sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Era uma vez um homem chamado Zaqueu



Mês após mês, na primeira Sexta-feira, muitos discípulos de Jesus gostam de deter-se no amor do Senhor manifestado em seu peito aberto, na prodigiosa bondade de seu coração. Ao longo deste ano vamos tentar fazer algumas meditações em torno de encontros de Jesus nos evangelhos. Neles manifesta-se o grande do amor do Coração do Senhor. Em janeiro, começamos com o episódio da mulher de Samaria. Nesta primeira sexta-feira de fevereiro, queremos refletir sobre as misericórdia do amor de Deus manifestada na vida de um homem chamado Zaqueu (Lc 19,1-10).

Zaqueu desceu depressa e recebeu Jesus com alegria  (Lc 19, 6). 

Discípulos de Jesus que somos, também filhos de São Francisco, comprazemo-nos em andar no seguimento de Cristo que dá sua vida pelos seus e por todos. Temos um cuidado todo especial de nos colocar perto da porta das misericórdias que é o peito aberto de Cristo pela lança do soldado quando o  Esposo da Igreja já tinha dado o último suspiro.  Queremos viver intensamente o Ano da Misericórdia. Nesta primeira sexta-feira queremos refletir sobre as misericórdia do amor de Deus manifestada na vida de um homem chamado  Zaqueu.

Jericó é cidade célebre devido às trombetas que ao soarem derrubaram suas muralhas, episódio que ficou marcado para sempre  na memória religiosa de Israel. A cidade estava situada não longe  do lugar onde o rio Jordão lança suas águas no Mar Morto, quatrocentos metros abaixo do nível do mar.  Dizem os conhecedores que, no tempo de Jesus, havia nela muitas bananeiras.  Cresciam nela sicômoros, árvores rústicas e robustas que propiciavam a seus habitantes e forasteiros uma sombra  repousante.

Nesta cidade, muito orgulhosa de seu passado, vivia um cobrador de impostos chamado Zaqueu.  Os coletores de impostos pertenceram (e pertencem) a uma categoria  profissional pouco estimada pela população.  Eram particularmente mal vistos na Palestina porque recolhiam os impostos para a potência estrangeira que era Roma, mas também e sobretudo porque eram eles que fixavam a soma a ser vertida por cada família. Tinham visão larga na hora de fixar a quantia de tal sorte que garantida a parte dos romanos,  uma outra destinava-se a  engrossar seu patrimônio pessoal.

Zaqueu era de baixa estatura.  Baixas, certamente, não eram suas ambições. Havia bem conduzido seus negócios  com persistência e astúcia de sorte que podia ser considerado um homem rico. Pode-se bem imaginar que muitas vezes deve ter agido com dureza,  pouco deixando se sensibilizar pelo sofrimento dos outros.  Seu coração está voltado para a riqueza.  Poder-se-ia pensar, à primeira vista, que o apego cego aos bens não lhe provocava inquietude ou inquietação, nem fazia nascer nele uma sensação de vazio interior que devesse ser  preenchida por alguma coisa diferente e superior.  A leitura do texto de Lucas, no entanto,  pode deixar entrever que ele não se sentia plenamente satisfeito  com sua vida pela sua disponibilidade mostrada em ouvir a palavra do profeta de Nazaré.

Chegando a Jericó Jesus havia curado um cego. “Senhor, faze com que eu veja”, gritava o mendigo cego que esmolava  à beira do caminho.    Poderíamos aqui refletir sobre a multiplicidade de cegueiras humanas. Alguns instantes depois,  quando  Jesus atravessava a cidade, Zaqueu  “tentava ver Jesus mas não conseguia devido à multidão e porque era de baixa estatura”. A parábola é clara: há pessoas cegas demais e  de estatura muito  baixa que estão impossibilitadas de ver  Jesus e por reconhecê-lo a passar.

Zaqueu, no entanto, não iria desistir  diante de um tão insignificante obstáculo. A vida o havia provado. Já havia superado tantos outros desafios para chegar à posição em que chegara!  Ele tomara a decisão de ver Jesus. E ele o veria, mesmo que fosse objeto de riso de seus concidadãos. Imaginem: um cobrador de impostos pendurado numa árvore.

Jesus entra em cena. Está cercado de seus discípulos e de uma multidão que sua fama – e também a cura que tinha realizado – se reuniram à sua volta. De repente, no meio daquela gente toda, pensa num só homem, Zaqueu, o conhecido publicano e notório transgressor da  moral, um pecador. “Zaqueu desce depressa, hoje eu devo ficar na tua casa”. Despenca de sua árvore, abre de par a par  as portas de sua  casa, e, na alegria,  acolhe  Jesus.

Um escândalo para as pessoas que se consideravam tão ‘corretinhas’.  Será  que não havia outra casa de gente certamente mais respeitável  para ele entrar?  O que se passa pela cabeça desse jovem profeta?

O mundo em que se movimenta Jesus é diferente.  Não veio para confirmar as certezas  dos ‘corretinhos’.  Não veio para os justos, mas para os pecadores.  Veio revelar-lhes que, apesar de tudo  Deus os ama, que são importantes a seus olhos. Que quem quer que seja que lhe abra a porta  saiba que ele entra  e enche a casa de alegria.

Acontecem, então, coisas extraordinárias: um cobrador de impostos  distribui seu dinheiro. “Senhor, eu dou a metade de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém vou devolver quatro vezes mais. Depois que  Zaqueu encontra  Jesus que valor pode ter a riqueza acumulada ao longo de tanto tempo?  Zaqueu  encontrou um outro tesouro. Descobriu uma pérola preciosa. Tudo o mais não lhe interessa mais. Trata-se de um homem  com os pés no chão.  Sabe que as melhores resoluções de nada servem  se permanerecem vagas.  Ele então decide devolver o bens quatro vezes mais.  Para  uma pessoa boa nas contas de somar e multiplicar isso era muito.  E Zaqueu  sabia muito bem contar…

Jesus então declara: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque   também este homem é filho de Abraão”. Chefe dos cobradores,  colaborador dos romanos, desprezado, detestado pelos seus concidadãos,  Zaqueu pelo fato de ter acolhido o  Filho de Deus  é  reconhecido por este como filho de Abraão, filho da promessa,  amado de Deus. ( Revista  Fêtes et Saisons, fev. 1977 – Texto de autoria de François Monfort,  p.  6-8)

Frei Almir Guimarães

Fonte: http://www.franciscanos.org.br

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