segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Especial - Santo Antônio de Sant’Ana Galvão


A Virgem milagrosa doada por Frei Galvão

Frei Clarêncio Neotti

Frei Galvão está estreitamente ligado ao povo do vale do Rio Piraí, no Estado do Paraná. Em 1808, Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, já com 70 anos, fora nomeado visitador provincial dos conventos franciscanos do Sul.

Saindo de São Paulo, passou por Sorocaba e, continuando pela estrada dos tropeiros e boiadeiros, alcançou as margens do Piraí. Lá, encontrando algumas famílias, fez o que sempre fazia em suas viagens a pé. Estacionou para pregar.

Domiciliou-se em casa de Dona Ana Rosa Maria da Conceição e, por alguns dias, atendeu o povo. Na despedida, deixou com Dona Ana Rosa uma estampa de Nossa Senhora, animando-a a confiar na Mãe Imaculada, intercessora e capaz de todos os milagres.

Chegou a dizer-lhe que a estampa era milagrosa. A mulher colou a estampa numa cartolina, escreveu embaixo: “Lembrança do Frei Galvão” e a pôs numa moldura de madeira, provavelmente a moldura de um velho espelho quebrado. E foi diante dela que Dona Ana Rosa passou a fazer suas orações.

A estampa doada por Frei Galvão é de uma singeleza absoluta. Mede 10 x 16 cm. No braço direito, Maria segura o Menino. A mão esquerda pousa leve e maternalmente no peito de Jesus. O Menino encosta a face no rosto da Mãe. Os pés de Maria pousam sobre nuvens sustentadas por três anjos. Além da auréola, doze estrelas, que lembram os privilégios de Maria, rodeiam a figura. Nas duas margens laterais vemos casas pobres e vasos de flores.
Hoje sabe-se que é cópia da popularmente chamada em Portugal “Nossa Senhora das Barracas”. E o nome vem do fato de estar a gravura encimada pelos dizeres latinos: “Sicut Tabernacula Cedar”, ou seja, “Como as tendas (barracas) de Cedar”.

A frase é tirada dos Cânticos, do começo da Canção da Amada: “Sou morena, porém graciosa como as tendas de Cedar, como os pavilhões de Salomão”.

Os cedarenos eram nômades e costumavam viver em barracas simples. A frase ligada a Maria recorda a origem pobre e a insegurança de sua vida. Mas, de imediato, se recorda a riqueza de Salomão.

Maria se torna a mulher mais rica, a cheia de graça, por causa do Menino que carrega no braço.

Viúva, Dona Ana Rosa da Conceição contraiu novas núpcias e mudou de casa. Na mudança, perdeu o quadro.

Procurou por tudo e não o encontrou. Tempos depois, passando por uma região que sofrera grande incêndio, surpreendentemente encontrou o quadro entre as cinzas e os brotos novos da vegetação: a moldura queimada, mas a imagem intacta.

A mulher compreendeu que acontecera alguma coisa de extraordinário. Compreendeu que a estampa dada por Frei Galvão e por ele chamada de “milagrosa” devia sair do âmbito familiar para a devoção pública.

O milagre se espalhou. Os tropeiros contaram adiante com admiração. A partir de então os boiadeiros calculavam o tempo em suas viagens para pernoitarem, eles e seu gado, nas redondezas da capela que a Virgem recebeu da devoção do povo.

O povo não se lembrou da Nossa Senhora das Barracas e rebatizou a estampa com o nome de Nossa Senhora das Brotas, para lembrar que fora reencontrada intacta entre cinzas e rebentos.

Mas não sabiam que no Alentejo, em Portugal, desde o século XVI, se venerava uma Virgem sob o título de Nossa Senhora das Brotas, invocada sobretudo pelos guardadores de animais.
Tive o privilégio de concelebrar a Missa solene de inauguração do novo Santuário de Nossa Senhora das Brotas, em Pirai do Sul, em dezembro de 1987.

Como o quadro de Frei Galvão fora reencontrado no dia 26 de dezembro, criou-se o costume de celebrar-lhe a festa no primeiro domingo depois do Natal.

Uma longa procissão de mais de cinco mil devotos sai a pé da igreja paroquial do Menino Deus e caminha cantando e rezando os três quilômetros até o Santuário, situado romântica e devotamente em meio ao verde de um bosque e à sombra de grandes pinheiros.

Que a devoção mariana de Frei Galvão nos leve a incrementar no Povo de Deus esse grande amor a Nossa Senhora, nossa Mãe!

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