terça-feira, 19 de julho de 2016

Cartas de Santa Clara de Assis


Introdução às Cartas

Apresentamos cinco cartas de Santa Clara: quatro dirigidas a Inês de Praga e uma, a Ermentrudes de Bruges. 


Inês de Praga, ou da Boêmia, foi filha do rei Otocar I da Boêmia e da rainha Constância da Hungria. Nasceu em 1205 e morreu em 1282. Foi prometida como noiva a diversos príncipes, inclusive ao futuro Henrique VII, que seria imperador. Teve uma educação esmerada, em diversos mosteiros e cortes. Sempre se dedicou às obras de caridade e, depois que conheceu os frades menores, que chegaram à sua cidade em 1225, animada também pelo testemunho de sua prima Santa Isabel da Hungria, decidiu ser clarissa. Construiu uma grande obra, em que havia um hospital, um mosteiro e uma igreja de São Francisco. Entrou para a Ordem em 1234, com grande repercussão em toda a cristandade. Mesmo sem nunca terem tido a oportunidade de se conhecerem pessoalmente, ela e Clara estabeleceram uma profunda amizade. 


Ermentrudes de Bruges nasceu em Colônia, na Alemanha, onde seu pai ocupou um cargo público. Dedicando-se a Deus, começou a peregrinar pelas regiões ribeirinhas do Reno e chegou a Flandres, onde se estabeleceu como clarissa e fundou diversos mosteiros. Deve ter escrito para Santa Clara. Tentou visitá-la e viajou para a Itália mas, quando chegou a Roma, soube que ela tinha morrido. 


As cartas são o ponto alto dos escritos de Clara. Nelas nós a encontramos mais livre, pois não tinha que pensar na instituição de sua Ordem. É muito pessoal e solta em uma rica doutrina espiritual. Sua visão de contemplação é o melhor que temos no franciscanismo primitivo. Seu tema é sempre Jesus Cristo, mas quatro aspectos fundamentais devem ser destacados: Jesus Cristo é crucificado, Jesus Cristo é pobre, Jesus Cristo é o esposo e a entrega a ele é feita em uma virgindade cada vez maior. 


Mesmo quando não fala de si mesma, Clara deixa evidente que está apresentando uma doutrina que primeiro foi vivida intensamente por ela. Sua experiência de pobre, de contemplativa, de alegre esposa, é vibrante. 


É também nas cartas que Clara mostra melhor sua grande capacidade de escritora: concisa, clara, carinhosa, rica de citações que mostram como seus interesses eram diversificados, embora sempre na linha da espiritualidade. 
Não temos nenhuma das cartas que Inês escreveu para ela e, das diversas que se supõe que tenha escrito para a co-irmã de Praga, só temos quatro. São quatro cartas que têm uma tradição muito antiga, em alemão. 

No século XVII foram traduzidas para o latim por Lucas Wadding, no seu Annales Minorum, e uma delas já constava da Crônica dos XXIV Gerais. Em 1915, o texto latino foi descoberto na Biblioteca do Capítulo de Santo Ambrósio de Milão por Mons. Aquiles Ratti, futuro papa Pio XI. Tratava-se de uma cópia feita em Praga no fim do século XIII ou nos primeiros anos do século XIV para integrar o processo de canonização de Inês, então enviado a Roma, embora nunca tenha chegado. 
Uma primeira publicação foi feita por Seton, em 1924, No Archivum Franciscanum Historicum. Wyskocil apresentou uma edição crítica em 1932. Uma boa edição latina é a de I.Boccali, nas "Concordantiae", que nós procuramos seguir, em confronto com a de Becker, Godet, Matura, mas também com Fontes Franciscani. 


A carta a Ermentrudes de Bruges representa um problema bem maior. Só a conhecemos através dos Annales Minorum de Lucas Wading. Ele, além de não citar a fonte de onde a copiou, diz que encontrou duas cartas de Santa Clara a essa coirmã, mas apresenta só uma, que tem muitos indícios de ser um resumo das originais. Por isso, os críticos não a aceitam como autêntica. Decidimos incluí-la em nossas Fontes porque os pensamentos são evidentemente clarianos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário