terça-feira, 21 de março de 2017

Quaresma : Jejum, Oração e Misericórdia.



Um dos maiores e mais profundos escritores dos primeiros séculos da vida da Igreja foi  São Pedro Crisólogo (380-450).  O sermão que transcrevemos une  jejum com oração e misericórdia.

Há três coisas, meus irmãos, três coisas que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e perseverança à virtude. São elas a oração, o jejum e a misericórdia. O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente.

O jejum é a alma da oração, e a misericórdia dá vida ao jejum. Ninguém queira separar estas três coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse. Por conseguinte, quem ora, também jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda às suplicas de quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.

Quem jejua, pense no sentido do jejum;  seja sensível  à fome dos outros, quem deseja que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso quem espera alcançar misericórdia; quem pede compaixão, também se compadeça;  quem quer ser ajudado, ajude os outros.  Muito mal suplica quem nega aos outros aquilo que pede para si.

Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a rapidez que quiseres; basta que te compadeças dos outros  com generosidade e  presteza.

Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum,  para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva  que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus.  Quem não dá isso a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos.

Mas, para que esta oferta seja aceita por Deus, a misericórdia deve acompanhá-la; o jejum só dá frutos  se for regado pela misericórdia;  pois a aridez da misericórdia  faz secar o jejum.  O que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por mais que cultive o coração, purifique o corpo, extirpe os maus costumes e semeie as virtudes, o que jejua não colherá frutos se não abrir as torrentes da misericórdia.

Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo, se jejua a tua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia  encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher; dá de ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também não o possuirás.

Lecionário Monástico  II, p.  273-274

Um comentário:

  1. Não deixe de ler esta reflexão sobre a quaresma. Quaresma sem misericórdia é estéril!

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