sexta-feira, 15 de julho de 2016

São Boaventura, O Doutor Seráfico.


Profundidade de pensamento filosófico e fecundidade das obras na vida de um devotíssimo Doutor da Igreja


No dia 15 de julho de 1274, aos 53 anos de idade, após receber a Extrema Unção das mãos do Papa Gregório X, falecia em Lyon (França) São Boaventura, íntimo amigo de São Luís IX, Rei de França, de Santo Anselmo e de Santo Tomás de Aquino.

Nasceu ele em 1221, em Bagnoregio, cidade da Toscana que pertencia então aos Estados Pontifícios. Aos quatro anos de idade, caindo gravemente enfermo, sua mãe, Rebela, levou-o a São Francisco de Assis, implorando sua intercessão. O Poverello tomou o menino nos braços e o abençoou.

Tendo-o curado milagrosamente, devolveu-o à mãe, dizendo: "ó buona ventura" . Assim passou a ser chamado, não obstante ter sido João seu nome de batismo. A mãe, em reconhecimento, consagrou-o a Deus pelo voto de fazê-lo ingressar na Ordem Franciscana.

"Nele, Adão não pecou"

Efetivamente, aos 21 anos ingressou na Ordem de São Francisco, demonstrando desde logo grande fervor.

Dois anos depois era enviado à Universidade de Paris, para completar seus estudos sob a orientação do grande mestre Alexandre de Hales. Este, vendo como, em meio à multidão de estudantes, o novo aluno conservava a alma tão pura, dizia com admiração: "Nele, parece que Adão não pecou" .

Teologia do Amor

No campo da produção intelectual deixou vasta obra teológica, bíblica e ascética. Costuma-se dizer que enquanto Santo Tomás cultivou o amor da teologia, São Boaventura cultivou a teologia do amor.

São Luís IX, o Rei cruzado, tinha particular estima por São Boaventura. A seu pedido, o Santo compôs um ofício da Paixão de Jesus Cristo. Redigiu também uma regra para um convento, fundado por Santa Isabel, irmã do rei.

Em 1257, com apenas 36 anos de idade, foi eleito Mestre Geral da Ordem de São Francisco, que contava mais de 20 mil membros, em cerca de mil conventos por toda a Europa. Ocupou este importante cargo durante 17 anos.

Devoção à Virgem

São Boaventura discorreu magistralmente sobre a Mediação Universal de Maria. Colocou os franciscanos sob a proteção especial da Mãe de Deus, traçando um plano de devoções regulares em sua honra, e compôs o famoso "Espelho da Virgem", onde se estende sobre as graças, as virtudes e os privilégios de Nossa Senhora. Determinou que os frades rezassem o Angelus todas as manhãs, às seis horas, para honrar o mistério da Encarnação.


Nomeado Cardeal e dirigente de um Concílio

Quando morreu o Papa Clemente IV, em 1272, São Boaventura foi procurado pelos cardeais para que indicasse o sucessor. Foi eleito, assim, Tebaldo Visconti, sob o nome de Gregório X, o qual logo depois nomeou São Boaventura Cardeal e Bispo de Albano.

O Papa encarregou-o da preparação e direção do Concílio Ecumênico de Lyon, que devia reaproximar de Roma, embora temporariamente, a igreja cismática do Oriente.

Após a terceira sessão conciliar, caiu enfermo e mal pôde assistir à seguinte, na qual o chanceler de Constantinopla abjurou o cisma, com a aprovação de todo o alto clero greco-bizantino (50 metropolitas e mais de 500 bispos).

No dia 24 de junho, o Papa celebrou solene missa, na qual a Epístola, o Evangelho e o Credo foram cantados em latim e em grego. Os delegados gregos repetiram três vezes em sua própria língua: "Qui ex Patre Filioque procedit". Ou seja, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, que era um dos pontos chaves do cisma. Em seguida São Boaventura pronunciou inflamado sermão.

Seu estado geral, contudo, agravou-se, e veio a falecer na passagem de 14 para 15 de julho de 1274.

Foi sepultado no convento dos franciscanos em Lyon. Canonizado em 1482, teve seu nome inscrito, em 1588, entre os Doutores Maiores da Igreja, ou seja, ao lado de São Gregório Magno, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo e Santo Tomás de Aquino.

Infelizmente, protestantes huguenotes profanaram seu túmulo no século XVI. Os ossos foram incinerados e as cinzas jogadas ao rio. Com muito custo, somente seu crânio foi salvo.

Um fato pitoresco

A Crônica dos Gerais franciscanos conta que um frei de nome Egídio propôs o seguinte problema a São Boaventura: Quando se pensa nas luzes que os doutores de tua categoria recebem do céu, como pretender que os ignorantes como eu venham a conseguir a salvação? O essencial para a salvação ­respondeu o Doutor Seráfico - é amar a Deus. Apesar disso - insistiu Frei Egídio - poderá um inculto amar a Deus tanto como um sábio? E São Boaventura confirmou: Não só O pode amar tanto, mas ultrapassar nesse amor até mesmo os maiores teólogos.

Passava justamente na estrada, junto ao convento, uma pobre carregando um feixe de lenha. Frei Egídio não se conteve e gritou-lhe: Alegra-te, boa velhinha! Acabo de saber que depende só de ti amares a Deus ainda mais do que Frei Boaventura. Logo depois, Frei Egídio caiu em êxtase, que durou três dias.

Reflexões finais

Santo Tomás de Aquino, visitando-o um dia, perguntou-lhe em que livros aprendera sua ciência sagrada. "Eis respondeu, apontando para o crucifixo - a fonte de meus conhecimentos. Estudo Jesus, e Jesus crucificado!"

Temia o Doutor Seráfico comungar com freqüência, por humildade, considerando-se o mais vil dos pecadores. Após ter passado vários dias sem se aproximar da Sagrada Mesa, ao assistir à Missa a Hóstia que o padre consagrara partiu-se e, pelas mãos de um Anjo, foi levada a São Boaventura. Este milagre levou-o a comungar mais freqüentemente, e cada uma de suas comunhões era acompanhada de indizíveis consolações.

A exemplo de São Boaventura, poderíamos fazer quanto esteja ao nosso alcance (vide quadro) para receber Nosso Senhor Sacramentado de modo recolhido e digno, removendo absolutamente de nossas almas tudo quanto possa desagradar o divino hóspede.

Com o intuito de incitar os leitores a esse ardor na devoção eucarística, reproduzimos uma oração composta pelo Doutor Seráfico, cuja festa celebramos a 15 de julho.

Oração de São Boaventura para a Santa Comunhão

Feri, ó dulcíssimo Senhor Jesus, o mais íntimo e profundo de meu ser com o dardo suavíssimo e salutar do Vosso amor, com aquela verdadeira, inalterável, santíssima e apostólica caridade, a fim de que a minha alma se enlanguesça com o único desejo de sempre crescer em vosso amor.

Que eu vos ame intensamente, que desfaleça nos vossos átrios e deseje dissolver-me em vós e ser um convosco.

Que minha alma tenha fome de Vós, ó Pão dos Anjos, alimento das almas santas, Pão nosso de cada dia, supersubstancial, que tem toda doçura e sabor, e todo deleite de suavidade. Ó Vós a Quem os Anjos desejam contemplar!

Que o meu coração sempre tenha fome e se alimente de Vós, e que as entranhas do meu ser sejam repletas com a doçura de vosso sabor.

Que só de Vós tenha sede, ó fonte da vida e da sabedoria e da ciência e da luz eterna, torrente de delícias, riqueza da casa de Deus.

Só por VÓS anseie, só a Vós procure, só a Vós encontre, só para Vós tenda e vos alcance. Só medite em Vós, só de Vós fale, e tudo o que fizer seja para louvor e glória do vosso nome, com humildade e discrição, com amor e deleite, com bondade e afeto, com perseverança até o fim.

Sede, Senhor, minha única esperança, toda minha confiança, minhas riquezas, meu deleite, meu encanto, minha alegria, minha quietude e tranqüilidade, minha paz, minha suavidade, meu perfume, minha doçura, meu pão, meu alimento, meu refúgio, meu auxílio, minha sabedoria, minha partilha, meus bens, meu tesouro.

Somente em Vós minha alma e meu coração estejam radicados de modo fixo, firme e inamovível. Assim seja.

FONTES DE REFERÊNCIA:

Enciclopedia Cattolica, Cidade do Vaticano, 1949, p.1838 e ss.

Catechismo Maggiore promulgato da San Pio X, Edizioni Ares, Milão, 1979, p.l44 e ss.

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