias de Deus são de sempre e para sempre, também eu cantarei eternamente  as misericórdias do Senhor. Acaso é minha a justiça.  Vossa, sim, e minha; porque vós vos fizeste para mim justiça de Deus.

Liturgia das Horas,  III, p  106-108

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