quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
Papa: "Diante da dor, palavras de coração, silêncio, gestos e carinho"
Papa também fez um apelo ao Brasil: que as prisões sejam lugares de reinserção social
Cidade do Vaticano (RV) – Prosseguindo seu ciclo de catequeses semanais sobre a esperança cristã, o Papa Francisco recebeu na Sala Paulo VI milhares de fiéis e peregrinos para a audiência geral. “O choro de Raquel por seus filhos” foi o tema do encontro na manhã desta quarta-feira (04/01).
O Papa iniciou antecipando sua intenção de refletir sobre uma figura de mulher que fala da esperança vivida no pranto: a de Raquel, esposa de Jacó e mãe de José e de Benjamim. Aquela que, como nos ilustra o Genesis, morreu ao dar à luz o segundo filho.
“Um clamor se ouve em Ramá, de lamento, de choro, de amargura. É Raquel que chora seus filhos e recusa ser consolada, porque eles já não existem!”
“Para falar de esperança a quem está desesperado, é preciso compartilhar o seu desespero; para enxugar as lágrimas do rosto de quem sofre, é preciso unir o nosso pranto ao seu. Só assim podem as nossas palavras ser realmente capazes de dar um pouco de esperança”.
Nós vemos isto acontecer na profecia de Jeremias quando se dirige ao povo exilado na Babilônia e personificado em sua matriarca Raquel, esposa do patriarca Jacó e mãe dos seus filhos, José e Benjamim.
Ela morreu precisamente ao dar à luz este segundo filho: morreu para que Benjamim vivesse. O profeta imagina Raquel, ou seja, um povo deportado em lágrimas pelos filhos que já não existem, desapareceram para sempre. Mas Deus, na sua delicadeza e no seu amor, responde ao pranto de Raquel com a promessa: “Haverá recompensa para as tuas penas. Eles voltarão do país inimigo”.
“Descansa tua voz do gemido, poupa os olhos das lágrimas! Pois há uma paga por teus trabalhos: – oráculo do Senhor – eles voltarão da terra inimiga! Há esperança para tua descendência: – oráculo do Senhor – teus filhos voltarão para a terra que é deles.
Justamente pelo pranto da mãe, há ainda uma esperança para os filhos. Suas lágrimas geraram esperança: o povo retornará do exílio e poderá livremente viver, na fé, a sua relação com Deus.
Como sabemos, o evangelista Mateus vê estas lágrimas de Raquel nos rostos das mães de Belém que choram os filhos mortos pelos sicários de Herodes, quando este se propôs matar Jesus. As crianças de Belém morreram por causa de Jesus. Mas Ele haveria, por sua vez, de morrer por todos.
O Filho de Deus entrou na dor dos homens, compartilhou e aceitou a morte; a sua palavra é definitivamente palavra de consolação, porque nasce do pranto. E, na cruz, será Ele, o Filho moribundo, a dar uma nova fecundidade à sua Mãe, confiando-Lhe o discípulo João e tornando-A mãe do povo dos crentes.
A morte está vencida e a profecia de Jeremias chega assim ao seu pleno cumprimento. Também as lágrimas de Maria, como as de Raquel, geram esperança e nova vida.
No final da Audiência Geral, desta quarta-feira (04/01), o Papa Francisco fez um apelo em favor dos presos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus (AM), cuja rebelião, no último domingo (1º/01), causou ao menos 56 mortos.
“Ontem, chegaram do Brasil notícias dramáticas sobre o massacre ocorrido no cárcere de Manaus, onde uma rebelião violenta entre facções rivais causou dezenas de mortos. Expresso minha dor e preocupação por esse acontecimento. Convido a rezar pelos defuntos e seus familiares, por todos os detentos desse cárcere e por aqueles que trabalham ali. Renovo o apelo para que as prisões sejam lugares de reeducação e reinserção social, e que as condições de vida dos reclusos sejam dignas de pessoas humanas. Convido todos a rezar pelos detentos mortos e vivos, e também por todos os encarcerados do mundo, para que as prisões sejam para reinserir e não sejam superlotadas, para que sejam lugares de reinserção. Invoquemos Maria, Mãe dos detentos.”
O Papa rezou com os participantes da Audiência Geral uma Ave-Maria pelos presos.
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