sábado, 2 de julho de 2016

Meu São Francisco Brasileiro.


3. Francisco, fonte de poesia

A primeira página de nossa literatura foi a carta de Pero Vaz de Caminha: e lá figuram os frades de São Francisco. A primeira produção literária na nova terra saiu da pena de José de Anchieta: em versos, escreveu ele uma Carta da Companhia de Jesus para o Seráfico São Francisco, onde lembra que Adão “borrou” a imagem divina.

“Mas Cristo, Deus humanado,
glorioso São Francisco,
para limpar o treslado,
que Adão tinha borrado,
pondo o mundo em tanto risco,
quis pintar,
e consigo conformar
a vós, de dentro e de fora,
com graça tão singular,
que vos podemos chamar
homem novo, em quem Deus mora” 

Da primeira voz poética pulemos a outra que ainda vive: Carlos Drummond de Andrade, que diante da igreja de São Francisco, em Ouro Preto, confessa: “Senhor, não mereço isto. Não creio em vós para vos amar. Trouxeste-me a São Francisco e me fazeis vosso escravo” . E entre estes extremos de nossa literatura, jazem cativas milhares de vozes – praticamente todas as vozes poéticas – rendendo, em prosa e verso,  seu preito ao Santo e ao Poeto, ao Cantor da Natureza, ao iniciador da literatura italiana, dos quais apenas a algumas daremos nome, sem observar sequer a cronologia: Pe. Antônio Vieira, Humberto de Campos, Carlos de Laet, Goulart de Andrade, Gustavo Barroso, Augusto de Lima, Fernando Magalhães, Afrânio Peixoto, Carlos Magalhães de Azevedo, Durval de Morais, Jorge de Lima, D. Marcos Barbosa, Vinícius de Morais, Belarmino Lopes, Silveira Bueno, Martins Fontes, Jackson de Figueiredo, Cecília Meireles, Cassiano Ricardo, Afonso Schmidt, Gilberto Freyre, Mesquita Pimentel, Guedes de Amorim, Alceu de Amoroso Lima…. e centenas de outros nomes que tentaram traduzir para o vernáculo todos os encantos do Cântico das Criaturas ou do Irmão Sol, terminando com aquela espontânea literatura que denominamos de cordel, onde pode faltar arte ou engenho, mas sobram sensibilidade e fé para captar a mensagem da simplicidade franciscana na sua expressão mais pura.

Frei Hugo D. Baggio

Texto publicado na Revista Grande Sinal, Revista de Espiritualidade e Pastoral, publicada pela Editora Vozes.  

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