quinta-feira, 16 de março de 2017

OFS: revisitar o seu interior em vista da missão



ORDEM FRANCISCANA SECULAR DO BRASIL

Capítulo Ordinário Avaliativo

Campo Largo,  PR - 17 a 19 de março  de 2017

Tema:  Franciscano secular: revisitar o seu interior em vista da missão
Lema: Uma formação que motive e acenda a chama  

Neste mês de março, os franciscanos seculares do Brasil estarão reunidos em Capítulo Avaliativo, no município de Campo Largo (PR). Apresentamos aos leitores deste site algumas ideias centrais a respeito do tema  escolhido: revisitar o interior em vista da missão. Redescobrir o “lugar do coração” para que a nossa missão seja  significativa e não apenas “nuvens sem água”.

 Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM, Assistente Nacional pelos Menores


Revisitar, redescobrir o interior de cada um, eis uma tarefa árdua de se realizar. Trata-se de descobrir a própria interioridade, de ir ao fundo de sua identidade. Somos bem mais que esta capa que nos reveste. Somos pernas, braços, pulmões, pulsões, mas também seres desejosos de um amanhã que estamos a perseguir. Carregamos sonhos e apelos. Somos uma contradição ambulante. Queremos o bem e é o mal que fazemos. Viemos do passado, caminhamos para o amanhã. Somos um ser de desejos com outros seres de desejos e vamos assim rasgando a nossa história no tempo que passa, nesse mundo que é nosso e no coração da Igreja, esposa de Cristo, sinal de sua Presença no mundo. Precisamos ser pessoas conscientes de nós mesmos e do verdadeiro sentido da vida. Haveremos de viver com alma. Não podemos deixar nosso interior criar teias de aranha. Precisa ser arejado. O homem, o cristão, o franciscano e o missionário que somos, o somos a partir do “lugar do coração”.

“A pessoa necessita de um solo vital sobre o qual possa construir com coerência seu próprio relato, assentar suas fidelidades e compromissos pessoais. Sem isso a sua biografia se resume a um somatório de acontecimentos pessoais, desconexos e soltos. Fundar a pessoa, ajudá-la a conseguir esse solo pessoal, deve ser o grande objetivo dos processos educativos” (Patxi Álvares de los Mozos, SJ).

Interior, interioridade. Quando abordamos o tema não estamos querendo defender uma espécie de fuga da realidade, de desprezo pelas coisas do mundo e mergulho no mundo de um subjetivismo oco e alienante. Somos cidadãos do grande mundo e sentimos que nosso lugar é nele para humanizá-lo transformá-lo à luz do Evangelho e de nossa vocação franciscana. Claro. Revisitar o interior, no entanto, é tarefa inadiável. Isso precisa ficar claro. Mesmo como franciscanos corremos o risco de sermos vazios, superficiais, sem consistência.

A profundidade e a velocidade de transformações de nossa sociedade, o abandono de crenças (da fé), a superestimulação a que somos submetidos, o ruído externo e interno, as tecnologias, a competitividade, a falta de pontos de referência estão fazendo com as pessoas tenha perdido suas raízes. Conhecemos a expressão consagrada de “sociedade líquida”. O conhecido sociólogo Z. Baumann, recentemente falecido, falava dos “náufragos existenciais”. Pessoas que necessitam de casa, paz e solo. Nesse contexto é que se deve situar a busca da interioridade.

Vivemos o tempo do consumo e da gastança. Os aparelhos mais sofisticados tornam-se obsoletos da noite para o dia. Tudo é rápido. Há um convite para comprar o novo, adquirir o que dá status. Uns têm vergonha de ir a um casamento com a mesma roupa que usaram numa festa do ano que passou. As pessoas gastam comendo, comprando aquilo que não é importante, acumulando, juntando. Consumimos bens e consumimos pessoas. Uns se enamoram um tempo e depois se largam, se descartam. Houve decisão, houve escolha, houve alguma coisa que tenha partido do mais íntimo da pessoa? Por que tantas desistências de frades e tantos pedidos de afastamento em nossas fraternidades seculares. As pessoas mudam de opções, de parceiros com se muda de camisa. Decisões na vida tomadas por pessoas sem consistência, decisões reformáveis demais.

“Um dos paradoxos do individualismo contemporâneo é de ignorar a singularidade insubstituível da pessoa e fabricar indivíduos sem consistência, indivíduos sem ancoradouro e modeláveis segundo os seus desejos, “identidades se pessoa” (Nathalie Sarthou-Lajus, revista Études 4122, fev. 2010, p 152).


Dentro de cada pessoa há um mundo quase inexplorado. Muitos nem suspeitam do que dorme em seu interior. Vivem só a partir de fora. Com esta afirmação não pensamos aqui no mundo dos sentimentos e dos afetos. Nem se trata de psicologia ou psiquiatria. É um país mais profundo e misterioso. Chama-se, de fato, interioridade. Desse mundo nasce a pergunta mais simples e mais elementar do ser humano. Quem sou eu? Antes mesmo que possamos responder a outras indagações que vão brotando: De onde venho? Por que estou na vida? Para quê? Como terminará tudo isso? Os irmãos que chegam trazem suas riquezas pessoais. Será que elas veem à tona? Será que os formadores são suficientemente habilidosos para acolher o presente do outro, da profundidade do outro?

Viver, vida, vida interior, vida espiritual. Há esse nascer, crescer, morrer, deitar, levantar, correr, vender, casar, ter nascido numa família católica, ter sido batizado, casado na Igreja. Há esse casal aparentemente ajustado, parecendo respirar harmonia. Será que os dois vivem um amor em plenitude? Não constituem apenas a justaposição de dois individualismos? Há uma paixão para ser pai e ser mãe? Há a paixão de viver de verdade e não simplesmente empurrar a vida para frente? Há ainda esse mendigo deitado sob uma marquise, enrolado em trapos, fumando pontas de cigarro que recolhe do chão ainda fumegantes. Vidas, vidas em caminho da plenitude e vidas vazias. Sem eira, sem beira. Não adianta apenas deitar, levantar, correr, trabalhar, ser mãe, ser pai, ser católico, ser franciscano. É preciso viver tudo isso a partir do mistério do interior. Necessário viver com alma. Quando se escuta dizer que muitas de nossas fraternidades franciscanas seculares estão desmotivas não se deveria dizer que elas perdem o endereço do “lugar” do coração?

Não se trata de se comprazer em cultivar uma interioridade desencarnada, alheia ao mundo, a tudo. Basta de religiões e práticas religiosas sentimentais, alienadas, afetuosas e quentes. Quando falamos em interioridade não pensamos nessas aberrações, nos psicologismos, e numa frenética busca religiosa alienante. O homem é irmão do homem, o cristão é sal da terra, luz do mundo e fermento na massa. Não vive para contemplar as belezas e feiuras de seu interior. Vive-se para os outros. Isto, no entanto, não pode fazer com que as pessoas sejam derramados nos acontecimentos, no vazio e no superficial.

A sociedade contemporânea vem focada sobre o indivíduo, fragmentado com uma identidade fluída. Temos diante de nós uma mudança radical da visão do homem, determinada sobretudo pela tecnologia. Importante que o indivíduo permaneça sujeito desse desenvolvimento, sobretudo a partir da verdade sobre si mesmo. Acontece que ocorre termos medo de entrar em nós mesmos, com a pobreza de sentimentos, de afetos, de capacidade de amar e ser amado. No espaço da interioridade, o silêncio pede a escuta de nós mesmos, dos outros da realidade. Na verdade, tornamo-nos estranhos a nós mesmos. O caminho para dentro de nós mesmos torna-se, para nossa interioridade e para o silêncio torna-se testemunho de uma vida alternativa. O caminho para a interioridade é um itinerário de tratamento das feridas mais profundas. Não se pode conceber conversão evangélica, o trilhar do caminho de penitência, de transformação do coração pela conversão a não ser a partir do interior. Esse é precisamente o programa da Quaresma: deserto, silêncio, oração.

Na vida que levamos, agitada, rápida demais, tudo com pressa vamos sentindo que nossa vitalidade interior fica comprometida. Vamos nos tornando figuras sem transparência, sem clareza, sem nitidez, fantasmas sem cor, sem corpo, sem vida. Necessário se faz recuperar a vitalidade, refrescar nosso ser, retomar práticas que nos permitam gostar da vida e de tudo a partir de nosso interior. Não se trata de buscar fora de nós o que possa nos saciar. Há uma sabedoria na interioridade que vamos encontrar no que chamamos de coração. Não sabemos escutar as vozes interiores. Como esses mananciais que brotam do interior da terra ou da pedra com força à maneira de jatos, necessitamos viver de uma água interior. Nesse cotidiano apressado pode ser que, aos poucos, dentro de nós tenham sido depositadas aos poucos camadas de cinza e de areia. Decepções, rotina, superficialidade, futilidades, quem sabe, forma obstruindo nossas fontes interiores. E somos cristãos por costumes. Somos franciscanos sem alma.

Nossas raízes encontram-se num lugar essencial chamado coração. Necessitamos reencontrar o coração como lugar primordial dos desejos, como o interior de onde brotam as fontes da vida. Somente assim poderemos nos apropriar das fontes da vida. Cultivar, alimentar o desejo, a busca da plenitude significa sair da vulgaridade, da superficialidade. E esse desejo anda adormecido, entorpecido, sedado com tantas comunicações.

Abrir-se ao mundo interior – mundo do espírito e da alma – quando isso de fato acontece – quer dizer expor-se à Realidade transcendente, ao Mistério, à Presença. Quando visitamos o interior, refletimos sobre os nossos mistérios sentimo-nos transpassados por uma Presença luminosa. É nesse interior mais íntimo que encontramos o chamado para seguir Cristo, para iluminar nossa vida com o gênero franciscano de viver. Por toda a nossa vida seguimos a lei do Evangelho e do espírito franciscano.
Transcendência e subjetividade convergem numa dimensão interior que longe de esgotar em si mesma projeta-se na direção de um estar no mundo de um outro modo. É um estar pessoal, existencialmente significativo, a partir da verdade e do amor. As pessoas que habitam seu interior olham o mundo de outro modo. Não há apenas caras, mas semblantes que constituem chamada e epifania. Não há trivialidade, mas transparência que evoca o Mistério.
Quando se vive a partir do interior e não da superficialidade é possível que se crie uma subjetividade consistente que, por sua vez permite uma aproximação correta da realidade e não marcada por imaturidades e precisamente por inconsistências de caráter e de seguimento a Cristo Jesus. Assim entendida a interioridade faz com que aprendamos a não olhar instrumentalmente para as pessoas, para o mundo. Leva-nos a posturas de gratuidade e de assombro. Faz com que nos afastemos de emoções efêmeras e da superficialidade.

Desnecessário evocar todos os escritos, episódios da vida da Francisco que falam desse busca do Senhor na interioridade: noites em silêncio, hesitação em assumir o apostolado ou a vida contemplativa, regra para os eremitérios, insistência em seus escritos de preparar morada digna para o Senhor e tanto mais. Basta ler o cap. 23 da Regra não Bulada. Na linha de se refazer o nosso solo íntimo, nossa pessoa, alguns elementos:

•  Sem questionamentos vitais não pode haver crescimento. Não se pode viver de rotina. Necessário buscar experiências novas que coloquem a pessoa em movimento. Sempre de novo viver experiências na linha da própria vocação: ser homem, ser mulher, ser pai e ser mãe, ser cristão e franciscano em tudo isso.

 No tempo da formação e ao longo da vida três grandes experiências a serem vivenciadas e sempre revistas: profundo e pessoal conhecimento do Senhor, aproximação do que é sem valor, pobre, doente e certeza de um fraternismo universal que comporta também o cuidado pela criação.

 Levar as pessoas a frequentar o interior e adquirir o hábito de examinar a vida, questionar posicionamentos, evitar agir com rotina, mas a partir da verdade mais íntima de cada um. Por que? Para quê? Não adormecer nas escolhas feitas: casamento, maternidade, ser cristão, ser franciscano. Nada de rotina, mas decisões retomadas a partir do interior.

 Adquirir o hábito de viver momentos de silêncio para reorganizar a vida, arrumar o interior, examinar tudo (ver, julgar, agir).

 Organizar um projeto de vida com marcas evangélicas e franciscanas: sair do consumismo, estilo de vida simples, ter gosto pelo que não é tão doce, ter o gosto de dar lugar aos outros. Deixar-se impregnar do espírito da Regra que forçosamente forma nosso homem interior.

•  Solidificar sua personalidade: leitura espiritual, partilha de vida na fraternidade. A leitura meditada do evangelho, das Regras e das Admoestações, ao longo do tempo, cria interioridade.

•  Rever seriamente o capítulo da oração. Pessoalmente cuidar de envolver-se de fato com o Senhor. Importância da meditação frequente feita a portas fechadas. Os franciscanos e franciscanas sentem sempre saudade do eremo.
•  A reunião da fraternidade e pequenos grupos são de fundamental importância para a reconstrução da pessoa. Temos insistido demais na qualidade das reuniões gerais.

Revisitar o interior em vista da missão:
Esta a segunda parte da enunciação do tema do Capítulo Avaliativo. De um lado precisamos rever os expedientes que andamos empreendendo para alimentar o “lugar do coração” e, de outro, lado cuidar de nosso ir pelo mundo.

Os franciscanos seculares fazem suas as palavras de Paulo: “Ai de mim senão evangelizar”. Todo o empenho de revisitar o interior, o dar força ao nosso eu mais profundo banhado na graça de Cristo, leva o cristão à missão. “O lugar do coração torna-se um espaço de sensibilidade ao grito de dor das criaturas e dos pobres. A redescoberta da interioridade leva-nos ao outro, na verdade e no amor”.

 Missão, pastoral, evangelização são palavras muito sérias. Não se improvisa a missão. Os que agem na missão são precedidos pela graça do Senhor. Os “servos missionários” ou preparam os caminhos para o Senhor ou agem depois que o Senhor veio a tocar os corações, ou seja, ajudam a fé nascer e contribuem para que seja vigorosa. Há uma mística na missão.

 A Ordem Franciscana Secular está sempre a serviço da Igreja e da dilatação do Reino de Deus. Não somos pessoas dopadas por um ativismo. Nosso agir evangelizador parte de nosso nó interior. Como leigos, os franciscanos seculares, embora se coloquem à disposição de bispos e padres para o serviço do altar e dos sacramentos, sabem que seu lugar de pastoral e de missão é na massa, no mundo, na escola, no trabalho, na família, no mais íntimo do casal, na política, no engajamento em ações que sejam significativas para humanizar o homem e que tenham sua fonte no carisma franciscano: estar ao lado dos mais abandonados, empreendimentos que visam a transformação da sociedade.

•  Não é necessário que cada fraternidade organize “sua” pastoral. Importante evangelizar. Há três modos de evangelização que já lembrava Paulo VI em Evangelica Testificatio: testemunho modesto, serviço humilde e anuncio explícito. Os franciscanos podem se inserir em pastorais e missões da Igreja.

•  Tomo a liberdade de evocar alguns tipos de missão que são urgentes e que podem ser assumidos pelos terceiros franciscanos: preparar jovens para o casamento e a vida familiar (com cores franciscanas), trabalho na pastoral carcerária, organizar tarde de estudo e de oração para levar as pessoas para seu interior e lá encontrar o Mistério.

 Textos para reflexão

1. Consolidar o sujeito

Consolidar supõe dar condições para que cresça, que aprofunde e deite raízes; que floresça. Tal consolidação se opera no interior do sujeito, precisando, é claro, também do entorno comunitário que venha a possibilitá-lo. Tal consolidação não se realiza sem algum tipo de laço comunitário. Devido a isso a importância de espaços comunitários verdes e estáveis. Há algumas expedientes que podem contribuir para esse crescimento.

O acompanhamento é uma dessas práticas básicas. Consiste em permitir que outra pessoa que sintoniza com o próprio projeto vital tenha ocasião de fazer uma verificação. Trata-se de colocarmo-nos nas mãos de outros para podermos ser fiéis à nossa própria intimidade. Se assim não for, os enganos haverão de suceder-se.
Precisamos renovar nossa própria vocação, o próprio sentido da vida, refrescar nossa memória, voltar aos primeiros tempos e ao primeiro amor. Atualiza-la em sua mais profunda radicalidade e em suas fontes.

São necessárias celebrações do sentido da própria vida. O que não é mais celebrado perde a transcendência de seu sentido e acaba por desaparecer.

Fundar, reabilitar, provar, consolidar. Do sucesso desse empreendimento depende que possamos, no futuro, contar com pessoas e grupos humanos que creiam e se comprometam na construção de um mundo mais conforme a vontade de Deus. Por isso, personalizar – permitir-se ao luxo de se viver com paixão, de viver com alma – hoje é o maior desafio societal que devemos afrontar.
Vivir con alma.
Necessitados de personalizacción 
Patxi Álvares de los Mozos, SJ
Sal Terrae 91 (2003), p. 494

2. A cela interior e o coração puro
São Francisco olha o cristão como alguém que foi transformado pelo Espírito do Senhor em sua habitação permanente (1CtFi 48), alguém que foi chamado a preparar dentro de si mesmo uma morada para Ele (RNB 22,24) e, ao mesmo tempo, morar na comunhão trinitária (RNB 22,50). O coração é o templo vivo, onde cresce o relacionamento entre Deus e a criatura humana.

São Francisco convida-nos a “conservar no coração os segredos do Senhor” (Adm 28,3) através da paz e da meditação, sem nervosismos nem dissipação (Adm 27,4). São Francisco insiste sobre a cela interior a carregar sempre conosco. O silêncio a ser observado é aquele do Evangelho, que evita a dissipar em palavras ociosas e inúteis o fruto da oração. Assim nos tornaremos sempre mais “unificados” no coração a partir do coração. A Virgem Maria é o modelo daqueles que acolhem a Palavra, a guardam no coração e a vivem todos os dias.
São Francisco admoesta-nos a “adorar e ver o Senhor Deus, vivo e verdadeiro, com coração e mente pura “ (Adm 16,2). O coração puro sabe também escutar o silêncio de Deus diante das misérias humanas.

O caminho que leva ao “lugar do coração”
Achegas para descobrir interioridade e silêncio na vida franciscana
Curia Geral OFM
Roma 2003, 19-11

3. Personalização
Podemos dizer que a personalização é o maior desafio que precisaremos enfrentar nos próximas décadas. É o maior por ser contracultural porque a atual sociedade reclama e fomenta indivíduos fragilizados, consumistas, débeis, descompromissados. A personalização dá lugar a pessoas “inquietas”, com certo grau de inadaptação. É o maior por ser subversivo, porque não existe força mais revolucionária do que a vontade livre do sujeito quando se erige em sujeito. É maior, além disso, por ser radical, pois supõe o descer às raízes do ser humano, onde tudo acontece, ali onde somos interpelados em nossa consciência pela Transcendência. E maior, finalmente, por ser evangelizador, porque somente os que se adentram neste caminho encontrarão o vigor da fé.
Patxi Álvarez de los Mozos, SJ
op. cit. supra, 491

4.Leigos franciscanos hoje
Leigo franciscano é um cristão que percebe um apelo de Deus a seguir o Cristo à maneira de São Francisco de Assis porque descobre em si uma cumplicidade espiritual com as intuições evangélicas de Francisco. É um cristão que percebe um apelo do Espírito para viver hoje esse carisma franciscano necessário para a vida da Igreja e do mundo.

É um cristão que deseja marcar sua vida com tempos de oração gratuitos para encontrar Deus e o Cristo e dar um sentido à sua vida.

É um cristão que deseja fazer o aprendizado da vida fraterna com irmãos e irmãs, sacerdotes, religiosos, leigos casados ou celibatários, em reciprocidade vital.

É um cristão que tem necessidade de uma fraternidade de irmãos e de irmãs para enraizar e amadurecer em diversos engajamentos na luta contra toda forma de injustiça, de violência, de racismo, de falta de respeito pela vida, por pessoas e para com a criação e para concretizar sua paixão pela paz.

Irmãos e irmãs de São Francisco temos uma “partitura” própria a tocar no futuro que devemos construir com homens e mulheres de boa vontade privilegiando as pessoas no seio da Fraternidade universal; manifestando a novidade do Evangelho, fonte de felicidade; encarnando no cotidiano dos relacionamentos, o amor salvador de Cristo; esforçando-nos por sermos testemunhas da liberdade interior no Espírito; recusando a ditadura do dinheiro e a pauperização de dois terços do planeta. Construir o futuro encantando-nos com a beleza da criatura e promovendo um desenvolvimento humano sustentável; apaixonados pela paz e pelo diálogo entre as religiões; solidários com uma Igreja por vezes pecadora, por vezes luminosa.

Um mundo novo está em parturição. A família franciscana deverá nesta hora fazer ouvir sua música.
Michel Hubaut
Chemins d’intériorité avec Saint François
Éditions Franciscaines, 2012, p. 17-19

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