sexta-feira, 5 de agosto de 2016
Artigo - O Senhor é refúgio e abrigo
Reflexão de Frei Almir Guimarães para a primeira sexta-feira do mês.
1. Mais uma vez, neste começo de mês, postamo-nos respeitosa e contemplativamente diante do mistério do Coração humano de Deus, do Coração de Jesus, fissurado pela lança do soldado e vertendo água e sangue. Sentimentos de gratidão tomam conta de nós, sobretudo quando pensamos palavras do Senhor: “Isto é meu corpo que é dado por vós”. Temos sempre diante dos olhos esse abaixamento de Deus que, sendo de condição divina, não hesitou em tornar-se servo e, em extremo gesto de generosidade, dá a vida, aceita a morte para dar vida ao nosso viver. Sentimentos de contemplação se misturam com súplicas de socorro e vontade de dizer ao mundo inteiro, com Francisco de Assis, que o Amor precisa ser amado.
2. Nesse momento chega à nossa mente uma breve palavra de um salmo: “Para mim, o Senhor, com certeza, é refúgio, é abrigo, é rochedo” (Sl 93(94), 22). Pensamos na cena do final do Calvário. Jesus já está morto. O soldado toca-lhe o peito com uma lança. Faz uma janela, uma brecha, uma fenda. Contemplamos tudo com toda humildade, ou seja, sem as sandálias nos pés. Somos discípulos do Senhor. Na caminhada da vida nem sempre conseguimos viver em uníssono com as batidas do coração do Senhor. Vivemos num mundo à parte. Aos poucos, o rosto do Senhor vai se tornando difuso, impreciso. Experimentamos muita sorte de águas não tão puras e percorremos caminhos que nos levam a impasses: no casamento, na vida consagrada, na família, na convivência com as pessoas sentimo-nos perdidos. Momentos há em que uma tentação nos persegue. Caímos e levantamo-nos. Aos poucos, o desalento toma conta de nós. A recitação do salmo nos faz ganhar novo alento. Três palavras: o Senhor é refúgio, abrigo e rochedo. Refúgio nas tempestades e relâmpagos, quando circunstancias fazem com que sejamos incompreendidos. Abrigo quando temos as roupas ensopadas da chuva ou molhadas com o suor. Rochedo, certeza de que nos ama e quer mostrar até onde vai seu amor. “Não existe maior amoro do que dar a vida pelos seus”.
3. De repente, palavras da Imitação de Cristo (sec. XV) ajudam-nos nessa oração contemplativa:
• Volta ao Senhor de todo o teu coração, deixa este mundo miserável e tua alma encontrará repouso. Pois o reino de Deus é paz e alegria no Espírito Santo. Cristo virá a ti, trazendo-te sua consolação, se no íntimo lhe preparares uma digna morada. Toda a sua glória e beleza está no interior. Palavras mansas, agradável consolo, grande paz, maravilhosa intimidade.
• Dá lugar a Cristo. Se possuíres Cristo, serás rico e isto te bastará. Ele cuidará de ti e será teu fiel procurador em todas as coisas e não precisarás depender dos homens.
• Não tens aqui cidade permanente e onde quer que estejas serás estrangeiro e peregrino, não encontrando descanso a não ser quando fordes intimamente unido a Cristo.
• Teus pensamentos se fixem no Altíssimo e tua súplica sem cessar se dirija a Cristo. Se não sabes meditar sobre as coisas profundas e celestes, repousa na paixão de Cristo e demora-te com gosto em suas chagas. Suporta-te a ti mesmo com Cristo e por Cristo se queres reinar com Cristo.
Frei Almir Guimarães, OFM
[Obs. Texto da Imitação de Cristo, em Liturgia das Horas III, p.476-477]
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