segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Artigo - Centralidade da experiência da fé.



Por Frei Almir Guimarães

Na Regra não bulada, São Francisco retoma as primeiras palavras da pregação de Jesus: “Convertei-vos e crede na Boa Nova”  (Mc 1,15).  Assim se exprime ele: “Perseveremos todos na verdadeira fé e penitência, porque de outra maneira ninguém pode salvar-se” (RNB 23,7). A verdadeira fé leva à Boa Nova.  Fé não se separa de transformação do coração.

O que é essa Boa Nova senão a assombrosa revelação do  Deus amor, altíssimo, transcendente, ao mesmo tempo humilde e “muito  baixo”, abrindo o acesso à plenitude de sua vida e a felicidade ao homem  criado à sua imagem. Francisco proclama a Boa Nova numa confissão  de fé formulada em linguagem de louvor e de lirismo  (todo o capitulo 23 da RNB). Nunca nos cansamos de ler estas páginas de agradecimento e êxtase.

Tal confissão de fé deixa entrever Deus em  sua comunhão trinitária e em suas intervenções no mundo, assim como a incomparável dignidade  da frágil e miserável criatura que é o homem. A experiência da fé, denominada por vezes pelo termo ambíguo de “dimensão contemplativa”, consiste na incessante descoberta desta dupla realidade, Deus e o homem, do vínculo  indissolúvel  entre os dois e do caminho  pelo qual o homem deve comprometer-se pela conversão.

Fé e conversão… Trata-se de uma “descoberta” porque estas realidades não constituem objeto de uma descoberta imediata, empírica.  Precisa ser buscada, porque não se deixa “agarrar”. Será preciso viver uma tal descoberta, em todo lugar, sempre. No cotidiano, partindo sempre dos gestos mais humildes  até as atividades mais elevadas.

Desejar o espírito do Senhor,  deixar lugar para sua ação em nós, orar com um coração puro, ter humildade e paciência nas contrariedades  da vida, amar o inimigo  que não nos ama ( cf. Regra Bulada  10).  É desta forma que se tem o coração voltado para o Senhor,  tarefa primeira que  nos é imposta. Nossa prioridade é crer na Boa Nova, converter-nos em verdadeiros fiéis, o que não realiza uma vez por todas. Estaremos sempre dispostos a tudo recomeçar.

“Conversão e fé participam de um único e mesmo empreendimento.  Converter-se, mudar a orientação da vida, é ter bastante fé para  renunciar a se considerar como centro absoluto e autossuficiente. É apostar nossa vida,  nosso futuro, a busca  da felicidade em Jesus  que nos chama a segui-lo.  Imensa empreitada para o homem!  Converter-se não significa em primeiro lugar passar do vício para a virtude,  mas viver uma mudança radical:  aceitar de não querer fazer a vida por conta própria,  com manifestações de teimosia, mas acolher em Jesus a iniciativa de Deus, a gratuidade de seu amor, de seu chamado e de seus dons. O prioritário não é o homem,  mas o Amor de Deus.

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=124096

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