domingo, 19 de março de 2017

São José, esposo da Virgem Maria, a quem foi confiado os mistérios da salvação.



Pe. Johan Konings, SJ

A festa de São José toca cordas muito sensíveis do coração humano. Tem um aspecto de mistério, que, à primeira vista, parece ser um estar por fora, porém, no olhar da fé, revela ser um estar por dentro. O evangelho de Mt 1,18-25 ilustra isso muito bem. É construído sobre a estrutura do paradoxo que acabamos de apontar. Diante da constatação da gravidez de Maria, José reage, primeiro, conforme a lógica: sente-se por fora e, prudentemente, tira a conclusão: decide deixar Maria, em segredo, para que ela não fique exposta à perseguição. Porém, exatamente esta “justiça” no seu tratamento da questão mostra que ele está profundamente envolvido. Quando o anjo lhe explica que o fruto no útero de Maria é obra de Deus, sua justiça produz a fé, que o faz assumir este mistério como seu. Está envolvido muito mais do que a mera paternidade física poderia envolver.

Paternidade não é uma questão biológica, é uma questão de fé. Com este slogan se poderiam abordar diversos aspectos da mais candente atualidade. Filho, a gente tem não tanto gerando-o quanto assumindo-o, entregando-se a Deus como instrumento de seu projeto. Ou, em expressão popular: filhos, a gente não os faz; recebe-os. Recebe-os como um dom de Deus, na fé, e, por isso, por não serem um produto exclusivamente nosso, dedicamo-nos a eles mais ainda.

Com isso, chegamos a um segundo tema: a responsabilidade. São José aparece como o homem responsável, fiel e prudente, a quem Deus confiou seu Filho. Nós temos o costume de achar que responsabilidade só diz respeito ao que nós mesmos fazemos. Mas muito maior é a participação quando nos tomamos responsáveis por aquilo que não tem em nós a sua origem. Neste caso, comungamos com uma outra fonte. Neste caso, a responsabilidade é realmente livre e escolhida, não imposta pela natureza. É o caso de José. Por isso, Deus lhe confia sua “casa”, a plenitude da “casa de Davi” da 1ª leitura (2Sm 7,4-5ª.12-14ª.16).

Ora, este tipo de “paternidade responsável” – José comungando de um mistério que é maior do que ele – causa também surpresas. O evangelho de Jesus aos doze anos é um exemplo disso. O que é mistério, não nos pertence. O “Filho de Deus” não pertence a seus pais, mas estes pertencem a Deus. Esta realidade vale também na vida da família cristã (cf. S. Família/C). Ser transmissor de vida biológica é fácil. Ser transmissor de um presente de Deus à humanidade, como foi Jesus e como deveriam ser também nossos filhos, é difícil. Nós não temos a última palavra. Mas quem acredita acha bom isso, pois Deus é maior do que nós.

Na liturgia de hoje entra também o aspecto da fidelidade de Deus, realização de sua Promessa, no dom da vida de Jesus, desde sua concepção no seio virginal de Maria. A fidelidade de Deus encontra, em José, a fé do homem, como a encontrou já em Abraão e Davi. Fé e fidelidade têm a mesma raiz, completam-se. Não posso acreditar em quem não é fiel. Por outro lado, a fidelidade de Deus é a razão de minha fé. Por esta fé, José reconheceu o que aconteceu em Maria como realização da fidelidade de Deus e não como um desastre. A fé é o sentido que nos faz descobrir a obra da fidelidade de Deus.

UMA PESSOA JUSTA

Na festa de São José não convém deixar-nos desviar do essencial por especulações pseudocientíficas sobre sua paternidade, muito menos por conversas desrespeitosas. O que a Igreja quer celebrar é a participação de José na obra de Deus e a pessoa de José como “santo”, isto é, como pessoa que pertence a Deus.

Esse pertencer a Deus é que a Bíblia chama de “justiça”, e justiça, na Bíblia, significa, fundamentalmente, o plano de Deus, aquilo que é justo e certo por excelência. Pode até significar a justiça feita ao oprimido, sua vitória sobre o inimigo. Não é como nos nossos tribunais de justiça, onde um advogado esperto pode alegar um furo na lei ou uma lei contrária para transformar em justiça a pior falcatrua…

O ser humano é fundamentalmente justo quando insere suas ações na linha dessa justiça de Deus. É o que celebramos em São José. Diz o evangelho que “sendo justo”, José não quis despedir publicamente Maria, encontrada grávida sem seu saber, expondo-a assim à suspeição de adultério e à sanção mortal que a Lei previa para isso. Preferiu agir em segredo, sem alardear os juízos da sociedade. A justiça de José consiste em seu silêncio diante daquilo que ele desconhece, silêncio que se transforma no conhecimento do inimaginável mistério de Deus: o fruto no ventre de Maria é obra do poderoso Espírito de Deus. Daí: “Não tenhas receio de receber Maria, tua esposa” – pois ela era de direito esposa de José, ao qual, segundo os costumes de então, ela tinha sido desposada, prometida desde a infância. O cotidiano continua, Deus integra os andamentos familiares do casal de Nazaré em sua obra.
A justiça de José foi bastante diferente daquilo que a maioria dos homens em sua sociedade teriam feito. Prefigura a justiça que Jesus proclamará no Sermão da Montanha: “Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20). Não é a justiça do escrupuloso cumpridor da letra da Lei, mas do homem piedoso, observador das pegadas de Deus na vida e no mundo e disposto a trilhá-las.

Que todos os que receberam o nome de José honrem esse nome.

Pe Johan Konings, texto do “Liturgia Dominical”, editado pela Editora Vozes.

José, a quem foi confiado os mistérios da salvação

Solenidade de São José, esposo de Maria

2Sm 7,4-5.12-14.16;  Rm 4,13.16-18.22;  Mt 1,16.18-21.24

Frei Almir Guimarães

Com respeito, carinho e grande veneração nos aproximamos da figura de José, o esposo da Virgem Maria.  A esse descendente da casa de Davi foram confiados os mistérios da salvação.

 >> José era da linhagem de Davi. Certamente, ele e sua família carregavam em seu bojo o santo orgulho de pertencerem a uma nação “mimada” pelo amor do Senhor fiel. Estava ele, certamente, todo impregnado das promessas feitas aos seus antepassados e esperava a vinda do desejado das colinas eternas, o Messias.

>> Num determinado momento de sua caminhada a esse José, carpinteiro, é prometida Maria como esposa. Ele vai, ingressa na instituição chamada família, na tradição de Israel, guardava as tradições religiosas do povo. Precisamente neste espaço se guardavam as promessas feitas aos pais da fé.

>> As Escrituras nos dizem que ele foi se acercando de Maria e, no começo, não entendeu o que acontecia. Estava grávida aquela que lhe fora prometida como esposa. O Senhor fez com que José compreendesse que uma missão especial lhe seria confiada e que precisava acolher a esposa que lhe fora prometida: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o povo de seus pecados”.

>> Maria, a toda bela, a transparente, aquela que desde o início de sua vida fora preservada da desordem, aquela que veio para fazer a vontade do Pai, aquela que guardava todas as coisas no fundo do coração fora convidada a acolher a vida de uma criança gerada nela à sombra do Espírito, Maria, esposa do Espirito e belíssima companheira de José. Belo o título desse homem: José, esposo da Virgem Maria.

>> A casa de Nazaré acolhe o mistério do Deus altíssimo que se torna carne. A criança que nasce de Maria, que precisa de leite, de pão, de atenções, de cuidados será objeto das atenções de José que chamamos de Pai nutrício do Filho de Deus feito carne. José será o homem da ação de todos os dias e da ininterrupta contemplação dos adoráveis mistérios de Deus.

>> Ele é o servo fiel e prudente: “Sendo ele um homem justo, vós, ó Deus, o destes por esposo à Virgem Maria, Mãe de Deus, e o fizestes chefe da vossa família para que guardasse, como Pai, o vosso Filho único concebido do Espírito Santo, Jesus Cristo, Senhor nosso” (Prefácio de São José).

Nenhum comentário:

Postar um comentário