quinta-feira, 7 de julho de 2016

Meu São Francisco Brasileiro.


 Francisco forma homens

Uma das realidades mais palpáveis de Francisco é seu fascínio sobre os homens, quando vivia e até os nossos dias. Encanta e cativa com aquele respeito que o faz parar frente ao mistério de cada um, como confessa Chersterton: de todos os luxos da corte, o único conservado por Francisco foi o das boas maneiras. Daí a universal simpatia exercida por ele. 

No tocante às conquistas humanas de Francisco, em terras brasileiras, parece bem sagaz a observação de Gilberto Freyre: “Não que os frades, em geral, e os franciscanos, em particular, que passam pela história brasileira nem sempre sem outro ruído que os das sandálias de bons religiosos ou o da voz de pregadores sacros, tenham sido todos santo-antônios-onde-vos-porei. 


De modo algum. Sabemos que sob nomes seráficos de homens aparentemente só de Deus, chamados da Paz, dos Arcanjos, do Salvador, de Jesus, da Purificação, do Sacramento, de Santa Rosa, da própria Santíssima Trindade, agitaram-se políticos mais zelosos das liberdades dos séculos que das verdades eternas; mais apegados a causas do momento que às de sempre…; mesmo assim, alguns destes monges poetizam com seus nomes de religiosos a história quando não eclesiástica, civil, literária, política, científica do Brasil…” (5)

Exato! E aí temos, medrando nos claustros barrocos de norte a sul, sob inspiração de Francisco de Assis, homens da envergadura de um santo Frei Fabiano de Cristo, no Convento do Rio de Janeiro e um santo Frei Pedro Palácios, fundador da capela da Penha, hoje um dos mais famosos e lindos santuários marianos desta terra que aprendeu dos frades o amor a Nossa Senhora. 

Frei Cosme de São Damião, de quem dizia seu confrade Jaboatão: astro puro, estrela brilhante, tão benéfica nas influências como apurada nas luzes, preso pelos holandeses, sentenciado e, por fim, degredado. 

O Irmão Frei José, o Santinho que, em se santificando, santificou os Conventos do Rio e de São Paulo. 

Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, fundador do Mosteiro da Luz, já chegou à glória dos céus. Frei Vicente do Salvador, o primeiro historiador do Brasil, chamado por isso mesmo de “Heródoto Brasileiro”. 

Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, a quem Sílvio Romero denomina como a “mais perfeita imagem do clássico brasileiro”. 

Frei Mariano da Conceição Veloso, o pai da Botânica Brasileira. 
Frei Francisco do Monte Alverne, uma das glórias do púlpito brasileiro, que perfila, na eloquência, com o Pe. Antônio Vieira. 
Frei Antônio de S. Úrsula Rodovalho que, no dizer de Monte Alverne, foi o maior filósofo que a Ordem produziu.

O poeta Frei Francisco de S. Carlos e o jornalista e político Frei Francisco de Santa Teresa de Jesus Sampaio, um dos próceres da Independência…

E, pulando para homens, bastante mais próximos a nós, acorrem os nomes do santo bispo D. Eduardo Herberhold, Frei Rogério Neuhaus, Frei Pedro Sinzig e Frei Rogério Roewer, que tanto incentivaram a música sacra e labutaram no campo da imprensa católica, sendo, com outros franciscanos, os impulsionadores da Editora Vozes de Petrópolis. 

No campo da ciência, Frei Tomás Borgmeier e Frei Damião Berge. E tantos outros que bem mereciam aqui figurar. Além dos frades da Primeira Ordem, devem ser evocadas as figuras da Segunda Ordem, das Irmãs Clarissas, que foram as primeiras monjas a se estabelecerem no Brasil, no Desterro, da Bahia. 
Dentre as monjas é de justiça ressaltar a figura de Madre Angélica, monja concepcionista, martirizada nas perturbações que se seguiram à Independência do Brasil, em 1922, no Mosteiro da Lapa, Salvador. 

E ainda uma série de destaque na Ordem Terceira, que desde os inícios da colonização, marcou presença ativa em todos os campos humanos, esculpindo homens como o poeta Durval de Morais ou o escritor Mesquita Pimentel. E a lista continuaria se ainda respingássemos a rica seara dos Frades Capuchinhos, presentes também na história do Brasil.

Alguns nomes apenas, numa amostragem simples de uma presença perene e modificante, atraente e possessiva, encantadora e santificadora, catequizante e civilizadora. Prova eloquente de que São Francisco veio para ficar. Gostou e ficou.
 No silêncio e na humildade, mas no trabalho e na fecundidade, milhares de franciscanos das três Ordens passaram pela história e deixaram sua marca indelével, sem falar de outros tantos que ainda hoje se identificam com esta terra e sua gente, com sua fé e seus problemas. 

O Pai lhes conhece os nomes e os pronuncia com carinho, lhes recolhe os suores, lhes fecunda o apostolado, sustenta-os na luta e lhes dará aquela placa que a palavra humana não consegue cunhar.

Uma coisa é certa. Os filhos de São Francisco de Assis foram os primeiros missionários a pisar nossa terra, a batizá-la. Um franciscano oficiou as duas primeiras missas aqui celebradas. Era de São Francisco de Assis a primeira imagem que abençoava a primeira ermida levantada no Brasil e franciscano o primeiro ermitão. Era ele o orago da primeira capelinha (poverello, como o patrono). As Clarissas, suas filhas, foram as primeiras religiosas a enraizar-se no Brasil . 

Por isso, uma coisa é certa: São Francisco se fez brasileiro e o Brasil se tornou franciscano…

Frei Hugo D. Baggio

Texto publicado na Revista Grande Sinal, Revista de Espiritualidade e Pastoral, publicada pela Editora Vozes.  

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